terça-feira, 11 de junho de 2013

Imprevistos

Elisio Macamo
Apetece-me reflectir sobre uma característica do nosso País que consiste em termos soluções simples para problemas complexos. Eis a primeira reflexão:

Fumo com fogo

Tenho um problema interessante para discutir com os meus amigos do Facebook. Houve um projecto, onde, não interessa por razões de confidencialidade, de combate à e prevenção da malária. Doadores disponibilizaram fundos para a criação... dum projecto piloto que ia desenvolver as actividades no seio duma comunidade. O projecto foi implementado, está-se agora na fase de o fechar e, por isso, encomendou-se uma avaliação. Os doadores, que são escandinavos, estão preocupados com o projecto e não o querem prorrogar. A prevalência da malária continua alta (até há o receio de que tenha aumentado, mas isto é especulação). O pior, contudo, é que há graves problemas financeiros. Não é possível justificar quase 30% do orçamento inicial e receia-se que tenha havido desvio de fundos em grande escala. Há pelo menos indícios alarmantes. O director do projecto, que é (nem sei se devia dizer isto) militante da Frelimo, comprou uma casa num desses condomínios na periferia de Maputo, o seu parque automóvel aumentou (praticamente cada membro da família tem carro), os filhos estão todos em escolas privadas e membros da família alargada andam em vários negócios (principalmente transportes e comércio de longa distância).
Porque é que estou com a impressão de que não há fumo sem fogo? País do Pandza?
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  • Nevito Uamusse O património do gestor em causa pode crescer desde que não seja às custas do projecto. O referido gestor deve se preocupar em justificar os valores em causa porque com creio (na minha inocência) foram usados para o seguimento do mesmo...See Translation
  • Bukamiana Ndomanuele O que se passa e que obtal de diretor descubriu que quando cortamos uma.bananeira por ter dado fruto, ela deixa rebentos. Porque haveria de disperdicar fundos com mosquitos que se reproduzem todos Os dias? Infelizmente esta e a logica de muito.dos nossos directores aqui.no.sul.......See Translation
  • SFredson Fadil Penso que tal deve-se ao passado recente de acumulação ilícita de riqueza por parte dos dirigentes. Exemplos/semelhanças é ñ faltam! Esse dado é semelhante à mtos, senão, todos casos de "apropriação" dos bens públicos. Essa é nossa história e presente.
  • Alfredo Muianga Depois dizem que nao ha dinheiro para pagar os médicos e ns deixam morrer ns hospitais por que eles tem taku que basta para fazer tudo no estrangeiro.
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  • Tomás Queface As respostas ate agora apresentadas para o problema podem ate fazer sentido. Mas nao nos dao seguranca de que houve um desvio de fundos por parte do dirigente em causa. E' uma deducao bastante simplista.
  • Eurice Agnella Pode ser que o referido gestor nao tenha habilidades de gestao e tenha feito ma aplicacao dos fundos. Ou/e que tambem nao tenha capacidade de controlo, e os outros envolvidos no projecto se tenham aproveitado disso ou tambem tenha feito mau uso do tal fundo, por falta de habilidades...
  • Emidio Beula Mas a malaria era problema dos "beneficiarios" do projecto ou era mesmo problema dos doadores?
  • Amosse Macamo 1- seria preciso estabelecer um nexo causal entre os 30% injustificáveis e os bens que este director adquiriu.
    2 a justificar se que tenha sido ele, deve se responsabiliza lo e tendo em conta que ele é que o sujeito a quem cabe a responsabilidade criminal
    3- a sua filiação a este ou aquele partido não me parece ser matéria relevante a nao ser que o desvio tenha sido em beneficio e proveito do seu partido
    4 creio ser licito a preocupacao com os fundos desviados isto, no sentido de encontrar o culpado e responsabiliza lo facto, que não pode prejudicar a meu ver e depois de encontrado e identificado o culpado, o andamento do projecto
    5- não descobrir a verdade e responsabilizar os culpados abrirá espaços para todas as interpretações e generalizações que punem o pais, o partido, o povo e nunca o culpado.
  • Basilio Muhate Professor, esta a lancar um debate interessante...esse fumo tem muito fogo.
  • Bino Amosse O nosso rapper slim niggaz, em jeito de sintese falou tudo "país do pandza" isto esta uma anarquia autentica.
  • Mablinga Shikhani "Vae victis" digo e repito... "Alistem-se e realistesm-se" insisto...
  • Amilcar Sueia Pois é, os doadores escandinavos estão somente preocupados com a justificação correcta dos fundos. Justificaodos os 30% fica tudo bem. A questão da malaria, que até especula-se, que a prevalencia aumentou nem sequer é equacionada.....
  • Alvaro Simao Cossa Amigo Elisio Macamo, perante situacoes de esta indole nao nos deve interressar, a que partido politico pertence este "corrupto", porque muitos afincam-se a sua filiacao politica para manisfestarem os seus apetites de ladroaria. Estamos perante uma fraude, se o amigo Elisio teve coragem de escrever aqui na facebook, acho que e' caso reael e serio, e' preciso denunca-lo,esse senhor deve devolver esse dinheiro aos fins de que foram alocados,como minimo, e deve responder perante a lei.Gostei muito deste episodio, acho que para ter sentido e' preciso denuncia-lo, assim seremos um pais onde existem leis, necessitamos de denuncias deste tipo para parar com a larapiaria.Um forte abraco e coragem amigo Dr Elisio Macamo.
  • Ana Mariza Tamane Onde há fumo há fogo! Muitos projectos acabam fechando ou falindo ou mesmo os doadores acabam desistindo no nosso pais por causa do uso indevido dos fundo e muitas vezes em benefício próprio. Os resultados esperados transformam-se em desesperados...
  • Gervasioa Absolone Chambo Nao se trata de País de Pandza mas sim da Frelimo. O Pandza ate anima danca-lo.
  • Hamilton Blessed Mazuze bom ha aqui varios pontos os quais podemos pegar para analisar, desde a nao justificacao dos fundos, o suposto desvio dos mesmos, a mudanca de vida de uma parte "pouco siginificativa" de um minoria, uma catastrofe para uma grande maioria, que num sentido drastico do termo diriamos que sera dizimada...bom sao varios os pontos
  • Altina Manhique Manhique sempre digo que o nosso pais e Mocanbique deixa anda
 
