domingo, 24 de janeiro de 2016

CAMPO DE REEDUCAÇÃO DE MITELELA OU CAMPO DE CONCENTRAÇÃO?

12-06-2004


DEMOS - Dezembro 2003
CONFIDENCIAL
Coluna de João CRAVEIRINHA
email: joaocraveirinha@yahoo.com.br
DOSSIER 10
CAMPO DE REEDUCAÇÃO DE MITELELA OU CAMPO DE CONCENTRAÇÃO?
(VAE VICTIS – AI DOS VENCIDOS!)
3ª Parte (Fim da 1ª Fase)
Em 1975 – Novembro (?!), João Craveirinha e mais elementos são transferidos (detidos) de Nachingueia (Tanzânia) para Niassa oriental, via Lago. São enviados para o campo de concentração da FRENTE em Mitelela, no antigo quartel português de Nova Viseu, deixado pelos militares lusos, todo minado ao redor e com garrafas partidas enterradas nas instalações. Entre os detidos e transferidos encontravam-se muitos nomes conhecidos do nacionalismo africano como Adelino Guambe fundador da FRELIMO, o reverendo Uria Simango, sua esposa Celina, Paulo Gomane, Narciso Inbule, antigos comandantes de élite entre eles, Pascoal Almeida Nhapulo, Pedro Simango (2), Januário Napulula e Chéés-padres muçulmanos (sheiks), curandeiros, etc. Entre os presos, ainda, Lázaro Kavandame, Verónica, o ex-representante da Frente no Cairo, Judas Honwana, o médico Dr. João Unhai(Unyai), o engenheiro Marqueza, o Prof. Dr. Kambeu de Direito Internacional, a Dra. Joana Simeão da FRECOMO (anteriormente do GUMO do Dr. Máximo Dias), o primo de 1º grau do Prof. Dr. Eduardo Mondlane – Pedro Mondlane, e muitos outros. O campo de Mitelela de máxima segurança encontrava-se numa região lamacenta muito isolada e de fauna bravia – leões, leopardos, elefantes, cobras. Os felinos e as cobras eram “visitas” normais. No campo encontravam-se também, antigos agentes moçambicanos da Pide como Leonel Soleimane Motty, o 1º em Moçambique (1972), a ter uma empresa privada de segurança com uma rede bem montada nas principais empresas e 3 “chóferes” privados à disposição e respectivas viaturas novas. Leonel Motty, natural de Quelimane, provinha da Polícia Judiciária onde se formara em Lisboa e tinha acesso aos arquivos da PIDE na Casa Algarve em Lourenço Marques. Acumulava com a tarefa de Inspector do Trabalho e de empresário de ligações com as representações da Volkswagen e da BMW. Teve tempo e dinheiro para fugir para a África do Sul, mas ingenuamente, ofereceu-se para trabalhar para a FRELIMO em 1974. Muito mais tarde, prisioneiro com tuberculose e maus-tratos, sucumbiria em Niassa nos anos 1980 (?!). Talvez, L. Motty, pensasse nos chefes da Gestapo alemã de Hitler que se ofereceram para trabalhar para os russos em Moscovo na iminência da queda do 3º Reich em 1945. É o caso do director Müeller da mesma polícia secreta nazi. Não só seria poupado como integraria os serviços secretos soviéticos, na formação. Os russos aproveitaram a sua experiência. Existe uma cultura comum nas polícias secretas a serviço de qualquer poder político. São instrumentos e a experiência conta. Da rede piramidal total, montada por Motty em Moçambique, quem poderá saber se eventualmente muitos desses elementos que nunca seriam detectados, teriam integrado os grupos dinamita…dores, digo, dinamizadores de tão triste memória da Frelimo? Quiçá alguns poderiam ter subido na hierarquia da própria estrutura política de bairro da Frelimo aos dias de hoje. A muito longo prazo – o acesso a serem empresários de sucesso, mostrando a verdadeira face, renegando a Frelimo que lhes deu o ”escadote” para subirem e quem sabe à custa de acusar os outros de serem reaccionários, na era de Samora Machel, enviando-os aos fatídicos campos de “reeducação”? Era preciso mostrar serviço para serem de confiança política. Poderá estar aí o embrião da conspiração e do oportunismo actualmente patente no nosso país!
A terminar esta 1ª fase dos DOSSIERS CONFIDENCIAIS coloca-se uma questão de fundo: Sempre houve infiltrações (ou tentativas) descobertas na Frelimo e em qualquer Movimento de Libertação e em toda a História da Humanidade sempre houve e haverá espionagem no campo do inimigo. Mas a questão de fundo é maior. Saber se a nível da cúpula, na Frelimo, terá havido uma Grande Toupeira ou várias?
A PIDE, em Lourenço Marques, na Costa do Sol, queimou todos os nomes, dados, e documentação dos seus arquivos, no campo de futebol do Benfica de LM, hoje CDCS. A Torre do Tombo não tem esses dados. Há só indícios. Havia um grande infiltrado ou mais a nível da cúpula? Mas quem? E que percurso? Chegaram a ministros e a membros do Comité Central? Estiveram entre os 10 mais poderosos de Moçambique na era de Machel? Se existiram, agora aonde andarão esses super agentes da PIDE? Serão empresários ou deputados ou ministros? Presumo que para sempre será um mistério!
E sobre, João Craveirinha, PRESO POLÍTICO (voluntário), na FRENTE de LIBERTAÇÃO, em Nachingueia(Nachingwea) e Niassa…Um dia, será contada e publicada a história depois da sua morte! ●

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27-05-2005

O PLANO CAETANISTA PARA A DECLARAÇÃO UNILATERAL DE INDEPENDÊNCIA DE ANGOLA

Ecmnésia Histórica

O PLANO CAETANISTA PARA A DECLARAÇÃO UNILATERAL DE INDEPENDÊNCIA DE ANGOLA E MOÇAMBIQUE. E O" GRANDE TRAIDOR"... l976 - JULHO...
REVELAÇÕES HISTÓRICAS NUM ENCONTRO, EM CURITIBA, BRASIL, COM O PROBO EX-VICE PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL DE LUANDA, O ANGOLANO DO MPLA/REVOLTA ATIVA ABÍLIO AUGUSTO FERREIRA DE LEMOS. PROCLAMAÇÃO UNILATERAL DE INDEPENDÊNCIA DE ANGOLA E MOÇAMBIQUE - UM PLANO DE MARCELO CAETANO QUE FRACASSOU PORQUE TERÁ SIDO TRAÍDO POR UM DOS SEUS MAIS "CONFIÁVEIS" CONFIDENTES...

Corria o segundo semestre de 1976. Tínhamos desembarcado no Rio de Janeiro,
vindos de Lisboa, no dia 4 de Julho, já adentrado na casa dos 50 e tendo, pela terceira vez na nossa vida, de procurar, sem ajudas, nem capital nos bolsos ou contas bancárias, um novo rumo para a nossa vida. Depois de várias desilusões e falsas ilusões, somente uma mão generosa nos foi estendida, a de José Manuel Pereira da Costa, distinto jornalista e leal amigo, ex-subdiretor do Diário de Luanda que então estava chefiando a redação de um semanário da comunidade portuguesa na cidade de São Paulo e viria a acabar seus dias, anos mais tarde, na capital portuguesa, vitimado por um ataque cardíaco, como diretor do jornal O DIA. Era ele um jornalista de grande mérito que realizara no Estado da Índia, um extraordinário trabalho de reportagem, nos nebulosos dias que precederam e acompanharam a vergonhosa queda daquela antiga possessão portuguesa situada na península hindustânica.
Ao chegarmos ao Rio, não nos ocorrera que ainda poderia estar viva a nossa
grande amiga Condessa Pereira Carneiro, Diretora-Presidente do importante
JORNAL DO BRASIL, de quem fôramos colaborador e se correspondia assiduamente connôsco, isso porque se tratava de uma anciã que já ultrapassara os oitenta anos de idade e por outro lado, apesar de termos sido colaborador da revista MANCHETE, a convite de Luci Bloch, devendo-se-nos o texto e as legendas do suplemento especial, a cores, PORTUGAL HOJE - ANGOLA 68, para cuja feitura
integráramos uma equipa de reportagem de que faziam parte também o pernambucano Luís Câmara Cascudo, então responsável pelas edições
internacionais, e Gil Pinheiro, repórter fotográfico, nossa maneira de ser, avessa a protecionismos e nepotismos, não nos moveu a buscar emprego nesta última organização jornalística, ao contrário do que fizera o diretor de um diário de Lourenço Marques (hoje, Maputo) que nela conseguiu colocação. Não foram tempos fáceis para nós, esses que estamos evocando... Pelo contrário.
Mas, as duras realidades que enfrentámos em nossos primeiros meses na Diáspora, foram-nos proveitosas, constituíram lições utilitárias que nos habituaram a uma nova "maneira de estar no mundo" (como escreveria... Adriano Moreira).
Pereira da Costa, ao saber da nossa presença em São Paulo (onde tencionávamos
demorar apenas alguns dias a fim de continuarmos viagem para Caracas, Venezuela, onde tínhamos, a convite de um compatriota ali residente - que nem
conheciamos senão por via epistolar - , lugar como professor num colégio português, para filhos de imigrantes, denominado Colégio Santa Isabel que
ignoramos se ainda existe por lá) mesmo sem lhe termos solicitado ajuda,
apressou-se a procurar uma solução par o nosso caso. Em São Paulo, um
ex-deputado federal brasileiro que tivera seu mandato cassado pela chamada
ditadura militar, não pelo que ele dizia ser o motivo mas sim devido ao seu
comporatemento social reprovável em Luanda, numa das várias visitas que, a
convite do MNE português ali fizera, prometia a angolanos empregos e mordomias que não se concretizavam porque estava apenas namorando as simpatias e votos da numerosa colônia portuguesa, namorando votos para um seu parente próximo. Pessoal angolano não faltava então na capital do Estado de São Paulo (até existia um esboço de associação de angolanos na Diáspora)
Habitualmente reuniam, com regularidade, num jantar de confraternização que
tinha lugar no restaurante GUARACIABA, na avenida visconde do Rio Branco,
pertencente a um ex-major do QSAM, afilhado do ex-GG Rebocho Vaz, que fora
acusado de peculato no exército e conseguira, em Luanda, evadir-se do cárcere
onde estivera detido, passando a fronteira setentrional angolana e virando (como o digno e honrado tenente-coronel Gilberto Santos e Castro, nosso amigo e conterrâneo angolano, ex-governador do distrito do Kuanza Norte) mercenário no ELNA de Holden Roberto, só o deixando quando aquele foi traiçoeiramente
desintegrado com a aperente conivência do exército português, a mando do
inescrupuloso filo-comunista Almirante Vermelho, de triste memória, Alto
Comissário em Angola, acolitado pelo avermelhado capitão Pez...Co, que era
( a par de mais alguns "capitães dos cravos vermelhos") um " pangaré" de
Agostinho Neto e seus "muchachos", antes da partida dos contingentes lusos.
Isto só ocorreu depois de desembarcados, de cargueiros com pavilhão não cubano da marinha mercante, sob disfarces civis, em faixas desertas dos litorais de Kabinda e do Kuanza Sul, os contingentes cubanos de mercenários a soldo de Moscou, a fim de assegurarem ao MPLA, com o escandaloso respaldo da JSN e do governo de Lisboa que violou os ACORDOS DO ALVOR, o domínio militar da situação, mediante a destruição dos revoltosos mplaístas de Daniel Chipenda (que, na verdade, derrotara Agostinho Neto na eleição para presidente do MPLA, em Lusaka, mas, devido a uma manobra suja do Lúcio Lara e do Agostinho Neto, não lograra tomar posse do lugar), sediados numa moradia à rua El-Rei D.Diniz, em Luanda, e da delegação da FNLA, na Avenida Brasil, a cargo do vaidoso (e fútil e inútil) hoje "ministro" da CS do JES - Hendrik Val Neto, mulato escuro, então "caninamente" fiel ao presidente da FNLA Holden Roberto ou... José Gilmore, ou Roberto Holden, conforme preferirem, personagem este, sem dúvida, muito chegado ao American Committee on Africa presidido pela sra. Eleanora Roosevelt, viúva do falecido presidente Franklin Delano Roosevelt, cuja ... ONG financiava as actividades (e não só estas...) daquele agrupamento político angolano e, indiscutivelmente, à CIA, segundo apostavam seus detractores.
Esse ex-major, que alugara alguns tractores de sua propriedade aos Instituto
do Algodão de Angola anos antes, confidenciou-nos descaradmente, em São
Paulo, no seu restaurante, que pudera abrir aquele negócio porque, à partida
de Kinshasa, HR lhe mostrara um baú que continha pacotes de notas de 50 e 100
dólares, dizendo-lhe que pegasse o que necessitasse e partisse para o Brasil;
se mais tarde a situação viesse a melhorar, ele o chmaria de novo para orientar as actividades militares das suas tropas, então desmanteladas e dispersas.
Como dissemos, generosamente Pereira da Costa quis ajudar-nos em São Paulo,
arranjando-nos, na capital paranaense, emprego num jornal de bairros de que
era proprietário um simpático - como viríamos a verificar - deputado estadual; para esse efeito encaminhou-nos a Curitiba onde fomos carinhosamente recebido e instalado num bom hotel, gratuitamente, pelo amigo Júlio, do Barracuda de Luanda, que o estava gerenciando. Recusou-se a cobrar-nos pela hospedagem qualquer quantia, nos dois dias que ali passámos.
Fôra ele co-proprietário do referido restaurante na ponta da restinga de Luanda, a que impropriamente chamavam de "ilha" (ao que parece, hoje o inesquecível Júlio está estabelecido em Cascais) ; proporcionou-nos uma surpresa, um almoço a três com o brilhante e honestíssimo compatriota euro-africano, distinto angolano e velho amigo (apesar de pertencer ao MPLA-Revolta Activa, dos irmãos Mário e Joaquim Pinto de Andrade (gente, como ele, decente, preparada e que não fôra "pé de musseque"...). Esse almoço seria para nós memorável porque nele, Abílio Ferreira de Lemos (categorizado funcionário do Banco de Angola em Luanda, analista econômico responsável pela feitura dos primorosos e badalados relatórios anuais - e não só - daquele banco central angolano, emissor de moeda, nosso Par na Assembléia Legislativa do Estado de Angola e vice-presidente, a convite do governador-geral, engº agrônomo Fernando Santos e Castro, da Câmara Municipal de Luanda, de que era então presidente, último do "ancien regime", o ex-comandante de Falange da Mocidade Portuguesa e nosso colega de curso superior no ICSP/UTL, Dr José Manuel Marques Palmeirim, atualmente alto funcionário da administraçãoportuguesa, afilhado do ex-Ministro do Interior e ex-Director do Centro de Instrução da Milícia da Mocidade Portuguesa no Batalhão de Caçadores Nº 5,
general Arnaldo Schultz,) iria desenvolver-nos uma revelação que apenas, em
parte, havia aflorado aos nossos ouvidos porque o nosso amigo e distinto advogado Dr Joaquim Mendes, nosso Par na Assembléia Legislativa, de que era também 1º vice-presidente, com freqüência no exercício da presidência (a qual, por inerência, na efectividade, cabia ao governador-geral), nosso companheiro, outrossim, como presidente da mesa da assembléia geral, nos corpos sociais da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários Luandenses- Cruz Verde, de que éramos presidente da direção, já no-lo havia segredado mas não com o detalhe que Abílio Augusto Ferreira de Lemos, amigo e companheiro de infância de Santos e Castro, também angolano (que connosco e outros, inclusive os irmãos Ferreira de Lemos, Sampaio Nunes, Emílio Leite Velho, Ângelo Vidigal Dias - que viria a ser assassinado em condições muito misteriosas, quando estava detido, nos anos 50, pelo " embrião "da PIDE em Luanda, os irmãos Azancout de Meneses e outros, fundara a Casa dos Estudantes de Angola e a Casa dos Estudantes do Império em Lisboa, da qual foi o primeiro vice-presidente, com Alberto Marques Mano Lemos de Mesquita como presidente, na década de 40) que participara de um "segredo de estado" emanado de Marcelo Caetano, seu idealizador, e somente do conhecimento de meia dúzia dos seus colaboradores mais directos em quem depositava a maior confiança (mas dos quais, um se revelaria clone de JUDAS).
Tratava-se de um plano para proclamação unilateral da independência de Angola, de cujo acto solene nós, que o ignorávamos ao tempo, também participaríamos, como parlamentar angolano, num acto histórico que se realizaria na histórica Fortaleza de MASSANGANO...
Infelizmente, meses depois do nosso encontro na capital do Paraná, o solteirão Abílio Augusto Ferreira de Lemos faleceu subitamente, de ataque cardíaco, no seu posto de trabalho, desempenhando funções de analista econômico numa renomada empresa de Curitiba, para a qual entrara por mérito próprio. Finaram-se no Brasil dois angolanos de rara têmpera: Abílio Augusto Ferreira de Lemos e Artur Lemos Pereira, outro distinto euro-africano que,universitário ao tempo, também foi um dos fundadores da CEA e da CEI, mais tarde combativo e incansável Vereador da Câmara Municipal de Luanda, onde ficaram a dever-se-lhe notáveis realizações culturais (e que o diga o ELOS CLUBE DO BRASIL) e turísticas de grande vulto, acabararm seus dias esquecidos e voluntariamente exilados na nossa Diáspora: o Artur, sempre bem disposto e prazenteiro, em Campinas, Estado de São Paulo, onde vivia sózinho, gerenciando um estabelecimento hoteleiro e uma confeitaria contígua ao mesmo, vitimado também por morte súbita.
Voltaremos ao assunto, para escalpelizar o que aconteceria na Fortaleza de
MASSANGANO, às margens do grande rio Kuanza, se, conforme soubemos em
Pretória em Agosto ou Setembro de 74 e mais tarde nos foi confirmado por um
amigo "böer" bem informado, uma personalidade portuguesa de elevada patente
militar, cujo foro íntimo era inequivocamente criptocomunista, e o fôra sempre, subrepticiamente, ao longo de toda a sua carreira, até ao "estrelato", íntimo de Marcelo Caetano, que depositava nessa figura a mais alta confiança, não se tivesse esgueirado, às pressas, acompanhado da esposa, em férias, rumo a Moscou, onde, segundo informações, que nos foram reveladas por uma proeminente figura, já abordada acima, da Intelligence sul-africana, o distinto fito-geneticista e ferrenho partidário do regime "boer" sul-africano, Doutor Harold Müller, o qual há bem poucos anos trabalhava na Bahia, para onde viera proveniente da Costa Rica, onde trabalhara, em melhoramentos de plantas, para uma multinacional francesa, se teria
apresentado ao Burô Político do Comité Central do Partido Comunista da URSS,
patrão do MPLA, da FRELIMO, do PAIGC e do PCP e PC do B, para denunciar o
plano marcelista e sugerir sua colaboração activa visando, a partir de um
problema ridículo - o do ingresso de oficiais milicianos "combatentes" no quadro permanente em condições que os já profissionais oriundos da Academia Militar classificavam de prejudiciais aos seus interesses - antecipar, com oportunismo mobilizador, um movimento dos fardados. Seria esse o único leitmotiv para derrubar o regime que impropriamente todos os oponentes carimbavam como ditatorial e fascista: o salazarismo do humilde ex-clérigo de Santa Comba Dão... António de Oliveira Salazar, o ex-padre ditador, que desde 1970 repousava numa campa de cemitério, após 71 anos de trabalhosa existência, em que defendera obsessivamente, sem respaldo brasileiro na maior parte da sua "cruzada" lusófona, a fomação de uma grande comunidade luso-afro-brasileira, mas constituindo um grande espaço político-cultural-econômico-militar estratégico e com domínio do Atlântico Sul, ideía essa que agora está sendo, pelo menos no plano cultural e da
cooperação econômica, reerguida, sem que eles o confessem para que não se
fale de identidade com o "velho ditador", como bandeira política sobretudo
pelas duas mais relevantes figuras do mundo político lusófono.
Fanfarronicamente tratam o assunto como "coisa nova", que não o é, pois, além
do falecido ditador da Calçada da Ajuda, também o lúcido, genial e impoluto
Leopold Sedar Senghor (corruptela da palavra SENHOR, porque ele,o presidente
senegalense que chegou a ministro num dos governos de Charles de Gaulle, era
de ascendência portuguesa, da Guiné-Bissau... embora aparentemente fosse um
melanoderme puro, um negro) defendia essa idéia com entusiasmo esperançoso e
serena argumentação. Voltaremos a este assunto em breve, para contar o resto
desta história inédita que tem jazido esquecida no fundo do baú lusófono...
Carlos Mário Alexandrino da Silva

Marcello admitiu Angola independente

Leia no Diário de Notícias de hoje sobre a descolonização que Marcelo Caetano estava preparando em 1974:

BANCO DE MOÇAMBIQUE FAZ 30 ANOS

Nota: Estes textos foram recebidos de Sérgio Vieira sob o título "Pequena homenagem ao XXX aniversário do BM
Caros Amigos,
Neste período em que o Banco de Moçambique (BM) comemora o seu XXX aniversário, aqui fica uma pequena reflexão em respeito a homens laboriosos e corajosos como o Governador Alberto Cassimo, os falecidos Administradores Carlos Aragão e Abel David e a centenas de trabalhadores e dirigentes que sacrificaram e continuam a sacrificar a sua juventude para que a instituição BM disponha  na fase presente de uma coluna vertebral moçambicana, que a sustenta.
Esta base, permite a instituição BM guindar-se à estatura de uma instituição exemplar, onde o sucesso sempre assenta na disciplina, na sobriedade, na austeridade, na competência e na eficiencia no desempenho da missão.
Os emails abaixo homenageam os trabalhadores e dirigentes laboriosos, dedicados e honestos de ontem e de hoje do BM -  a estes, sem excepção, manifesto a minha  admiração e respeito, rendo a minha homenagem.
Inclino-me perante a memória e perante o trabalho abnegado dos que, com qualidade e competência, aceitaram o difícil desafio de edificar e dos que continuam a edificar a instituição Banco de Moçambique com exemplaridade reconhecida no mundo inteiro.
O Banco de Moçambique permanecerá grande sempre que, como disse o Presidente Armando Guebuza por ocasião do XXX Aniversário do BM:
- “fôr exemplo na luta contra a corrupção e o burocratismo”
- ”colocar-se na dianteira , no cultivo do espírito de honestidade, trabalho, competência e transparência .... na interação necessária com outras instituições... ” –
in Economia e Negócios, Jornal Notícias de 20 de Maio de 2005’
Parabéns BM e aos seus trabalhadores dedicados.
Saudações
Prakash Ratilal
Veja o restante dos textos enviados em

29-04-2005

Carta aberta a Mário Ferro

Fernando Nota
O jornalista Mário Ferro é visado no livro “Ventos de Destruição” como a pessoa que atraiçoou Adelino Serras Pires, a ponto deste ter sido detido e torturado quase até a morte pela ex-SNASP, acrónimo da então polícia secreta moçambicana. A maneira como o episódio é contado suscitou-me algumas questões. Terá mesmo Ferro (aquele que eu vira dando palestra no Hotel Embaixador por ocasião do aniversário do DM) pertencido a ex-SNASP? Terá ele tido algumas ligações com aquela secreta?
Não tenho ligações pessoais com Mário Ferro, embora deva ressaltar que o conheço pela referência que foi no jornalismo moçambicano independente. Repito. Até à leitura daquela obra que Pires escreveu com Fiona Capstick conheci-o apenas como jornalista. Mas a referência que o livro faz a Ferro como tendo sido “um aprendiz do SNASP que tendo visitado Portugal em Junho de 1984 hospedara-se na casa de Maria José, a irmã de Pires” suscitou-me preocupação a ponto levar-me a escrever estas linhas. Como é que um proeminente jornalista poderia ter sido SISE, aliás, SNASP?
O livro entra em detalhes a respeito de Ferro, mormente um relatório secreto datado de 24 de Julho de 1984, rezando que ele (o Ferro) “bufou” a Samora Machel, ex-presidente de Moçambique, mas para “justificar a visita perante os seus amos espiões, com zelo de um recém-convertido ansioso por ser aceite no SNASP. A cópia do referido relatório, dizem os autores, aponta um certo número de pessoas perigosas para Moçambique, entre as quais a família de Pires.
Segundo o livro, o suposto relatório de Ferro peca por mentiras e imprecisões, que afirma, por exemplo, que a operação de caça na Tanzânia pertencia a um italiano. Diz que as concessões de caça da empresa Hunter Africa se iriam situar perto da fronteira entre Moçambique e Tanzânia, enquanto as mesmas se encontravam a mais de 1600 quilómetros dessa fronteira. Para além disso, acusava-os, a Pires e filho (Tim-Tim)de pertencerem a bandos armados (RENAMO), o que era ridículo.
Conta Pires que Ferro encontrou com Tim-Tim e Caju “por acaso”, quando estes iam a caminho de Madrid e da Tanzânia, para se juntarem a mim na nossa nova operação de caça. Como éramos ex-moçambicanos, pareceu natural que ficasse satisfeito por encontrar pessoas de Moçambique que ele conhecia havia anos. Ferro ficou até tarde depois do jantar em casa da Maria José e de repente perguntou se a família o podia receber para a noite. A minha ex-esposa ofereceu-lhe com satisfação o quarto do nosso filho, que já partira para Tanzânia. Como é natural, Ferro ouviu tudo a respeito dos planos em nome da Hunters Africa, que iríamos pôr em prática nesse país.
Não tínhamos nada a esconder.
O que adensa a minha curiosidade como leitor é a referência que se faz de Ferro: “É um tanto fértil de imaginação em particular vindo de um ex-comando do exército Português que foi empregado de Jorge Jardim ,o homem de Salazar em Moçambique, e aceitava alegremente o salário mensal das suas mãos .Até o facto de o meu filho ter obtido uma licença de piloto nos EUA é exibido como prova de subversão no conto de fadas inventado por este aprendiz da SNASP”. O relatório também declara que a nossa família tinha fugido de Moçambique.
Ferro excede-se a si mesmo quando menciona a minha amizade com “o antigo presidente da França”, Valéry Giscard D’Estaing”, numa linguagem que sugere algo de sinistro. Para concluir este exercício de sabotagem, que quase nos matou a todos, Ferro encerra o relatório com a sugestão de que a nossa presença nas concessões de caça da Tanzânia se destinava a “agitar os moçambicanos que vivem na Tanzânia a fim de os recrutar”.
A intenção dos autores a citar Ferro como a pessoa que os “vendeu” à SNASP tinha por objectivo esclarecer as zonas de penumbra que ditaram um rapto de que ele, o filho e uma terceira pessoa foram sujeitos pela “secreta moçambicana” da Tanzânia para as masmorras de Moçambique de olhos vendados. Os mesmos não poupam“um certo Alves Gomes”, outro dos que ficaram para atrás em 1975 e que teve a ousadia de “me receberquando regressei à Beira em 1995, depois de uma ausência de 20 e tal anos muito difíceis”.
O mesmo Gomes é citado como sendo “um dos boys da Frelimo e os seus relatórios vieram à superfície nos jornais The Observer e The Guardian em todo o mundo”.
Verdade, na palestra que Ferro proferiu na Beira falou da estreiteza da sua relação com Samora Machel. Pena por aquela altura da palestra na Beira não tenha tido o privilégio de ler a obra, senão iria abordá-lo pessoalmente sobre o assunto (O livro diz que foi empregado de Jorge Jardim (?)e aceitava alegremente o salário das suas mãos. Nada melhor senão o Mário Ferro para explicar-me. Até porque o livro é de 2001 (?) e o exemplar que tenho em mão é da sua segunda edição.
Ficaria-lhe grato.
SEMANÁRIO PUNGUÉ – 28.04.2005

22-04-2005

OS MILITARES E O APOIO SÓCIO-ECONÓMICO ÀS POPULAÇÕES

Neste estudo vamos abordar o papel dos militares nas actuações sócio-económicas em proveito das populações, no território de Moçambique, no período de 1964-1974.
Mas para ouvirmos falar sobre a actuação dos militares num confronto terminado já há mais de duas décadas, é necessária a manutenção em simultâneo da preservação da memória, a percepção da conjuntura e a intuição dos valores de então.
Ver em

18-04-2005

Apologia nas escolas ao "papel positivo" da colonização suscita reações contrárias

LEMONDE | 13.04.05 | 19h35 • Actualizado 15.04.05 | 11h17
Dois historiadores franceses e associações de defesa dos direitos humanos protestam contra a lei de 23 de Fevereiro de 2005 em prol dos repatriados, que pede nomeadamente que os programas escolares "reconheçam em especial o papel positivo da presença francesa no ultramar".
Signatários de uma petição lançada em Março e que recolheu um milhar de assinaturas, historiadores como Claude Liauzu, Gérard Noiriel e Gilbert Meyriel pedem a abrogação de uma lei que "impõe uma história oficial, contrária à neutralidade escolar e ao respeito da liberdade de pensamento que estão no meio da laicidade". Gérard Noiriel afirmou, quarta-feira 13 de abril diante da imprensa, que não podia aceitar que "os poderes públicos ditem aos professores o conteúdo do seu curso".
A lei de 23 de Fevereiro versa sobre o reconhecimento da nação ao "trabalho" dos repatriados do ultramar e aos seus "sofrimentos" , e institui uma fundação sobre a memória da guerra da Argélia. Mas um dos seus artigos passou relativamente despercebido, afirma Michel Tubiana, presidente da Liga dos direitos do homem (LDH). Este artigo afirma: "os programas escolares reconhecem em especial o papel positivo da presença ultramarina francesa, nomeadamente na África do Norte, e atribuem à história e aos sacrifícios dos combatentes do exército francês procedentes destes territórios o lugar eminente ao qual têm direito." É este escrito que suscita reações contrárias. "não cabe ao legislador decidir que a presença da França deve ser apresentada como positiva" nos manuais escolares, considera o jurista Thierry Le Bars, professor da universidade de Caen.
Especialista da história da imigração, Gérard Noiriel preocupa-se igualmente de ver "emergir hoje dois grupos de cidadãos que tentam incorporar a memória em seu benefício" e considera que este texto pode apenas reforçar a tentação de se utilizar o passado para garantir o presente.
Afirmando que a sua cólera seria a mesma "se exigissem que se dissesse que a colonização foi uma monstruosidade", Gilbert Meyniel receia com esta lei "os exageros dos dois lados", enquanto que na Argélia, por exemplo, um esforço é feito para dar aos manuais escolares uma visão menos unilateral da guerra da Argélia.
O MRAP (Movimento contra o Racismo e para a Amizade entre os Povos) se indigna com esta "glorificação do colonialismo, que equivale a um reconhecimento da tortura". "E se fixando somente no papel positivo da colonização, a lei impõe uma mentira oficial sobre massacres que vão às vezes até o genocídio, sobre a escravidão, sobre o racismo herdado deste passado", afirma a associação.

