Ericino de Salema
Car@s amigos: quero pedir desculpas, e a V. compreensao, por nao estar em condicoes de partilhar as entrevistas na integra. O meu editor, que anda por aqui, e que esta a trabalhar na compilacao dalgumas das entrevistas que fiz nos ultimos 15 anos (SAVANA, ZAMBEZE, Embondeiro e Magazine Independente) diz que tal significaria violacao do contrato que mantenho com a sua editora. Pacta sunt servanta......Abaixo, partilho excertos da entrevista, que inseri na minha coluna (Canal de Irreverencia) no "Canal de Mocambique", ja nas bancas desde as primeiras horas de hoje.
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O candidato Guebuza
Há sensivelmente dez anos, tive a oportunidade de entrevistar, por duas vezes, Armando Emílio Guebuza (AEG), na altura secretário-geral da Frelimo e candidato por este partido a Presidente da República, nas “presidenciais” de 2004. Pela sua actualidade, decido (re)publicar, nesta minha coluna quinzenal, partes relevantes dessa entrevista. Versão integral será oportunamente publicada, noutro formato, juntamente com as de Keneth Kaunda, Fernando Ganhão, Jorge Rebelo, Afonso Dhlakama, Elísio Macamo, José Rodrigues dos Santos, Cristofa Jamo, Manuel Chang, Rafael da Conceição, Sérgio Vieira, Rogério Uthui, Pedro Mantoras, etc.
ES: Há cerca de um ano (2001), o ex-secretário geral da Frelimo, Manuel Tomé, reconheceu em conferência de imprensa que a Frelimo já não era partido de massas. Qual é o seu comentário?
AEG: A Frelimo sempre se interessou pelas massas, mas no processo de trabalho nem sempre há que dar respostas apropriadas a várias questões que as populações têm, particularmente em termos de presença no terreno. Nunca seremos suficientemente partido de massas, mas sempre trabalharemos para o ser. É um processo dinâmico e dialéctico e, por conseguinte, representa um desafio para que sejamos cada vez mais um verdadeiro partido de massas.
ES: Hoje [2003] nota-se a existência de alas na Frelimo. Há ‘vozes autorizadas’ que já aparecem a dizer que o Estado está a saque, o que provoca um mal-estar por parte daqueles que estão directamente no governo. Haverá algo mal alinhavado?
AEG: Muitos não conhecem a verdadeira história da Frelimo. Esses não sabem que na Frelimo sempre imperou uma profunda liberdade de expressão entre os seus membros. No nosso partido, ninguém se assusta por existirem colegas com opiniões diferentes. Longe de nos enfraquecer, isso reforça o partido.
ES: No livro ‘Os Habitantes da Memória’, de Nelson Saúte, Heliodoro Baptista diz que o senhor é um inimigo da liberdade de expressão e de imprensa, e que quando esteve a trabalhar em Sofala, teria impedido que pessoas como ele [Heliodoro Baptista] escrevessem livremente. Quer comentar?
AEG: Tenho lido as obras de Nelson Saúte, mas essa me escapou. Trabalhei de facto em Sofala, e penso que trabalhei bem com os jornais. Que eu saiba, não participei em actos que pudessem impedir o desenvolvimento da liberdade de imprensa. Contudo, poderá haver percepções erradas; e isso existe em toda a parte.
ES: Se for eleito Presidente da República, apostará num Governo jovem, velho ou misto?
AEG: Apostarei num governo competente.
ES: O que é um governo competente?
AEG: Governo competente é aquele que é capaz de produzir e satisfazer as necessidades do povo.
ES: O julgamento do “Caso Cardoso”está a provar que em Moçambique temos ricos que não produzem riqueza, só ostentam. Como olha para isso?
AEG: Devemos pensar seriamente no sector empresarial em Moçambique, sem pretender concluir que essas análises sobre o julgamento sejam superficiais. Mas garanto que são incompletas. Temos trabalhadores no país; há pessoas que pegam em enxadas e vão produzir milho. Há gente disposta a suar para produzir. As análises que são feitas procuram apresentar apenas os aspectos negativos do empresariado nacional. Neste caso, fica-se com a ideia de que só os empresários estrangeiros é que são sérios. Somente os estrangeiros! Onde é que está Moçambique neste caso? Nós precisamos de ter um empresariado nacional que seja interlocutor com os investidores estrangeiros. É incorrecto apresentar o empresariado nacional como sendo, à partida, inútil. Tal pensamento é errado.
ES: O senhor é político e empresário ao mesmo tempo. Como pensa gerir essa situação, na eventualidade de ganhar as “presidenciais”?
AEG: Respeitarei a lei. Por lei, tenho que delegar a gestão das minhas empresas a outras pessoas. Eu não posso participar na sua gestão directa.
ES: Como é ser empresário e político ao mesmo tempo em Moçambique?
AEG: O ser empresário dá uma sensibilidade adicional ao político. O político que defende certas ideias encontra uma forma de aplicá-las na criação da riqueza. São duas coisas complementares.
