23/04/2009
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RELATIVAMENTE À POPULAÇÃO BRANCA PORTUGUESA
JOSÉ MILHAZES *
Diplomatas soviéticos que deram início às relações diplomáticas entre URSS e Moçambique criticam a política de Samora Machel face
à população portuguesa branca, sublinhando que, nesta área, o
Presidente moçambicano se comportou de forma semelhante ao ditador
soviético, José Estaline.
“De
forma dura, como Estaline, Samora Machel tratou os portugueses que
viviam em Moçambique. Muitos deles receberam com entusiasmo os
combatentes pela independência quando entraram em Lourenço Marques e
estavam prontos a cooperar de todas as formas
com a FRELIMO”, escreve Piotr Evsiukov, primeiro embaixador soviético em Moçambique, em “Memórias sobre o trabalho em Moçambique”, a que a LUSA teve acesso.
“Não
obstante, também aqui se revelou o extremismo de Samora Machel. Ele
apresentou condições tais de cidadania e residência aos portugueses em
Moçambique que eles foram obrigados, na sua esmagadora maioria, a
abandonar o país... Com a fuga dos portugueses, a economia de Moçambique
entrou em declínio”, recorda.
Piotr Evsiukov recorda que Machel era um convicto admirador de José Estaline.
“Samora
Machel falou-me várias vezes do seu apego e respeito por J. Estaline.
Durante a visita oficial de uma delegação de Moçambique à URSS, Samora
Machel terminou a viagem na Geórgia.
Depois
das conversações com Eduard Chevarnadzé, Sérgio Vieira, membro da
direcção da FRELIMO, veio ter comigo e pediu-me, em nome do Presidente,
para arranjar um retrato de Estaline. Claro que os camaradas georgianos
satisfizeram o pedido com agrado”, escreve Evsiukov.
Arkadi Glukhov, diplomata soviético que chegou antes de Evsiukov para abrir a embaixada da URSS em Lourenço Marques, escreve:
“Após
o fim da Segunda Guerra Mundial, Lisboa, tendo perante si os exemplos
da queda dos impérios coloniais da Inglaterra e França, enveredou pela
via da reforma intensa do seu sistema colonial, nomeadamente no campo
das relações entre raças, da política social e cultural. Tudo isso foi
levado à prática na chamada política de ‘assimilação’, cujos rastos
sentimos com evidência quando chegámos a Moçambique”.
“Porém”, continua o diplomata soviético, “esses rastos começaram a desaparecer rapidamente, principalmente depois da entrada na cidade (Lourenço Marques) das unidades militares da FRELIMO e da intensificação de medidas e de todo o tipo de limitações (frequentemente inventadas) contra a população portuguesa, não obstante, em geral, ela ser leal e estar pronta a cooperar com os novos poderes”.
Segundo Glukhov, “no
fim de contas, isso levou à partida em massa dos portugueses do país, o
que se reflectiu de forma grave na sua vida económica e aumentou a
tensão nas relações entre raças”.
Segundo os diplomatas soviéticos, a política de Samora Machel provocou atritos com Joaquim Chissano, primeiro-ministro moçambicano, que defendia o diálogo com a população branca.
Evsiukov escreve que Machel reconheceu o seu erro e, “ao aconselhar Robert Mugabe, seu amigo e pretendente ao cargo de Presidente do Zimbabué, disse-lhe para não expulsar os rodesianos brancos da antiga Rodésia do Sul”.
* da Agência LUSA – CORREIO DA MANHÃ – 23.04.2009
NOTA:
Para a História e à consciência de cada um.
Fernando Gil
MACUA DEMOÇAMBIQUE
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