Elisio Macamo
Noto que a reflexão sobre soluções simples para problemas complexos está a suscitar interesse. aqui vão mais alguns elementos:

Objectivos e necessidades institucionais

Achei que para abordar este assunto fosse necessário saber um pouco mais sobre os objectivos do projecto e como eles deviam ser alcançados segundo o próprio projecto. A partir dos documentos do projecto, e pelas entrevistas prelim...inares conduzidas com alguns funcionários do Ministério da Saúde e doadores, ficou claro que o principal objectivo do projecto era de reduzir a incidência da malária através da pulverização, distribuição de redes mosquiteiras impregnadas bem como através de profilaxe oral junto à comunidade. Os doadores exigiram que houvesse a participação da comunidade na implementação do projecto e, em particular, que a questão do género tivesse prioridade. Dito doutro modo, a execução do projecto não devia apenas ter em mente os fins (reduzir a incidência de malária), mas também os meios (participação e género).
Porque é que estou com a impressão de que este é um projecto que não pode ser implementado em três anos (esta foi a duração do projecto)?
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  • Bukamiana Ndomanuele Wiretap dos timings. Ha um filosofo africano, creio ser o Jonh Mbiti que introduziu o conceito de Sasa e Zamani. Segundo ele, este conceito pode explicar muito do imediatismo na logica de adopcao e resolucao de problemas em Africa, dai os milanarismos terem vincado pouco enquanto doutrina religiosa.
  • Bukamiana Ndomanuele Questao dos timings
  • Elisio Macamo Ele era teólogo. A ideia era mais relacionada com o futuro que se resumia, na sua acepção, ao passado imediato e distante. A adopção do Cristianismo revela, contudo, que a tese de Mbiti precisaria de mais argumentos. A minha é sobre o elemento de complicação que entra num projecto quando se impõem condições adicionais.
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Elisio Macamo
A segunda postagem sobre o projecto da malária não suscitou grande interesse. Pena. Mesmo assim vou continuar. Desta feita, coloco mais uma que dá mais detalhes sobre o projecto. Dei-lhe o título "ti-mbilu", um termo tsonga, que significa algo como cobiça (mas também atracção, desejos, etc.).