ES: Vai concorrer a PR, e é sócio de algumas empresas já falidas, como é o caso da “Laurentina Cervejas”. Não acha que isso jogará negativamente a seu favor?
AEG: Eu penso que não, por várias razões: primeiro porque falir é falir; segundo, nunca fui gestor dessas empresas falidas. Isso não põe em causa a minha capacidade de gestão. Nunca fui gestor das minhas empresas falidas. Nós temos que entender os meandros das empresas. Elas são algo extremamente complexo. É preciso compreender mais isto e não ir para os aspectos puramente lineares e simplistas, como muitas vezes acontece. Pensa-se que já que fulano é sócio, as coisas tinham que acontecer assim. Há que procurar saber qual é o capital que essa pessoa tem, quais são os recursos ao seu dispor, quais são as forças de mercado que existem e como é a concorrência. Esses aspectos todos não são tomados em consideração. Naturalmente, numa situação em que somos emergentes na criação da riqueza nacional também temos dificuldades de poder analisar os fenómenos da criação da riqueza na sua própria complexidade.
ES: O senhor disse, em entrevista à TVM, que se tinha tornado rico a partir da criação de patos. O que queria dizer com isso?
AEG: O meu processo de criação de riqueza incluiu, também, a criação de animais de pequena espécie, incluindo patos. E foi nessa base que acumulei alguma coisa.
ES: O “slogan” do seu partido para as eleições é “A Força da Mudança”. Como é que se caracteriza essa força?
AEG: É a capacidade que temos de reflectir sobre a realidade e transformar essa realidade sempre em benefício do cidadão.
ES: Em caso de ser eleito Presidente da República, essa “Força da Mudança” não se vai confundir com uma mudança de força?
AEG: Não penso assim, porque se a lei é uma força, então, sim, porque, naquilo que a lei nos obrigar a fazer, tentaremos cumprir à risca, tudo fazendo para desenvolver Moçambique. Não se preconiza o uso da força no sentido de coacção, mas no sentido de fazer valer os valores que todos nós comungamos, e o desejo que todos nós temos, que é combater a pobreza.
ES: Até que ponto o vosso “slogan” pode ser uma realidade, já que preconiza a mudança, enquanto a Frelimo está no poder há quase 30 anos?
AEG: É que a Frelimo tem a capacidade de pensar sobre a realidade: a Frelimo foi a força que trouxe a independência e, quando esta veio, a Frelimo teve a capacidade de reflectir para encontrar a solução dos problemas e, mais tarde, quando apareceu a guerra, a Frelimo foi capaz de ter força suficiente para combater e acabar com a guerra e instalar a paz. Depois, foi capaz de garantir que essa paz se mantivesse. Por conseguinte, a Frelimo está sempre à frente. — with Américo Matavele and 7 others.See more
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O candidato Guebuza
Há sensivelmente dez anos, tive a oportunidade de entrevistar, por duas vezes, Armando Emílio Guebuza (AEG), na altura secretário-geral da Frelimo e candidato por este partido a Presidente da República, nas “presidenciais” de 2004. Pela sua actualidade, decido (re)publicar, nesta minha coluna quinzenal, partes relevantes dessa entrevista. Versão integral será oportunamente publicada, noutro formato, juntamente com as de Keneth Kaunda, Fernando Ganhão, Jorge Rebelo, Afonso Dhlakama, Elísio Macamo, José Rodrigues dos Santos, Cristofa Jamo, Manuel Chang, Rafael da Conceição, Sérgio Vieira, Rogério Uthui, Pedro Mantoras, etc.
ES: Há cerca de um ano (2001), o ex-secretário geral da Frelimo, Manuel Tomé, reconheceu em conferência de imprensa que a Frelimo já não era partido de massas. Qual é o seu comentário?
AEG: A Frelimo sempre se interessou pelas massas, mas no processo de trabalho nem sempre há que dar respostas apropriadas a várias questões que as populações têm, particularmente em termos de presença no terreno. Nunca seremos suficientemente partido de massas, mas sempre trabalharemos para o ser. É um processo dinâmico e dialéctico e, por conseguinte, representa um desafio para que sejamos cada vez mais um verdadeiro partido de massas.
ES: Hoje [2003] nota-se a existência de alas na Frelimo. Há ‘vozes autorizadas’ que já aparecem a dizer que o Estado está a saque, o que provoca um mal-estar por parte daqueles que estão directamente no governo. Haverá algo mal alinhavado?
AEG: Muitos não conhecem a verdadeira história da Frelimo. Esses não sabem que na Frelimo sempre imperou uma profunda liberdade de expressão entre os seus membros. No nosso partido, ninguém se assusta por existirem colegas com opiniões diferentes. Longe de nos enfraquecer, isso reforça o partido.
ES: No livro ‘Os Habitantes da Memória’, de Nelson Saúte, Heliodoro Baptista diz que o senhor é um inimigo da liberdade de expressão e de imprensa, e que quando esteve a trabalhar em Sofala, teria impedido que pessoas como ele [Heliodoro Baptista] escrevessem livremente. Quer comentar?
