sexta-feira, 28 de junho de 2013

Pai de Edward Snowden diz que o filho voltaria aos EUA, se não fosse detido antes do julgamento

 


Pai do analista informático que trabalhou para a CIA e revelou o programa de espionagem de emails e telefonemas diz que o filho não é um traidor. Equador irritado com Assange.

Protesto contra o programa de escutas PRISM junto à embaixada norte-americana na Ucrânia SERGEI SUPINSKY/AFP
O pai de Edward Snowden, o ex-analista informático que revelou o programa através do qual o Estados Unidos vigiam as comunicações telefónicas e na Internet dos cidadãos norte-americanos e de todo o mundo, disse ter escrito uma carta ao attorney general Eric Holder, dizendo que o seu filho provavelmente estaria disposto a regressar, se não fosse detido antes de ser submetido a julgamento, nem impedido de falar com os media. “O meu filho não é um traidor”, afirmou Lonnie Snowden.
Neste momento, Lonnie Snowden está preocupado com as pessoas que rodeiam o seu filho por ter revelado o programa PRISM da Agência Nacional de Segurança (NSA) dos Estados Unidos. “O interesse da WikiLeaks não é propriamente a defesa da Constituição, mas antes divulgar o máximo de informação possível”, disse numa entrevista à televisão NBC News, em que falou sobre a carta que o seu advogado enviou a Eric Holder, o responsável máximo pela Justiça nos Estados Unidos, e o homem que lidera a investigação às fugas de informação na Administração Obama.
Na verdade, Lonnie Snowden não fala com o filho desde Abril, gostaria muito de poder falar com ele agora e está preocupado com a possibilidade de Edward estar a ser manipulado por Julian Assange e pelos seus aliados.
Ninguém sabe ao certo o que é feito de Edward Snowden – julga-se que permanece na área internacional do aeroporto de Cheremetievo, em Moscovo, à espera de resposta sobre o seu pedido de asilo ao Equador. Mas há sinais de que em Quito também há exasperação com o papel desempenhado por Julian Assange neste caso.
O Presidente Rafael Correa disse que a apreciação do pedido de asilo feito por Snowden configura “uma situação complexa”, porque o norte-americano não está em território equatoriano, nem em nenhuma embaixada daquele país. “Para que isso aconteça, é preciso que entre no país, o que ainda não aconteceu. Não sabemos como resolver esta questão”, afirmou na quinta-feira.
Salvo-conduto inválido
Além disso, o Presidente do Equador foi claro quanto à validade do documento de viagem, ou salvo-conduto, emitido em nome do Equador, com o qual Edward Snowden terá viajado de Hong Kong para Moscovo.
Nenhum responsável equatoriano negou a sua existência, e correspondência diplomática a que teve acesso a televisão de língua espanhola Univisión e o Wall Street Journal revela que terá sido emitido por Fidel Narvaez, cônsul na embaixada do Equador em Londres, onde Assange está refugiado há um ano, para evitar ser deportado para a Suécia, onde as autoridades querem interrogá-lo sobre acusações de violência sexual.
Mas esse documento não vale nada, afirmou Rafael Correa: “Qual é a validade de um salvo-conduto emitido por um cônsul em Londres para alguém ir de Hong Kong para Moscovo? Nenhuma.”
Na correspondência diplomática revelada pela Univisión e pelo Wall Street Journal percebe-se que há um claro mal-estar entre Julian Assange e o Governo de Quito. Assange terá dado um passo maior do que as pernas ao ligar tão prontamente o Equador ao caso.
Ainda assim, Rafael Correa aproveitou para dar uma bofetada aos Estados Unidos anunciando que retirava o seu país do Tratado Andeano de Preferência Comercial (ATPA em inglês), após ameaças de congressistas norte-americanos de que o acordo não seria renovado em Julho, se o Equador abrigasse Snowden. Mas mesmo antes deste caso, já havia grandes possibilidades de Quito perder este estatuto preferencial – Correa terá apenas decidido antecipar-se.
O Presidente Barack Obama, entretanto, tentou apaziguar o clima que nos últimos dias se azedou com a Rússia e a China por não terem extraditado Edward Snowden, dizendo tratar-se “apenas de um hacker”. No Senegal, a sua primeira paragem na viagem a África, falou do assunto: “Isto não é excepcional do ponto de vista legal. Não vou permitir que este caso seja levado ao ponto em que tenha de negociar e rastejar”, afirmou, citado pelo New York Times.

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