sábado, 29 de junho de 2013

Edward Snowden tem opções cada vez mais reduzidas para a sua fuga

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"O tempo está a esgotar-se" para o analista informático acusado de traição nos EUA, dizem especialistas. Posição do Equador e da Venezuela é pouco clara.
Cartaz de apoio a Snowden em Hong Kong Philippe Lopez/AFP
Quase um mês depois de Edward Snowden ter revelado os programas ultra-secretos de vigilância dos Estados Unidos, o analista informático que trabalhou para os serviços secretos não parece muito perto de conseguir asilo para escapar às acusações. As suas opções parecem estar a reduzir-se.
À espera de ver resolvido um impasse legal numa área de trânsito de um aeroporto de Moscovo e sem a certeza de que os destinos que tinha contemplado – Equador, Venezuela e Cuba – o acolham, Snowden parece estar à mercê de forças geopolíticas que vão além do seu controlo. Snowden não foi visto desde que chegou a Moscovo no fim-de-semana passado e tudo parece incerto perante as respostas de bastidores.
A Rússia pode já não ter razões suficientes para continuar a dar asilo a Snowden se, como se acredita, os seus serviços secretos já o interrogaram sobre documentos classificados que ele admitiu ter recolhido da Agência de Segurança Nacional.
O Governo socialista do Equador, que já acolhe o fundador da WikiLeaks Julian Assange na sua embaixada em Londres, está a rever o pedido de asilo de Snowden, embora responsáveis tenham enviado sinais contraditórios, sugerindo que o processo possa arrastar-se por várias semanas. O novo Presidente da Venezuela Nicolás Maduro falou de forma favorável na hipótese de conceder asilo a Snowden mas não passou das palavras aos actos, e talvez pense duas vezes antes de arriscar um recuo nas tentativas de uma aproximação pós-Chavez a Washington.
E mesmo se o Equador ou a Venezuela decidirem acolher Snowden, não é certo de que a Cuba comunista (ponto de trânsito mais provável para quem viaja entre Moscovo e esses países da América Latina) o deixaria passar sabendo que com isso agravaria as suas complicadas relações com os Estados Unidos.
A juntar aos problemas de Snowden, a Administração Obama, embaraçada pelas revelações sobre os programas de vigilância e pela maneira como o fugitivo escapou à extradição quando viajou para Hong Kong, está a exercer muita pressão em qualquer país que considere acolhê-lo, dizem diplomatas.
“Até agora, ele escolheu cuidadosamente os seus destinos”, disse Carl Meacham, um especialista em política internacional do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais de Washington. “O tempo para ele, mesmo nesses países, pode estar a esgotar-se.”
Snowden e WikiLeaks
Outro elemento susceptível de complicar a sua situação é o papel do grupo WikiLeaks, cuja aliança com Snowden torna o seu caso mais político. A especialista britânica em questões legais Sarah Harrison, que é membro de topo da WikiLeaks e confidente de Assange, acompanhou Snowden no voo de Hong Kong para Moscovo e pensa-se que pode estar com ele.
Snowden foi para Moscovo por não ter grande escolha no trajecto que o manteria a salvo dos americanos, dizem ex-responsáveis dos serviços secretos russos e analistas políticos.
“Ele não tem quase para onde ir. Não tem muita escolha”, disse Fyodor Lukyanov, editor da publicação especializada Russia in Global Affairs e membro do influente conselho sobre política externa. “Tendo ele revelado uma posição considerada pelos EUA como de traição, ele terá de delinear um itinerário por países onde sinta que tem mais ou menos garantias de não ser entregue.”
Apesar de o Presidente russo Vladimir Putin insistir que as agências de serviços secretos da Rússia não têm estado “a trabalhar com” Snowden, uma fonte dos serviços de segurança disse que certamente o entrevistaram. Putin construiu a sua imagem em torno de um acentuado nacionalismo. “Se ele entregar Snowden aos Estados Unidos, pode ser criticado pelos russos que o vêem como um herói.”
Intenções pouco claras
A prolongada permanência de Snowden no aeroporto de Moscovo pode ter mais a ver com os seus problemas em chegar a um acordo com o Equador do que com qualquer desejo de impedir o fugitivo americano de seguir viagem, considera uma fonte dos serviços de segurança russos.
O Presidente do Equador Rafael Correa ofereceu asilo a Snowden, que elogiou por expor publicamente os esforços de espionagem dos Estados Unidos. Contudo, ele pode também estar a tentar preencher o vazio deixado pela morte do Presidente socialista da Venezuela Hugo Chávez – que foi durante uma década o mais expressivo adversário de Washington na região. O Equador pode parecer a melhor aposta de Snowden para a escolha de país de asilo, mas as intenções do país não são ainda claras.
Por agora, também a Venezuela não parece ser um destino muito promissor para Snowden. Maduro deixou várias vezes claro que teria uma abordagem positiva, na eventualidade de um pedido de asilo, mas na quinta-feira disse que ninguém tinha ainda feito esse pedido. Desde a tomada de posse em Abril, Maduro usou, por vezes, uma retórica anti-EUA ao estilo de Hugo Chávez, mas também manifestou o interesse em melhorar as relações com Washington. Sem a ajuda de um Governo empático, Snowden verá a sua capacidade de viajar limitada.

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