terça-feira, 5 de junho de 2018

Austeridade enche ruas de Amã com protestos há três dias

JORDÂNIA
Austeridade enche ruas de Amã com protestos há três dias


Pela terceira noite consecutiva, milhares de jordanos saíram de casa para as maiores manifestações em cinco anos. Exigem a demissão do primeiro-ministro.
PÚBLICO 3 de Junho de 2018, 11:13
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A capital da Jordânia, Amã, está transformada no palco dos maiores protestos dos últimos cinco anos. Motivo: uma reforma fiscal proposta pelo Governo liderado por Hani Mulki, com o apoio do Fundo Monetário Internacional, que faz parte de um pacote legislativo que impõe ao país três anos de austeridade. No sábado à noite, milhares de pessoas saíram de casa para a terceira noite de manifestação contra o governo, as maiores no país, nos últimos cinco anos pelo menos. Exigem a demissão do primeiro-ministro, que não abdica da legislação enviada para aprovação dos deputados.
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FotoREUTERS / MUHAMMAD HAMED

"Enviar leis para o parlamento não significa que este concorde com elas ou com todos os artigos. O Parlamento toma das suas próprias decisões", sublinhou Malki, em declarações aos jornalistas citadas pela Reuters.

As ruas de acesso à sede do Governo foram bloqueadas pela polícia, que usou gás lacrimogénio noutras cidades mais pequenas onde também se registaram manifestações mais pequenas. Houve confrontos sem gravidade entre autoridades e manifestantes em diversos locais do país.

FotoREUTERS / MUHAMMAD HAMED

Os sindicatos afirmam que a reforma fiscal em causa vai piorar as condições de vida no país, depois de no início de 2018 se ter assistido a uma subida geral de impostos e de ter sido cortado o subsídio ao pão. Medidas que fazem parte de um plano de austeridade a três anos com que o Governo árabe e o FMI pretendem cortar na dívida pública de 37 mil milhões de dólares (quase 32 mil milhões de euros), que representa 95% do Produto Interno Bruto da Jordânia, onde vivem oito milhões de pessoas, incluindo centenas de milhares de refugiados de guerra. A taxa de desemprego atingou em 2017 o máximo em 25 anos e rondava os 20%.



A Jordânia faz fronteira com a Síria e o Iraque a norte, tendo a Arábia Saudita como vizinha no sul. Indiferente às exigências de demissão, o rei Abdullah pede apenas um "diálogo nacional" entre governo e parlamento, mostrando que apoia os planos do executivo, que garante necessitar de mais dinheiro para assegurar serviços públicos. O monarca diz que a recessão e o descontrolo das contas públicas são culpa da instabilidade na região. Muitos cidadãos e analistas, pelo contrário, responsabilizam o despesismo político e a corrupção.

FotoREUTERS / MUHAMMAD HAMED

A economia jordana tem registado sucesssivos défices, prejudicada pelas guerras vizinhas, pela fuga de capitais privados, cortes na ajuda externa e decréscimo do investimento estrangeiro. Na sexta-feira, anota a BBC, Abdullah teve de intervir para "congelar" o preço dos combustíveis e evitar mais uma subida penalizadora para a população.

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Mulki argumenta que a reforma fiscal protege os mais desfavorecidos e aumenta a contribuição dos mais ricos, garantias que não convencem a população. Sindicatos representativos dos trabalhadores dos sectores público e privado entendem, pelo contrário, que o pacote de austeridade "aumenta as disparidades" entre ricos e pobres e prometem responder com greves e outras formas de protesto.

Outras vozes críticas antevêem um chumbo do pacote legislativo que está à espera de aprovação dos deputados. O presidente do parlamento, Atef Tarawneh, disse à Reuters que mais de 80 deputados (entre 130 com assento naquele órgão), querem que o governo retire a proposta de reforma fiscal. "Nós não nos submeteremos à ditadura do FMI", reclamou Tarawneh, depois de se ter reunido com o primeiro-ministro, no sábado.
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