UM pouco por todo o território nacional, ontem, a festaça alusiva ao Dia Nacional de Moçambique, 43 anos após a Independência, em 75. Longe de politiquices, a esmagadora maioria de moçambicanos passou o dia em família, algo este ano especial por ter coincidido com o fim-de-semana, devendo somente esta manhã as pessoas retornarem ao trabalho. Refregerantes, cervejas, bolos e carnes rechearam a mesa de muitas famílias nas capitais provinciais, cercanias mas igualmente nas zonas rurais.
Pelo meio, o indispensável balanço e a triste situação a que alguns distritos de Cabo Delgado atravessam, marcada pela violência perpetrada por indivíduos a monte e que teimam em criar terror junto às famílias mais do interior. É olhando para trás que facilmente se percebe que o balanço é deveras satisfatório, embora ensombrado pela guerra civil que teve a duração de 16 anos, entretanto terminada, pese os inúmeros conflitos armados sempre no pós-eleições.
Para os detentores deste fio de raciocínio, o diálogo entre as partes tem feito com que os conflitos tenham solução e os moçambicanos experimentem o sabor da paz, mas temendo que já depois do próximo ciclo eleitoral mais conflito armado venha à superfície. Tem sido assim desde que em 94 entrou em vigor o novo modelo (democrático) eleitoral e sempre depois de a Renamo perder o processo, por entender ter sido roubado na boca das urnas ou na secretaria.
Na vã tentativa de encetar negociações com a contra-parte, a Renamo acaba recorrendo ao que mais sabe fazer, guerrilha, desse modo forçando o governo a mesa negocial. Tem sido este o rítmo levado a cabo pelos principais protagonistas políticos de Moçambique. Neste preciso momento, aliás, a Frelimo na Assembleia da República condiciona dar passos significativos no processo negocial, enquanto a Renamo não fizer o mesmo no capítulo da desmilitarização e da desmobilização.
Estamos diante de um duplo finca-pé, claramente a deixar no ar a velha ideia de que as partes andam desconfiadas uma da outra. A Renamo tem vindo a dizer que só se desarma se os seus oficiais superiores forem integrados em posições-chave do Serviço de Informação e Segurança do Estado (SISE) ou, melhor, das forças de defesa e segurança. Sem isso, nem tão pouco. Do outro lado da barricada, o governo-Frelimo também não arreda-pé, anotando ser necessário que a Renamo demonstre em actos a sua intenção de comprometimento para com a paz efectiva e duradoura.
É nesse sentido que o pacote relativo à descentralização administrativa e o da revisão pontual da Constituição da República continuam reféns a um entendimento que pelos vistos ainda vai levar tempo a ser conseguido. Este hesitante avança-não-avança ameaça as eleições autárquicas de Outubro.
Voltando à festaça alusiva ao Dia Nacional, hoje já nem é preciso mobilizar as pessoaspara comícios políticos, porque muitos não iriam neles, antes trocando isso pela presença em negociatas na berma da estrada ou próximo a aglomerados, onde a venda de um rebuçado, refregerante ou de uma cerveja acaba sendo mais lucrativa que estar diante de um político que, em muitos casos e nos tempos que correm, mais se confunde com ricaço.
É desse modo que nas cercanias do mercado grossista de Zimpeto, em Maputo, centenas andavam ontem e onteontem a disputar espaço, com o sério risco de serem esmagadas pelas pesadas rodas de autocarros. Gente vinda de quase todas as províncias do sul, Inhambane, Gaza e Maputo-província, de onde trazem um pouco de tudo para a comercialização, retornando à casa, para junto dos seus, só depois de venderem na totalidade o produto que trouxeram à capital moçambicana.
Na tentativa de abordar o Dia Nacional, esta gente nem sequer presta a atenção, relegando o assunto para uma posição secundária, acompanhada do desabafo “isso não enche a barriga dos meus pequenos lá em casa…”.
É o corre-corre característico das capitais provinciais, diga-se, incluíndo em Dia da Independência Nacional.
EXPRESSO – 26.06.2018
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