17-04-2005

Machado de Assis e a escravidão

Literatura cidadã 
Depois dos estudos que John Gledson, Roberto Schwarz, Raymundo Faoro, Massaud Moisés e Josué Montello, entre outros, produziram sobre Machado de Assis e sua obra, seria de esperar que mais ninguém escrevesse um livro capaz de oferecer novas descobertas a respeito do chamado bruxo do Cosme Velho.

HISTÓRIA

                        Machado de Assis e a escravidão
                                                                               Adelto Gonçalves
         Depois dos estudos que John Gledson, Roberto Schwarz, Raymundo Faoro, Massaud Moisés e Josué Montello, entre outros, produziram sobre Machado de Assis e sua obra, seria de esperar que mais ninguém escrevesse um livro capaz de oferecer novas descobertas a respeito do chamado bruxo do Cosme Velho. Mas eis que surge uma obra que vem jorrar luz especialmente sobre uma época em que o Brasil imperial oferecia ao mundo o curioso espetáculo de um país no qual todos condenavam a escravidão, mas quase ninguém queria dar um passo para viver sem ela. Essa obra é Machado de Assis, historiador, de Sidney Chalhoub, professor do Departamento de História da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que acaba de ser lançada pela Companhia das Letras, de São Paulo.
            Conhecido historiador da escravatura e da vida operária entre 1850 e 1910 em Visões da liberdade: uma história das últimas décadas da escravidão na Corte (1990), Cidade febril: cortiços e epidemias na Corte Imperial (1996) e Trabalho, lar e botequim:o cotidiano dos trabalhadores no Rio de Janeiro da Belle Époque (2001), Chalhoub fez o que, até agora, ninguém havia feito: investigou com cuidado a vida do funcionário público Joaquim Maria Machado de Assis, lendo tudo o que pôde encontrar sobre o seu trabalho na segunda seção da Diretoria da Agricultura do Ministério da Agricultura durante o período em que chefiou tal repartição – de meados de 1870 até o final da década de 1880.
Vasculhando a documentação do Arquivo Nacional do Rio de Janeiro, o historiador logo descobriu que os principais assuntos da seção eram política de terras e escravidão. A rigor, a seção estava encarregada de acompanhar a aplicação da lei de 28 de setembro de 1871, depois conhecida como Lei do Ventre Livre. Os meandros dessa luta política e social – seus vaivéns motivados pela hipocrisia e, especialmente, pelos interesses econômicos dos mandões do tempo – refletem-se diretamente na obra do maior romancista da literatura brasileira.
            Chalhoub procurou mostrar, entre outras coisas, que o processo histórico que resultou da lei de 1871 – assim como suas conseqüências –  esteve no centro da concepção de romances como Helena, Iaiá Garcia, Memórias póstumas de Brás Cubas e Dom Casmurro. Tal processo, segundo o autor, é também o núcleo de sentido no conto “Mariana”.
Ao escrever esse conto, porém, diz o historiador, Machado não podia supor que estaria, logo depois, profundamente envolvido na aplicação cotidiana da lei de 28 de setembro. Para o pesquisador, o romancista formou-se (e transformou-se) ao longo da década de 1870 em diálogo constante com a experiência de funcionário público e cidadão. Eis aqui a tese principal de Chalhoub: a experiência histórica de 1871 ajudou a delinear uma nova personagem literária – Machado de Assis. Segundo essa tese, é possível, de fato, investigar as relações entre a experiência do funcionário e a famosa virada narrativa do romancista, ocorrida entre 1878 e 1880, ou entre Iaiá Garcia e Memórias póstumas de Brás Cubas.
            Escrito em estilo que busca repetir o humor fino e cortante de seu alvo, o livro de Chalhoub traça um perfil da hipócrita elite brasileira que se estabeleceu apoiada sobre o braço do escravo, reproduzindo alguns hilariantes discursos ou diálogos travados no Parlamento a uma época em que o Brasil dava ao mundo o triste espetáculo de representar o último baluarte da escravidão.
Discutia-se quem estava contra a lei. E, na realildade, quem estava contra a sua própria lei era a sociedade senhorial brasileira, pois se a lei de novembro de 1831, a chamada lei “para inglês ver”, tivesse sido mesmo cumprida em suas disposições relativas à liberdade dos africanos introduzidos no país desde então, restariam pouquíssimas pessoas ainda legalmente escravizadas em 1871. Explica-se: os escravos existentes no Império provinham basicamente do contrabando e da escravização ilegal de pessoas livres. Seria muito simples: bastaria aplicar o código penal vigente para acabar com aquela hipocrisia toda sobre direitos de propriedade.
            Mas não foi assim, como se sabe. Os grandes proprietários como urubus agarrados à carniça lutaram até o último momento para impedir a assinatura pela princesa Isabel da Lei Áurea de 13 de maio de 1888 e, insatisfeitos, ainda incentivaram o marechal Deodoro a dar o golpe militar que, no ano seguinte, instauraria a República.
            Antes de entregar o butim, porém, senhores de escravos uniram-se, muitas vezes, a autoridades locais para fraudar processos que visavam a dar liberdade a cativos. Chalhoub reproduz um parecer do funcionário Machado de Assis a respeito de uma tramóia ocorrida no município de Codó, no Maranhão, entre senhores de escravos e autoridades, que resume várias das trapaças levadas ao conhecimento do Ministério da Agricultura.
No parecer, Machado refere-se a proprietários que manipulavam regras do fundo do governo para obter a alforria de escravos ditos “inválidos”, pois, obviamente, esperavam arrancar do governo indenização superior ao valor que conseguiriam por tais cativos ao negociá-los no mercado, além de livrar-se da obrigação de sustentar tais pessoas.
            O autor levantou que Machado de Assis, atrás do pseudônimo Manassés, em crônica publicada a 15 de junho de 1877, tratou do mesmo tema, comentando inicialmente a história de um benfeitor anônimo da Santa Casa de Misericórdia. O sujeito doara nada menos do que vinte contos de réis à instituição e mantivera-se incógnito, quando o normal seria anunciá-lo nas gazetilhas.
A propósito do assunto, o cronista lembra de outro caso em que outro sujeito libertara uma escrava e amargara a impossibilidade de anunciar ao mundo a sua “caridade”. É que se tratava de uma escrava muito idosa, a necessitar de amparo na velhice. Ou seja: por trás da pretensa “caridade”, havia proprietários que estavam a se valer do fundo do Estado para ganhar dinheiro dando em troca liberdade a escravos idosos e inválidos, depois de lhes espremer como bagaço, livrando-se da responsabilidade de sustentá-los no inverno da vida.
            Em seu livro, Chalhoub procura mostrar que, na década de 1870, o outrora jovem liberal Machado de Assis compartilhava a desilusão de alguns velhos companheiros de lutas políticas, depois de ver que o gabinete comandado por Cansansão de Sinimbu não fora fiel ao programa liberal de 1868, rasgando-o, como, freqüentemente, fazem muitos  partidos quando chegam ao poder.
Diz o autor que o funcionário continuaria a cumprir, anos a fio, fosse qual fosse o gabinete da vez, a obrigação – exercida com evidente convicção ideológica e, acrescentamos, solidariedade racial, não carregasse ele na cor uma parte de sua origem – “de defender as prerrogativas do poder público contra a sempiterna sanha senhorial”. Para o historiador, o literato Machado de Assis transformaria a experiência histórica da década de 1870 na força criadora que fecundaria livros inesquecíveis como Memórias póstumas de Brás Cubas e outros posteriores.
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MACHADO DE ASSIS, HISTORIADOR, de Sidney Chalhoub. São Paulo, Companhia das Letras, 2003, 345 págs.  E-mail: editora@companhiadasletras.com.br
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Adelto Gonçalves, doutor em Literatura Portuguesa pela Universidade de São Paulo, é autor de Gonzaga, um Poeta do Iluminismo (Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1999), Barcelona Brasileira (Lisboa, Nova Arrancada, 1999; São Paulo, Publisher Brasil, 2002) e Bocage – o Perfil Perdido (Lisboa, Caminho, 2003). E-mail:marilizadelto@uol.com.br
Suplemento Cultural, de A Tarde, de Salvador - 16.04.2005

16-04-2005

Retórica sobre a escravatura

CARLOS PACHECO*

Pedir perdão aos africanos é acto de arrependimento que louvo e aprecio. É necessário serem os próprios detentores do poder em Moçambique, Angola e noutros Estados — muitos deles tetranetos dos antigos negreiros — a fazê-lo.

O mito fundamental é aquele que se constrói à medida que os modismos e jargões da época penetram na nossa prosa histórica e literária. Keith Thomas, Historiador Inglês, Folha de São Paulo, 4 de Abril de 1999.

É hábito nos tempos que correm pedir ou exigir desculpas pelos crimes do passado. Diria ser um ornamento ideológico tão do agrado de pessoas que exercem altos cargos políticos e religiosos. Apraz-lhes o gesto e a ênfase de trazer à memória factos históricos que exercitam como
elementos de comunicação com o grande público. Não porque gostem de análises e de definições rigorosas, mas porque sentem uma necessidade funcional ou táctica de manipular a História em proveito dos seus países, partidos ou Igrejas.

Bill Clinton é um exemplo. Enquanto Presidente dos EUA socorreu-se deste expediente num giro pela África subsariana em Março de 1998. Pediu desculpas aos africanos pelo comércio transatlântico de escravos e prometeu maior responsabilidade do seu pais por relações de parceria
mais justas com o continente. Esta loa de moralidade soou bem aos dirigentes africanos. A maior parte encabeçava (e ainda encabeça)regimes de corrupção e violência. O que ouviram fê-los profetizar mais dinheiro, mais prerrogativas e mais apoios para se manterem nos cargos
supremos do Estado.

Clinton conhecia o carácter dos seus interlocutores e a natureza obscena dos seus governos. Isso, no entanto, não lhe interessava. A aposta eram os negócios e, para tal desígnio, o pedido de desculpas funcionou como disfarce encantador: adulou o orgulho patriótico dos africanos e, ao mesmo tempo, reforçou o poder das suas corruptocracias. A América já então no limiar de uma nova política de
penetração comercial, procurava levar à prática a doutrina do "crescimento e oportunidades em África", sendo aprioridade o incremento da exploração de matérias-primas estratégicas e o petróleo o seu pilar central.

Outro exemplo é o ex-Presidente de Moçambique e da Frelimo Joaquim Chissano, ele próprio um ex-colonizado que sofreu na pele as injustiças e as humilhações da colonização. Recentemente, ao usar da palavra em Braga num acto solene, reclamou das antigas potências coloniais, incluindo Portugal, uma atitude de desagravo para com os milhões de africanos sacrificados à lógica do "negócio ignóbil" da
escravatura. E sublinhou que a África e as suas populações ainda hoje, não obstante as emancipações nacionais, permanecem reduzidas à condição de objectos, em virtude de as ajudas externas não serem verdadeiras. Ou melhor: estarem desvirtuadas pelo paternalismo e pela dependência.

Como se pode ver, o mito recorrente da escravatura é utilizado nestas duas intervenções com propósitos distintos, embora os objectivos sejam igualmente farisaicos. Falta a Chissano autoridade para falar dos
cativeiros do seu povo. O mais doloroso e prolongado foi, sem dúvida, a escravatura e o seu comércio a longa distância, na bacia do Atlântico. Contudo, não se pense terem sido somente os grupos económicos europeus e negociantes particulares a tirar partido deste sistema de exploração; ou ainda, em menor escala, os comandantes de
navios, os governadores e outros delegados e agentes do governo colonial; bem como os seus protectores na Secretaria de Negócios da Marinha e Ultramar, em Lisboa.

Os ajustes, conluios e associações misteriosas na "costa dos escravos"(desde Luanda ao Daomé, passando pelo Cabo da Boa Esperança e subindo até Zanzibar) teve outras dimensões e envolveu outros protagonistas.
Implicou (nos espaços coloniais submetidos à soberania lusitana) armadores e comerciantes abastados da classe nativa do litoral(negros, brancos e mulatos) que faziam gala de si próprios com as graduações militares honorificas que recebiam do monarca. Inúmeras vezes esses negreiros indígenas vingaram-se de empregados públicos,
seus patrícios, por estes se recusarem a ser cúmplices ou a fechar os olhos à sua imoralidade e avidez de ganhos ilícitos. Mancomunados com governadores e outros europeus da mesma facção, a Coroa pouquíssimas vezes puniu as suas infâmias e ladroagens.

Chissano preferiu omitir este facto fundamental. A verdade é que os "filhos do país",urbanizados, nascidos na faixa marítima ou na "hinterlândia", foram negreiros que ostentaram desde o século XV pergaminhos próprios de uma elite local poderosa e influente na administração do Estado colonial. Desgraçado do governador que não lesse pela sua cartilha e os ameaçasse com medidas repressivas:
faziam-lhe a vida negra e ameaçavam amotinar-se. Pelo seu estatuto social e riqueza, essa "elite intermediária", enquanto tal, também colonizou os segmentos sociais menos favorecidos. Até os sobas aproveitaram o sistema escravista de trocas para vender os seus súbditos. Os hábitos e as vantagens no negócio enquistaram-se de tal
forma que, quando tudo acabou, o matianvua (chefe tshoke da Lunda) se mostrou perplexo e indignado.

Todos participaram, portanto — europeus e africanos —, desse tráfico. Não contesto que, por via da transacção de escravos, e sobretudo com o comércio proibido a partir de 1836, se abateram sobre as possessões ultramarinas as piores perversões. Servidores públicos e habitantes em
geral procuraram ora locupletar-se com o que se lhes oferecia de mais fácil e rendoso a curto prazo, ora entesourar o que não lhes pertencia, deixando de lado riquezas duradouras como a agricultura. Nem a quebra do monopólio no comércio de marfim salvou a economia desses territórios.

A política colonial de Portugal com a restauração liberal em 1834 tornou-se caótica e imprevidente e o que veio a seguir, dos anos 50 para diante, foi o marasmo total. As mentes dos naturais embruteceram por falta de escolas. Os intelectuais africanos, impacientes com as injustiças que cresciam nas suas sociedades, passaram a lutar pela
redenção do homem africano. O nativismo irrompeu, então, pujante no último quartel e os seus paladinos foram, nem mais nem menos, os filhos dos negreiros de outrora.

O nacionalismo moderno, corporizado na Frelimo e noutros movimentos, pareceu auspiciar, com a independência, a destruição de todos os cativeiros e ultrajes da colonização. Mas semelhante ilusão logo se desvaneceu. Os novos apóstolos da libertação nacional cedo se converteram em apóstolos da desgraça e da corrupção: usurparam privilégios, distribuíram os bens nacionais por uns poucos, fomentaram a pobreza e reduziram o Estado a uma nova oligarquia subserviente aos interesses estrangeiros. Ao governarem até hoje para um partido, sujeitaram os seus países a regimes de inquisição política, chacinaram os opositores e criaram novos "universos concentracionários".

Pedir perdão aos africanos é, com certeza, um acto de arrependimento que louvo e aprecio. Não conforme a exigência de Chissano e de alguns historiadores em Portugal e no Brasil. É necessário serem os próprios detentores do poder em Moçambique, Angola e noutros Estados—muitos deles tetranetos dos antigos negreiros — a fazê-lo, e mais ninguém, porque são eles, depois de tudo, que trazem os seus povos ainda encarcerados, votados à morte, à penúria, à servidão e à neocolonização.

*HISTORIADOR ANGOLANO
PÚBLICO - 16.04.2005

11-04-2005

A verdadeira dívida é com a educação

Aqui transcrevo este artigo, especialmente pela informação contida no seu primeiro parágrafo.
Fernando Gil
Italo Nogueira, da RITS, 24/3/2005
Manifestantes fazem protesto em frente ao Palácio do Planalto
Luiz Alves/Welber Sousa
Há quem considere que a dívida externa do Brasil foi iniciada com o empréstimo de ₤ 1 milhão, a ser pago a Portugal pelo reconhecimento da independência da antiga colônia. Durante os 183 anos posteriores o déficit se acumulou e hoje o equivalente a 4,25% do que é produzido no país - calculado pelo Produto Interno Bruto (PIB) - é reservado para solucionar o problema da dívida. Para a equipe econômica, o superávit primário mantém a imagem externa do país, tornando-o um lugar confiável para o investimento externo. Para os críticos, esta é uma dívida injusta que possui juros impagáveis e só tende a aumentar, impedindo a aplicação destes recursos no desenvolvimento do país. Alinhada a esta última visão, a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) lançou a Campanha pela Conversão da Dívida Externa em Recursos para a Educação.
"O investimento em Educação compensa, parcialmente, uma injustiça histórica, cometida ao longo de décadas em que o povo brasileiro não teve qualquer direito de opinar sobre a necessidade de se contraírem esses empréstimos nem sobre o destino que esse dinheiro deveria ter" argumenta Juçara Dutra Vieira, presidente da CNTE, em editorial divulgado na campanha no site da entidade [ver endereço em Links Relacionados]. Por se tratar de uma iniciativa voltada para o financiamento da Educação, ela tem como alvo principal a equipe econômica do governo. "O Ministério da Educação (MEC) é a favor, e o ministro [da Educação] Tarso Genro confirmou que é uma proposta tecnicamente viável", afirma Juçara.
O movimento foi lançado durante o 29º Congresso Nacional dos Trabalhadores em Educação, quando as discussões giraram em torno do tema financiamento da educação, tendo como norte a campanha pela conversão da dívida. A idéia ganhará força com o início da mobilização para a VI Semana Nacional em Defesa e Promoção da Educação Pública, a ser realizada em Brasília de 25 a 29 de abril. Será realizada junto à Semana de Ação Global, que terá como tema "Educação e Pobreza".
Além do debate sobre o financiamento do ensino público, a Semana será marcada pelas ações em favor da campanha. A CNTE vai intensificar a busca por adesão ao abaixo-assinado pela conversão da dívida para a educação. A principal ação será no dia 27, em que haverá uma paralisação nacional da categoria e uma marcha em Brasília (DF) em favor da causa, e o objetivo é conseguir uma audiência com o presidente Lula para tratar do assunto.
Negociações bilaterais sobre a dívida externa para investimento na área social não é novidade. Recentemente, a Espanha fez acordos com a Argentina e o Equador em que a dívida com o país europeu poderia ser cancelada, contanto que os recursos fossem direcionados para programas sociais. De acordo com Juçara Vieira, a campanha do CNTE é mais efetiva pois foca a educação como meta.
Só dinheiro não resolve, mas ajuda
O MEC finaliza atualmente o projeto do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb). A CNTE pretende que cerca de 80% dos recursos do fundo sejam investidos na melhoria da situação profissional dos professores, o que compreende gastos em atualização, aperfeiçoamento e remuneração para a categoria. A entidade trabalha com o conceito custo/aluno/qualidade e acredita que este investimento vá melhorar o ensino público no país.
Atualmente, a Constituição Federal vincula 18% dos tributos federais (que não significa toda a receita do governo) para investimentos na educação. O gasto por aluno gira em torno de R$ 600 por ano. De acordo com a presidente da CNTE, o ideal seria R$ 1 mil para alunos do ensino básico e R$ 2 mil para os de ensino médio.
No entanto, Juçara Vieira considera que o problema da Educação não é só a falta de verbas. A falta de colaboração e integração entre os governos estaduais e municipais faz com que a educação básica seja prejudicada. Esta falta de articulação entre níveis de governo ocorre muitas vezes por embates partidários, eleitorais, e são os alunos que saem prejudicados. "É necessário pensar um sistema único de Educação, em que as informações do município sejam de domínio do estado e vice-versa, e a metodologia seja discutida em conjunto".

06-04-2005

"38 anos depois – MOÇAMBIQUE REENCONTRADO POR UM COMBATENTE"

Autor: Manuel Pedro Dias
Editora: Edição do autor – Odivelas, Portugal – 2005.
ISBN: 9729060371 (Depósito Legal n.º 22386/05)
Assunto: História do regresso de antigos combatentes aos locais de acção militar.
Outros dados: O livro tem 128 páginas e 276 fotografias a cores e 5 mapas.
Comentários:
Manuel Pedro Dias é um dos dinâmicos organizadores do Batalhão de Caçadores n.º 1891, que cumpriu o serviço militar em Moçambique, entre 1966 e 1968.
Em 2004, em conjunto com antigos companheiros da vida militar, organizaram uma visita a Moçambique, com destaque para os locais onde fizeram a sua vida militar.
Desta visita aos cenários de guerra, passados quase duas décadas e meia, recordaram e viveram dias de confraternização com antigos amigos e adversários e foi desta deslocação que nasceu a ideia de produzir um livro com todas estas informações.
Assim, o livro reflecte a comparação entre o que os antigos militares conheceram e o que de facto encontraram, inserindo fotografias do início da sua campanha militar e os mesmos locais visitados 25 anos depois. Foi deste modo que resultou um livro que transborda memórias e recordações, conseguindo o autor até comparar situações bem concretas dado o espólio fotográfico que reuniu no seu baú de memórias.
Moçambique, o norte da acção militar e até as grandes cidades, são revisitadas e comparadas com os finais da década de sessenta.
Um testemunho a não perder, dada a qualidade do material que o autor em boa hora conseguiu reunir e dar à estampa em edição própria. 
COMO ADQUIRIR O LIVRO:
Contactar o autor, Manuel Pedro Dias - telemóvel 914631055
ou pelo e-mail - manuelpedro.dias@iol.pt
Carlos Serra

05-04-2005

A história revisionista omite factos e personagens reais...

"GUEBUZA: A Paixão pela terra"
Autor:
Renato Matusse
Editora:
Edição ‘Macmillan Moçambique L.da’ – Maputo, Moçambique – 2004.
ISBN:
0797826653 (WIP 864)
Assunto:
Biografia de Armando Guebuza.
Outros dados:
O livro tem 256 páginas e 100 fotografias, 80 a p&b e 20 a cores.
Comentários:
A leitura deste livro, obra de um pretensioso e nada modesto "professor doutor com tese de doutoramento" que até gasta algumas das páginas iniciais a explicar porque é PHD !!! (Páginas XIX e seguintes...), é algo de confrangedor e à boa maneira das escolas do desaparecido leste socialista, faz da história uma ciência revisionista, em que a verdade dos factos é a verdade da ideologia que perfilha.
Renato Matusse tentou branquear a história recente de Moçambique neste pretensa biografia de Armando Guebuza, para tal, a verdade dos factos foi completamente escamoteada e tudo o que era incómodo (Factos, nomes, acontecimentos etc), foi pura e simplesmente omitido!
Vejamos.
Sobre a história da luta de libertação nacional e as negociações de Paz e o Acordo de Roma que conduziu ao pluripartidarismo.
No primeiro caso, foram omitidos todos os nomes dos chamados ‘dissidentes’ (Miguel Murrupa, Joana Simeão, Domingos Arouca, Uria Simango, Lázaro Kavandame, etc.), que se crusaram inevitavelmente com o ‘biografado’ além de não terem existido diversos acontecimentos negros na história da FRELIMO, como a luta pelo poder entre o grupo de Simango e a ala marxista de Machel e Marcelino, a morte de Filipe Magaia e a ascenção de Samora no Departamento de Defesa, bem como a luta em torno da Escola de Quadros em Dar-es- Salam, entre muitos outros episódios...
No segundo caso, Armando Guebuza surge nesta ‘obra biográfica’ como um autêntico herói do diálogo e da Paz! A ele se deve êxito das conversações de Roma, que conduziram o país à paz e às primeiras eleições pluripartidárias! Ok, mas afinal, essas conversações foram realizadas com quem? O leitor que não souber ou que tiver dúvidas fica sem saber com quem foram feitas essas negociações e quem foram os seus protagonistas, para além do herói Guebuza obviamente!
De facto, o autor cometeu a proeza de nunca referir que Armando Guebuza representava uma das partes da guerra civil, a FRELIMO, e que do outro lado havia a RENAMO que por seu lado tinha uma delegação chefiada por Raúl Domingos...
Nem uma única vez os nomes de Raúl Domingos (o outro negociador a quem se deve a mão estendida e a deposição das armas da guerrilha), Afonso Dhlakama, Vicente Ululu Joaquim Vaz, ou até a sigla do próprio movimento com quem foi estabelecida a paz são editados nesta pretensa obra, do tipo biográfico e histórico.
Armando Guebuza foi "o negociador chefe para a paz em Moçambique", escreve o autor, mas afinal negociou com quem? Nunca se refere com quem afinal foi negociada a paz...
Jacinto Veloso foi à África do Sul negociar a paz em 1984, e nunca se diz com quem... Negociou com os sul-afrianos e com uma delegação da RENAMO, composta entre outros por Evo Fernandes e Joaquim Vaz, pois para tristeza do autor até foram publicadas fotografias do fato na imprensa internacional!
Se afinal Armando Guebuza negociou com ninguém a paz em Roma, esteve lá porque "haveria a garantia de que a FRELIMO não iria negociar a capitulação nem a partilha do poder..." É assim que o autor, suprime factos importantes da realidade (a outra parte nas negociações), e logo a seguir cita o seu herói como sendo uma garantia de que não haveria rendição ao adversário... Mas, afinal esse adversário que nunca se cita é existente e amedronta ou a garantia de que não haveria capitulação do governo da FRELIMO não passou de um sonho mau?
De facto, a falta de rigor e qualidade deste ópusculo ideológico, tipo livrinho de propaganda, é tanta que fiará na história recente de Moçambique, como tendo sido escrito por alguém, que apesar de puxar pelos seus galões de ‘professor doutor’, não passa de um bajulador e o pior do que os brasileiros chamam de ‘puxa saco’, ou em português vernáculo ‘graxa’.
Duas notas finais. No prefácio do livro, assinado por Joaquim Chissano, é referido que Armando Guebuza é "o meu ‘compagnon de route’ " !!! Mas, alguém tinha dúvidas que os dois homens sempre foram cúmplices? Era preciso dizer publicamente nesta pretensa biografia?
A última nota para o texto inserido na contra-capa, assinado por Nelson Mandela. Diz o ex-presidente sul-africano que Armando Guebuza "era um homem de talento excepcional" e que há muito houvia referência sobre a sua popularidade... Se Mandela se desse ao trabalho de, à semelhança do que fez na África do Sul com a ‘Comissão da Verdade e Reconciliação’, ouvir os moçambicanos, ficaria de certo a saber quem foi o autor e protagonista das expulsões dos portugueses "20/24" com os passaportes carimbados como traidores e as rusgas nas cidades em busca de tudo o que era contrário à FRELIMO para produzir o ‘Homem novo’ frelimista através do internamento nos Campos de Concentração das províncias nortenhas, onde pereceram milhares de pessoas sem que até hoje os familiares conheçam sequer o destino das suas ossadas!
Obviamente que esta acção e responsabilidade de Guebuza é também completamente omitida. Afinal, toda a verdade histórica é omitida.
Ingloriamente, porque muitos moçambicanos já tiveram a coragem de por em letra de imprensa os seus testemunhos, que têm dado a conhecer a verdadeira face deste heróis solitários de coisa nenhuma, porque segundo Renato Matusse só os próprios existiram...
Este é um livro que deve ser lido e guardado para ficar a conhecer o caracter dos seus autor e ‘biografado’. A não perder e ler rapidamente para acreditar.
CSerra - 'Chilinguine'

03-04-2005

LISTAGEM DOS MORTOS EM COMBATE NO ULTRAMAR

COMBATENTES MORTOS NO EX-ULTRAMAR: Para conferir por nomes e ou apelidos

Para quem pretender conhecer e conferir um determinado nome de um combatente que tenha morrido em combate no ex-Ultramar (Angola, Guiné, Índia, Moçambique e Timor), poderá consultar este serviço disponibilizado pelo site daLIGA DOS COMBATENTES:

Portas vai recuperar cemitérios do Ultramar(2)

Num Portugal que se expandiu e bastante guerreou ao longo da sua história há um pensar sobre os que morreram nessas guerras longínquas que, assim grosso modo, oscila entre dois polos.
Um deles, dito mais conservador, valoriza a identidade comum, indiferencia um interno, baliza um projecto nacional unânime (por vezes chamado patriótico), e saúda objectivos e realizações desse passado. A este às vezes chamou-lhe gesta ou epopeia, e nisso costuma aplicar-lhe várias maísculas, estas como se fortalezas de sentimentos. Exalta, claro, os caídos nesses passos, consagrando heroísmos, os célebres e os anónimos, vistos como agentes de um desígnio. Nisso se respeitam e se recordam os nossos mortos. Símbolos do que somos, heranças para os que se seguem nesta História que se quer perene pois orgulhosa.
Um outro, dito mais progressista, lembra uma identidade comum sobre um diferenciado interno, de poderes e de classes feito, baliza os projectos nacionais (quase nunca chamados patrióticos) como se plurais frutos dos conflitos entre diferentes grupos, e assim contextualizados critica objectivos e realizações desse passado. A este às vezes chama-lhe expansão ou descobertas, e nisso costuma aplicar-lhe várias aspas, estas como se vassouras de sentimentos. Exalta, claro, os caídos nesses passos, consagrando heroísmos, mas mais atento aos anónimos, até vistos como vítimas de poderes mobilizadores.Nisso se respeitam e recordam os nossos mortos. Símbolos do que fomos, heranças para os que se seguem na História que se quer perene pois reflexiva.
Será demasiado simples chamar a isto a persistência das religiões dos ancestrais. É mais, qualquer que seja o poiso de onde se fala, olhar e usar o(s) (ante)passado(s) para imaginar o presente e construir o futuro. Mais ou menos criativamente, consoante o paladar.
Pemba, Cemitério Militar da Commonwealth, I Guerra Mundial
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Pemba, Talhão Militar Português
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Um país* que não cuida dos seus mortos desistiu de o ser.
NOTA: Retirado do Blog MA-SHAMBA
Veja
pois parece que agora os cemitérios dos nossos ex-combatentes serão recuperados, por decisão de Paulo Portas.

