© Colagem: Voz da Rússia
A Voz da Rússia continua a publicar as memórias do jornalista russo Konstantin Kachalin, que trabalhou nos Bálcãs durante 10 anos.
Em 1998, a OTAN e os EUA continuavam a chantagear diariamente Belgrado, apesar de o presidente Milosevic ter prometido ao representante especial dos EUA Richard Holbrooke iniciar conversações com Ibrahim Rugova e retirar do Kosovo parte das suas tropas.
Eu percebi muita coisa depois de ter lido com atenção um artigo sobre Holbrooke e as suas viagens ao Kosovo. Fiquei especialmente admirado com o seu encontro "casual" com um dos comandantes do Exército de Libertação do Kosovo (ELK) na aldeia de Junik, perto de Decane. Isso aconteceu nos finais de junho de 1998. O próprio Holbrooke disse depois que ele queria apenas falar com o chefe da administração e que o aparecimento de uma pessoa envergando um uniforme com insígnias do ELK, e com uma metralhadora nas mãos, foi para ele uma surpresa absoluta.
Mais tarde, Holbrooke declarou, perante todo o mundo, que a solução do problema do Kosovo se deve basear na alteração das fronteiras dentro da República Federal da Iugoslávia. Era possível chegar à conclusão que se pretendia atribuir ao Kosovo o estatuto de república, integrando a Iugoslávia, tal como a Sérvia e o Montenegro. O encontro de Holbrooke com os combatentes demonstrou, mais uma vez, que os EUA estão a controlar todas as ações dos terroristas, inclusive treinando-os e armando-os.
Quanto à reunião "inesperada" com os militantes e ao aparecimento "inesperado" do correspondente da AP. Na foto, que foi divulgada por todo o mundo, Holbrooke se apresenta tranquilo, sem calçado, ao lado de um combatente barbudo com o emblema do ELK na boina. Se descobriu que tinha sido o próprio Holbrooke a solicitar o encontro e que este foi organizado pela Embaixada dos EUA em Belgrado. Os diplomatas estadunidenses, ao se aproximarem da aldeia, dispensaram a escolta policial. Deixaram também de fora quase todos os jornalistas. Só alguns correspondentes ocidentais de especial confiança acompanharam Holbrooke. Mais tarde, eu soube que o “interlocutor” de Holbrooke era um mercenário albanês de Tropoje.
Em outubro de 1998, Pristina estava especialmente satisfeita, pois Richard Holbrooke voltou a prometer ao ELK uma proteção total contra Belgrado e Milosevic. No dia 19 de outubro, eu fiquei com a impressão que toda a Pristina saiu à rua para celebrar a vitória. O caso não era para menos, pois o senhor Holbrooke, o “melhor amigo” dos kosovares, tinha dado uma extensa entrevista à cadeia de televisão ABC. Holbrooke tinha dito que as autoridades da Iugoslávia continuavam a cumprir as condições da Resolução 1199 do Conselho de Segurança da ONU e a retirar do Kosovo as suas forças militares e policiais. Além disso, os aviões de reconhecimento da Aliança Atlântica começaram a monitorizar a situação na província e o primeiro contingente de 2000 observadores da OCSE já tinha chegado ao território. Ao responder à questão se os representantes dessa organização ficariam como reféns nas mãos das duas partes em confronto, Holbrooke reconheceu que esse problema era a sua "maior preocupação". No entanto, "cada participante na missão terá o seu próprio plano de evacuação de emergência em caso de ocorrerem circunstâncias extraordinárias". Se for necessário, o auxílio aos observadores seria prestado, segundo o diplomata norte-americano, por forças especiais estacionadas na região.
Holbrooke não esclareceu de que forças se tratava. Anteriormente, representantes da administração dos EUA manifestaram a intenção de criar forças de reação rápida da OTAN com vários milhares de homens e de colocá-las, possivelmente, em navios no Mar Adriático e no território da Macedônia, mas o diplomata norte-americano sublinhou que a decisão do Conselho da OTAN sobre possíveis ataques contra alvos sérvios continuava em vigor. A sua execução teria sido adiada para 27 de outubro e a Aliança teria "o dedo no gatilho", declarou Holbrooke, avisando mais uma vez que tudo dependia de Belgrado.
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