“Ti-mbilu”

Os fundos que foram alocados ao projecto foram bem chorudos. Se todos eles fossem empregues n...o projecto e, sobretudo, na comunidade haveriam de transformar bastante a economia local. Isto levantou alguns problemas. Fornecedores de equipamento (redes, medicamentos, etc.) começaram a inundar o projecto com propostas aliciantes para serem eles a fornecerem esses insumos, muitas vezes prejudicando os comerciantes locais mais conhecedores das condições locais; com a recomendação de que o projecto trabalhasse com a comunidade o Partido achou que devia impôr o secretário do partido como representante legítimo da comunidade para que o dinheiro passasse por ele de modo a que o sucesso do projecto fosse atribuído ao partido e ao governo; o régulo, que nos tempos revolucionários da Frelimo tinha sido destituído (e guardado rancor...), não queria ceder o lugar ao secretário do partido (que pertencia a uma família que já tinha sido chefe da região, mas fora destituída pelos portugueses por ter colaborado com Ngungunhana) e, por isso, aliou-se à Renamo para cimentar a sua posição; houve também alguns conflitos entre a comunidade e o projecto porque a comunidade esperava poder colocar os seus jovens a trabalharem no projecto, mas a maior parte dos gestores vinha de Maputo.
Porque é que estou com a impressão de que as pessoas têm a tendência de complicar coisas simples? Porque é que as pessoas não podem simplesmente implementar um projecto e deixar os seus interesses de fora?
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  • Dinis Anaximandro Matsinhe professor o ego deicha muitas pessoas assim sempri tenta tirar proveito

  • Antonio Zacarais se, por azar, se tratar de algo virado a comunidade, urge dar visibilidade ao partido. Os 7 milhoes szzo do Estado ou do partido? apenas para ilustar

  • Elisio Macamo que fazer, então? matar o ego, Dinis Anaximandro Matsinhe? não é natural que assim seja, Antonio Zacarias, que partidos políticos tentem tirar proveito de situações?

  • Domingos Antonio Manga Dr. Macamo, infelizmente este dilema inferma todo continente africano, quase q tdos os partidos policos nao cnseguem implementar um projecto sem dxar seus interesses d lado... a ideia e sempre impressionar com projectos q por vezes q nao sao de sua iniciativa,,, esta e uma batalha a ser travada por tdos nos mas longo prazo, infelizmente nao tnho ideia do q se pode fazer p cmbater este espirito d cabritismo!

  • Gilson Lázaro Prof.Elisio, lendo este post desconfio que o problema talvez esteja nos pressupostos do projecto ou pelo menos na expectativa de resolução dos problemas da comunidade, embora a malária seja o suporte do mesmo projecto. Até ao momento sinto que a partilha dos fundos passa a ser o problema e não a malária. Ou será que a malária é apenas um pretexto a partilha de recursos?

  • Elisio Macamo hmmm, Gilson, pode ser isso. vejo mérito nessa ideia. não tenho, infelizmente, resposta para a questão pertinente que Domingos Antonio Manga coloca. se calhar o espírito do cabritismo não é problema, nós é que o transformamos em problema por razões que talvez fosse necessário ainda reflectir. quem sabe?

  • Akuna Xakusasseka Chiconela Dr. Elisio Macamo penso que vale a pena oficializarmos a corrupção, cabritismo e todos os "ismos" possíveis. Daí não nos iamos surpreender se nos dissessem que alguem foi preso, ou que está sendo investigado.

  • Dinis Anaximandro Matsinhe matar nao professor mas diminuir o nivel do ego k cada um tem

  • Gervasioa Absolone Chambo Tenho dito sempre que os doadores nunca devem financiar projectos atraves da disposicao do dinheiro, mas sim atraves do envio de um coordenador geral que contral as fases do projecto. Se assim for, muitos projectos resultarao no desenvolvimento das comunidades.

  • Elisio Macamo colonização, Gervasioa Absolone Chambo? a corrupção é oficial, Akuna Xakusasseka Chiconela, é só ter o cuidado de não ser apanhado... em todo o lado.



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Elisio Macamo
Bom, o interesse diminui bastante. Deve ser porque não estou a falar mal de ninguém. Não obstante, continuo com mais elementos que contextualizam a estória.