29-03-2005

URIA SIMANGO - Um homem, uma causa (3/3)

João Craveirinha
CONCLUSÃO – Duas Fontes não paradigmáticas
Em relação ao livro de Barnabé Ncomo e sem pretender fazermos um juízo que possa ser mal interpretado deixaríamos no entanto reparos sobre duas das fontes apesar do merecido mérito de “relatos” da época, pecando no entanto, pela intenção óbvia subjacente: Tratam-se das referências à participação do intitulado grupo Português dos DEMOCRATAS de Moçambique, citado na página 209 do Livro Moçambique – Sete de Setembro – Memórias da Revolução, escrito em Dezembro de 1976, no Rio de Janeiro – Brasil, por Clotilde Mesquitela. A autora, esposa do deputado Gonçalo Mesquitela da A.N. (de Oliveira Salazar) é Mãe dos irmãos Mesquitelas, fundadores em 1974, de uma organização para-militar portuguesa, ultra nacionalista e colonial –, Dragões da Morte. Segundo seu Boletim Informativo nº 1 esta “organização clandestina” no preâmbulo, 1º, visava -…”pôr termo às conversações com a FRELIMO, nem que tenhamos que começar a fazer TERROSISMO URBANO, para fazer calar os inconscientes que dão vivas à FRELIMO.”…Este grupo “dizia” ter …”20. 500 homens armados de todas as raças e credos espalhados por todo o Moçambique”…in Moçambique 7 de Setembro, página 246, Mesquitela, Clotilde.
O referido livro, faz uma referência incorrecta (entre outras), mencionando na página 104, linha 5 e 6, imputando ao cronista desta coluna, actos nunca praticados pelo mesmo. Refere-se a eventos pouco antes da ocupação da RCM – Rádio Clube de Moçambique que passamos a citar: - …”Recebemos a indicação de que Stélio e Zito Craveirinha e Isaías Tembe, agitadores da Frelimo, andam a distribuir G-3 no «caniço». E, em consequência disso, já tinham dado entrada na morgue do Hospital Miguel Bombarda três corpos de negros. Ao obtermos a confirmação do Hospital, soubemos mais, através de um enfermeiro que, perfeitamente desorientado, nos disse: «Entraram três mortos, mas dois não passavam de brancos com a cabeça rapada e pintados de preto». Identificados um pouco depois, viemos a saber serem de dois universitários que se tinham infiltrado, para tentar provocações, na intenção de levantar a zona do «caniço» contra a população branca, e que os próprios pretos tinham liquidado!”…e mais adiante: …”As buzinas não paravam, o hino era cantado com a mesma fé e desejo de um Moçambique Livre e Português”… Na altura destes eventos o cronista desta coluna aguardava “julgamento” em Tanzânia na FRELIMO. E só teria havido uma G-3 nas mãos do Isaías (dos pesos e halteres). Nem a sabia manejá-la devidamente. Tinha “capturado” a um elemento anti – Frelimo madeirense de um grupo vindo da África do SUL (?!), que se havia introduzido na Mafalala – “ 1ª zona libertada” de LM. Mas isso é outro assunto. Era este cenário que Uria Simango iria encontrar em Lourenço Marques e ingenuamente acreditaria poder fazer “manobras de pressão” à FRELIMO numa partilha de Poder com elementos portugueses anti – Independência. À partida tudo se conjugaria para um fracasso político do COREMO a que aderira. Os portugueses coloniais não estavam interessados em o apoiar rumo a uma Independência mas utilizando-o a um estilo UDI – Independência unilateral à Ian Smith da Rodésia (na altura), mas vinculados a Portugal. Uria Simango ao se aperceber do beco sem saída em que se envolvera recua para Malauí(Malawi), onde o inguaze – Presidente Hasting Kamuzu  Banda sela seu destino entregando-o à Frelimo.
Outro “pequeno” reparo ao livro de Ncomo é o da incorrecção da importância havida no papel do dito grupo de DEMOCRATAS Portugueses (MDM), nas conversações com o MFA versus FRELIMO, conducentes à Independência. In página 288 nota 431em rodapé. O processo inicial directo de contactos com o MFA e a FRELIMO, foi efectuado pelo grupo dos antigos presos políticos da FRELIMO tendo por porta-voz o Poeta José Craveirinha. Não é somente por ser um Poeta de renome que se encontra no Panteão dos Heróis mas este detalhe terá pesado muito. O Marechal Costa Gomes e o MFA não tinham autoridade política sobre José Craveirinha e seus camaradas da FRELIMO, antigos companheiros de prisão.
À posterior surgiria o “Movimento dos Democratas de Moçambique”, mas de Portugueses, a que Mário da Graça Fernandes fez parte. Aliás, Mário da Graça Machungo (Mahlungo?). Um dia contamos o resto.
Ao que nos levou o livro – URIA SIMANGO – Um homem, uma causa. Em boa hora, graças ao empenho e pesquisa de Barnabé Ncomo. Só quem trabalha se expõe. Que estas linhas sejam um pequeno contributo e estímulo para mais trabalhos seus neste campo difícil e “perigoso” da investigação da História recente, numa busca incessante de aperfeiçoamento do rigor da verdade. Um muito obrigado pelo privilégio de termos relido este livro polémico, mas necessário aos estudiosos e ao cidadão Moçambicano “cego” e carente de suas Raízes e Identidade. (in Jornal O AUTARCA da Beira– FIM. 29.03.2005

28-03-2005

URIA SIMANGO - Um homem, uma causa (2/3)

Dialogando
Por: João Craveirinha
CRÍTICA LITERÁRIA ● CRÍTICA LITERÁRIA
EXÓRDIO(2)
Foi – nos possível “consultar”, o livro de Barnabé Ncomo, citado em epígrafe, 1ª edição, graças ao empréstimo do mecunha “malantro”, Fernando Gil do “saite” Macua. Livro – oferta, autografado pelo autor B. Ncomo, dedicado a F. Gil, português natural de Nampula (ilha).
Grosso modo e infelizmente, o livro, não tem um estilo definido de narrativa literária. De amiúde, envereda por um tipo de escrita Histórica mais credível e contraditoriamente noutros casos, sem enquadramento sintagmático, cita fontes duvidosas por partirem de opositores à Independência dos “Pretos” – espinha atravessada na garganta de muitos pró-coloniais, saudosistas do Império perdido. Presume-se que a intenção de B. Ncomo não seja essa. Talvez, a falta de distanciamento “étnico-cultural” e de perspectiva Histórica, lhe tenham impedido separar o milho do capim. Todavia, esse aspecto não lhe retira o mérito de pioneirismo, nesta senda pelo levantar do “véu”, de um determinado período da nossa História “apócrifa” ou maldita. As fontes devem se cruzar para avaliação e contextualidade.
APROFUNDAMENTO : Etno-História Moçambicana
A falta do ensino da etno – História nas Universidades Moçambicanas é uma falha gritante que pode criar confusão na actualidade em relação ao inter relacionamento e consanguinidade étnica no passado. O próprio Reverendo URIA SIMANGO tem avoengas (avós) Rongas iMpfumos vindas do SUL. A Mãe era uma iMpfumo por ser TIVANE – em linhagem directa NHONDZOMA do Rei inLharuti iMpfumo (inHLARUTI). “Regressado” da Suazilândia no século XVII / XVIII (1600 / 1700) da região de Psatine (inHlati inkulo), fixa-se com seus filhos – iMpfumo “iMpfumo”, Polana, Massinga e TIVANE (uá in’Tiwane). Após a morte do pai, guerras inter – clânicas provocariam uma diáspora entre os príncipes – irmãos. iMpfumo sai vencedor e fixa-se na Matola (dos iMpfumos maTsolo mais tarde). Uá iMpfumo, governaria toda a região da actual caMpfumo / cidade Maputo, limitando com a caTEMBE, moAMBA, maHOTA e maRRACUENE. Massinga migra com seu clã para Inhambane. Polana fixa-se exactamente onde está o Hotel com o seu nome, numa área da Escola Comercial, Ponta Vermelha – Sommerschield / campo de Golfe à Costa do Sol. TIVANE uáMpfumo migra para Gaza. Muitos grupos da região a partir de 1820 seriam integrados no exército inGuni (dos grandes), com a “invasão” de Sochangana – descendente dos Tembes. Entra por maPutso (o verdadeiro), vindo de Pongola (Zulolândia). Seus antepassados teriam saído em 1500, da Ponta Malongano – êMalanguene (caTembe), se fixando na cordilheira dos Libombos. Os TIVANES assim como muitos outros seriam absorvidos e integrados nos regimentos inGunis, do futuro Imperador de Gaza (Sochangana). São levados para Manica e Sofala, em particular entre Mussapa ao Buzi. Não é por acaso que os chefes ou tinDuna de maior confiança de Gungunhana eram os velhos muTAZABANO e SIMANGO já inDaos. Uma das suas tarefas, era a de controlar maGuiguana de maCôssine, antigo submetido – cozinheiro e criado de seu pai umuZila. Os primeiros “maChangana” foram os vaNdao submetidos a Sochangana (Soh – CHANGANA). Muitos anos depois (c. Abril 1889), Gungunhana, o neto, retira-se de Mossurize (e de Udengo onde está o túmulo do Pai). INVADE O SUL DO SAVE com cerca de 100 mil vaNdao, famílias, guerreiros do tempo do pai e gado, com apoio dos portugueses. Massacrariam pelo caminho os pacíficos agricultores e artistas vaLengue (chopes), rumo ao “khokholo” de Mandjacaze (Mand – lha; inKazi), derrotando Binguane Mondlane (Mond-lhane). A origem do nome inDao teria a ver segundo a tradição oral, com a chegada dos novos conquistadores inGunis fugidos de Tchaca Zulo, em 1818 / 20. Um deles, Zuan-guen-daba, ao chegar a uma povoação Shona em Manica, teria dito espetando uma lança no chão : …”iNDAO la mina”…é minha terra…outra tradição diz que iNxaba – inQaba, também fugido de Tchaca, recebido pelas mulheres de uma povoação Shona, de joelhos, batendo palmas, o teriam saudado: …”iNDAO-ú-ê Baba”…seja bem-vindo Pai…
As invasões inGunis na primeira vintena do século XIX, reforçariam o processo de mestiçagem inter étnica. Não nos esqueçamos que os Muchangas (muHLANGA), Mandjazes (Mandlaze), Djalalas(Dlalala), Djacamas (Dlakhama), inGonhamos (inGonyamo), Machavas, Guenhas, Ncomos, Mugabes e muitos outros, hoje assumindo-se como iNDAO / shona, terão a sua origem entre os inGunis ou Zulos a SUL. Um dos chefes de Tchaca Zulo era muHLANGA (Muchanga). Mais tarde se fixariam na região Shona, em Mussapa, nos princípios do século XIX. Em Harare encontram-se iMpfumos (hoje aculturados de shonas). A guerra da RENAMO contra a FRELIMO, finalizaria essa mestiçagem étnica, FORÇADA, em Moçambique. (Conclui na próxima Crónica).
CORREIO DA MANHÃ(Maputo) - 28.03.2005

27-03-2005

A infância de Machel - 2 versões

{Infância}

Samora Machel nasceu em 1933 e foi criado na vila de Chilembene. Era um membro do grupo étnico Shangana. Seus pais eram camponeses pobres. Machel soube o que era passar fome quando seus pais foram forçados a plantar o algodão pelos portugueses. Nos anos 50 seus pais tiveram as suas terras arrancadas para serem dadas aos portugueses emigrantes. A fim de evitar a fome seus pais foram trabalhar nas minas sul africanas sob circunstâncias perigosas. Logo após, seu irmão morreu num acidente na mina.

Samora entrou numa escola católica mas quando não estava na sala de aulas ele tinha que trabalhar no campo. Ele estudou para se transformar num enfermeiro, uma das poucas profissões permitidas aos pretos moçambicanos naquele tempo. Iniciou suas primeiras actividades políticas num hospital onde protestou o facto de os enfermeiros pretos usufruírem salários inferiores aos dos brancos que faziam o mesmo trabalho. Disse mais tarde para um repórter o quanto os médicos moçambicanos eram maltratados dizendo, "o cão do homem rico recebe mais vacinas, medicamentos e cuidados médicos do que os trabalhadores que constroem a riqueza do homem rico".

Vem isto escrito em
No entanto, na seu livro "SAMORA - Uma biografia", Iain Christie, escreve:
"...Como este assunto parece ter tido uma influência significa­tiva no posterior desenvolvimento das suas ideias políticas, vale a pena citar, com algum detalhe, as reminiscências de Samora numa conversa, em 1974, com o académico canadiano John Saul. Ele começou por descrever a região onde nasceu como rica e fértil, onde as pessoas eram camponesas mas não eram po­bres, e continuou:
Alguns eram mesmo ricos. Algumas pessoas, considera­das muito importantes, possuíam tractores e charruas, cria­vam gado e produziam vários cereais [...]
Nós queríamos compreender os fenómenos do comércio, da compra e da venda, e o meu pai costumava explicar-nos essas coisas com histórias sobre a dominação. Não eram as pessoas que produziam as coisas que fixavam os preços. Não eram eles que escolhiam a quem queriam vender os produ­tos.
Todos os africanos na nossa região estavam enquadrados pela administração colonial. Era a administração colonial que recrutava os compradores. Todos os cereais produzidos por africanos eram comprados por comerciantes recrutados pê­los administradores. Os comerciantes queriam comprar masnão queriam ir directamente aos produtores. Queriam fazer os contactos através da administração.
      A administração fixava os preços naquilo a que chamava a feira — a Feira dos Cereais. Por outras palavras, a Feira dos Cereais era uma forma de explorar o trabalho do cam­ponês africano [...] A verdadeira essência das coisas está nes­ta produção e troca de produtos agrícolas, porque éramos obrigados a vender os nossos produtos aos comerciantes a preços fixados pela administração.
Por exemplo, nós produzíamos e vendíamos um quilo de feijão a três escudos e cinquenta centavos enquanto os agri­cultores europeus produziam e vendiam a cinco escudos o quilo. E no dia a seguir a termos vendido as nossas colhei­tas tínhamos que comprar esses mesmos produtos a seis escudos — o dobro do preço que nós tínhamos recebido.
Se, ocasionalmente, por um acordo especial, conseguía­mos vender directamente a um fornecedor ou comerciante (por exemplo a quatro escudos o quilo) éramos obrigados a receber o pagamento metade em dinheiro e a outra metade em produtos [...].
Ainda por cima não podíamos ser comerciantes. Os «in­dígenas» não podiam praticar nenhuma forma de comércio. Apenas podiam produzir para os comerciantes europeus.
As vacas dos africanos não eram registadas e não po­diam ter a marca dos seus donos. Isto permitia aos agricul­tores europeus roubar gado dos africanos. Por vezes gado pertencente aos «indígenas» misturava-se com o gado per­tencente aos europeus e, quando isso acontecia, os europeus marcavam-no imediatamente — o mesmo acontecia com car­neiros e cabras — e assim aqueles animais passavam auto­maticamente a pertencer a esses europeus.
Depois havia a imposição de determinadas culturas por parte da administração — o sistema do algodão. A cultura do algodão é de tal forma que impede qualquer outra acti­vidade. É um produto que requer muita atenção e, consequentemente, resultou em fome na nossa região. Muitas pessoas morreram de fome por causa do algodão.
Nós vivemos isto tudo e os nossos pais falavam-nos disto para nos fazerem entender que esta era a natureza da dominação externa. E isto significava falarem-nos sobre a penetração portuguesa e a resistência à sua brutalidade e crueldade.
Nesta região os homens são igualmente forçados a ir para a África do Sul. São vendidos às minas sul-africanas. E, enquanto um homem está na África do Sul, a esposa é levada para trabalhar durante seis meses na construção de estradas, nas construções dos comerciantes e nos campos dos agricultores europeus.
SAUL — A venda de trabalhadores para a África do Sul deve ter afectado a sua própria família.
SAMORA — Perdi muitos parentes na África do Sul. Alguns voltavam com tuberculose, sem membros, mutilados, cegos, completamente inválidos e sem indemnização. Outros morreram na África do Sul. Por exemplo o meu irmão mais velho. Quando ele morreu nas minas da África do Sul o meu pai recebeu uma nota da administração a dizer que devia lá ir para receber uma indemnização de 40 libras. Mas disse­ram que não podiam entregar a quantia toda de uma vez. Só podia levar 10 libras e o resto ficaria no cofre da adminis­tração onde ele deveria ir pedir pequenas quantias quando precisasse.
SAUL — Lembro-me de outra história de exploração, nesta zona, que aconteceu em 1950, a exploração da terra.
SAMORA — Esse foi o maior drama. As charruas e tractores daqueles que eram agricultores hoje estão sem uti­lidade. Todos aqueles que tinham boas casas, de alvenaria, foram expulsos para dar lugar aos colonos e obrigados a vi­ver numa única divisão. A nossa terra foi expropriada e en­tregue aos colonos. Hoje não há nenhum agricultor africano na minha região. Toda a terra foi entregue a colonos sem nenhuma compensação [...] Os africanos foram colocados em terras áridas que não produzem nada, enquanto as regiões entregues aos colonos são irrigadas pelo rio Limpopo (').
Em 1942, quando Samora tinha nove anos, surgiu a possi­bilidade de ele ir para a escola. O pai decidiu que se devia aproveitar essa oportunidade de forma que disse a Samora para pousar a enxada e preparar-se para os estudos.
Foi um período difícil para um jovem de uma sólida famí­lia protestante começar a ir à escola porque isto passava-se logo a seguir a os portugueses entregarem aquilo a que chamavam «educação indígena» à Igreja Católica. A família Machel era Metodista Livre, sem grande vontade de enviar o filho para uma escola católica, mas era isso ou nada...."
Assim se vê que Samora Machel descreve ser de uma  " região ... rica e fértil, onde as pessoas eram camponesas mas não eram po­bres..."
No entanto, no texto primeiramente disponibilizado, lê-se que " Seus pais eram camponeses pobres. Machel soube o que era passar fome quando seus pais foram forçados a plantar o algodão pelos portugueses. Nos anos 50 seus pais tiveram as suas terras arrancadas para serem dadas aos portugueses emigrantes. A fim de evitar a fome seus pais foram trabalhar nas minas sul africanas sob circunstâncias perigosas.
Em que ficamos?
Fernando Gil

23-03-2005

URIA SIMANGO - Um homem, uma causa (1/3)

Dialogando
Por: João Craveirinha
AMICUS PLATO, SED MAGIS AMICA VERITAS
(Estimo Platão, mas estimo ainda mais a verdade)
Exórdio
Desde o lançamento do livro de Barnabé Lucas Ncomo em 2004 que o cronista desta coluna tem recebido inúmeras mensagens a pedirem um comentário. Insistência essa, por saberem da presença de João Craveirinha em alguns desses últimos momentos históricos de 1967 a 1976, com um intervalo de Junho 1972 a Julho 1974, em Zâmbia, Tanzânia e Quénia, referidos no livro.
É quebrado o silêncio. Mas, escrever sobre o livro é uma tarefa um pouco ingrata por conhecer de relance o Barnabé Ncomo que tem o mérito de ter colocado a “descoberto” um período conturbado da Luta de Libertação Moçambicana, ainda que numa embrulhada de elementos. No entanto, os meus temores se concretizaram –, do livro se ter transformado num panfleto contra a essência da própria Independência em si mesma, por todos aqueles que até hoje estão contra a legitimidade de ter sido conduzida pela FRELIMO (não a herdeira no Poder), mas a Frente de Libertação de Moçambique.
Conjecturar hoje que haveria outra via é extemporâneo.
O colonialismo Português era reticente a qualquer tipo de Independência e ainda hoje tem os seus herdeiros em Moçambique, em Portugal e na diáspora Portuguesa.
Evidentemente que um dia quando se escrever sobre a via político – militar do Comandante FILIPE MAGAIA, talvez aí, sim, o processo tivesse sido outro e mais regiões Moçambicanas teriam sido atingidas pela guerrilha.
Todos os processos políticos da História das Nações tem os seus lados obscuros e violentos. Lamentavelmente é assim. Caso o Reverendo Uria Timóteo Simango, tivesse obtido o Poder, a situação seria igual, com outra face somente. A moeda é sempre a mesma.
Mas sem dúvida, Uria Simango, foi um Nacionalista Africano que regou com o seu sangue de Mártir a Independência
Moçambicana e há que honrar esse legado sem o desvirtuar com os falsos defensores, de HOJE, da Liberdade do negro – africano. Nessa época, essas vozes pró Uria Simango de hoje, se o encontrassem na guerrilha anti-colonial (“o terrorista” Uria Simango), tê-lo-iam fuzilado depois de o torturar pois a convicção Nacionalista era muita em Uria Simango. Não cederia ao colonialismo Português. Uria Simango, protestante envangélico, provinha da escola do Nacionalismo Negro Rodesiano
(Zimbabué) e Sul-Africano do “BLACK MAJORITY RULE” (governo da maioria negra). Raízes profundas de Uria Simango no anti-apartheid da Rodésia e da África do Sul. Apartheid que os imigrantes Portugueses nesses Países e os de Moçambique, na sua maioria, pactuaram e apoiaram. O “moto” – slogan “ Juntos Venceremos” era o da santa aliança entre o Portugal colonial (Angola e Moçambique) e a Rodésia e África do Sul (bóer -africaner). As respectivas 3 bandeiras entrelaçadas (1957 / 1974), simbolicamente, e o projecto da Hidroeléctrica de “Cabora” Bassa, faziam parte dessa
aliança, para a Hegemonia Branca na África Austral. (Cahora).
Esses, hoje, são os que mais choram lágrimas de crocodilo com o livro de Barnabé Ncomo.
O cronista desta coluna, para escrever estas linhas, teve de ter o distanciamento necessário psicológico, não misturando os factos das suas vivências magoadas na própria FRELIMO, no cativeiro, na sua tortura psicológica e física, “ouvindo e sentindo solidariamente” também, a tortura em grupo dos outros. Em particular a do Rev. Uria Simango, próximo do cronista desta coluna, nesses momentos, em Nachingueia, 1975. Em 1976, o martírio continuaria em Mitelela ex- Nova Viseu.
(CONTINUA na próxima segunda-feira 28 e termina na terça-feira 29 Março)
O AUTARCA – 23.03.2005

11-03-2005

REACÇÕES E INTERPRETAÇÕES DE MÁ FÉ

Por João CRAVEIRINHA
INTRODUÇÃO
A personagem ENEIAS, príncipe herói Troiano diria : …“Ab Uno Disce Omnes”… traduzido do Latim – “Por um, aprende a conhecê-los todos” – se referia à perfídia – má fé – dos Gregos na Guerra de Tróia. Este verso vem inserido na ENEIDA, II, 65, Poema épico incompleto (29/19 a.C), escrito por Virgílio ou de nome completo original, Publius Virgilius Maro – poeta Latino Romano (70 / 19 a.C).
DESENVOLVIMENTO
Muita gente revela uma tendência psicológica da AVESTRUZ, de esconder a cabeça no NIHILISMO – negação redutora (medo), de tudo que não lhes agrade, relativa à História, que eles próprios ignoram mas na ignorância não assumida se auto doutoram em matérias que desconhecem e de uma urgência de exorcismo histórico para terem o necessário distanciamento para perspectivarem e ultrapassarem complexos coloniais existentes.
Os Portugueses “Brancos” podem “meter a colher” (e mal), em tudo que é Africano e “Negro” e tendenciosamente, mas se um Africano com bases sólidas de conhecimento, fora dos textos oficiais, “fala” da História de Portugal, é “inimigo público número 1 a abater”… Vontade não faltará, silenciando as Vozes incómodas. Obviamente, a excepção confirmará a regra. Cada assunto tem o seu compartimento. Exorcizemos o tema da ESCRAVATURA e noutro compartimento falemos da actualidade mas sem esquecer que o presente é reflexo do passado. Nós todos não nascemos hoje. Houve um todo processo – curriculum – que veio de trás do passado recente –, avô do avô do avô, etc., que não pode ser eliminado para satisfazer vontades de um obscurantismo e às vezes racismo que só incomodará quem é isso mesmo, RACISTA, que se sentirá afectado assumindo um complexo superior de seus antepassados europeus, fora de contexto. No mínimo ridículo de uma mentalidade distorcida. A extracção de um dente cariado é dolorosa mas necessária. Assim é com a História…” A Alemanha Federal pós 2ª Guerra Mundial que nada tinha a ver com o nazismo e o Holocausto Judeu, pagou chorudas indemnizações a Israel que nem existia na altura como um Estado Independente.”…Interpretem correctamente. É uma citação a título do paradoxo de critérios. E não levantou contradições apesar de discutível. Este assunto de indemnizações a África, foi abordado pelo cronista desta coluna em tempo próprio, por ocasião da Conferência de Durban. O cronista deste espaço Moçambicano de análise e pensamento não é culpado da ignorância das pessoas que não tem acompanhado as suas crónicas desde 1997…” ÁFRICA DO SUL – À MARGEM DA CONFERÊNCIA MUNDIAL DE DURBAN – texto de João Craveirinha – Na cidade sul-africana de Durban está prevista a realização da primeira Conferência Mundial contra o Racismo, Xenofobia e Intolerância de 31 de Agosto a 7 de Setembro de 2001. …”O problema seria a aplicação prática dessas eventuais indemnizações, como e a quem?”…Isto foi escrito em Moçambique em Julho de 2001. Para lerem mais, aguardem para breve, de 6 livros, o Romance, intitulado: JEZEBELA – O Charme Indiscreto dos Quarenta – Crónica de uma Mulher; o percurso de uma luso-africana universitária e moderna no dia a dia actual em Portugal, Moçambique e Brasil, com flashes ao passado Histórico.
CONCLUSÃO
Verifica-se em Moçambique, no quotidiano, “projecções” de imagens contraditórias, quer na Publicidade em todas as suas formas alienatórias, quer na própria arrogância de certos ditos licenciados “negros, mulatos, índios e brancos”, enfatuados na arrogância de um diploma e da auto-assinatura de artigos até em Jornais com o ridículo auto-epíteto de DR do “alto” da …”auto-suficiência da ignorância”…, como diria meu “cumpadre” brasileiro – José Ramos Tinhorão – autor do Livro – Os “Negros” em Portugal: Uma Presença Silenciosa. Livro único de recolha de documentação de séculos sobre o papel Histórico do dito Negro, escravos e descendentes, no desenvolvimento da sociedade Portuguesa na Europa, durante séculos. Na 1ª edição em 1988, autografada pelo autor (JRT) em 1994, deixaria escrito para a “posteridade” (a minha) …”Para o João Craveirinha que sabe destas coisas, o melhor abraço do compadre brasileiro – José Ramos Tinhorão – Lisboa, 29/06/1994 (sic). J. Ramos Tinhorão, é um dos mais conceituados especialistas de Musicologia, História e Antropologia Cultural. Bem, já agora, também o cronista JC tem algum “direito” de se “gabar” de algo, mas sem pedestal …ehehehe…hehehe… visto muitos “escreverem” replicando ou repenicando do alto da Prosopopeia do pedestal da altivez ou será desfaçatez? Eheheh…ehehe…hehehe. I love this game …de réplicas e tetra réplicas da treta e da nau catrineta…Ehhh…ehhehe. Enfim! Tristezas não pagam dívidas. Caso contrário, muita gente cinzenta era milionária. “Infelizmente” eu nunca seria milionário por ser de “COR”! “Um pobre coitado que não sabe nada! Só observa e comenta a esmo”. Mas atenção – sempre com dignidade, de cabeça levantada! Ehhh…ehheheheh ! (FIM)
CORREIO DA MANHÃ(Maputo) - 11.03.2005

10-03-2005

MANU disparou primeiro tiro e não a FRELIMO (em Agosto de 1964)

Moçambique - o ínicio da guerra
…E não foi no Chai, mas em Nangololo

Ao contrário do que reza a história oficial da Frelimo,o primeiro tiro da guerra da independência de Moçambique não foi disparado,nem em 25 de Setembro de 1964, nem no Posto Administrativo de Chai, nem pela então frente de libertação.
Da leitura de relatos credíveis, feitos por investigadores independentes, conclui-se que a primeira acção militar contra o regime colonial português no nosso país Moçambique foi da iniciativa da MANU (União Nacional Africana de Moçambique) e deu-se em Agosto daquele ano contra a Missão Católica de Nangololo. Por outro lado, a 24 de Setembro de 1964 foi reportado um ataque a Cóbué, na província do Niassa, bem como outras operações ao longo da margem norte do lago com o mesmo nome que incluiram o disparo de vários tiros contra uma lancha da Marinha de Guerra portuguesa, no dia seguinte. A MANU, que juntamente com a Udenamo já havia rompido com a Frelimo em 1962, era uma organização composta essencialmente por macondes, com raízes em Cabo Delgado, etnia que possuía, no início dos anos sessenta, cerca de 250 mil membros a viver, ou nascidos e criados na Tanzania, Zanzibar e Quénia
Orientação tanzaniana
A semelhança do nome com o partido único do regime de Dar-es-Salaam, TANU (Tanzania African National Union), não é acidental, e tornou-se óbvio desde o início que se tratava de um movimento criado, inspirado, orientado e da preferência das autoridades tanzanianas, nomeadamente do então presidente Julius Nyerere, que sempre se mostrou adverso às consideradas «tendências radicais» da Udenamo, ligada e financiada pelo Ghana de Kwame Nkrumah, a grande figura orientadora das independências africanas naquela altura.

