Investigadores calcularam o impacto da proibição de importação de resíduos de plástico destinado à reciclagem na China que entrou em vigor em Janeiro de 2018. Até 2030, esta porta fechada deixa 111 milhões de toneladas de plástico sem destino
O problema do plástico já era suficientemente preocupante sem uma porta fechada na China que recebia muito do desperdício produzido noutros países. Em Janeiro de 2018 entrou em vigor a proibição de importação de “lixo” plástico não-industrial. Agora, uma equipa de cientistas da Universidade da Geórgia, nos EUA, fez as contas ao impacto desta nova lei na China e concluiu que, até 2030, há 111 milhões de toneladas de plástico sem destino. O artigo publicado na revista Science Advances deixa um aviso aos governantes: é urgente pensar em programas de reciclagem domésticos mais robustos e repensar o uso do plástico.
A “lixeira” mundial do plástico fechou portas e as consequências vão começar a sentir-se em muitos países. “Embora a reciclagem seja muitas vezes apontada como a solução para a produção em grande escala de resíduos plásticos, mais de metade do lixo plástico destinado à reciclagem é exportado de países ricos para outras nações, com a China historicamente ficar com a maior fatia”, refere o comunicado da Universidade de Geórgia sobre o estudo com o título “A proibição das importações chinesas e o seu impacto no mercado global do comércio de resíduos de plástico”. Neste artigo, os investigadores constatam que “as importações anuais globais e as exportações de resíduos plásticos dispararam em 1993, crescendo cerca de 800% até 2016”. De acordo com o registo que começa em 1992 deste circuito, a China terá recebido cerca de 106 milhões de toneladas de resíduos plásticos, o que representa quase metade das importações de resíduos plásticos do mundo. “A China e Hong Kong importaram mais de 72% de todos os resíduos plásticos, mas a maior parte do lixo que entra em Hong Kong - cerca de 63% - é exportada para a China”, acrescenta o comunicado de imprensa, que adianta ainda que os países com mais rendimentos da Europa, Ásia e Américas “respondem por mais de 85% de todas as exportações globais de resíduos plásticos”. Globalmente, a União Europeia é o maior exportador de “lixo” plástico.
"Sabemos de estudos anteriores que apenas 9% de todos os plásticos já produzidos foram reciclados, e a maioria deles acaba em aterros sanitários ou em ambientes naturais", refere Jenna Jambeck, investigadora na Universidade da Geórgia e uma das autoras do artigo. "Cerca de 111 milhões de toneladas de resíduos plásticos vão ficar sem destino por causa da proibição de importação até 2030, por isso teremos que desenvolver programas de reciclagem mais robustos internamente e repensar o uso e o design de produtos de plástico se quisermos lidar com este desperdício de forma responsável ".
Sobre esta medida da China, os investigadores explicam que o negócio de resíduos de plástico foi lucrativo enquanto conseguiam usar ou revender o produto reciclado. No entanto, acrescenta Amy Brooks, principal autora do estudo, “muito do plástico que a China recebeu nos últimos anos foi de má qualidade, e tornou-se difícil obter lucro”. Além disso, actualmente a China produz mais resíduos plásticos no mercado interno e por isso não precisa depender de outros países. Para os exportadores, havia aqui um bom negócio porque “as baratas taxas de processamento na China faziam com que o envio de lixo para o exterior fosse mais barato do que o transporte interno destes materiais por caminhão ou comboio”.
"É difícil prever o que acontecerá com os resíduos plásticos que antes eram destinados às instalações de processamento chinesas", conclui Jenna Jambeck, acrescentando: "Alguns podem ser desviados para outros países, mas a maioria destes países não tem sequer infra-estruturas para gerir os seus próprios resíduos quanto mais os resíduos produzidos pelo resto do mundo". Até para a China a situação começou a ficar difícil de gerir com o rápido crescimento económico que produziu demasiado “lixo” plástico. Sem porto de chegada, o melhor mesmo é reduzir a carga no ponto de partida. Ou seja, mudar o actual sistema, pensar em novas estratégias de reciclagem de plástico e diminuir de forma substancial e rápida a produção de plástico.
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