Imprevistos

Uma vista de olhos ao estudo inicial que conduziu ao estabelicimento do projecto (foi feito por consultores moçambicanos baseados em Maputo) ajuda a ver que tipo de imprevistos eles consideraram na avaliação da viabilidade do pro...jecto. O estudo de viabilidade considerou como prováveis problemas a possibilidade de cheias (a comunidade está numa zona baixa, é por isso que a malária é um problema), dificuldades de fornecimento de insumos por causa do mau estado das estradas bem como, de forma remota, a possibilidade de conflito armado por causa dos níveis de rivalidade entre a Frelimo e a Renamo nessa região. Durante os três anos de implementação do projecto não houve nenhum problema político (Renamo/Frelimo), nem houve cheias. Mas aconteceram outras coisas imprevistas. Houve uma Presidência Aberta e Inclusiva cuja preparação desviou os recursos em tempo e disponibilidade da comunidade durante cerca de 2 meses; o comerciante que ganhou o concurso para fornecer as redes mosquiteiras faliu e o projecto teve que procurar alternativas; na mesma comunidade implementou-se um programa de comida pelo trabalho que dificultou o recrutamento de facilitadores para o projecto; os dois guardas que foram contratados para a segurança do projecto envolveram-se em esquemas de desvio de redes e combustível que só foram descobertos tardiamente; dois dos gestores que tinham sido contractados para o projecto conseguiram emprego numa multinacional em Tete; o governo distrital criou muitas dificuldades para o credenciamento do projecto porque teria preferido que outra comunidade beneficiasse do projecto; finalmente, isto até parece uma anedota, o tesoureiro do projecto apaixonou-se por uma das gestoras (uma tipa bonita, mas casada, e que o rejeitou) e passou mais tempo a tentar prejudicar o trabalho dela do que realmente a desembolsar os fundos atempadamente para as várias actividades.
Porque é que tenho a impressão de que imprevistos são um grande carrasco de boas intenções?
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  • Nevito Uamusse As razoes para o fracasso do projecto seriam tantas que teriamos que duvidar se o projecto chegasse ao fim... e sem problemas de maior.

  • Akuna Xakusasseka Chiconela Este post é revelador de como conseguimos justificar tudo, quando não conseguimos cumprir com as metas previstas. Não comentar também revela alguma posição Dr. Elisio Macamo . O facebook é um daqueles sitios que não gosto porque mesmo quando escrevo que estou doente, alguem clica "Like".

  • Jose Manuel Goncalo Caro Elisio Macamo, não tenho argumentos para o seu texto. Mas parece que conheces muito bem o projecto por dentro... Os pormenores que relatas são impressionantes....

  • Roberto Guambe Dr. Elisio Macamo, aqui fica-se com a impressao que em alguns casos as presidencias abertas, prejudicam alguns empesarios distritais, pois sao obrigados a contribuir com aquilo que nao tem e acabam falindo.

  • Akuna Xakusasseka Chiconela Roberto Guambe o problema, penso não as presidências abertas, mas sim as justificações para o não cumprimento, é incrivel como alguns tem a capacidade de prever que amanhã estarão doentes e logo não consiguirão atingir a meta. Quando se fazem esses estudos de viabilidade e logo arrolam-se os imprevistos, é para amanhã não cairmos por cima da pessoa e exigirmos contas.

  • Mariamo Camilo kkkkkkkkkkkkkkkkkkki. desaguentei d tanto nao aguentar...

  • Manuel J. P. Sumbana Confesso que só vejo a caravana a marchar. E estou sem voz para ladrar

  • Jemusse Abel a vida "e cheia de imprevistos que na minha optica, obrigam-nos a emendar os nossos plano. entendo ser imprudencia sentarmos na sombra lamentando, evocando os mprevistos ao ponto de nos esquecermos da replanificacao como a artede um combatente incansavel. a falta desta atitude faz com muitos relatorios que tenho acompanhado em certos momentos tenham mais paginas de dificuldades que realizacoes.

  • Nell Filipe Moçambique é um país de imprevistos improvisados p pessoas de boa má fé, quero dizer,pessoas que têm como talento e virtude, ser desonestos e inconsequentes nas suas decisões espertosamente inteligentes pela negativa.em fim, assim vai o nosso belo país..

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