"Big brother"tanzaniano

Nas origens da MANU está a Sociedade dos Africanos de Moçambique, cujas reivindicações sociais e laborais provocariam o massacre de Mueda em 1960.
No ano seguinte, em Janeiro, aquela sociedade juntar-se-ia às delegações de Dar-es-Salaam, Mombassa e Zanzibar da Makonde African Assossiation (MAA), para constituir a MANU. A organização era devotada à causa da Independência de Moçambique, muito embora os seus primeiros presidente e vice-presidente, Matthew Mmole e Lawrence Malinga Millinga, fossem tanzanianos, e houvesse entre os seus membros quem advogasse a secessão de Cabo Delgado para unificação com o país governado por Nyerere. A nível de nacionalidades, entre os macondes, havia no entanto muita latitude, bastando referir que, por exemplo, tanto o secretário-geral da TANU, Rashid kawawa, como o ministro tanzaniano do Interior e dos Negócios Estrangeiros, Oscar Kamkomba, eram moçambicanos de origem.
Lutas intestinas
A permanência da MANU na Frelimo foi “sol de pouca dura”, tal como aconteceu, aliás, para os outros dois movimentos de cuja fusão teria resultado – na versão oficial – a frente, nomeadamente a Udenamo e a Unami, este último com origem nos mineiros do carvão de Tete. Para Mondlane, tratava-se de um grupo criado pelos tanzanianos sem enraizamento em Moçambique e daí que os seus dirigentes, aquando do I Congresso, tivessem obtido cargos sem expressão na Frelimo: Mmole foi designado tesoureiro, e Millinga secretário executivo do Comité de Bolsas. Os dois acabariam por ser expulsos da Frelimo em Maio de 1963, depois de terem exigido, em conjunto com Gwambe, um presidência dupla da MANU e Udenamo para a frente de libertação, e se mostrarem exasperados com as alegadas hesitações de Mondlane, a quem chegaram a apelidar de «Tshombé de Moçambique», para optar pela luta armada.
Tal impaciência, aliada às lutas intestinas que vinham dilacerando a Frelimo desde 1962, motivadas sobretudo pela desconfiança das bases numa liderança shangana e sulista tida como colaboracionista do regime colonial e dos EUA, levou os macondes leais à MANU a fazerem a primeira incursão armada em Moçambique, contra a Missão Católica de Nangololo, que se saldou pela morte de um padre holandês.
Outros intervenientes
Para além dessa operação, entretanto, não há registo de qualquer outra actividade militar posterior daquele movimento, na guerra da independência, onde a Frelimo teve sem dúvida o maior quinhão, seguida, de muito longe, pela Coremo (Comité Revolucionário de Moçambique).
Além das do Sul, a província onde a frente teve mais dificuldades em penetrar foi a província da Zambézia, onde só se verificou actividade militar da Frelimo em Julho de 1974, depois do golpe de Estado de 25 de Abril em Portugal. Nessa província há o registo de um ataque do Exército de Libertação Nacional do Monomotapa, o braço armado da Udenamo- -motapa, que se opunha tanto ao regime colonial como à Frelimo, a Chire.
Quanto à Coremo, considerada pelos relatórios da CIA como gozando de apoio popular, bem como de capacidade de o-ganização e recursos diminutos, iniciou a “sua” guerra em Tete, não conseguindo penetrar, apesar de várias tentativas, na Zambézia. Começou a desmembrar-se, militar e politicamente, em meados de 1968, quando um dos seus mais proeminentes quadros, Mazungo Bob, foi morto em combate perto da fronteira com a Zâmbia.
Diversos confrontos armados entre a Frelimo e a Coremo foram também registados, o primeiro dos quais ocorreu em 1968, com o movimento então liderado por Samora Machel a prender vários quadros da organização rival em 1970, e dois comandantes militares e o tesoureiro da Coremo a serem mortos em 1972 numa emboscada da Frelimo.
Maior número de baixas
A luta armada prolongar-se-ia pelo dobro do tempo inicialmente previsto por Mondlane (cinco anos), sendo que foi no nossos país onde o Exército português sofreu maior número de baixas, por comparação a Angola ou à Guiné-Bissau. De acordo com os números registados por Lisboa, 2.893 membros das suas forças armadas morreram em Moçambique entre Setembro de 1964 e Setembro de 1974. Do lado da Frelimo, entretanto, as contas são outras, e no segundo aniversário do início da guerra da independência, reivindicava a morte de mais de 3.000 soldados lusos. Em 1971, alegava ter liquidado, só nesse ano, 2.850, nove vezes mais do que o admitido pelo regime colonial. (Fonte principal deste dossier: “Mozambique: The tortuous road to democracy”, de João M. Cabrita)
Em 25 de Setembro de 1964 – Mondlane estava na Europa
Eduardo Mondlane, então presidente da Frelimo, encontrava-se numa digressão por vários países da Europa quando o seu movimento decidiu desencadear a guerrilha.
Por outro lado, o Governo tanzaniano proibiu uma conferência de Imprensa convocada pela frente para Dar-es-Salaam que se destinava a anunciar que a luta armada já fora desencadeada.
Após o seu regresso à capital da Tanzania, Mondlane revelaria que sete destacamentos da Frelimo haviam penetrado no Norte de Moçambique a 25 de Setembro, dos quais três foram capturados pelos portugueses, dois acabaram por dispersar, com diversas baixas, após troca de tiros com as tropas coloniais, enquanto os restantes dois se mantinham intactos.
Sobre a MANU, que se declarou farta de esperar pelo início da guerra da independência, haveria o líder frelimista de comentar indirectamente que qualquer acção militar daquele movimento seria «uma missão manipulada do exterior» para levar à separação de Cabo Delgado e Niassa de Moçambique, com integração na Tanzania.
O sentimento de frustração pela alegada apatia de Mondlane alastrava noutros sectores da Frelimo nas vésperas do desencadeamento oficial da guerra da Independência, sendo de realçar a expulsão, em Agosto de 1964, de seis quadros da frente, incluindo o então secretário da Defesa, Leo Milas, acusado de ser «um espião norte-americano». Como tinha sido nomeado pelo próprio presidente da Frelimo, a expulsão causou alguns embaraços a Mondlane que, posteriormente, revelou que o verdadeiro nome de Milas era Leo Clinton Aldrige, que nem sequer seria moçambicano, mas sim um americano do Texas.
O expulso viria a retaliar logo a seguir, em conferência de Imprensa, acusando o presidente da Frelimo de não fazer nada para promover a guerra em Moçambique. Denunciou ainda que Mondlane passava «menos de um terço do seu tempo de liderança em África».
IMPARCIAL - 24.09.2002 

09-03-2005

Os “Negros” em Portugal

- Uma Presença Silenciosa versus os “Brancos” em Moçambique: uma Presença Ruidosa… (2/2)
DIALOGANDO
por João Craveirinha
Apontamentos sobre a Escravatura em Moçambique – caTembe, Inhambane e “Quilimane”
INTRODUÇÃO
Em relação a Moçambique a Escravatura não foi bem aceite na região de caMpfumo e Maputsu (o verdadeiro dos Tembes). Uma das provas é o insucesso do projecto (1777) do pirata William Bolts de origem alemã nascido na Holanda empregado em firma inglesa em Lisboa (1755) e mais tarde (1776), ao serviço do Príncipe Wengel Anton von Kaunitz-Rietburg da Áustria – Viena. Reinava a Imperatriz Maria Teresa por morte de seu pai o Imperador Carlos VI dos Habsburgos em 1740. A Áustria apesar de possuir extenso domínio – Boémia, Hungria, Itália, Holanda e zonas do rio Danúbio era um Império desorganizado.
Na actual Baía de Maputo, nessa época, reinavam os Mpfumos na actual Matola e os Tembes com os quais os Europeus prestavam vassalagem e pediam autorização para se abastecerem de água, caça, etc. Escravatura estava fora de questão. Contraditoriamente, o projecto austríaco consistia em “criação” de negros e negras em KRAALS – currais na caTembe como “frangos em aviário”para venda a outros Europeus. A falta de colaboração fez William Bolts tentar se “abastecer” em Inhambane na região dos Gógóne vulgo bitongas e trazê-los para a região da caTembe. Mas em vão. De salientar as constantes revoltas e ataques dos rongas Tembes e Mpfumos contra os navios negreiros que entravam na Baía. Não era invulgar serem incendiados navios ingleses, holandeses, portugueses e outros quando não respeitassem as autoridades africanas locais e com o adequado “imposto” e “saguate” a ser cobrado.
DESENVOLVIMENTO
Vindo da África do Sul, em 1821, fugido de Tchaca Zulo, Sochangana conhecido por maNicusse (Nkossi - rei) e seu grupo invadem Moçambique pelo Maputsu, avançando até ao rio Zambeze / Tete / Manica (1835 / 1839), onde é “travado” pelo clã “mulato chinês / caneco” do Inhaúde pai do Bonga. Fixa-se no Búzi – Sofala e em 1840 dos 46 Prazos do vale do rio Zambeze, 28 a sul, pagavam “imposto” a Sochangana, avô do Gungunhana. Sochangana (de origem Tembe) de regresso a sul do rio Save ao saber que um chefe maRonga de uma povoação na Matola, “negociara” com os portugueses a venda de alguns súbditos, arrasa a povoação para que servisse de exemplo. Remédio santo. Nunca mais na região houve escravos à venda no século XIX.
O Historiador Luís Covane em 14 de Março de 2003 no Instituto Camões (Maputo) na re – apresentação do livro…“Moçambique: Feitiços, Cobras e Lagartos!”(http://www.macua.org/livros/feiticos.html), diria: - …”É muito interessante a citação extraída de uma publicação colonial referente à posição de Manicusse (Sochangana) em relação ao comércio dos escravos: Aquele que vende seu semelhante merece com justiça ser perseguido e caçado mais do que os leopardos e leões...”. Esta declaração do 1º Imperador de Gaza ajuda a esclarecer a natureza dos poderes africanos antes da conquista colonial (…) Ficamos a saber que nem todos os aristocratas africanos viam no comércio de escravos uma forma importante de acumulação de riqueza e de reforço do seu poder e prestígio. (…) Eram os europeus que instigavam as guerras intra e inter estados, reinos e chefaturas como forma de produção de escravos.”…
CONCLUSÃO
Segundo o Visconde da Arriaga, em Moçambique, no vale do Zambeze…”A escravatura tornou-se um delirio durante os primeiros quarenta annos d’este seculo(sec.XIX, 1800-1840), e quanto mais se desenvolvia a America, tanto mais se despovoava e empobrecia a Africa! Chegaram a navegar annualmente para o porto de Moçambique (ilha) e Quilimane á procura de pretos mais de quarenta navios de differentes nações! Em 1820, os habitantes de Quilimane, que pela sua riqueza se consideravam a povoação mais importante e aristocratica da provincia, proclamaram-se independentes desligando-se do governo da capital e unindo-se ao Rio de Janeiro”(…) Presidindo em Moçambique, como juiz de direito á venda em leilão de 52 pretos pertencentes á herança d’um Baneane, natural da India, causou-me horror e vergonha, quando procedendo-se em separado á d’uma preta, engommadeira, que trazia pela mão um filho de 8 annos, e outro ao colo a vi chorar lágrimas de sangue por este desprezo dos sentimentos da natureza”(...) Os cem prazos da corôa, que abrangem um territorio muito maior que a península iberica (…) estão quasi todos abandonados, por que os seus habitantes foram vendidos para a America, e os senhores depois d’esta vergonhosa venda e ricos, seguiram quasi todos o mesmo caminho, vindo alguns para a Europa”(…) O Praso Luabo, que foi dos jesuitas, e que durante muitos annos forneceu mantimentos de arroz, milho, mandioca, feijão e ervilha para os navios de escravos, que aportavam a Quilimane, está hoje despovoado, por que os colonos (negros) também foram vendidos”… (FIM) Nota: Ortografia no original publicado em 1881 – Lisboa.
O AUTARCA - 09.03.2005
Ver a 1ª parte em:

07-03-2005

Os “Negros” em Portugal

- Uma Presença Silenciosa versus os “Brancos” em Moçambique: uma Presença Ruidosa… (1/2)
INTRODUÇÃO
O tema de hoje, é motivado pelo “retorno” a Moçambique, dos tempos “áureos” do colonialismo português, anos 1950/60 e dos “decadentes” anos 1970. Esses tempos parecem ressurgirem, no País, tal é a falta de respeito no mínimo, pela Independência
que custou Sangue, Suor e Lágrimas à imensa maioria de “negros” (sobretudo) e dos “mestiços/mulatos e brancos” de ambos os lados, não nos esquecendo dos sino (chineses) e indo (indianos) Moçambicanos.
Até já se utiliza “Galinha à Cafreal” termo proibido ainda na era colonial pelo governo português, graças à intervenção do Jornalista/Poeta José Craveirinha, no jornal Notícias (anos 1960), por pejorativo e atentatória à dignidade do “negro” por se referir a ele como selvagem…isto é “Galinha à Selvagem”. Passaria para GALINHA À PIRI-PIRI.
DESENVOLVIMENTO
De facto, parece estar-se a reviver uns tempos “crispados” de antagonismos ruidosos e outros silenciosos em que a liberdade de expressão se confunde com “ismos” que se pensavam enterrados da História recente. Eis que de novo, “demónios ou xipócues”,
se tentam implantar quer em Moçambique, quer em Portugal, trocando as cores desses “ismos” até da Escravatura em África, legado colonial europeu a uma escala gigantesca, iniciada por Portugal e ANTÃOGONÇALVES, no Rio do Ouro (1441), na captura de 10 (ditos) negros africanos transformados em escravos e vendidos em Lisboa.
No 2º Vol. História Universal 1994, adaptação feita pelo emérito Historiador português, Prof. DoutorJorge Borges de Macedo (falecido), refere-se a Antão Gonçalves e seu grupo … “Esse ano de 1441 é mais um marco trágico nos laços entre Europeus e Africanos”… Os Árabes iniciaram e os Europeus massificaram a uma dimensão Mundial nunca vista na Humanidade e com os maiores requintes de desumanidade.
Lagos (Algarve) mais tarde, seria o centro principal desse Tráfico na Europa.
Todavia, surgem certas vozes querendo minimizar o HOLOCAUSTO NEGRO (20 a 60 milhões de seres humanos perdidos por África) cuja maioria na fase avançada nem
teriam sido vendidos por intermediários africanos, chefes, reis ou sobas, aos europeus. Eles próprios mais tarde cativos (os sobas). Sem desculpabilizar a conivência dita negro – africana há que ter em conta o fomento pelos “brancos” europeus, de guerras étnicas para a venda/compra/venda dos prisioneiros. SEM PROCURA NÃO HAVERIA OFERTA. Somente pelo Arquipélago de Cabo Verde – capital ilha de Santiago – Ribeira Grande, durante séculos – sec. XVI / XIX, teriam circulado cerca de 4 milhões de Wolofes, Mandingas, Felupes, Fulas, Papeis, Djalôs, Balantas, Biafadas (grumetes), Manjacos, para as Américas – Caraíbas, Brasil, Guianas e Antilhas e a Holandesa – “Curaçao”, cujo idioma actual o “creole PAPIAMENTU (PP)” é testemunho dessa época. O PP é originário do crioulo de Cabo Verde (badio). Esses escravos foram capturados pelos portugueses e vendidos para as Américas, aos Espanhóis, Ingleses,
Franceses, Holandeses, pela ROTA DA ESCRAVATURA, conhecida historicamente por “Atlantic Slave Trade do Black Cargo”. A desarborização para combustível, habitação e manutenção das caravelas causaria desertificação em Cabo Verde e é uma acusação silenciosa ao Tráfico de Escravos e à mestiçagem forçada oficializada.
CONCLUSÃO
A serem JUDEUS, os ditos negros, e muito mais claros de pele, olhos azuis ou verdes, o destaque seria outro e com Indemnizações e sem tentativas de minimizar essa tragédia a exemplo do recente Holocausto Judeu, apesar de ter havido também, alguns Judeus
coniventes” com os nazis alemães e fascistas italianos e franceses. A Alemanha Federal pós 2ª Guerra Mundial que nada tinha a ver com o nazismo e o Holocausto,
pagou chorudas indemnizações a Israel que nem existia na altura como um Estado Independente. Mas com coragem assumiu esse passado Histórico tenebroso.
África, sofreu uma “sangria” eterna e tentar atenuar a culpabilidade Histórica da Europa e Américas é tendencioso. Esse legado trágico ainda afecta as mentalidades de certos ditos brancos europeus na assumpção de uma superioridade em que se posicionam e em certos negros africanos nos complexos em se que auto-submetem pois foi-lhes negado um passado Histórico que não os remeta para uma dominação
colonial europeia “branca”. E nunca como agora em Portugal, a corrente de mentalidade colonial emergiu com tanta força, mantendo em Presença Silenciosa o
negro” com nacionalidade portuguesa, estimados em cerca de 1 milhão – 10% da população ou mais (dados não oficiais), continuando sem visibilidade. (Continua)
– Escravatura em Moçambique – caTembe (William Bolts), Inhambane, os Prazos do Zambeze e “Quilimani”.
CORREIO DA MANHÃ(Maputo) – 08.03.2005

27-02-2005

Arquipélago das Quirimbas

Image65jConheça ou reveja o paraíso que são as Ilhas do Arquipélago da Quirimbas, em Cabo Delgado, no norte de Moçambique, entre elas as do Ibo, Matemo e Quilalea:

16-02-2005

Assinado protocolo com Portugal para reabilitação arquivo histórico

A Cooperação Portuguesa e a Universidade Eduardo Mondlane (UEM) assinaram, hoje, na capital moçambicana, um protocolo de colaboração destinado à reabilitação do Arquivo Histórico de Moçambique (AHM), num projecto avaliado em mais de 600 mil euros.
A doação visa a adaptação de um edifício a oficinas de micrografia e restauro de três depósitos históricos do país, num projecto que será suportado por quatro instituições portuguesas, designadamente o Instituto Português de Apoio ao Desenvolvimento (IPAD), Instituto do Livro e das Bibliotecas (IPLB), Instituto dos Arquivos Nacionais/Torre do Tombo (IAN/TT) e do Instituto do Património Arquitectónico (IPPAR).
O acordo pretende apoiar à revitalização do maior depósito histórico de Moçambique e um dos maiores do continente africano, numa extensão de 26 quilómetros de estantaria de documentos em três edifícios da UEM.
A iniciativa irá "permitir à recuperação de parte do acervo bibliográfico português ali instalado desde o tempo da dominação colonial", sobretudo aspectos ligados a Moçambique, antiga província ultramarina, disse aos jornalistas o responsável pelo IPLB, Rui Pereira.
O reitor da UEM, Brazão Mazula, mostrou-se "entusiasmado" com o gesto da Cooperação Portuguesa, destacando a importância de "melhorar as condições em que se encontra todo o acervo bibliográfico, com vista a permitir uma melhor flexibilidade de utilização por parte dos investigadores da história moçambicana e não só".
O director do AHM, Joel Tembe, disse segunda-feira à Agência Lusa que o valor se destina à execução de um projecto de arquitectura, de especialidade, fiscalização e adaptação de um edifício a oficinas de micrografia.
No âmbito da reabilitação do AHM, a UEM decidiu desactivar o edifício sede por não oferecer condições para o restauro e englobá-lo num dos três estabelecimentos a serem reabilitados com fundos portugueses e que passarão a funcionar como centro de investigação científica, referiu Joel Tembe.
Agência Lusa - 16.02.2005

14-02-2005

Portugal apoia com 600 mil euros reabilitação de Arquivo Histórico de Moçambique

Portugal vai apoiar com mais de 600 mil euros a reabilitação do Arquivo Histórico de Moçambique (AHM), num projecto que visa a adaptação de um edifício a oficinas de micrografia e restauro de três depósitos históricos do país.
Um acordo de parceria entre a cooperação portuguesa - através dos institutos de Apoio ao Desenvolvimento (IPAD), do Livro e das Bibliotecas (IPLB), dos Arquivos Nacionais/Torre do Tombo (IAN/TT) e do Património Arquitectónico (IPPAR) - e a Universidade Eduardo Mondlane (UEM) será quarta-feira assinado em Maputo.
O acordo tem em vista o apoio à revitalização do maior depósito histórico de Moçambique, numa extensão de 26 quilómetros de estantaria de documentos nos três edifícios contemplados.
O director do Arquivo Histórico de Moçambique, Joel Tembe, disse hoje à Agência Lusa que o valor destina-se a execução de um projecto de arquitectura, de especialidade, fiscalização e adaptação de um edifício a oficinas de micrografia.
No âmbito da reabilitação do AHM, a UEM decidiu desactivar o edifício sede por não oferecer condições para o restauro e englobá-lo num dos três estabelecimentos a serem reabilitados com fundos portugueses e que passarão a funcionar como centro de investigação científica, referiu Joel Tembe.
Aquele responsável disse ainda que a UEM pretende informatizar as bibliotecas e instalar um programa de computador, avaliado em 200 mil euros, que permitirá a digitalização de todo AHM, numa iniciativa que se enquadra num outro projecto que contará com o apoio do governo do Japão.
"Pretendemos combinar as tecnologias, o que se traduz na aquisição de novas técnicas de informação digital combinadas com a microfilmagem, que é uma mais valia por poder conservar os filmes, em média, durante 500 anos", sublinhou.
Durante a sua presença em Moçambique, o IPLB e o IPPAR irão oferecer equipamento informático à Casa Museu José Craveirinha, em Maputo.
Agência Lusa - 14.02.2005

04-02-2005

3 de Fevereiro

Mondlane02Cada indivíduo é uma totalidade concreta a que se chama personalidade. O conceito de personalidade implica o conceito de integração porque representa o conjunto de tudo o que existe na pessoa. O indivíduo pode ser mais ou menos semelhante aos outros indivíduos, mas ele nunca deixará de ser único.
Depois de amanha, em memória do guerrilheiro sem ódio, o Dr. Eduardo Mondlane, comemora-se o 3 de Fevereiro, dia dos heróis moçambicanos.
Nascido em 20 de Junho de 1920 em Manjacaze, província de Gaza, foi o último filho da terceira e última mulher do seu pai. Perdeu o pai ainda muito pequeno, foi cuidado pela mãe e iramos mais velhos. Ninguém da família frequentara a escola; ele e os iramos cuidavam das vacas, ovelhas e cabras. Porém a mãe, uma mulher decidida e destemida, empenhou-se para que ele recebesse educação. Em 1931, quando tinha onze anos, passou a frequentar  a escola primaria oficial de Manjacaze, depois de dois anos, passou para a escola de mis-são, que estava perto de casa. Os missionários calvinistas interessaram-se pelo jovem e conseguiram em 1936 que fosse a Lourenço Marques fazer exame de 4ª classe, que era o máximo a que um negro podia aspirar naquela altura. Teve oportunidade de frequentar uma escola agrícola onde fez o curso de agricultura de sequeiro. Depois de ensinar dois anos de agricultura de sequeiro na região de Manjacaze, conseguiu uma bolsa para estudar ensino médio no norte de Transval. Em 1948 com outra bolsa entra na Universidade de Witwatersrand em Johanes-burg. No ano seguinte o governo da África do Sul reti-rou-lhe a permissão de estudante estrangeiro e os portugueses prenderam-no  e  interrogaram-no  a cerca do seu esforço para organizar em Moçambique uma união de estudantes.
            As autoridades portuguesas chegaram a conclu-são de que se fosse estudar para uma universidade de Portugal, curaria o embrionário Espirito de Nacionalista Negro. A Phelps Stokes Fund de Nova Yorque concede uma bolsa para uma universidade de Lisboa; ao fim de um ano solicitou transladassem a bolsa para uma univer-sidade americana e em 1953 obteve B.A em Oberlin Co-lege de Ohio.
De Ohio passou a Evanstone, na Northwester University, onde estuda antropologia e sociologia com professores de categoria de J. Melville  Herskovits. Aí obteve a sua licenciatura e o seu doutoramento, meta nada desprezível quando, essa altura (1955), só havia dez moçambicanos no ensino secundário. Já Doutor, foi completar os seus estudos em Harvard  University, durante dois anos. Em 1957 entra no Social Research, departamento da ONU onde esteve até 1961.
Em 1962 existiam em Moçambique vários grupos de nacionalistas com muitos líderes e pouco dinheiro. Os três principais grupos nacionalistas eram, União Nacional Africana de Moçambique (MANU), a União Democrática Nacional de Moçambique (UDENAMO), e a União Nacional Africana de Moçambique Independente (UNAMI). Mondlane viu a necessidade de unir os diferentes movimentos numa frente unida e num único movimento. Em 25 de Junho de 1962, funda a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), sobre a base de uma total fusão de todos os movimentos. No primeiro congresso decorrido entre 23 e 28 de Setembro  de  1962 é eleito presidente, cargo que exerceu até 1969, quando no dia 3 de Fevereiro ocorreu a tragédia.
As onze horas da manha chega a Dar-Es-Salaam de uma das suas infinitas viagens e decide, antes de tomar o pequeno almoço, ir descansar a uma casa da costa da mesma cidade que pertencia a uma amiga da sua mulher e onde sempre tinha pronto o seu quarto.
Avisa o quartel-general da Frelimo que lhe levem aí o correio. Chegar a casa, subir ao seu quarto e pôr-se a vontade, é coisa de um momento, de tronco nu volta a descer para receber o correio que acabava de chegar e com ele sobe ao seu quarto, onde lhe levam o café quente. No correio vem um pacote com formato de um livro com selos da Alemanha  Federal, catalogado numa cinta “pessoal e confidencial”. Começa a abri-lo...
A explosão faz tremer a casa inteira. Na habitação estava o corpo do Dr. Eduardo Mondlane horrivelmente mutilado. Um herói moçambicano que nunca usou ódio mas sim muita compreensão e sacrifício.
São exemplos a seguir por esta nossa geração, a unidade, o anti-tribalismo, regionalismo, racismo e foi o le-ma prosseguido pelo outro herói  Samora Moisés Machel.
Que o 3 de fevereiro de 2005, leve a Frelimo a força da mudança, a mudar atitudes retrogradas de alguns dirigentes gananciosos e ambiciosos.
O saudoso Samora Machel ensinou-nos, que por detrás do tribalismo, regionalismo, racismo, esconde sempre o rosto mesquinho da ambição. Ambição que, tantas vezes, leva ao crime e a traição.
Os grandes feitos estão reservados para os grandes homens.
Tenho dito.
(Abdul Magide Abdul Gafur)
Obs. Dados colhidos numa revista espanhola “Vida Nueva
O AUTARCA - 01.02.2005

