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Escrito por Adérito Caldeira em 12 Junho 2018 |
Moçambique que já foi um dos três principais destinos de capitais privados externos na África Subsariana tendo recebido 6,1 biliões de dólares norte-americanos no ano de 2013. Desde então o Investimento Directo Estrangeiro (IDE) não tem parado de reduzir, particularmente depois da descoberta das dívidas ilegais da Proindicus e MAM, tendo-se cifrou-se em apenas 2,2 biliões de dólares em 2017. O professor Carlos Nuno Castel-Branco, um dos “profetas” da crise que vivemos, compara o nosso país a um paciente que: “em vez de darmos mais sangue ao doente, estamos a cortar partes do seu corpo para que ele possa sobreviver com o pouco sangue que tem dentro de si”.
Quando Abril de 2015 o economista Carlos Nuno Castel-Branco brincou com bolhas de sabão para ilustrar os indícios de bolha económica que existiam em Moçambique a plateia que o assistiu em Maputo divertiu-se sem imaginar que um ano depois, quando a bolha explodiu com a descoberta das dívidas ilegalmente contratadas pelas empresas Proindicus e MAM, a sua profecia materializou-se, “só ficam a dívida, o desemprego, a falência da pequena e média empresa, a deterioração da qualidade de vida dos trabalhadores, e a concentração e centralização ainda maiores do capital”.
Na altura, o então coordenador do grupo de investigação sobre economia e desenvolvimento do Instituto de Estudos Sociais e Económicos (IESE), constatou que os influxos de Investimento Directo Estrangeiro (IDE) tinham aumentado de próximo de zero, na primeira metade dos anos 1990, para cerca de cinco biliões de dólares americanos em 2013, e Moçambique tornou-se um dos três principais destinos de IDE no continente africano.
Na verdade em 2013 o nosso país registou um recorde de IDE que chegou aos 6,1 biliões de dólares norte-americanos, de acordo com as estatísticas da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (acrónimo em inglês UNCTAD), um crescimento de quase 10 por cento comparativamente aos 5,6 biliões de dólares de 2012.
Entretanto, no último ano do segundo mandato de Armando Guebuza como Presidente de Moçambique, o Investimento Directo Estrangeiro começou a reduzir quedando-se para 4,9 biliões de dólares em 2014 e para 3,8 biliões de dólares no ano em que Filipe Nyusi tornou-se no quarto Chefe de Estado moçambicano.
Aquisições da Exxon Mobil e Mitsui foram IDE relevante em 2017
Em 2016, ano do início da crise económica precipitada pela descoberta das dívidas ilegais, o IDE caiu para pouco mais de 3 biliões de dólares e no ano passado contraiu mais 26 por cento para “depressivos” 2,2 biliões de dólares norte-americanos segundo as estatísticas UNCTAD que aponta a austeridade e os incumprimentos do serviço da dívida externa comercial como as causas destes menores investimento em Moçambique.
Os investimentos significativos que entraram no nosso país em 2017 foram apenas a compra por parte da norte-americana Exxon Mobil de 35,7 por cento da participação da italiana ENI East Africa, no projecto de gás natural da Área 4 da Bacia do Rovuma, e a aquisição que o grupo japonês Mitsui fez de parte das participação que a brasileira Vale tem na mina de carvão mineral de Moatize e no Corredor Logístico de Nacala.
“Taxas de referência e as taxas de juro reais permanecem proibitivamente altas” em Moçambique
Questionado pelo @Verdade sobre o que aconteceu à bolha económica de Moçambique, se explodiu ou implodiu, Carlos Nuno Castel-Branco disse “ambos”.
O professor começou por esclarecer que: “A explosão ocorre quando a aceleração conduz à crise - o balão rompe. Foi o que aconteceu com a crise da dívida. A economia expandiu a grande velocidade, com uso muito intensivo e extensivo de recursos externos à economia (não produzidos pela economia nem pelo crescimento), sem suporte material, sem se reproduzir à velocidade necessária e construindo estruturas financeiras e produtivas especulativas e afuniladas, o que fez com que a economia explodisse pois cresceu para o vácuo sem capacidade de mudar de rumo a meio”.
“A explosão da economia em crise de dívida resultou na implosão da economia, isto é, na sua contracção - o investimento, o emprego e a taxa de crescimento contraíram significativamente, do mesmo modo que as expectativas dos investidores caíram”, explicou.
Contudo, na óptica do economista moçambicano, “A resposta monetarista do banco central, apenas focada no controlo da inflação como fenómeno monetário e não real, agravou o processo de implosão”.
“Recentemente, o banco central anunciou a sua intenção de tornar a política monetária mais expansiva, por via da ligeira redução das taxas de referência mas, ao mesmo tempo: 1) a dívida pública continua a aumentar e a dívida interna é a principal causa do crowding out (Governo precisa de financiar-se muito e emite muitos títulos de Dívida Pública aumentando o custo do dinheiro para o sector privado e produtivo) do sistema financeiro doméstico; 2) esta dívida não está orientada para diversificar a base produtiva e massificar emprego, pelo que o crowding out é real - os bancos e a bolsa de valores estão absorvidos pela dívida publica, pelo consumo das classes sociais mais abastadas e pelos mega projectos, pelo que o crowding out afecta só as pequenas e médias empresas; 3) as medidas de racionalização do sistema financeiro doméstico vão intensificar o seu carácter oligopolista; 4) as taxas de referência e as taxas de juro reais (taxas menos a inflação) permanecem proibitivamente altas”, aclarou Castel-Branco.
“Em vez de darmos mais sangue ao doente, estamos a cortar partes do seu corpo”
O professor declarou que na essência, a economia moçambicana continua a implodir. “O banco central diz que já saímos da crise, apenas porque a economia já não está a oscilar tanto e tão descontroladamente. Mas a taxa de crescimento da economia baixou para menos de metade, estando agora ao nível aproximado da taxa de crescimento da população (isto é, o PIB per capita não vai subir); a dívida pública, incluindo a interna, que pesa muito sobre o sistema financeiro doméstico, continua a subir; o sistema financeiro não está nem interessado nem capaz de apoiar a transformação da base produtiva”.
“A inflação é mais baixa porque o consumo da população menos abastada diminuiu. A taxa de câmbio apreciou ligeiramente e ficou menos errática porque o efeito overshooting (quando a moeda ajusta mais do que o necessário) tende a diluir-se com o tempo e porque as importações diminuíram por causa da contracção da economia”, constatou Carlos Nuno Castel-Branco que ainda diagnosticou que Moçambique está a aproxima-se “de um equilíbrio de actividade económica menor, com mais dívida e com menos investimento”.
Comparando o país a um paciente o professor concluiu que: “Em vez de darmos mais sangue ao doente, estamos a cortar partes do seu corpo para que ele possa sobreviver com o pouco sangue que tem dentro de si”.
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terça-feira, 12 de junho de 2018
IDE caiu pelo 4º ano consecutivo; Moçambique parece um doente a precisar de sangue e cortam-se “partes do corpo para que possa sobreviver com o pouco sangue que tem”
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