AEG: Tenho lido as obras de Nelson Saúte, mas essa me escapou. Trabalhei de facto em Sofala, e penso que trabalhei bem com os jornais. Que eu saiba, não participei em actos que pudessem impedir o desenvolvimento da liberdade de imprensa. Contudo, poderá haver percepções erradas; e isso existe em toda a parte.
ES: Se for eleito Presidente da República, apostará num Governo jovem, velho ou misto?
AEG: Apostarei num governo competente.
ES: O que é um governo competente?
AEG: Governo competente é aquele que é capaz de produzir e satisfazer as necessidades do povo.
ES: O julgamento do “Caso Cardoso”está a provar que em Moçambique temos ricos que não produzem riqueza, só ostentam. Como olha para isso?
AEG: Devemos pensar seriamente no sector empresarial em Moçambique, sem pretender concluir que essas análises sobre o julgamento sejam superficiais. Mas garanto que são incompletas. Temos trabalhadores no país; há pessoas que pegam em enxadas e vão produzir milho. Há gente disposta a suar para produzir. As análises que são feitas procuram apresentar apenas os aspectos negativos do empresariado nacional. Neste caso, fica-se com a ideia de que só os empresários estrangeiros é que são sérios. Somente os estrangeiros! Onde é que está Moçambique neste caso? Nós precisamos de ter um empresariado nacional que seja interlocutor com os investidores estrangeiros. É incorrecto apresentar o empresariado nacional como sendo, à partida, inútil. Tal pensamento é errado.
ES: O senhor é político e empresário ao mesmo tempo. Como pensa gerir essa situação, na eventualidade de ganhar as “presidenciais”?
AEG: Respeitarei a lei. Por lei, tenho que delegar a gestão das minhas empresas a outras pessoas. Eu não posso participar na sua gestão directa.
ES: Como é ser empresário e político ao mesmo tempo em Moçambique?
AEG: O ser empresário dá uma sensibilidade adicional ao político. O político que defende certas ideias encontra uma forma de aplicá-las na criação da riqueza. São duas coisas complementares.
ES: Vai concorrer a PR, e é sócio de algumas empresas já falidas, como é o caso da “Laurentina Cervejas”. Não acha que isso jogará negativamente a seu favor?
AEG: Eu penso que não, por várias razões: primeiro porque falir é falir; segundo, nunca fui gestor dessas empresas falidas. Isso não põe em causa a minha capacidade de gestão. Nunca fui gestor das minhas empresas falidas. Nós temos que entender os meandros das empresas. Elas são algo extremamente complexo. É preciso compreender mais isto e não ir para os aspectos puramente lineares e simplistas, como muitas vezes acontece. Pensa-se que já que fulano é sócio, as coisas tinham que acontecer assim. Há que procurar saber qual é o capital que essa pessoa tem, quais são os recursos ao seu dispor, quais são as forças de mercado que existem e como é a concorrência. Esses aspectos todos não são tomados em consideração. Naturalmente, numa situação em que somos emergentes na criação da riqueza nacional também temos dificuldades de poder analisar os fenómenos da criação da riqueza na sua própria complexidade.
ES: O senhor disse, em entrevista à TVM, que se tinha tornado rico a partir da criação de patos. O que queria dizer com isso?
AEG: O meu processo de criação de riqueza incluiu, também, a criação de animais de pequena espécie, incluindo patos. E foi nessa base que acumulei alguma coisa.
ES: O “slogan” do seu partido para as eleições é “A Força da Mudança”. Como é que se caracteriza essa força?
AEG: É a capacidade que temos de reflectir sobre a realidade e transformar essa realidade sempre em benefício do cidadão.
ES: Em caso de ser eleito Presidente da República, essa “Força da Mudança” não se vai confundir com uma mudança de força?
AEG: Não penso assim, porque se a lei é uma força, então, sim, porque, naquilo que a lei nos obrigar a fazer, tentaremos cumprir à risca, tudo fazendo para desenvolver Moçambique. Não se preconiza o uso da força no sentido de coacção, mas no sentido de fazer valer os valores que todos nós comungamos, e o desejo que todos nós temos, que é combater a pobreza.
ES: Até que ponto o vosso “slogan” pode ser uma realidade, já que preconiza a mudança, enquanto a Frelimo está no poder há quase 30 anos?
AEG: É que a Frelimo tem a capacidade de pensar sobre a realidade: a Frelimo foi a força que trouxe a independência e, quando esta veio, a Frelimo teve a capacidade de reflectir para encontrar a solução dos problemas e, mais tarde, quando apareceu a guerra, a Frelimo foi capaz de ter força suficiente para combater e acabar com a guerra e instalar a paz. Depois, foi capaz de garantir que essa paz se mantivesse. Por conseguinte, a Frelimo está sempre à frente. — with Américo Matavele and 7 others.See more
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