03-02-2005

Moçambique – Feitiços, Cobras e Lagartos

Jcraveirinha_instcamoes1_1Da esquerda para a direita: Adido Cultural e Embaixador de Portugal em Moçambique. Vice – Ministro da Cultura de Moçambique Luís Covane, Dona Edite da Minerva Central e o autor João CraveirinhaFeitic02_1Comentário por Luís COVANE na apresentação do Livro Moçambique; Feitiços, Cobras e Lagartos· O Dr. Luís COVANE é Historiador e vice – Ministro da Cultura de Moçambique na África Oriental do sul em 2003. Em 14 de Março de 2003 fez a (re) apresentação de um livro de João CRAVEIRINHA… no Instituto Camões, em Maputo por ocasião do 95º aniversário da 1ª Livraria portuguesa na África Austral. Contou com a presença do Embaixador e do Adido Cultural de Portugal na República de Moçambique. Apresentação do Livro por Luís Covane: …É para mim uma grande honra e privilégio proceder à apresentação deste livro, embora seja pela 2ª vez, uma vez que tive a oportunidade de assistir ao 1º lançamento onde uma personalidade das letras moçambicanas fez uma sábia e eloquente apresentação desta obra, intitulada: “Moçambique: Feitiços, Cobras e Lagartos! Crónicas Romanceadas.” Este lançamento, integra-se nas celebrações do 95º aniversário da Minerva Central, casa que ao longo de quase um século, acarinhou os estudantes, professores, estudiosos e amantes da leitura em Moçambique. Aproveito esta oportunidade para felicitar a Minerva Central pelo seu aniversário e formular votos para que continue a prestar a sua valiosa contribuição na luta pela elevação do nível sócio-cultural e cientifico dos moçambicanos através da disponibilização do livro. João Craveirinha é um investigador, escritor, amante da história e cultura moçambicanas que dispensa apresentação. A modesta biografia que nos é apresentada na obra, permite visualizar a grandeza do homem, do investigador e incansável trabalhador na busca do esclarecimento do passado, do presente e dos desafios da sociedade moçambicana. O livro de Craveirinha é muito especial. A sua leitura não é cansativa. Não é preciso ler todo o livro para compreender a história; cada texto é uma história completa e sem qualquer tipo de ligação com o anterior ou o seguinte. A história da sua produção justifica a sua natureza. Este livro é uma brilhante colectânea de textos. A obra é composta por vinte e quatro textos, sendo dez dos quais caracterizados por uma grande componente de história e etno-história e os restantes por aspectos sócio-culturais e económicos que marcaram e marcam a sociedade moçambicana. As partes que tratam da história ou etno-história confirmam que João é um profundo conhecedor dos arquivos, dos documentos e escritas sobre o passado longínquo e recente de Moçambique. A maneira como ele aborda algumas peças da história pré-colonial de Moçambique, principalmente sobre os processos ocorridos na 2ª metade do sec. XIX, lança sérios desafios aos historiadores e estudiosos moçambicanos. Para os que terão a oportunidade de ler este livro, chamo à atenção para as dificuldades de conferência ou verificação das fontes consultadas, resultante da opção que ele tomou de explicitar algumas e deixar a maioria na penumbra. A decisão de não revelar todas as fontes parece um convite para a pesquisa. É um convite para visitarmos os acervos documentais do Arquivo Histórico de Moçambique, do Instituto de Investigação Sócio-cultural (ARPAC) e outros. Confesso que a quantidade de dados é impressionante. Nomes, datas, locais e episódios emprestam às partes históricas da obra um rigor discursivo de qualidade invejável. A obra de Craveirinha ofereceu detalhes inéditos sobre o crescimento da cidade de Maputo. É impressionante o tratamento dos conflitos entre os portugueses e os reinos e as chefaturas vizinhas da Baía, bem como as guerras entre o Estado de Gaza e as formações políticas do sul e centro de Moçambique. A origem e o desenvolvimento dos bairros da Mafalala, Chamanculo e Munhuana nos são historiados de uma maneira igualmente bastante detalhada. Temos informações muito interessantes sobre os conflitos luso-britânicos pela posse de Lourenço Marques que culminaram com a arbitragem do Presidente Mac-Mahon em 24 de Julho de 1875 a favor dos portugueses. Quero manifestar a minha concordância com o autor quando cita o Prof. Dr. Tito Lívio “A história é uma reconstituição da realidade que contém mais que a realidade, o que não está nos documentos: a contribuição do espírito”. Acredito que muitos dos que tem trabalhado na arte da escrita da história reconhecem que no penoso processo cognitivo as divergências entre os historiadores não surgem na identificação e categorização dos factos históricos, mas exactamente na sua interpretação. É na construção do discurso histórico que os elementos subjectivos, como muito sabiamente reconhece o autor, ao citar o Prof. Lívio, onde surgem os posicionamentos, os objectivos e as motivações dos sujeitos do conhecimento. Isto significa que por mais profundo que seja o conhecimento ele nunca é igual ao objecto do conhecimento. O conhecimento é, sim, produto da interacção entre o sujeito e o objecto do conhecimento. Com Craveirinha encontramos fundamentação suficiente para dizermos que a história não é igual ao passado. Temos elementos para dizermos que o elemento subjectivo é incontornável na produção de textos históricos. Sentimos em cada parágrafo dos seus textos que o historiador é um ser social que vive intensamente o seu tempo e o seu meio social, que o influenciam sobremaneira. O historiador escreve para audiências bem definidas. O texto histórico visa influenciar e/ou moldar atitudes, comportamentos no presente e na previsão do futuro. Craveirinha está muito presente nesta obra como um homem e como agente activo na luta pela transformação da sociedade em que vive. Não me parece relevante discutir as convicções e opiniões do homem João Craveirinha aqui expressas. O importante é a sua contribuição que nos permite revisitar o passado recente e remoto da nossa sociedade. O desejo de moldar atitudes e comportamentos, principalmente de amor à pátria, justifica que governos e instituições canalizem recursos para a investigação e ensino da história. Programas de história são concebidos para que o cidadão, desde a sua tenra idade, se apetreche não só de conhecimentos dos factos do passado, mas essencialmente para desenvolver o espírito patriótico e de pertença a um povo com tradições e valores que o tornam diferente dos outros. A história tem um papel a desempenhar na afirmação de uma sociedade e de um povo. No nosso caso, a história oferece os alicerces da moçambicanidade. É muito interessante a citação extraída de uma publicação colonial referente à posição de Manicusse em relação ao comércio dos escravos: “Aquele que vende seu semelhante merece com justiça ser perseguido e caçado mais do que os leopardos e leões...”. Esta declaração do 1º Imperador de Gaza ajuda a esclarecer a natureza dos poderes africanos antes da conquista colonial e permite fazer uma avaliação diferenciada dos interesses e fontes do poder. Ficamos a saber que nem todos os aristocratas africanos viam no comércio de escravos uma forma importante de acumulação de riqueza e de reforço do seu poder e prestígio. Aprendemos igualmente que a justificação dos europeus para a prática do comércio de escravos não era por razões humanitárias. Os ideólogos europeus da última fase do capital mercantil em África sustentavam que a transformação do homem em mercadoria era para salvar os cativos das infinitas guerras sangrentas que caracterizavam a África Negra. Agora ficamos a saber que era mentira! Eram os europeus que instigavam as guerras intra e inter estados, reinos e chefaturas como forma de produção de escravos. É impressionante como o autor diagnostica o estado de saúde da capital do país e propõe alternativas para se sair da crise. O autor regista nesta obra seis espaços que poderiam ser eleitos para acolher a capital do país: Gurué, Morrumbala, Nampula, Nacala, Ilha de Moçambique e Lichinga. É uma opinião! Ele identifica as cidades que já foram capitais de Moçambique e discute, alguns exemplos de países cujas capitais não são cidades costeiras nem portuárias. Uma coisa que Craveirinha não esgota é porque é que muitas pessoas falam sempre mal da capital, mas que ninguém a quer abandonar. Nesta obra ele faz desfilar as mulatas Safirana de Chamanculo, Saira da Matola 700, Gabriela da Mafalala e a sogra para nos mostrar os perigos da degradação do tecido social em Maputo. Nesta viagem somos obrigados a fazer paragens múltiplas para pensarmos no dia a dia pouco dignificante de algumas vizinhas ou filhas de vizinhos e das jovens desconhecidas que vemos na rua. Os comportamentos condenáveis representados por estas personagens, encontram em João Craveirinha explicação no nosso complexo sócio-cultural. Os maus espíritos e a feitiçaria explicam quase tudo. O autor dispensa o recurso a causas de natureza económica e política na explicação da actual situação de Moçambique. O espaço que hoje se chama Moçambique foi delimitado numa situação colonial. Antes da imposição do domínio colonial coexistiam em “Moçambique” várias unidades políticas, umas centralizadas, outras de carácter linhageiro. É neste espaço outrora caracterizado por uma grande fragmentação política que hoje estamos a construir uma nação una e indivisível, que reconhece a diversidade étnica sócio-cultural e histórica. Isto quer dizer que as histórias locais do período pré-colonial devem ser investigadas, divulgadas e respeitadas, sem que no entanto esse exercício concorra ou contribua para minar a nossa unidade em permanente construção. Para terminar, gostaria de dizer que foi bastante gratificante ler a obra de Craveirinha. Este livro é mais um testemunho de que o homem, como ser social, é dialogante, tendo necessidade de interagir constantemente com os seus semelhantes. Crónicas Romanceadas é um instrumento de troca de ideias, opiniões, conhecimentos e convicções. A escrita é a forma que Craveirinha elegeu para o diálogo, sempre necessário, sobre o nosso passado, presente e perspectivas do futuro. Parabéns Craveirinha! Parabéns por este livro de 24 livros! Muito obrigado! - Maputo, 14 de Março de 2003 Para mais informações sobre a obra –, Moçambique – Feitiços, Cobras e Lagartos ver nos seguintes saites: Moçambique: Feitiços, Cobras e Lagartos – João Craveirinha: - http://www.macua.org/livros/feiticos.html - www.me.co.mz – autores pag. 4 - http://maputo.co.mz/article/articleprint/375/1/54 - http://www.ccpm.pt/r31_p69.htm - www.TE.pt ou www.MEDIABOOKS.pt e ver...À conversa com…outras entrevistas Breve Bibliografia – - História da África Negra de Joseph KiZerbo e de John Fage - Os Negros em Portugal – Uma Presença Silenciosa … José Ramos Tinhorão - Os Pretos em Portugal colecção Pelo Império edição anos 1930 - Navios Negreiros : http://www.segal1945.hpg.ig.com.br/navio.htm - Chronological References: Cabo Verde / Cape Verdean American : Raymond Almeida : http://www.umassd.edu/specialprograms/caboverde/cvchrono.html (…”historians Sena Barcelos, Antonio Carreira, and Daniel Pereira, ethnographers Felix Monteiro and Luis Romano, official U.S. Customs records, the research of Richard Lobban, Deidre Meintel, Marilyn Halter, George Brooks, and other contemporary American scholars, interviews with Cape Verdean-American community scholars”…) - Companhia de Moçambique - http://companhiademocambique.blogspot.com/ - Mártires de Massangano – autor Capitão Pereira Galante – Imprensa Nacional 1945 – Lourenço Marques (edição proibida pelo governo colonial por se referir às humilhantes derrotas portuguesas contra o Bonga de Tete durante 35 anos) - Augusto de Castilho na Zambézia – autor Dr Victor Santos, colecção Pelo Império nº 125 – Lisboa 1952 - A República Militar da Maganja da Costa 1862-1898 – autor José Capela, edições Afrontamento. Porto 2ª edição. (1ª edição Maputo 1988) - Escravismo Colonial em Moçambique – autor José Capela, edições Afrontamento. Porto 1993 - Glórias e Martírios da Colonização Portuguesa – autor General Ferreira Martins, colecção Pelo Império nº 56 – Lisboa 1939 - Caldas Xavier – autor Manuel Múrias, colecção Pelo Império nº 90 – Lisboa 1943 - Neutel de Abreu – autor Manuel Ferreira, colecção Pelo Império nº 116 – Lisboa 1946

30-01-2005

COMBATE DE MARRACUENE GUAZA MUTHINE – 2 FEVEREIRO 1895

DIALOGANDO especial
Foto Legenda por João CRAVEIRINHA
Uma Imagem Vale Mais que Mil Palavras! (Provérbio Chinês)
COMBATE DE MARRACUENE
    GUAZA MUTHINE – 2 FEVEREIRO 1895
    Combmarracuene       
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Mpfumo_2
Pedrobaessa_1
Caldas_xavier
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Ao alto o Combate de Marracuene em Guaza Muthine, Moçambique, em 2 de Fevereiro de 1895 sem vencedor definido. Em baixo à esquerda, imagem de 16 de Abril  de 1899, nos Açores, do chefe da revolta anti - colonial  nesse Combate, o príncipe ronga nuãMatidjuana caZixaxa Mpfumo. Traído pelo Imperador de Gaza, Gungunhana, seria desterrado para os Açores, onde constitui família açoriana. No centro o caboverdiano Pedro Baessa, intérprete dos portugueses nesse Combate, chefiado pelo major Caldas Xavier, na foto ao lado. Mais tarde Baessa passaria por Tete e fixa-se em Nampula onde deixaria descendentes aos dias de hoje. (FIM)
02 Fevereiro 2005 joaocraveirinha@yahoo.com.br
COMBATE DE MARRACUENE
GUÁZA MUTHINE – 2 FEVEREIRO 1895
«…Fambane pambene va-landííí – nhimpííí»…
(tradução: para a frente gente da terra – guerra – ataque; voz de comando de nuãMatidjuana)
Uma Imagem Vale Mais que Mil Palavras. Assim reza um Provérbio Chinês. Era este o subtítulo que me veio à ideia quando montava uma Foto Legenda para a efeméride do Guáza Muthine, utilizando uma pintura colonial do Combate de Marracuene, Moçambique, em 2 de Fevereiro de 1895 sem vencedor definido.
Em baixo da pintura à esquerda, coloquei uma imagem de 16 de Abril de 1899, tirada nos Açores, do chefe dessa revolta anti – colonial, o príncipe ronga nuãMatidjuana caZixaxa Mpfumo. Seria entregue aos portugueses em Chissano, Gaza, pelo Imperador Gungunhana que o traiu. Nuã – Matidjuana desterrado para os Açores constitui família açoriana e ironicamente ficaria no cativeiro com o homem que o entregou quando exilado em seu território de Gaza anos antes. No centro dessa minha montagem coloco o caboverdiano Pedro Baessa (sénior), intérprete dos portugueses nesse Combate chefiado pelo major Caldas Xavier, na foto a seu lado. Mais tarde, P. Baessa, passaria por Tete e fixa-se em Nampula onde deixaria descendentes aos dias de hoje. Um seu filho, de mãe moçambicana, também Pedro Baessa (júnior), falecido em Fevereiro de 1985, chegaria a Presidente da CM Nampula em 1964.
Mas afinal o que se teria passado em Guáza Muthine? - No meu livro Moçambique – Feitiços, Cobras e Lagartos, da página 147 à página 156, tentei descrever de uma forma quase de “ guião cinematográfico”, este combate em Guáza Muthine –, o célebre Quadrado colonial de Marracuene…”Muthine quer dizer lugar de, em língua xi-ronga, e Guáza significa trespassar”…com a lança. Esta efeméride é festejada por muita gente mesmo sem saber ao certo o que aconteceu…”Quem diria hoje que a festa de Guáza Muthine fora proibida de 1975 (na transição) a 1994 pelo poder político revolucionário instalado em Moçambique?”…Outra das confusões é querer conotar com Gungunhana esta revolta dos vaRonga devido aos registos coloniais não admitirem que para além do Império de Gaza outras chefaturas no centro e sul de Moçambique também não se submetiam aos portugueses…”Num discurso em 14 de Março de 1942 “Marcello” Caetano disse: - «Teoricamente possuíam os portugueses na costa oriental extenso domínio, por virtude da utilidade do litoral. Mas, tirando pequena parte da Zambézia e da Ilha de Moçambique, a soberania portuguesa era nominal e os potentados negros e mulatos escarneciam-na impunemente. De maneira que a ocupação efectiva, subjugar potentados, vencer rebeldias, instalar autoridades representativas da soberania portuguesa e assegurar aos colonos o livre trânsito, a segurança e a paz, foi uma nova aquisição das colónias africanas ao fim do século passado (XIX).»…idem in pag. 28, Capítulo II de Terra dos Mpfumos a Lço Marques, Cidade-Capital.
Os eventos seguintes ao Combate de Marracuene…”Meses mais tarde, nuãMatidjuana e Mahazul (chefe dos Magaias) reorganizam-se a norte de Marracuene em Magul, onde se dá novo confronto com o exército colonial, chefiado por Freire de Andrade. Os va-ronga saem derrotados em 7 de Setembro de 1895. Os portugueses espalham o terror na região incendiando as povoações obrigando os chefes locais a prestar-lhes vassalagem. Gungunhana não quis intervir mais uma vez em auxílio aos seus aliados rongas. Aguardava”…ibidem, Moçambique – Feitiços, Cobras e Lagartos, pág. 154.
Guaza Muthine é caracterizado por ser um local sagrado de espíritos dos cerca dos 66 guerreiros vaRonga onde …”mortos no local foram enterrados e os feridos eliminados amontoados e cremados com petróleo, deixando um cheiro nauseabundo no ar”…idem.
Que este ano a 2 de Fevereiro de 2005, não seja de novo “o Ano da fúria de todos os espíritos da floresta de Marracuene” como nos anos anteriores, sobretudo em 2000 e 2001, com inúmeros acidentes de viação num total de dezenas de mortos e feridos conotados com esta efeméride devido ao excesso de bebidas alcoólicas e má condução…”Que os espíritos sagrados do Bosque da árvore do canhoeiro em Marracuene nos perdoem e nos protejam!!!”…(FIM)
CORREIO DA MANHÃ(Maputo) - 31.01.2005

Colóquio Internacional sobre a Lusofonia em África

Conferência sobre Lusofonia em África :
Historia, democracia e integração africana de 28 a 30 de Abril de 2005, em Luanda
Com o objectivo de desenvolver as suas actividades de pesquisa nos países africanos de língua oficial portuguesa, o CODESRIA organiza de 28 a 30 de Abril de 2005 em Luanda, Angola, um colóquio internacional sobre o tema: Lusofonia em África: história, democracia e integração africana.
Os temas ligados à história, democracia e integração africana são recorrentes nas pesquisas em ciências sociais. No contexto dos países africanos que falam o português, estes temas têm uma ressonância particular.
A Lusofonia em África não é um conceito abstracto!
A sua essência resulta de uma variedade de especificidades, que muitas das vezes são questionadas. Este grupo de países que outrora manteve relações estreitas com a antiga potência colonial soube construir uma identidade que vai para além da simples utilização  comum da língua. Eles foram marcados no passado pela exploração e dominação coloniais. As sequelas do tráfico negreiro, a herança de um poder autoritário e de uma economia pouco desenvolvida, aliados a uma política de assimilação, que deu lugar a formas diversas de sociedades crioulas, são elementos constitutivos desta mesma "lusofonia". Esta entidade lusófona é também o resultado da expressão contemporânea dos povos de Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe. 
As relações de dominação e de exploração que se reforçaram  durante a colonização  tiveram repercussões no tipo de Estado e nas relações que este estabeleceu com o conjunto da sociedade. A instabilidade política persistente em alguns desses países remonta a clivagens criadas pelo tipo de colonização a que estiveram sujeitos.   A guerra civil em Angola, Guiné-Bissau e Moçambique, bem como o sinuoso percurso  político de S. Tomé e Príncipe são certamente fruto da exacerbação de contradições do pós independência, mas estão igualmente ligados a factores históricos que remontam ao período pré-independência.
Esta herança colonial que deu lugar a regimes políticos autoritários no período colonial e pós-colonial justifica a exigência de instauração de bases democráticas  nesses países, tanto mais que um país como Cabo Verde, que seguiu a mesma trajectória colonial e um regime de partido único,  tem experimentado um desenvolvimento espectacular exemplar para o resto do continente. A vaga de transições democráticas que remonta aos finais da década de 80 conheceu dificuldades enormes que para se tornarem inteligíveis devem ser colocadas na perspectiva de uma análise do processo histórico de cada um desses países.
O colóquio será uma ocasião para revisitar estes e outros temas, colocando-os na perspectiva dos novos desafios que as mutações  económicas, sociais e políticas dos últimos vinte anos colocam. A liberalização política joga um papel importante nesta mudança profunda. Para lá de uma certa particularidade histórica, estamos no direito de nos colocar a questão da implicação dos PALOP nas dinâmicas políticas e ideológicas que marcam a África contemporânea. No seio deste grupo de países lusófonos, as diferenças locais podem ser decisivas. Neste movimento global, como é que se afirma esta particularidade lusófona? Como é que se distinguem e como é que se aproximam? Como medir e comparar a instabilidade política na Guiné-Bissau e a construção da democracia em Cabo Verde?
O colóquio proporcionará aos participantes uma ocasião para melhor compreender o alcance político destas transições democráticas e as especificidades que as caracterizam.
Discutir a lusofonia em África implica não só tomar em consideração os aspectos políticos, mas igualmente analisar os problemas económicos complexos que a ela estão ligados, tanto a nível nacional, como regional e mundial. Daí a importância a acordar às dinâmicas transfronteiriças que se verificaram e se verificam entre os países africanos Lusófonos e os países vizinhos, a fim de nelas surpreender as lógicas subjacentes à actuação dos actores individuais e colectivos.
Torna-se igualmente pertinente examinar as modalidades de afirmação da Lusofonia em relação com o reforço da integração regional. Será a cooperação entre os países lusófonos uma etapa indispensável à uma cooperação económica e financeira a nível internacional? A pertença a esta lusofonia dará lugar a uma nova comunidade política capaz de agir enquanto tal na esfera política internacional? De que maneira pode o mundo lusófono de Africa participar no elan colectivo dos países africanos face à globalização? 
Os investigadores em ciências sociais, lusófonos e não lusófonos, estão convidados a reflectir sobre as questões de análise que coloca esta categoria de países em África. Tendo em atenção tudo o que precede e o objectivo deste colóquio que é essencialmente o de identificar as relações entre a história, a democracia e a integração africana, o CODESRIA espera receber propostas sobre os seguintes subtemas:
1.      Herança histórica dos PALOP: desafios e perspectivas
2.      Mutações políticas e sociais nos PALOP e os desafios da democracia em África;
3.      A Lusofonia e a integração africana
Estes temas não são porém limitativos. Podem ser encaradas outras propostas sobre temas vizinhos. A apresentação de propostas de painel e/ou mesa redonda é vivamente encorajada. Todas as propostas devem dar entrada no Secretariado do CODESRIA o mais tardar até 15 de Janeiro de 2005. Os investigadores cujas propostas serão seleccionadas serão informados até 30 de Janeiro de 2005 e serão convidados a fazer chegar os seus documentos finais o mais tardar até 31 de Março de 2005. As correspondências relativas ao colóquio devem ser enviadas ao seguinte endereço:
Colóquio Internacional sobre a Lusofonia em África
(Council for the Development of Social Science Research in Africa  CODESRIA)
Conselho para o Desensenvolvimento das Investigações em Ciências Sociais
BP 3304, CP 18524
Avenue Cheikh Anta Diop X Canal IV
Dakar, Senegal
Tel : + 2218259822/8259823 Fax: + 221-8241289
E-mail: Lusophonafrica@codesria.sn
Site web: www.codesria.org

29-01-2005

Reaberto dossier de pensões ligado aos antigos funcionários da administração colonial

Amonteiro0 Governo Português decidiu reabrir o dossier ligado ao pagamento das pensões de reformas aos antigos funcionários da administração colonial portuguesa.
O ministro português dos negócios estrangeiros António Monteiro(na foto), fez saber que brevemente vai ser reactivada uma comissão técnica encarregue de resolver o diferendo.
António Monteiro afirmou no entanto que não existe por parte do seu país qualquer posição discriminatória em relação aos angolanos, defendendo que a análise do problema será global.
Recorde-se que o ministro português deslocou-se ontem ao Luena, província do Moxico, no prosseguimento da visita de três dias que efectuou ao país.
Na sua terra natal, o chefe da diplomacia lusa visitou o colégio "São Bento", instituição de ensino pública, a ser reabilitada com o apoio do governo português.
Acompanham António Monteiro o embaixador de Angola em Portugal, Assunção dos Anjos, o presidente do Instituto português de Apoio ao Desenvolvimento, Eclésia Soares e o director Europa do ministério angolano das Relações Exteriores, Joaquim Pombo.
AngoNotícias – 29.01.2005

Descobertas, Colonizações e Descolonizações

A quem interessar a História das Descobertas, Colonizações e Descolonizações, deverá conhecer a obra de J. Chrys Chrystello:
Cronicasaustrais_3 
CRÓNICAS AUSTRAIS
1974-1998
J.CHRYS CHRYSTELLO
Em Sydney, Austália
O Autor
J. Chrys Chrystello prestou serviço no exército colonial português sendo destacado para o CTIT (Comando Territorial Independente de Timor) onde chegou em Setembro 1973,regressando a Portugal dois anos mais tarde. Começou então a escrever o seu livro "TIMOR LESTE1973-75, O DOSSIER SECRETO" antes de rumar a Macau em 1976 posteriormente à Austrália onde se fixou enaturalizou.
Ao longo de mais de três décadas de jornalismo político, trabalhou em rádio, televisão imprensa escrita, tendo sido correspondente estrangeiro durante vários anos da agência noticiosa portuguesa ANOP/LUSA, da RDP/Rádio Comercial, TDM (Macau), J. N., Europeu, PÚBLICO, tendo sido publicado em inúmeros jornais revistas em todo o mundo, para além de ter escrito guiões de filmes e documentários australianos sobre Timor. Entre 1976 e 1994, data em que se reformou do jornalismo activo, esforçou-se por divulgar a saga do povo timorense que mundo (incluindo a Austrália Portugal) teimava em não querer ver.
Tendo-se interessado pela linguística ao ser confrontado com mais de 30 dialectos em Timor, descobriu na Austrália provas da chegada ali dos Portugueses (1521-1525) mais de 250 anos antes do capitãoCook, e da existência de tribos aborígenes falando Crioulo Português (herdado quatro séculos antes).
Membro Fundador do AUSIT (Australian Institute for Translators and Interpreters) Examinador da NAATI (National Authority for the Accreditation of Translators and Interpreters) desde os anos 80, epertencendo a vários órgãos internacionais congéneres, Chrys dedicou a última década à sociolinguística etradução, tendo apresentado trabalhos em dezenas de conferências internacionais (da Austrália Portugal, Espanha, Brasil, EUA e Canadá) onde os temas da língua cultura portuguesas estão sempre presentes, tendo concluído em 1999 seu Master of Arts (mestrado com Major in Applied Social and Communication Studies.)sendo concorrente anual à Translation Competition, do Brítish Centre for Literary Translation (British Comparatíve Literature Association), University of East Anglia, Inglaterra.2002 assiste agora à publicação do seu livro de Crónicas Austrais cobrindo sua fase australiana pura de1974 1998.
VEJAM EM
"Chronicles from Down Under, 1978-1998 published in 2002 at eBookPro:
e também disponível em http://oz.com.sapo.pt 

17-01-2005

Arqueólogos podem alterar história do descobrimento das ilhas

Noticias Lusofonas - 16-Jan-2005

As escavações arqueológicas em Salamansa, Cabo Verde, que poderão provar a presença humana no arquipélago antes da chegada dos portugueses, em 1460, serão retomadas em Março, garantiu hoje o presidente do Instituto de Promoção Cultural (IPC).

O concheiro, localizado em São Vicente, foi descoberto há seis anos por um grupo de arqueólogos portugueses, que identificaram vários artefactos domésticos rudimentares, cujas características apontavam para que tivessem sido fabricados há séculos, por africanos e não por europeus.

Alguns desses objectos (de cerâmica, ferro e cobre) foram enviados imediatamente para Lisboa, onde as análises feitas pelo Instituto de Engenharia Civil (IEC) de Portugal, através do processo de carbono-14, fizeram aumentar ainda mais o entusiasmo dos cientistas.

Em causa estava a possibilidade de Cabo Verde ter sido povoado ou pelo menos frequentado por povos oriundos da costa ocidental africana antes de ser descoberto pelos portugueses em 1460, o que obrigaria a reescrever a história do arquipélago, no que toca ao seu achamento.

Esta hipótese, encarada como "possível" por especialistas portugueses e cabo-verdianos chamados a pronunciar-se sobre a matéria, não teve confirmação, uma vez que não se fizeram os testes posteriores que determinariam,
inequivocamente, a idade do concheiro.

As autoridades cabo-verdianas voltaram a despertar para a importância arqueológica da estação quando, em Outubro de 2004, após uma visita ao sítio, localizado na ilha de São Vicente, o arqueólogo português Cláudio Torres voltou a chamar a atenção para o concheiro.

Outro especialista português que também defendeu a necessidade de escavações exaustivas no local é João Luís Cardoso, que se mostrou, desde o primeiro momento, entusiasmado com o achado, considerando que, no mínimo, terá existido ali, uma antiga aldeia piscatória.

Entretanto, e até que se faça luz sobre os objectos encontrados no concheiro, a posição do presidente do IPC de Cabo Verde é de prudência, por considerar que "nada está provado" e que quaisquer conclusões "só deverão ser tiradas após a conclusão da segunda fase das escavações".

Carlos Carvalho garantiu à Agência Lusa que essas escavações "terão início em Março, embora tudo dependa dos resultados dos contactos estabelecidos com o professor João Luís Cardoso", da Universidade Nova de Lisboa, que deverá chefiar os trabalhos arqueológicos.

Aquele responsável mostrou-se, por outro lado "um pouco preocupado" com o estado de conservação em que possa encontrar-se o concheiro, uma vez que, na sua opinião, "pouco ou nada foi feito para a sua conservação.

Carlos Carvalho garantiu que é intenção das autoridades cabo-verdianas "dar à estação o valor que vier a merecer", adiantando ser intenção do governo "transformar o local numa zona protegida se vier a ser necessário."

08-01-2005

11 de Janeiro de 1890 - Recordando o Ultimato Inglês

In "Diálogos Lusófonos", na net:
Luís Filipe Maia (Portugal) enviou um texto muito bom sobre o Ultimatum inglês em 11 de Janeiro de 1890 a Portugal que determinou mudanças na história do país na 1 ª metade do século XX e na divisão da África entre as potências da época.

Diz o Luís que nos envia umas notazinhas, sobre a política portuguesa decorrente entre a Conferência de Berlim em 1884 e o Ultimato Inglês de 1890, que servirá para ilustrar, muito do que temos vindos a discutir ao mesmo tempo servirá  para  se constatar, como se pode dirigir o sinal ou as razões da auto-estima nacional de acordo com os interesses dos detentores do poder ou das oposições.

Que cada um faça o seu juizo.

Opiniões?
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Os factos

A conferência internacional de Berlim em 15 de Novembro de 1884, na qual estiveram representados os Países, colonizadores em Africa e na qual aparentemente se pode considerarem terem sido tomadas decisões favoráveis a Portugal, por posições já ocupadas em Angola , ver-se-á  por factos que decorrerão mais tarde, que assim não sucedeu.

A conferência de Berlim contou com a presença das  grande potências da época, com interesses directos ou indirectos em Africa que preferiam encetar uma via de negociação, estabelecendo regras ao seu próprio expansionismo que evitasse vir a produzir  desentendimentos bélicos. Não queriam as potências europeias que as suas apetências pela partilha de Africa, pudesse vir a desencadear uma nova guerra. 

A decisão extraída dessa conferência de configurar o direito de colonização com a ocupação efectiva desses territórios, anulando os direitos históricos tradicionais, que se traduziam na prioridade da descoberta, prejudicou claramente os interesses de Portugal, pequeno País mais interessado na visão histórica associada à descoberta do que ao facto concreto da ocupação.

Note-se que Portugal teria na altura pouco mais de 3,5 milhões de pessoas, naturalmente capital humano reduzido pois que o Império havia dispersado ao longo dos séculos, muita gente. Este conceito do direito á posse associado á ocupação que ali foi aprovado, não interessava em nada a Portugal que antes preferiria o velho conceito da posse histórica inerente á descoberta e depois logo se veria como seria a questão da ocupação. Marcar o chão antes de mais seria o importante.

Também não parece que a relacção com a Inglaterra fosse especialmente difícil nessa altura, dado que em Fvereiro desse mesmo ano se haviam negociado uns "terrenozitos" em Africa, em troca de facilidades de comércio e navegação no Zaire e no Zambeze.

As inúmeras dificuldades financeiras internas que se haviam reproduzido no governo  de D.Luis, imensas querelas, haviam inclusivamente levado a que um deputado Ferreira de Almeida houvesse em 1877 e de novo em 1888, proposto a venda das colónias , consciênte já por certo da dificuldade em assegurar as pretensões portuguesas, e buscando ali uma forma de pelos menos resolver o problema financeiro do País.

Consciênte destas realidade havia alguns, destaca-se Andrade Corvo, que foi Ministro da Marinha e do Ultramar em 1879, cuja preocupação era delimitar as fronteiras de Moçambique e Angola de acordo com as forças reais do País, pugnando por politicas de desenvolvimento do comércio e de captação de capitais e emigrantes estrangeiros, atendendo que os recursos naturais assim o exigiam. Além de bom governo, boa administração, precisamos de boas alianças, escrevia ele na altura, pugnando pelo reforço da aliança com a Inglaterra.

Andrade Corvo é considerado hoje um dos mais lúcidos ensaistas políticos do sec. XIX, infelizmente muito 
ignorado ainda hoje, como o foi no seu tempo, a sua lucidez não servia os interesses de ninguém, muito menos os da oposição republicana.
Por parte do poder instalado era importante estimular a auto-estima nacional, é isto que estamos a tratar, usando os velhos chavões do Império grandioso e megalómano, que o realismo lúcido de Andrade Corvo naturalmente refreava.

O sistema politico parlamentar configurava o rotativismo governamental entre o Partido Progressista e o Regenerador, mas desde 1878 que o Partido Republicano se encontrava representado na Camara dos Deputados e até 1895 elegeria deputados em quase todas as legislaturas. Sendo contudo afastados nesta data mercê de várias habilidades ao que chamaria hoje "engenharia eleitoral".

As expedições que se seguiram de Hermenegildo Capelo e Roberto Ivens e outras na ânsia de consolidar terreno nâo conseguem ocultar a realidade da incapacidade de ocupação efectiva, já difícil se se encarar apenas Angola (datam deste ano a deslocação dos primeiros colonos da Madeira para lá) e Moçambique, muito mais complexo se se englobar igualmente toda a parcela de terreno que fica entre os dois territórios.

Tudo parecia pacífico mas covenhamos que a pretensão portuguesa era excessiva, não só pelo gigantesco passo em relacção á dimensão da perna, como também pelo facto de estar em desacordo com a Conferência de Berlim que haviamos subscrito. 

Alguns convénios bi-laterais assinados com a França e com a Alemanha, pareciam apontar o caminho do sucesso das nossa pretensões ao famoso território cor-de-rosa, assim chamado porque habitualmente vinha assim colorido nos Mapas.

Só que os nossos eternos aliados desta vez, não pactuaram connosco, já que tinha interesses não coincidentes com os nossos, nomeadamente um projecto de Sir Cecil Rhodes e que consistia  na construção de uma linha ferrea do Cabo, no extremo Sul da Africa do Sul á cidade do Cairo no Egipto.

A isso a Conferência de Berlim teria chamado ocupação territorial efectiva, que deveria consistir segundo Berlim em manter a ordem, proteger os estrangeiros e vigiar os indigenas.

Conscientes da sua força e da importância que tinham para nós os Ingleses forçam a nota da ameaça da rotura, sob a forma de ULTIMATO, em 11 de Janeiro de 1890, obrigando a desocupação militar imediata das zonas que pretendiam eles ocupar , sob pena do pessoal diplomatico abandonar Lisboa. Isto chama-se ameaça de declaração de guerra.

Se se procurar na História Inglesa, pelo reinado da Rainha Vitória, e nos governos de Gladstone, algo que nos  dê uma ideia do ponto de vista inglês sobre este incidente, nada se lê, nós não eramos suficientemente importantes para os preocuparmos, encontram-se sim alusões á sua verdadeira preocupação na altura, evitar o expansionismo alemão para essa zona   que a "posse" portuguesa não daria garantias de oposição efectiva.

O Rei D.Carlos, entretanto aclamado e o governo cederam á pretensão inglesa. Talvez a cedência tentasse remeter para a Arbitragem Internacional, resultantes do Acordo de Berlim, face a uma protesto nosso e confiantes que o apoio de outras potencias pudesem levar a Inglaterra a transigir, o que realmente não aconteceu.

Se se analisar esta questão apenas sob o ponto de vista dos ganhos e perdas, naturalmente que a consumação da rotura com a Inglaterra a acontecer, teria produzido maiores perdas, já que as pretensões inglesas englobavam também Lourenço Marques e a foz do Zambeze, que não conseguiram obter por força da tal arbitragem a que a queixa de Portugal levou.

As reprecursões internas porém foram catastróficas para a monarquia, considerando-se este facto com um dos factores determinantes da sua derrocada 20 anos mais tarde. A indignação popular contra  o governo, apelidados de traidores, vendidos á Inglaterra, gerou uma onda de mobilização geral e sem dúvida fonte geradora de inúmeras figuras que mais tarde haveriam de edificar  a revolta republicana.

Para mais sendo que já foi referido que o afastamento em 1895 do Partido Republicano da Camara de Deputados, fez ressurgir movimentações sociais de rua a partir de 1890, instigada por uma ELITE chamada de "geração do Ultimatum" (João Chagas,Afonso Costa,Brito Camacho, Antonio José de Almeida, etc)

Este facto fermentou o ideário republicano, conduzindo a outras questões como a podridão política, o envelhecimento da monarquia e as culpas do rei, no acontecimento, que beliscava profundamente o orgulho nacional e os sentimentos  anti-ingleses.

Claro que todas as outras potências a quem Portugal  solicitou guarida ás suas pretensões, se escusaram diplomaticamente a advogar as nossas posições politicas, afinal quem estaria disposto a subscrever um conflito com a Inglaterra por causa de nós ? Viriamos em 28 de Maio de 1891 completamente sós a negociar então com a Inglaterra um novo mapa colonial para Africa, mais severo ainda que o original resultante do Mapa cor de rosa, e que salvaguardando pequenas correcções corresponde á configuração de hoje.

Fontes

História de Portugal-José Hermano Saraiva
Historia de Portugal em datas coordenação de Antonio Simões Rodrigues
A crise da monarquia constitucional (1890-1906) por Sergio Campos Matos Ferreira, José Dias (1837-1907)
Lente de Direito (formado desde 1859).
Deputado desde 1860 (por Arganil).
Ministro da Fazenda, no governo de Ávila, entre 4 de Janeiro e 22 de Julho de 1868; da Fazenda e da Justiça, de 26 de Maio a 29 de Agosto de 1870, no governo da saldanhada .
Funda o Partido Constituinte, em Junho de 1871.
Par do reino, desde 1876.
Presidente do Ministério, de 17 de Janeiro de 1892 a 23 de Fevereiro de 1893, num governo dito de acalmação partidária .
Durante a chefia do governo, acumula sempre a pasta do Reino.
Acumula a Instrução Pública, até 3 de Março de 1892, data em que o ministério foi mais uma vez extinto.
De 27 de Maio de 1892 até 23 de Fevereiro de 1893, acumula a pasta da  Fazenda, de onde sai Oliveira Martins.
Eleito deputado independente em 25 de Novembro de 1900, sob o governo regenerador de Hintze.   

04-01-2005

O escamotear da história

Linha d'água:
Interrogo-me muitas vezes porque é que a História, em Moçambique e pelas mesmas pessoas, tem sido rescrita ou mudada de cariz sempre que se muda de timoneiro da nação, onde este é sempre preponderante em tudo o que aconteceu no passado. Vem isto a propósito do que li em dois artigos consecutivos no jornal ZAMBEZE e subscritos por Lina Magaia sobre as actividades do Centro Associativo dos Negros de Moçambique.
Em trinta anos de Independência de Moçambique, ouvi tanta coisa desencontrada sobre o Centro Associativo dos Negros de Moçambique que não seria descabido pedir aos protagonistas sobrevivos (e são ainda muitos, felizmente), e até como um “imperativo nacional”, que se encontrem, discutam e nos digam, olhos nos olhos, quem foi quem naquela importante fase da nossa História.
O meu falecido pai abordou, algumas vezes e socorrendo-se com fotos e documentos, sobre aquilo que a nossa escritora escreve a respeito daquela agremiação negrófila, não encontrando eu muitas concordâncias com o que me é dado a ler agora nos artigos acima referidos. Tive também a honra de ouvir de outros mais velhos e contemporâneos de meu pai sobre a mesma temática e, compilado tudo isso, parece-me que seria mesmo de considerar uma posição mais séria sobre como realmente as coisas se passaram, sob o risco de se estar a transmitir erros e anacronismos históricos a gerações vindouras. E tudo porque alguns, de tempos em tempos, se colocam em bicos de pés com versões dos factos que mais pretendem agradar a alguém com poder do que enriquecer a nossa História. E eu acredito que não agrada a ninguém dizer-se que foi protagonista disto ou daquilo quando de facto as coisas se passaram de outra maneira.
Confiro o que li e encontro que a fase provavelmente mais rica do Centro, justamente aquela que levou uma vasta camada de negros em Lourenço Marques a frequentar a escola e a ter acesso ao pensamento moderno, através de palestras de gente qualificada, foi inspirada por um jovem de 16 ou 17 anos, olvidando-se o seu próprio presidente, que seria até preso na sequência desse grande movimento nacionalista.
O que já não posso conferir, porém, são as informações dadas por quem, infelizmente perecido, me disse que acompanhou esse mesmo presidente nos contactos pessoais com Zeca Afonso (sim, esse grande cantor, político e filósofo português), Dr. Almeida SantosPancho Miranda GuedesDr. Sousa SobrinhoDr. Adrião Rodrigues, entre vários outros, para que fossem dar aulas no Centro. Assistiu também a carregamentos de livros que gente ilustre oferecia ao Centro, na sequência desses pedidos feitos por um presidente que não consta em nenhuma linha dos dois artigos de Lina.
Pior ainda quando se sabe que o Centro foi justamente fechado por essa actividade intensa do seu presidente, que seria preso pela PIDE, e nunca mais voltaria a ser aberto. Tem alguns custos pessoais dizer isto? Claro que custa, sobretudo quando se pretende evitar conotações políticas com figuras politicamente estigmatizadas num passado ainda fresco. Só que a História não se compadece com os interesses individuais das pessoas; ela é aquilo que foi e não aquilo que nos possa interessar no momento. Escamotear os factos não é só distorcer a História, como também representa uma posição intelectual repugnante.
CORREIO DA MANHÃ(Maputo) - 04.01.2005
Por Luís Loforte

28-12-2004

Biografia de Simango terá nova edição

Uriasimango_capaA biografia do antigo vice-presidente da Frelimo( movimento e não partido), Uria Simango, deverá ter uma segunda edição. Em contacto com o IMPARCIAL, Barnabé Lucas Ncomo, autor do livro “Uria Simango: Um homem, Uma causa” fez saber que os 2500 exemplares da 1ª edição já se encontram esgotados em
Moçambique.
O livro em causa, retrata de forma minuciosa o percurso de Uria Simango, o Reverendo protestante que foi vice- presidente da Frelimo, nos anos de Mondlane.
Uria Simango, pai do edil da cidade da Beira, Deviz Simango e do deputado pela Renamo-União Eleitoral Lutero Simango, foi fuzilado extra-judicialmente pelo regime monolítico dirigido por Samora Machel.
No seu livro (um best seller) Barnabé Lucas Ncomo, faz crer que o fuzilamento de Simango terá ocorrido algures em M’telela na Província nortenha do Niassa. Acredita-se que na mesma ocasião terão sido mortas outras figuras tidas como “reaccionárias” pela lógica do regime Machelista.
Uria Simango, que pelos estatutos da Frelimo deveria substituir Eduardo Mondlane, assassinado em 1969, foi membro do “triunvirato” formado imediatamente a seguir à morte do primeiro presidente da Frelimo. Outros membros do trio eram Marcelino dos Santos e Samora Machel. Simango desiludiu-se com os seus colegas de liderança e retirou-se do movimento não, sem antes, tornar pública uma carta intitulada “ Triste Situação no Seio da Frelimo”. A referida carta denunciava as atrocidades cometidas contra alguns militantes de primeira hora pela liderança de Samora Machel assessorada pela denominada “Gang de Argel”. Paradoxalmente, segundo Ncomo, alguns membros séniores do partido Frelimo, só à posteriori tiveram conhecimento do fuzilamento de Simango. Aquando do lançamento da primeira edição do livro em referência os antigos camaradas de armas de Simango primaram pela ausência.
CM – IMPARCIAL – 28.12.2004

14-12-2004

CRÓNICA DOS DIAS DE ROMA

Da Autoria de Tomás Vieira Mário
É lançada na próxima quinta-feira, em cerimónia a decorrer no Hotel Rovuma, com inicio às 17 horas, a mais recente obra do jornalista e escritor moçambicano Tomás Vieira Mário, sob o título “Negociações de Paz de Moçambique - Crónica dos Dias de Roma”.
Como o próprio título sugere, o livro faz um relato retrospectivo do processo de paz moçambicano, de que as negociações efectuadas em Roma entre o Governo e a Renamo constituíram a etapa mais decisiva. Compreende mais de 200 páginas e é composto por sete capítulos, em correspondência aproximada ao número de rondas efectuadas e no decurso das quais as partes discutiram e concluíram os onze protocolos que consubstanciaram, na globalidade, os Acordos Gerais de Paz assinados a 4 de Outubro de l992 em Roma.
No acto do lançamento da importante obra, sob os auspícios do Centro de Estudos Estratégicos Internacionais do ISRI, terá lugar uma reflexão animada pelo autor acerca do “Papel das Igrejas Cristãs Moçambicanas como catalisadoras da paz” no País. De acordo com Tomás Vieira Mário, pretendese com a referida reflexão, que corporiza um dos capítulos mais vastos do livro, “proporcionar uma oportunidade de prestar uma singela mas devida homenagem às igrejas cristãs moçambicanas representadas, designadamente, pela Conferência Episcopal e pelo Conselho Cristão de Moçambique, pelo seu empenho pela paz, desde os períodos anteriores às conversações de Roma até presentemente.”
WAMPHULA FAX - 14.12.2004

11-12-2004

HISTÓRIA - Debate na RTP entre Mário Soares e Álvaro Cunhal

Em vídeo, veja e ouça Mário Soares e Álvaro Cunhal num debate televisivo a 6 de Novembro de 1975 na RTP, na parte respeitante à descolonização.
Por exemplo, ficará a saber por Álvaro Cunhal, que o Governo Português, não foi tido nem achado na descolonização. Apenas algumas pessoas a fizeram na chamada Comissão de Descolonização...

07-12-2004

Ainda o 25 de Setembro de 1964 e o CHAI

Guilherme de Melo, jornalista, durante mais de duas décadas em Moçambique, publicou em 1985 “MOÇAMBIQUE – DEZ ANOS DEPOIS”, relato da viagem que ali fizera pouco tempo antes e de que só hoje obtive um exemplar.
     Guilherme de Melo foi um dos jornalistas que esteve no Chai pouco tempo depois do ataque.
     Estando mais que comprovado que a história contada e encomendada pela Frelimo não é a verdadeira, porque voltou Guilherme de Melo a escrever o que adiante ides ler e o que levou o cozinheiro do então administrador a inventar a “história” que conta e é ali reproduzida?
     Sabemos que ele retornou a Moçambique, especialmente para assistir às comemorações dos 20 anos do ataque ao Chai, a convite de Mário Ferro e Alves Gomes do “Notícias” de Maputo. Terá sido por isso?
     Aqui vai a transcrição:
EVOCAÇÃO DO CHAI
No troço da estrada que vai de Macomia a Mueda, em pleno coração do interior moçambicano — o planalto dos Macondes — há, ainda hoje, duas pontes em betão com os tabuleiros destruídos. Uma situa-se no troço entre Macomia e Chai; a outra para lá do Chai, sobre o rio Mapwede.
Foram ambas destruídas pelos guerrilheiros, durante a luta armada para a independência, com o propósito de cortar o avanço das tropas motorizadas portuguesas.
Cumpre referir que, no decorrer da guerra, a Frelimo evitou sempre a destruição de infra-estruturas de grande envergadura — como pontes, barragens, centrais — exac­tamente na mira do dia em que, mais tarde ou mais cedo, tudo lhe viesse parar às mãos.
Dez anos decorridos sobre a independência, as duas pontes continuam tal como ficaram depois de dinamita­das: o Governo moçambicano deixou-as propositadamente assim, à laia de um curioso museu de guerra um pouco disperso por todo o país. Ao lado dos dois tabuleiros semi-destruídos, existem agora duas outras pontes, por onde o trânsito se processa.
      Vinte anos depois do primeiro ataque a uma autori­dade colonial — concretamente, o posto administrativo do Chai— é possível reconstituir-se todo o background da razão de ser dessa guerra de dez anos que, ainda hoje, muitos dos brancos que viviam na antiga colónia, e dela saíram após o 25 de Abril, se recusam a querer entender. Estou no Maputo quando se comemora aquela data e peso, palavra por palavra, os depoimentos dos que então viveram directamente os acontecimentos que muitos desses mesmos brancos —e eu próprio— de todo ignoravam, envoltos no remanso doirado que era o dia-a-dia naex-Lourenço Marques.
O primeiro tiro
O lugar escolhido pela Frelimo para o ataque que marcou o desencadear da luta armada de libertação da ex-colónia foi, como se disse, o posto administrativo do Chai.
Tratava-se de uma pequena localidade do interior de Cabo Delgado, com pouco mais de meia dúzia de edifícios. Nomeadamente, uma secretaria, a casa do chefe do Posto, a casa do gerente da Companhia Algodoeira do Sagal, dois estabelecimentos comerciais, um pequeno hospital, a cadeia, as casernas dos soldados e as residências dos polícias brancos e dos cipaios negros.
No dia do ataque havia uma festa em casa do admi­nistrador do Posto, porque um dos seus três filhos fazia anos — recorda, vinte anos depois, Ahmad Sique Burahimo, ao tempo a servir, como cozinheiro, no Posto admi­nistrativo. E acrescenta: O administrador era muito mau para a população. Além de roubar cabritos, galinhas e outros bens que mandava que os cipaios recolhessem nas aldeias e trouxessem para o Posto, espancava brutalmente a população e tinha grande prazer em dar ele próprio palmatoadas.
     A dado momento da festa, segundo o relato do então cozinheiro, chegou ao Posto o régulo da povoação de Malane — actualmente Litandakua — comunicando ao admi­nistrador que tinha avistado nesse dia pegadas estranhas» numa picada da sua zona.
Imediatamente o administrador se meteu no jipe acom­panhado pelo régulo, dois polícias e um cão-polícia, seguin­do, mato adentro, para o local. Era já noite avançada quando regressaram e, em casa, a festa do aniversário terminava.
Acompanhado pêlos dois polícias e pelo cão, o admi­nistrador dirigiu-se directamente para a Secretaria da Administração — continua a contar. Mas, ainda com o mo­tor do carro a trabalhar, ouviu-se de repente uma des­carga de tiros. Ele saiu do carro a correr, em direcção à residência, onde tinham ficado a mulher e os filhos. Já à entrada da casa, o administrador foi atingido com dois tiros no peito e caiu, ensopado em sangue.
Ahmad Burahimo ainda se recorda de ter visto, quando o tiroteio cessou, dois polícias, a mulher do administrador e o gerente da Sagal a carregarem o ferido para o interior da residência. Esvaindo-se em sangue, ele permaneceu no Posto, agonizante, o resto da noite e só na manhã seguinte foi transportado para a então Porto Amélia — hoje cidade de Pemba— onde veio a falecer.
Entretanto, quando eu estava a sair da cozinha pelas escadas traseiras, para me esconder no quintal, mal come­cei a ouvir o tiroteio, um tiro apanhou-me na perna, perto do joelho, e caí, rebolando pelas escadas abaixo. Já no chão, rastejei uns vinte metros e escondi-me atrás da man­gueira do quintal. Foi daí que avistei um polícia a ser atin­gido por um tiro a meio da testa e cair morto. Um outro polícia, escondido entre o muro do quintal e uma casa, também recebeu um tiro e morreu logo, quando estava a erguer a cabeça para apontar a sua arma.
      Quando o breve combate terminou, os guerrilheiros abandonaram o terreno, deixando dois polícias mortos, o cão-polícia também abatido, o administrador do Posto moribundo e vários feridos, entre os cipaios e o pessoal auxiliar da Administração.
Comandava o pequeno grupo que acabava de iniciar a luta armada que dez anos depois levaria à independência, um homem de trinta e poucos anos chamado Alberto Joaquim Chipande. Ë, hoje, o ministro da Defesa Nacional da República Popular de Moçambique e dirigente da pro­víncia de Cabo Delgado. General do Exército.
A repressão
Depois disto, vieram para o Posto de Chai um novo administrador e um seu adjunto — continua Ahmad Bura-himo a contar. E diz, concretamente, os nomes de um e de outro. E só por uma questão de pudor e de vergonha, como português e branco, me escuso, aqui, a referi-los.
Dos dois, o adjunto era o pior. Era extremamente cruel. Logo após a sua chegada começou a matar gente. Com o pretexto de que estava a «limpar terroristas», como dizia, enforcava pessoas e deixava-as penduradas nas mangueiras. As vezes cortava as cabeças e deixava-as espetadas em esta­cas, para todos verem. Num só dia, em plena Secretaria da Administração, matou com as suas mãos cinco pessoas. Ele fazia coisas horríveis. Um dia vi-o espetar um prego na cabeça de um homem. Martelava e enterrava o prego todo na cabeça, depois mandava a pessoa ir para casa. Ë claro que essa pessoa nem dava cinco passos. Caía e morria logo.
      Ahmad Burahimo continuou a trabalhar ainda durante alguns anos no Posto. A verdade, porém, é que o ataque conduzido pela Frelimo lhe tinha já suscitado diversas dúvidas sobre a legitimidade do poder colonial — dúvidas essas que rapidamente se adensaram face às barbaridades cometidas pelo adjunto do novo Administrador que, de resto, o não poupava nas suas fúrias. Um dia começou aameaçar-me que também a minha vez chegaria. «Corto-te o pescoço, olá se corto! E que lindos petiscos tu vais fazer com a tua própria cabeça!»
Com o pretexto de que pretendia visitar uns familiares distantes, pediu licença para se ausentar por algum tempo e acabou por se desligar dos quadros do pessoal da Admi­nistração, ingressando pouco depois nas fileiras da Frelimo. Passou então a ser um importante «contacto» da Organização naquela zona de Cabo Delgado, tornando-se responsável pela distribuição de cartões de membro a novos aderentes e desenvolvendo missões de recrutamento de jovens para a luta armada. Com o objectivo de camu­flar tudo isto aos olhos, sempre desconfiados, não só das autoridades do Posto como dos agentes da PIDE, Ahmad Burahimo adquiriu um pequeno barco com o qual passou a pescar no lago do Chai.
A vila-museu
Vinte anos volvidos sobre tudo isto, o Governo moçam­bicano transformou o Chai no museu histórico da Revo­lução moçambicana.
Independentemente do monumento que vai ser erguido, defronte de um gigantesco mural alusivo ao arranque da luta armada, toda a povoação propriamente dita foi con­servada intacta, tal como era na altura do ataque de 25 de Setembro de 1964. Inclusive o mobiliário e demais recheio das casas da Administração mantêm-se, sem qual­quer alteração.
     Uma das casas foi, entretanto, transformada em museu das primeiras armas — entre as quais a que Chipande uti­lizou naquele dia e por ele próprio ali entregue, aquando do 20.° aniversário do acontecimento que marcaria o início do fim de uma era.
Vinte anos depois, o tempo foi descendo o seu véu de esquecimento. No país novo, há dez anos independente, apagam-se os ressentimentos, diluem-se as recordações dolorosas de uma repressão temperada em sangue, de uma guerra pontuada de horrores. Não há mais, no planalto Maconde, o estremecer das explosões. E os xericos vol­taram a trilar por todo o vale do Miteda, onde a Nó Górdiochamejou. Moçambicanos portugueses podem, enfim, olhar-se como irmãos.
Penso naquele grupo que, não há muitos anos ainda» se propunha levar a tribunal os responsáveis pela descolonização. E se um dia os moçambicanos reclamassem um outro Nuremberga, para julgar os crimes do colonialismo e levassem até ele, a depor, os muitos Burahirnos que ainda existem por todo o país?
Caro Guilherme de Melo:
- Se todos os Burahimos mentirem como este, que conheci pessoalmente e assim não contava a história, não sei o que restaria para o "seu" tribunal em Nuremberga?
……………………………………………………………………………………………………………………
Aproveito para copiar o que, em 23 de Setembro passado, escrevi no Moçambique na Web Jornal:
O Chefe do Posto à data do ataque  chamava-se Felgueiras e estava com a família lá. Na hora do ataque não estava no posto pois tinha ido ao Messalo com 2 polícias e vários cipais. Só ficou no posto um polícia branco e vários cipais. Também lá moravam funcionários do posto, o Pinheiro e o Brandão, mais a família Alves. O enfermeiro chamava-se Tivane. O Cozinheiro era o Amade.
O Felgueiras pediu ao Governador para sair e foi temporariamente substituí-lo o Dias  de Macomia. Talvez uma semana depois foi o Fonseca lá colocado que levou a mulher. Vindo de Portugal estava com eles o cunhado deste que foi quem, não uma semana, mas cerca de 3 semanas depois, foi morto quando passava junto ao Rio Messalo vindo do Monte Oliveiras. Vinham 3 pessoas no Jeep e ele ia no meio. As outras duas nada apanharam e ele levou um tiro entre os olhos, vindo a falecer já depois de evacuado.
Assim não foi o cunhado do Chefe do Posto da altura que foi morto, mas o cunhado do que o veio substituir.
                                                                                            Fernando Gil

23-11-2004

Consultores internacionais avaliam Cahora Bassa para negociações

Uma equipa de consultores internacionais vai avaliar a capacidade da Hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB), no âmbito das negociações para a reversão do empreendimento para o Estado moçambicano, disse hoje à Lusa fonte ligada ao processo.

Um encontro técnico realizado na semana passada em Maputo, entre equipas dos governos moçambicano e português, para analisar a capacidade da barragem, ditou a contratação de uma empresa estrangeira ligada à área de energia, revelou à Lusa o director dos Recursos Minerais e Energia de Moçambique, Pascoal Bacela.

Bacela, que integra a equipa moçambicana encarregue de discutir a reversão da hidroeléctrica para Moçambique, assegurou "para breve" o termo do contratação da equipa de consultores internacionais "que irá fazer o estudo da capacidade de produção da empresa durante um período de quatro semanas".

A conclusão da peritagem pela empresa internacional, que já fez estudos similares em 20 países do mundo, vai permitir a discussão de vários outros pontos das negociações, nomeadamente a estrutura accionista e o valor da dívida, tendo em vista efectivar a pretensão de Moçambique, destacou Bacela.

"Esperamos que os consultores iniciem o seu trabalho o mais brevemente possível, pois isso irá ditar o prosseguimento da discussão de outros pontos da agenda para darmos por terminado o dossier Cahora Bassa", sublinhou Pascoal Bacela.

Actualmente, Portugal detém 82 por cento do capital da HCB, tendo os dois países acordado no início de 2004 no princípio da reversão para o Estado de Moçambique do empreendimento inaugurado em 1975.
NOTÍCIAS LUSÓFONAS - 21.11.2004

16-11-2004

Quantos morreram em Mueda?

Para saber o que se passou em Mueda , no já longínquo 16 de Junho de 1960, visitehttp://www.macua.org/Quantos_Morreram_em_Mueda.htm   e depois ouça  aqui o que os protagonistas portugueses, que intervieram no chamado "MASSACRE DE MUEDA", dizem do que se passou, naquele já longinquo dia 16 de Junho de 1960, em contraponto ao que afirma Marcelino dos Santos. Gravação da TVI(Portugal) em 1994   http://www.macua.org/temp/mueda1960.html

14-11-2004

SARMENTO PIMENTEL ou uma geração perdida

Spimentel_capa_miniDo jornalista Norberto Lopes, coloquei agora na BIBLIOTECA DO MACUA o livro "SARMENTO PIMENTEL ou uma geração perdida", com uma primeira edição em 1976, herói de muitas guerras e lutador da liberdade.
Debruçando-se sobre o 25 de Abril, afirma:
"P. — Os militares fizeram o 25 de Abril. Honra, lhes seja. Não podemos deixar de lhes estar gratos por isso. Mas parece-lhe que es­tavam preparados para governar?
R. — Não estavam. Não tinham planos elabora­dos. Não tinham ideias assentes. Muitos tinham am­bições políticas que não esconderam mais tarde. É um desastre sempre que eles tomam conta do Poder. Foi assim no 28 de Maio. É assim em todas as oca­siões em que pretendem governar. "
Veja pois em
E não deixe de ler :

07-11-2004

3 livros "explosivos" na Biblioteca do Macua de Moçambique

Na Biblioteca do Macua poderá desde já encontrar mais três obras que muito dizem à História recente de Moçambique:
Uriasimango_capa1_2- URIA SIMANGO, UM HOMEM E UMA CAUSA, de Barnabé Lucas Ncomo, com algumas transcrições e fotos.
Escalada_capa1- MOÇAMBIQUE - A ESCALADA DO TERROR, uma reportagem do jornalista Inácio de Passos, vários anos residente em Tete e na Beira, integralmente colocado na biblioteca, abarcando essencialmente o período de transição e os princípios da governação da FRELIMO, com nomes e não pseudónimos.
Opcaoespada_capa_1- A OPÇÃO PELA ESPADA, de Pedro A. Marangoni, que relata a sua passagem por várias "guerras", incluindo a formação da Renamo, de que foi um dos primeiros instrutores. Entre outras inclui uma foto do autor com o Comandante André, que suponho ser a única disponível em toda a net.
Cada vez mais resulta que a HISTÓRIA DE MOÇAMBIQUE, não é a que a FRELIMO transmitiu e ainda, desonestamente, transmite, pese o papel que teve na conquista da sua independência.
Finalmente, que é feito dos HISTORIADORES DE MOÇAMBIQUE ( que não da FRELIMO)?

05-11-2004

Africa should make peace with colonialism

Boyd Webb | Pretoria, South Africa 
03 November 2004 - Mail & Guardian

Africans should make peace with colonialism and move on, the Angolan ambassador to South Africa, Isaac Dos Anjos, said in Pretoria on Wednesday.

"After 500 years of colonialism, I now wear a suit and tie. That is enough. I don't want another 500 years of African colonialism to be taught how to lose the tie and wear clothes from the Democratic Republic of Congo [DRC] or anywhere else. I keep my tie and move on," said Dos Anjos, addressing the Africa Institute of South Africa on Angola and the Road to Reconciliation and National Reconstruction.
He said Africans have to learn not to blame the West for their problems but to learn from them and move forward.Emerging from 40 years of civil war and approaching its second democratic election in 2006, Dos Anjos said Angola is still a country of extremes with little infrastructure.
But, he said, the death of rebel Unita leader Jonas Savimbi in February 2002 had set a course that was the "desire of all of us". He said Savimbi's death resulted in the end of fighting and the start of the road to reconciliation.
He said the reunification of the Angolan family was the first step in rebuilding the country. This, he said, was backed by the integration of the various military organisations immediately after the ceasefire, and transparency in the management of public affairs. He said a favourable climate for the second general election in 2006 will be vital in the reconstruction of Angola.
"Only Angolans have the right to choose and to decide about their future, and that is one of the pillars that will strengthen the new democracy," he said.
Angola has, in collaboration with the United Nations's High Commissioner for Refugees, sought to locate former citizens around the world. But, Dos Anjos said, his government is thankful that other countries have taken them in and Angola does not mind if they stay.
He explained that there is much interaction between the country and its citizens wherever they are, and that Angola will benefit from the vital knowledge and expertise they have acquired. He said Africa should not fear its populations mixing with the world's cultures.
"We need interaction. We [Africans] try and blame our failures on politics but it's not, it's policy issues," he said. He explained that shortly after the Portuguese left, Angola had the leading maize-research station in Southern Africa, but it died after failing to develop and now South Africa has the lead.
"It's easy for South Africa today to think that they are the best in Africa, but it was because the advent of democracy did not stop the process and black economic empowerment did not stop the process -the country continued working. But in Angola, the war stopped everything and now the expertise has gone," he said.
Dos Anjos said the UN has approached Angola to advise on the peace process in the DRC and Burundi.
"The recent Angolan history allows us to say without fear that the state has a fundamental role to play in the establishment of effective peace and national reconciliation," he said, adding that the contributions of the civil society, religious groups and community organisations are not to be underestimated. -- Sapa

Jorge Jardim - Frelimo

Samora_1Jjardimopais_1Do livro DESCOLONIZAÇÃO PORTUGUESA - O REGRESSO DAS CARAVELAS, de João Paulo Guerra, editado já em 1996, reproduzo:
………..
A visita de Costa Gomes a Moçambique, três meses antes do 25 de Abril, permitiu-lhe ver a cor branca para a independência no hori­zonte do território. Eram esses também os planos de Jorge Jardim até concluir negociações secretas com o presidente da Zâmbia, em Setembro de 1973. O general Kaúlza de Arriaga, que deixara no mês anterior o comando militar do território, conhecia o plano:
— O engenheiro Jorge Jardim — recorda o general —, bem ou mal, e eu até penso que bem, convenceu-se que com o governo de Marcelo Caetano já não era possível resolver o problema ultramarino em boa harmonia e no bom sentido, quer dizer, no sentido português. E então decidiu fazer uma independência unilateral. Para isso falou com os homens da Zâmbia e, através deles, entrou em contacto com a FRELIMO. Queria fazer uma independência unilateral para aquilo não cair no caos.
Pergunta — Jorge Jardim escreveu que chegou a contactar consigo para saber se aderia ao plano...
K. de A. — Não é bem assim. Eu vim-me embora no dia 7 de Agosto e, até aí, nunca o engenheiro Jorge Jardim me tinha falado em nada que não fosse a solução que nós estávamos ali a defender. Ele só me falou do tal Plano de Eusaka depois, em Setembro.
Pergunta — Para o aliciar?
K. de A. — A ideia não era de me aliciar mas de saber a minha opinião. E eu recusei, porque não era um plano português. Ele sozi­nho e mais dois ou três não eram capazes de governar um país daquele tamanho.
Almeida Santos, que antes do 25 de Abril liderava em Lourenço Marques os chamados «Democratas de Moçambique», desaconselha­ra Jorge Jardim de seguir o caminho de lan Smith na Rodésia. Mas quando o engenheiro alargou o Plano de Lusaka à FRELIMO, Al­meida Santos esteve de acordo:
— O engenheiro Jorge Jardim — conta Almeida Santos — que era um homem do regime e que lutou em Moçambique à frente de milícias próprias — aliás nunca percebi bem qual era a natureza legal daquele exército privativo que ele comandava —, apercebeu-se que a solução militar não era possível e negociou ele próprio um acordo de descolo-nização de Moçambique com a FRELIMO, com o apoio dos presi­dentes da Zâmbia e do Malawi. E como nós, embora adversários, éra­mos pessoalmente amigos, ele foi-me dando conta dos passos dessa negociação e eu pude verificar que ele tinha feito uma evolução enor­me no sentido da abertura a soluções políticas. Devo dizer-lhe que o acordo que ele negociou não era substancialmente diferente daquele que veio a ser negociado depois, apesar de ele ter uma mentalidade conservadora e de ser um dos arautos do anterior regime. Apenas o prazo transitório definido era de três anos e, nessa altura, o suporte militar para a negociação estava intacto. Mas o professor Marcelo Caetano declarou-lhe claramente que preferia uma derrota militar e não aceitou o acordo. E assim tivemos que ir para uma solução, a se­guir ao 25 de Abril, já com as condições deterioradas do ponto de vis­ta militar e até de opinião pública.
     Jorge Jardim antecipou ao 25 de Abril as negociações com a FRELIMO. Mas quando Lisboa, após ter mudado de regime, iniciou negociações formais e oficiais, a «tentação rodesiana» por parte da minoria branca saiu às ruas de Lourenço Marques e ocupou os micro­fones do Rádio Clube de Moçambique, em 7 de Setembro de 1974.
Nesse mesmo dia, em Lusaka, delegações do governo português e da FRELIMO negociavam o acesso de Moçambique à independência e a transferência do poder. Com a revolta dos colonos em linha, as negociações estiveram por um fio. Mas os negociadores readquiriram a confiança e as negociações foram por diante.
Em Lisboa, Spínola ainda era Presidente, Vasco Gonçalves já era primeiro-ministro. E foi de Lisboa, por telefone, que se esclareceram os negociadores de Lusaka quanto aos tumultos de Lourenço Mar­ques:
— O general Spínola — recorda Vasco Gonçalves —pediu-me que fosse eu tratar com eles, porque eles não tinham confiança nele. E fui eu que tratei do assunto com Samora Machel, telefonicamente.
Pergunta — E tratou com Samora Machel de que maneira?
V. G. — Procurei dar-lhe segurança de que nós estávamos empe­nhados em fazer a descolonização honestamente, que reconhecíamos a FRELIMO como legítimo representante do povo moçambicano.
O governo português acabou por acordar a transferência do po­der para um partido único na contracosta africana. E Moçambique, pela voz de Samora Machel, proclamou em 25 de Junho de 1975 a in­dependência e a República Popular:
«A nossa luta é uma luta que faz parte das lutas do mundo inteiro. E uma luta que faz parte das lutas dos povos oprimidos. Nossa luta foi sempre justa. É por isso que ela triunfou. A opressão não era somente para o povo moçambicano, mas também para o povo português.»
[Proclamação de Samora Machel, Lourenço Marques, 25 de Ju­nho de 1975]
…….
Porque será que os dirigentes da FRELIMO continuam a negar o seu acordo ao Plano de Jorge Jardim?

As confissões de Melo Antunes

Além da "natural" responsabilidade dos dirigentes do PCP e do PS da altura, no processo de descolonização, recordo as palavras de Melo Antunes antes de falecer (Julho de 1999):
“(…) Muitos responsáveis políticos portugueses têm dito que a descolonização foi a que era possível. Acho que não é assim. Considero que a descolonização foi uma tragédia. Foi uma tragédia a maneira como a descolonização acabou por se realizar. Tal como a colonização o foi. Os dois aspectos estão ligados.
Não assumo a responsabilidade do que hoje lá se vive. Isso tem a ver com os movimentos e os seus líderes. Assumo a responsabilidade das negociações para a descolonização não terem sido conduzidas de modo a evitar situações, que acabaram por “descambar" naquilo que hoje existe nos ex-territórios portugueses africanos, (…)
Relembro estas palavras de Melo Antunes, pois julgo que a autora do livro/entrevista se esqueceu delas...
Confirmarei quando o livro for colocado à venda.

As confissões de Melo Antunes

Meloantunescapa
Numa longa conversa com Manuela Cruzeiro, o ideólogo do 25 de Abril faz revelações sobre o PREC e a descolonização. E explica o seu papel em todo o processo revolucionário.
- Texto da Revista Visão ( nº 608)
Download melo_antunes_02.doc
- Texto enviado por um amigo, de publicação que não identificou:

04-11-2004

Mbuzini, Steve Biko ou as Desinformações de Sérgio Vieira

Mapavoo
Zambeze – 04 de Novembro de 2004
João M. Cabrita
A recente entrada de Moçambique para membro do Conselho de Administração da Organização Internacional da Aviação Civil (ICAO)1 para além do prestígio que confere ao país, é um acontecimento que se reveste de grande importância para todos os moçambicanos. Sem dúvida, esta constitui uma excelente oportunidade para o governo de Moçambique tirar a limpo, de uma vez por todas, as dúvidas que ainda persistem quanto às circunstâncias do acidente de Mbuzini. Do governo se espera, portanto, que obtenha daquele organismo internacional um pronunciamento inequívoco quanto à idoneidade da comissão de inquérito às causas do acidente, e à legitimidade do relatório por ela elaborado.
Veja o resto deste texto em Download Mbuzini1Nov04.doc
Para melhor entendimento reproduzo também o texto abaixo, publicado no ZAMBEZE, em 19 de Junho de 2003 Download Zambeze01.doc
Nota: O mapa junto foi retirado do livro QUEM MATOU SAMORA MACHEL?, de Álvaro B. Marques

28-10-2004

Americanos, Mondlane, Salazar e MRPP

Salazardn
Texto do Prof. Adelino Maltez, no seu blogue “sobre o tempo que passa” intitulado, “Americanos, Mondlane, Salazar e MRPP”, onde é abordada uma temática já velhinha e nunca devidamente explorada e estudada, para o "bom" ou para o "mau": “o movimento dos milhões de dólares norte-americanos na guerra colonial”; agora ainda mais actual com a publicação de um livro do antigo sub-secretário de Estado adjunto para os Assuntos Africanos da administração Clinton, senhor Witney Schneidman. Um apontamento a ler e meditar.

27-10-2004

Crimes da FRELIMO antes e depois da independência

Varanda de Lisboa
Por Manuel Amaro Bernardo
(...) Uria Simango, Joana Simeão e Lázaro Kavandame são apenas alguns dos milhares de opositores mortos em condições degradantes pelo regime de Samora Machel (...)
Paula d' Oliveira, in "DN" de 4-10-2004
Esta leitora do "Diário de Notícias" salienta, em carta ao Director, que "não se compreende, aliás, o burburinho que o livro de Barnabé Lucas Ncomo tem vindo a originar". É intitulado "Uria Simango; Um Homem, Uma Causa" e foi apenas publicado em Moçambique. No entanto, teve direito a uma página daquele matutino lisboeta, que incluía uma entrevista com o autor. Seria de muito interesse que a Ed. Notícias, do mesmo grupo editorial do "DN", lançasse a sua edição, em Portugal, para os portugueses o poderem apreciar convenientemente ...
De facto o assunto já tinha sido noticiado noutros jornais portugueses, como eu refiro no meu trabalho, publicado em 2003 ("Combater em Moçambique; 1964-1975"). O primeiro a fazê-lo terá sido "O Diabo" de 1-3-1983, onde se afirma nomeadamente que "apesar da FRELIMO ter afirmado estarem vivos e internados num campo de reeducação, o seu fuzilamento é igualmente confirmado por um dos textos do Ministério da Segurança de Moçambique divulgados pela revista «Scope», não obstante a garantia dada por Samora Machel, ao rei dos belgas, de que as vidas dos políticos oposicionistas seriam poupadas, foram condenados à morte e executados".
Cerca de doze anos depois, o "Público" (Magazine), de 25-6-1995, publicava uma impressionante peça jornalística com várias páginas, onde, a certa altura, afirmava:
(...) Joana Simeão foi amarrada, regada com gazolina e queimada viva,
juntamente com Lázaro Kavandame, Raul Ribeiro, Arcanjo Kambeu, Júlio Nihia, Paulo Gumane, reverendo Uria Simango e o padre Mateus Gwengere, numa vala próxima da estrada M'telela (ex-Nova Viseu e campo de reeducação desde Novembro de 1975) - Lichinga (ex-Vila Cabral), no Niassa, em 25-6-1977, enquanto os soldados cantavam hinos revolucionários. (...)

Este matutino também esclarecia que, naquele campo de reeducação, se faziam espancamentos "públicos", em frente dos restantes detidos, e que dos 1.800 prisioneiros entrados desde Novembro de 1975, apenas terão saído cerca de 100. Como refiro no meu trabalho, aquelas notícias do "Público" nunca foram desmentidas pelas autoridades moçambicanas.
É curioso que Barnabé Ncomo, depois de 15 anos de investigação, ainda não tenha conseguido precisar a data da morte de Uria Simango e dos seus companheiros. De qualquer modo não contraria o que foi afirmado por aqueles jornais e afirma: "Fuzilado ou queimado vivo" e que a execução terá ocorrido entre 1977 e 1980, apontando mais para 1977 ou 1978.
Recorde-se que em 25 de Junho de 1977 (a avançada pelo "Público"), se comemorava o 2° aniversário da independência de Moçambique.
Os prisioneiros antes e depois da independência
A leitora do "DN", Paula d' Oliveira tem igualmente razão quando afirma que “em 1974 e nos anos seguintes, quem se interessasse pelo que realmente se passava no Moçambique de Machel, não tinha qualquer dificuldade em descobri-lo - todos os dias se ouvia falar de campos de reeducação, de assassinatos(…)”.
De facto, como refiro no meu trabalho, já em 1-2-1976, o semanário o “Tempo" denunciava existência na Cadeia da Machava (Lourenço Marques/Maputo), de 14 portugueses presos ainda sob a soberania portuguesa (entre 21-3 e 24-5-1975) e de 72 após a independência. Aliás, por todo o território existiriam portugueses detidos, desde Pemba, em Cabo Delgado (cinco), a Tete, assim como em Bilibiza (quatro) e na Cadeia Civil da Beira (22).
Em 1980, o General Galvão de Melo ("Continuar Portugal"), que se batera pelo repatriamento dos portugueses naquelas condições, na Assembleia da República (1.° trimestre de 1977) e noutras organizações internacionais, afirmava:
(...) No caso de Moçambique, as diligências praticadas levaram à libertação e posterior repatriamento para Portugal de elevado número de portugueses. Com efeito e de acordo com as informações mais recentes que possuímos, de mais de duzentos que ali estavam presos até 1976, encontram-se agora apenas 40 cidadãos nacionais, detidos em todo o território moçambicano, por delitos de direito comum. Temos além disso conhecimento da existência de não mais de quatro presos antes da independência, em cumprimento de pena. (...)
Se bem que, com aquele tipo de regime, seria muito difícil discernir entre os de natureza política e os de delito comum...
"Para que o mundo (e os portugueses) não esqueça"
Samora Machel acabaria por ser vítima do regime que montou em Moçambique depois da independência. Viria a ser morto num "acidente" de aviação, numa viagem de Lusaka para Maputo, em 19-10-1986. E apesar de Joaquim Chissano ter denunciado em 16-7-1987, o carácter criminoso da ocorrência, posteriormente permitiu a interrupção da investigação e a cedência às teses sul-africanas do acidente, apesar da posição contrária dos soviéticos.
A viúva Graça Machel, que casou com o prémio Nobel da Paz, Nelson Mandela, em 18-7-1998, tem mantido uma "luta inglória" para esclarecer definitivamente a morte de Samora. Ainda nos princípios de Julho de 1998 afirmava à Imprensa que "estava muito magoada com o Governo e o Estado moçambicano”, acrescentando também, que "as investigações apontavam para uma conspiração envolvendo pessoas da África do Sul, do Malawi e de Moçambique".
Além da "natural" responsabilidade dos dirigentes do PCP e do PS da altura, no processo de descolonização, recordo as palavras de Melo Antunes antes de falecer (Julho de 1999):
“(…) Muitos responsáveis políticos portugueses têm dito que a descolonização foi a que era possível. Acho que não é assim. Considero que a descolonização foi uma tragédia. Foi uma tragédia a maneira como a descolonização acabou por se realizar. Tal como a colonização o foi. Os dois aspectos estão ligados.
Não assumo a responsabilidade do que hoje lá se vive. Isso tem a ver com os movimentos e os seus líderes. Assumo a responsabilidade das negociações para a descolonização não terem sido conduzidas de modo a evitar situações, que acabaram por “descambar" naquilo que hoje existe nos ex-territórios portugueses africanos, (…)

De facto, corno afirmou Manuel Monge, a descolonização foi feita na defesa dos interesses políticos da União Soviética, dos seus aliados e dos seus movimentos no terreno. Foi contra os interesses permanentes de Portugal, dos portugueses residentes em território sob a nossa administração e contra os interesses da população.
O DIABO - 05.10.2004

Eduardo Mondlane, fundador da FRELIMO, foi financiado pela CIA

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José Pestana, da Agência Lusa Washington, 26 Out (Lusa)
Eduardo Mondlane, fundador e primeiro presidente do movimento nacionalista moçambicano FRELIMO, foi durante anos apoiado financeiramente pelos serviços de espionagem norte-americanos, CIA.
O livro "Engaging Africa: Washington and the Fall of Portugal's Colonial Empire" (Envolvimento em Africa: Washington e a Queda do Imperio Colonial de Portugal) é de autoria de Witney Schneidman, antigo vice-secretário de Estado adjunto para os Assuntos Africanos na administração Clinton.
A obra confirma também anteriores alegações de que o dirigente nacionalista angolano Holden Roberto, presidente da Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA) também foi financiado directamente pela CIA, durante vários anos.
O livro, de 280 páginas detalha minuciosamente e com base em documentos oficiais e dezenas de entrevistas com personalidades norte- americanas e portuguesas, as relações dos Estados Unidos com Portugal e com os movimentos independentistas das ex-colónias portuguesas, particularmente Angola e Moçambique, desde o início dos anos 60 até à independência de Angola (Novembro de 1975).
Schneidman refere que o primeiro encontro de Eduardo Mondlane com um membro da administração norte-americana foi estabelecido durante o governo do presidente John Kennedy, quando o dirigente nacionalista se reuniu, no início de 1963, com o irmão do presidente (Robert Kennedy), então Procurador-Geral dos Estados Unidos da América.
De acordo com a descrição do encontro, obtida através de memorandos e entrevistas com alguns dos participantes, o encontro começou mal, com Robert Kennedy a interromper Mondlane quando este começou a criticar a política norte-americana no Vietname, dizendo ao líder nacionalista que estava "mais interessado em ouvir os problemas de Moçambique".
Mondlane teria depois explicado a situação em Moçambique, afirmando que seria "trágico" se "a indiferença e ignorância" e a necessidade de "agradar" a Portugal impedissem os Estados Unidos de estar "na frente do combate pela liberdade".
"No final do encontro de uma hora, Mondlane e Kennedy tinham estabelecido uma relação forte, baseada numa visão comum sobre o futuro em África e Moçambique," lê-se no livro.
"Embora o Procurador-Geral não se tenha comprometido sobre o apoio oficial americano, disse a Mondlane que queria pessoalmente ajudá-lo e à sua família," acrescenta Schneidman, destacando que, no final do encontro, Kennedy entregou um cheque pessoal de 500 dólares a Mondlane.
Poucos dias depois deste encontro, Mondlane reuniu-se em Washington durante duas horas com Averrel Harriman, sub-secretário de Estado para questões políticas.
"Os dois saíram da sua conversa de duas horas com um respeito mútuo profundo", afirma o livro, que cita como fonte para os pormenores do encontro um dos seus intervenientes.
Porém, tanto o secretário de Estado Dean Rusk como o sub- secretário de Estado George Ball recusaram-se a reunir-se com Mondlane, reflectindo o início do que seria uma longa luta entre várias facções governamentais americanas sobre como lidar com os movimentos nacionalistas e, ao mesmo tempo, manter boas relações com Portugal.
Enquanto Ball afirmou que o encontro "não serviria para nada" e Dan Rusk manifestou reservas sobre a actuação de Mondlane, outros continuaram a pressionar para que fosse concedida ajuda ao nacionalista moçambicano descrito num documento por um outro funcionário como "muito determinado, directo e inteligente".
O livro relata que, em Abril de 1963, foi feita a primeira proposta de ajuda clandestina a Eduardo Mondlane. Um documento garante ao sub-secretário de Estado George Ball que "a Agência (a CIA) está absolutamente confiante que o podem fazer pela calada".
Uma carta entregue ao influente Procurador-Geral Robert Kennedy afirma, no entanto, que "o dinheiro não deve ser dado partindo do princípio que se pode controlar Mondlane".
"De facto seria uma idiotice tentar controlá-lo, porque essa tentativa iria prejudicar a sua utilidade para nós. A verdade é que nós não podemos controlá-lo; podemos apenas confiar nele. Apoiar Mondlane será um bom investimento para nós, porque o seu programa representa a melhor e única esperança para uma solução relativamente pacífica para o problema moçambicano," diz o documento.
Nessa Primavera, a CIA entregou um "subsídio" de 60.000 dólares a Mondlane, que foram canalizados através do Instituto Afro-Norte-Americano, em Nova Iorque.
Ao discutir, mais adiante, a política do governo do presidente Lyndon Johnson o livro refere que, quatro anos mais tarde, em 1967, "o apoio financeiro" a Mondlane continuava, "mas sem aumento dos desembolsos".
Por essa altura, as relações entre os Estados Unidos e Mondlane estavam já a deteriorar-se e o último contacto oficial entre o líder nacionalista moçambicano e entidades norte-americanas decorreu em Nairobi (Quénia), em Setembro de 1968, quando num encontro privado com "influentes" personalidades americanas, Mondlane teria mostrado a sua irritação pela "incapacidade" e "falta de vontade" do governo dos Estados Unidos em ser mais agressivo e eficaz nas suas pressões sobre Portugal".
O encontro deu-se numa altura em que a FRELIMO estava também a atravessar uma grave crise interna e, segundo intervenientes, Mondlane estava "tenso e preocupado" devido a isso.
O encontro de Nairobi "marcou o fim do contacto oficial dos Estados Unidos com os nacionalistas que estavam a lutar pela independência de Moçambique e também o fim de uma relação estreita".
Mondlane foi assassinado alguns meses depois, em Fevereiro de 1969, num acto que o livro culpa, sem dar pormenores, a polícia secreta portuguesa PIDE em associação "com dissidentes dentro da FRELIMO".
O livro confirma, por outro lado, que o dirigente nacionalista angolano Holden Roberto recebeu durante muitos anos financiamento por parte da CIA. Esse financiamento começou em 1961 quando Holden Roberto começou a receber 6.000 dólares anuais, o que "foi, posteriormente, aumentado para 10 mil dólares/ano".
Em Julho de 1974, quando a guerra civil em Angola se avizinhava, o financiamento foi aumentado para 25.000 dólares.
No início de 1975 foi aprovada uma doação de 300 mil dólares a Holden Roberto, mas o encontro de alto nível que aprovou essa doação recusou uma outra proposta para doar 100 mil dólares "para se abrir uma janela a Jonas Savimbi" que, ironicamente, viria mais tarde a ser o principal aliado dos Estados Unidos em Angola.
26-10-2004 (Fonte : Agência LUSA)

23-10-2004

URIA SIMANGO Um homem, uma causa

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Da obra de Barnabé Lucas Ncomo, com o título acima, aqui transcrevo, com a devida vénia, a Sétima Parte - Nas mãos dos algozes.
Chamo a vossa atenção de que poderão ouvir Uria Simango em
http://macua.blogs.com/moambique_para_todos/2004/10/stronga_confiss.html

21-10-2004

Macau fala português para China lucrar com Brasil

Macau1
The New York Times - 21/10/2004
Antiga colônia portuguesa é utilizada como ponte para os negócios
James Brooke - Em Macau
Nesta península repleta de história, onde a cultura portuguesa se mistura ao ar salgado do Mar do Sul da China, um visitante do Brasil pode começar o seu dia tomando café da manhã, enquanto folheia um dos três jornais diários locais em português ou assiste às notícias em uma das duas estações de televisão em língua portuguesa.
Na rua, um motorista de táxi sinaliza que o veículo está livre e leva um passageiro até um platô onde há coqueiros, igrejas católicas barrocas, nomes de ruas em painéis de azulejo em português e chinês e panfletos bilíngües anunciando festivais de música. Para que o visitante que fala português se sinta mais em casa, a Rádio Macau transmite fado, bossa nova e notícias em português durante todo o dia.
Cinco anos atrás, quando Portugal devolveu à china este enclave de 26 quilômetros quadrados, a maioria das pessoas previu que a língua portuguesa desapareceria do local num piscar de olhos. Os portugueses pouco fizeram para promover a sua língua desde chegaram pela primeira vez a Macau, como mercadores, por volta de 1553.
Quando partiram, apenas cerca de 2% da população de Macau, de 450 mil habitantes, falavam a língua de Lisboa. Os 98% restantes se comunicavam em cantonês e outros idiomas.
Mas em uma surpreendente reviravolta, as inscrições para aulas particulares de português triplicaram, chegando a mil desde 2002. Isso levou as escolas públicas chinesas locais a oferecerem português neste outono, atraindo mais de 5.000 alunos.
"O número de falantes do português disparou no ano passado", garante Manuel F. Moreira de Almeida, um português que vive na cidade há muito tempo e que é dono da Livraria Portuguesa, localizada em uma estreita rua colonial. "Em poucos anos, haverá mais falantes de português por aqui do que durante o
período em que a cidade foi colônia de Portugal".
Se é a economia que determina a ascensão e a queda das línguas, o renascimento do português é ditado pela nova determinação de Pequim no sentido de que Macau sirva como uma plataforma para os crescentes interesses comerciais e estratégicos chineses no mundo latino.
Embora os jogos de azar sejam há muito tempo o principal negócio local, a pequena Macau encontrou um novo papel para si, como elo de ligação da China com os 220 milhões de falantes de português no mundo.
Embora Pequim vá sempre atrair os visitantes mais importantes, como no caso da viagem, em maio passado, do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do Brasil, Macau oferece programas de treinamento e convenções no ambiente culturalmente amigável do canto mediterrâneo da China, onde o português
está, pelo menos oficialmente, em pé de igualdade com o chinês.
"Macau pode ser uma ponte entre a China e os países de língua portuguesa", disse, em outubro passado, após uma reunião comercial de cúpula com sete ministros de países de língua portuguesa, o vice-ministro do Comércio, An Mi.
Ao fim das conversações, a China assinou um acordo para aumentar o volume comercial, os investimentos e a cooperação econômica com Portugal e seis ex-colônias portuguesas: Brasil, Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné Bissau e Timor Leste. São Tomé e Príncipe não compareceram devido às relações diplomáticas que mantêm com Taiwan.
Atualmente, a Universidade de Macau leciona Direito em língua portuguesa para angolanos e moçambicanos. Seminários de treinamento em turismo, enfermagem, tradução e administração empresarial atraem alunos de cinco países de língua portuguesa da África e de Timor Leste, um nicho asiático que tem antigos laços históricos com este posto comercial no delta do Rio Pérola.
"Macau poderia funcionar como intermediária, fornecendo serviços de boa qualidade em treinamento, tradução e consultoria", afirma Gaary M.C. Ngai, um pesquisador local. Vagarosa para estabelecer conexões com os países de língua portuguesa e espanhola, a China atualmente se move agressivamente.
Quase que da noite para o dia, ela se tornou o segundo maior parceiro comercial do Brasil, atrás apenas dos Estados Unidos, comprando ferro, aço, soja e alumínio brasileiros. O comércio bilateral da China com o Brasil quadruplicou desde 1999, chegando a US$ 6,7 bilhões no ano passado. Em troca, a China está apoiando os esforços do Brasil para obter uma cadeira no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU).
"Sob o ponto de vista militar e industrial a China intimida, mas as suas regiões especiais possuem uma imagem diferente", disse Luiz Fernando Furlan, ministro brasileiro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, referindo-se a Macau e a Hong Kong, segundo a Associated Press.
No norte do Brasil, está sendo construída uma usina siderúrgica no valor de US$ 1,5 bilhão em uma joint venture entre o grupo Shanghai Baosteel e a Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), a maior produtora de minério de ferro do mundo. A CVRD também possui uma parceria com a produtora chinesa de alumínio Chalco para a construção de uma refinaria de bauxita de US$ 1 bilhão, também no norte do Brasil.
Os negócios da Argentina com a China dobraram desde 2000. O Chile está negociando um acordo de livre comércio com a China. E, à medida que se torna cada vez mais dependente do petróleo importado, a China cultiva relações com Angola, um dos maiores produtores da África Ocidental. Com a intensificação dos negócios e trocas oficiais, a China concordou recentemente em ampliar o seu crédito a Angola em US$ 2 bilhões.
Grande parte dessa cifra será destinada à reconstrução da ferrovia Leste-Oeste, uma obra do período colonial que foi destruída por 40 anos de guerra civil.
"Os países de língua portuguesa, ricos em recursos, e o mercado mundial de maior crescimento, a China, parecem formar um par perfeito", disse Na, o vice-ministro chinês do Comércio no ano passado.
Macau está preparando uma legião de tradutores bilíngües para esses novos mercados. Em um exemplo típico desses novos rumos, quando a Feira Internacional de Comércio e Investimento de Macau for aberta em 21 de outubro, ela contará com uma grande área denominada "Feira da China e dos Países de Língua Portuguesa".
Após se reunirem aqui no início de outubro, executivos da Portugal Telecom, a maior empresa portuguesa, estão fazendo planos para expandirem os seus negócios daqui para toda a China. Segundo um novo acordo de livre comércio Macau-China, a partir de 1º de janeiro de 2006 cerca de 93% dos produtos exportados daqui para a China deixarão de estar sujeitos a tarifas, e o mercado chinês foi aberto para 18 setores locais de serviços, incluindo o de telecomunicações.
Para Ricardo Pinto, editor do "Ponto Final", um dos jornais diários portugueses, a conexão também permite que a cidade conte com alguma diversificação econômica, deixando de depender apenas dos jogos. No passado Macau era conhecida como a Monte Carlo do Oriente. Atualmente, os jogos estão em ascensão, o que alimenta expectativas de que mais de 5 milhões de pessoas utilizem o aeroporto da cidade neste ano.
O seu 15º cassino, o Casa Real, abriu as portas recentemente e os rendimentos com os jogos em Macau aumentaram 50% em relação ao ano passado, segundo o "The Macau Post Daily", o primeiro jornal de língua inglesa da cidade, criado em agosto para tirar vantagem da nova onda de afluência.
Com o plano de investimento de bilhões de dólares em cassinos, Macau espera dobrar, por volta de 2010, o seu número anual de visitantes para 30 milhões, mais ou menos o mesmo de Las Vegas.
Com a renda per capita de Macau chegando a US$ 17 mil, um nível próximo ao de Portugal, há poucos incentivos econômicos para que os 110 mil detentores de passaporte português na cidade migrem para Portugal.
Aproveitando o boom dos cassinos, o governo de Macau espera arrecadar US$ 2 bilhões em impostos sobre jogos neste ano, 60% a mais do que no ano passado.
Longe de desprezar o passado colonial de Macau, as lideranças da cidade restauraram e iluminaram marcos coloniais como igrejas, fortes, hospitais, teatros, museus, um observatório e o palácio do governador.
Em um caso raro em se tratando de cidades asiáticas modernas, a preservação histórica de Macau foi tão extensa que a cidade espera ser reconhecida no ano que vem pela Unesco como patrimônio histórico mundial. "Eles passaram da preservação ao cultivo da herança", diz Harald Bruning, diretor do "The
Macau Post Daily".
As coberturas de telhas vermelhas de barro cozido, os pratos portugueses a base de bacalhau e a profusão de motonetas proporcionam ao visitante um ambiente marcadamente mediterrâneo. É exigido que todas as placas de ruas e nomes de companhias sejam escritos em português e em chinês, o que pode deixar o visitante que fale apenas inglês desnorteado.
Mas como diz Almeida, que vê uma nova geração de falantes da língua portuguesa freqüentando a sua livraria: "O português saiu de uma ressaca colonial para se transformar em oportunidade de negócios".
Tradução: Danilo Fonseca

18-10-2004

Uria SIMANGO, a INDEPENDÊNCIA E A TEORIA DA CONSPIRAÇÂO! (1/2)

TRIBUNA - Coluna de João CRAVEIRINHA
email: craveirinhajoao@mail. pt
Achega à s Eleições 2004
Os que esquecem o passado estão condenados a repetí-lo - escreveu George Santayana (1863-1952), filósofo espanhol/ norte-americano...
Nas vésperas da Independência, de 11 a 12 de Maio 1975, Samora Machel, Presidente da FRELIMO, recebia os Presidentes da Tanzânia, Julius K. Nyerere, e Keneth Kaunda, da Zâmbia, em Nachingweia (Nachingueia); Quartel-general da Frente de Libertação na Tanzânia. Desse encontro ficariam registados para a História os discursos dos quais transcrevemos alguns excertos proferidos pelo Presidente do Movimento de Libertação moçambicano, Samora Moisés Machel, no dia 12 de Maio de 1975:
...Antes de vocês falarem (camaradas Kaunda e Nyerere), gostava de vos mostrar um batalhão de
agentes (...), quadros que se transformaram em agentes do inimigo...
...Joana Simeão Presidente do GUMO (...) e protegida das forças imperialistas do mundo (...) Joana Simeão (...)amiga de Rebelo de Sousa e do Caetano, representava os macuas, mas não representava a mulher moçambicana...
... Adelino Guambe fundador da FRELIMO por ser Presidente da UDENAMO, um dos três movimentos que se fundiram para formar a FRELIMO. Queria ser Presidente da FRELIMO...
... Narciso Nbule fundou um Partido no Quénia para se opor à  FRELIMO. Desde 1963 que se opõe à FRELIMO. Preso na Zâmbia fez-se de maluco e conseguiu baixar ao Hospital dos malucos...
... Também estão aqui soldados da COREMO (Comité Revolucionário de Moçambique). Nem sequer sabiam onde era Moçambique, viviam em florestas em volta de “Lussaca” como bandos de ladrões (roubando carros, arrombando lojas, atacando os homens das farmas). Viviam nas florestas e foi o Governo da Zâmbia que os enviou para a FRELIMO aqui em Nachingweia.
As suas ideias são as de bandidos e assassinos...
... Paulo Gomane, Presidente da COREMO, agente do imperialismo para se opor à  FRELIMO...
... Uria Simango foi Vice-Presidente da FRELIMO (...). Como Vice-Presidente tentou várias vezes retirar o apoio que nos dava a Tanzânia (...).TEMOS CORAGEM PARA MUITO, MAS NÃO TEMOS CORAGEM DE MATAR O CRIMINOSO SIMANGO...
... Pedro Mondlane, agente da PIDE e de Spínola...
... Manuel Lumumba permitiu que a bomba passasse de Mbeya para Dar-es-Saalam para o assassínio de Mondlane...
No mês seguinte, a 25 de Junho de 1975, Moçambique tornava-se Independente da administração
colonial portuguesa depois de 10 anos de luta armada.
Logo de início há indícios de vir a constituir-se numa República Popular de inspiração comunista, mescla do modelo chinês de Mao Tsé Tung e soviético estilo Estaline. Modelo polí­tico adoptado que esmagaria qualquer possibilidade de liberdade de expressão ou de associação política independente e democrática.
Para os iluminados mentores dessa revolução impunha-se inventar (!?) uma nova ordem política,
social e económica. Toma corpo a teoria da conspiração contra a revolução socialista. A FRENTE de LIBERTAÇÃO transforma-se em Partido único não aceitando a alternativa democrática no Poder. O dogma do Culto da Personalidade assente numa ideologia de ditadura substitui o dogma das religiões entretanto perseguidas violentamente e vistas como... ópio do povo...
O regime instala-se com um aparelho repressivo cruel apoiado numa polí­cia política SNASP e de outros sectores da Contra Inteligência militar – secção de Fuzilamento do Ministério de Defesa dependendo do Departamento de Defesa e Segurança do Partido FRELIMO do qual o seu Secretário e chefe viria a ser, mais tarde, o coronel Sérgio Vieira que em conjunto com Óscar Monteiro dirigira entre Janeiro/Abril 1975 os interrogatórios e torturas em Nachingueia aos quadros que se transformaram em agentes do inimigo...
A corroborar esta teoria da conspiração surgem as ofensivas contra o regime moçambicano vindas
dos vizinhos da Rodésia e da África do Sul últimas trincheiras do Poder branco em África. Alguns sectores de Portugal juntam-se aos inimigos da FRELIMO. Desde a Transição à  Independência de 1974 que muitos colonos portugueses e alguns moçambicanos abandonam o futuro País indo para a África do Sul, Portugal e Brasil. Outros o fariam a partir de 1976.
Moçambique esvai-se com a fuga desses quadros da função pública, empresá¡rios, técnicos, sobretudo brancos que se sentiriam inseguros e assustados pela entrada triunfante dos guerrilheiros da FRELIMO vindos do mato impondo novos hábitos de vida. Outros por puro racismo vão para a África do Sul após o fracasso da caça ao preto...ao turra (terrorista) ” do 7 de Setembro de 1974 e da consequente reacão popular descontrolada com o seu apogeu a 21 de Outubro.
A partir de 1976/1978 inicia-se uma sangrenta guerra civil em Moçambique que duraria cerca de 16
anos. O conflito seria apoiado do exterior pelos bastiões do apartheid rodesiano, sul-africano e de sectores portugueses e norte-americanos... (continua).
Anexo: Rebelo de Sousa, governador-geral e pai do (ex)-cronista de TV, Marcelo R. S. Caetano também Marcelo e substituto de Salazar. Pedro Mondlane primo/irmão de Eduardo Mondlane. GUMO Partido de Máximo Dias.
[NB. João Craveirinha, o cronista desta coluna, encontrava-se no grupo desses condenados de Nachingueia aqui referenciados e mais tarde transferidos via Lago Niassa para Mitelela ex - campo militar colonial de Nova Viseu].
CORREIO DA MANHÃ(Maputo) - 19.10.2004

14-10-2004

A confissão de Uria Simango

Veja e ouça aqui a voz de Uria Simango desvrevendo, em Nashingueia, como Eduardo Mondlane foi assassinado. Recordo que Uria Simango já se encontrava na altura prisioneiro.
Excerto retirado do CD-ROM comemorativo dos 25 anos de Independência
25 de Junho -Moçambique
Vitória de um povo
Narrador - Leite de Vasconcelos
Edição Creatix-Promédia

Que ligará M'telela a Wiriamu?

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Mão amiga fez-me chegar o livro de Barnabé Lucas Ncomo "URIA SIMANGO Um homem, uma causa".
Aproveito para transcrever o capítulo abaixo:

Do Pelotão Maldito ao efeito boomerang
Manuel Mapfavisse era um dos mais temidos carrascos de M'telela desde a abertura do Centro em 1975. Estava à testa de um pelotão de guardas e, por ser mais instruído literariamente do que a maioria de outros guardas, servia de correio entre M'telela e Lichinga.
Natural de Ampara, no distrito de Búzi em Sofala, Mapfavisse havia recebido a alcunha de "o Bazuca", dada a sua estatura latagónica. Tal como o comandante e a grande parte dos que integravam a Companhia de 150 homens que guarnecia o Centro, Mapfavisse vivia com a família nas cercanias do mesmo.
A páginas tantas, a situação dos presos começou a preocupar um certo grupo de guardas. Condoía-lhes a situação de alguns presos doentes e particularmente da Dra. Joana Simeão. Como esta era ainda muito jovem, chegado o período menstrual, viam-na na sua cela a contorcer-se de cólicas sem poderem ajudá-la. Aos trapos que lhe atiravam como pensos para conter o fluxo sanguíneo, cabia a eles voltar a recebê-los através da portinhola da cela e desembaraçarem-se dos mesmos.
Deste modo, até princípios de 1977, havia em M'telela dois tipos de guardas para mesmos prisioneiros: Um grupo de defensores acérrimos da causa do regime e um outro que aparentava ser defensor dos direitos dos prisioneiros. Bazuca alinhou com o segundo grupo constituído pelo pelotão que ele chefiava. Num dia, sem dar conta da dimensão do problema que ia criar, planeia com alguns do seu pelotão a fuga de três prisioneiros dentre os quais a Dra. Joana Simeão. Mas antes, Bazuca ter-se-á queixado junto do comandante dos transtornos que aqueles três presos davam. Falou da situação de Simeão e de homens que se prezavam como tal - como aqueles guardas - terem que suportar situações que contrariam a tradição, lidando com coisas íntimas que só às mulheres diziam respeito, apenas porque a infeliz prisioneira não podia sair da cela. Aparentemente, a lamentação foi ao encontro da sensibilidade de Mombola e este, tomando a peito a questão, garantiu que encontraria uma solução. Efectivamente, Mombola encaminhou a preocupação a Lichinga, usando como argumento a tradição africana e os "perigos" que advinham de um homem lidar com coisas femininas daquele tipo. A resposta de Lichinga não se fez esperar. Veio "curta e grossa": "Mandem a Joana e os outros dois cortar lenha!...'»9.
Na gíria da guerrilha da Frelimo, especialmente desde a abertura da base Moçambique D, próximo de Nangololo, na província de Cabo Delgado, "cortar lenha" significava execução sumária de prisioneiros.
Recebida a Ordem de Serviço, Mombola incumbiria a missão precisamente a Bazuca, a quem deu aval para escolher alguns do seu pelotão para executarem a missão. Bazuca escolheu então quatro guardas dentre os que com ele conspiravam e deu instruções claras, alertando-os como deviam agir para libertarem os três presos sem levantar suspeitas.
As instruções de Lichinga haviam chegado numa altura em que o Comandante preparava uma viagem para aquela cidade, exactamente na companhia de Bazuca. Assim, achou-se por bem executar a "missão Joana" antes da partida, de forma a poder relatar os resultados à chefia da Contra Inteligência Militar na capital provincial.
Ao entardecer, os quatro homens, sob ordens de Bazuca, que na circunstância se viu impossibilitado de se fazer à mata dado o avalanche de trabalho que tinha que executar antes de seguir para Lichinga, retiraram os presos e encaminharam-nos para o local da execução. Chegados aí, os quatro guardas deram instruções aos presos para que escapulissem. Mas antes, terão exigido que estes lhes assegurassem possuir capacidades para alcançarem "terra firme" , isto é, o vizinho Malawi. E mais, exigiram aos presos que nunca revelassem as circunstâncias da sua fuga. O receio de possíveis transtornos recaía sobre Joana Simeão por na época o seu nome ter sido muito sonante na opinião pública moçambicana. Se reaparecesse no estrangeiro, certamente que iria complicar a vida dos guardas. Joana Simeão assegurou, então, que se manteria calada, e uma vez a salvo no estrangeiro adoptaria um outro nome como garantia de passar ao anonimato.
Tendo concordado que tudo ficaria no segredo dos deuses, os guardas dispararam alguns tiros ao acaso e depois instruíram os presos como deviam caminhar e comportar-se na densa floresta de Niassa. Iniciou assim a fuga dos três prisioneiros incómodos. Todavia. Joana ficaria para trás por não conseguir manter a passada" dos seus companheiros de cárcere. Como consequência disso, viria a ser recapturada dias depois.
Mas antes, regressados ao Centro, os quatro carrascos relataram os factos ao seu chefe - Bazuca - o qual, por sua vez, informou ao Comandante sobre o "pleno cumprimento" da Missão Joana. Sossegado, no dia seguinte, Mombola empreende então a viagem programada a Lichinga, na companhia de Bazuca para, entre vários afazeres, informar aos seus superiores hierárquicos acerca da execução da Dra. Joana Simeão e de outros dois prisioneiros.
Contudo, contrariamente às garantias dadas pêlos presos, as coisas no terreno complicaram-se. Um dos prisioneiros, conhecedor da mata e natural de Majune, uma vila situada a norte de M'telela, conseguiu lá chegar pedindo protecção a familiares seus. Estes imediatamente esconderam-no, para mais tarde tratar do seu envio para o Malawi onde residiam pessoas de família. Antes, porém, o antigo prisioneiro revelaria as atrocidades cometidas pelas autoridades em M'telela e as circunstâncias da sua fuga na companhia de Joana Simeão e de outro prisioneiro. Se bem que o homem não tivesse denunciado os guardas que lhe facilitaram a fuga, não evitou que a notícia se espalhasse entre os aldeões, chegando ao conhecimento das autoridades locais.
Notificadas as autoridades em Lichinga sobre o acontecido em Majune, Mombola, ainda mergulhado nos seus afazeres na capital provincial, foi posto ao corrente da situação pelo chefe provincial da CIM. Perante o choque inicial da notícia, e longe de imaginar que Bazuca fosse a pessoa que planificou tudo, o Comandante recorre a este para com ele estudar a forma de se livrar da situação. Igualmente alarmado, Bazuca apercebe-se da dimensão do problema que criou. Precavido, ciente do que lhe aconteceria se Mombola regressasse primeiro à M'telela, sugere ao comandante do centro que permaneça em Lichinga para ultimar os seus afazeres, e que ele regressaria de imediato a M'telela para acudir à situação. Tanto Mombola como o Chefe da CIM terão concordado com a ideia e deu-se instruções para que assim que chegasse ao Centro, Bazuca perseguisse os fugitivos. Aos infractores que deixaram escapulir os presos, devia-se-lhes "mandar cortar lenha", vituperou o chefe da CIM.
De regresso a M'telela, Bazuca move-se no sentido de evitar que o seu nome se associe ao plano da fuga. Age com cautela e rapidez. Fala em surdina com os outros chefes de pelotões que ficam estupefactos com a notícia. Informa-os sobre os passos à seguir, de acordo com as instruções que trazia. Numa missão silenciosa, os quatro carrascos foram imediatamente presos e não se lhes deu tempo para se explicarem, pois perante um quadro devidamente pintado por um homem de extrema confiança como o era Bazuca, a medida não sofreu qualquer suspeita dos restantes chefes de M'telela. Na calada da noite, os detidos foram levados para um local afastado e executados a golpes de baioneta desferidos por Bazuca e outros chefes de pelotões.
"Aqueles tipos morreram sem perceber porquê. Primeiro porque não lhes passou pela cabeça que um dos presos foi parar ao Posto administrativo de Majune. Segundo, como cada um deles foi amordaçado, tendo uma venda colocada sobre a vista, não era possível perceber quantas pessoas estavam a sua volta. Depois foram arrastados para sítios diferentes e mortos."50.
No dia seguinte a morte dos 4 guardas, iniciou a caçada aos fugitivos. Um grupo de cerca de quinze homens armados de kalashnicovs fizeram-se ao mato à caça dos fugitivos. A Dra. Joana Simeão viria a ser recapturada pouco tempo depois. Sozinha na mata de Majune, não conseguiu ir longe. Os guardas, ao avistarem-na, gritaram para que parasse. Por não obedecer à ordem, um dos guardas disparou, atingindo-a na mão direita. Meses depois seria sumariamente executada na companhia do Rev. Uria Simango e dos restantes prisioneiros políticos.
Cerca de uma semana após a execução dos quatro carrascos e da recaptura de Joana Simeão, Mombola regressou ao Centro tendo felicitado Bazuca pelo trabalho. Todavia, para as autoridades, os guardas de M'telela haviam vacilado. Era necessário imprimir uma maior rigidez na disciplina do Centro. Mombola regressou a M'telela com uma ordem severa para cumprir, e, aos chefes dos vários pelotões, viria a declarar:
" (...) o que aconteceu aqui é grave. Todos vocês sabem que isto não é brincadeira camaradas. Nós que somos responsáveis aqui podemos ser culpados e morrermos por brincadeiras de alguns desordeiros. Trago ordens que devem ser cumpridas, doa a quem doer. Todos aqueles que estavam de serviço naquele dia também sabiam do jogo. Os chefes em Lichinga disseram que é preciso punir severamente todos para servir de lição para que ninguém no futuro aceite mais ser comprado ideologicamente por estes reaccionários aqui:51 .
Dessa forma, os restantes quinze guardas de um pelotão de 20 homens comandados por Bazuca, morriam. Levados para o local da matança, foram todos executados.
Entretanto, eliminados os guardas, surgiu o problema de como se informar as esposas de alguns deles sobre o brusco desaparecimento dos maridos. A solução encontrada foi a de se liquidar não só as senhoras, mas também os filhos52.
Medida semelhante estava, ao que se diz, reservada aos filhos do Rev. Uria Simango. Depois de o ter mandado executar, o regime da Frelimo insistentemente endereçava convites aos filhos do casal Simango para que se deslocassem ao Niassa a fim de "visitarem" os pais. "0s meus tios disseram-me que, por duas vezes, apareceram na Beira, vindas de Maputo, pessoas das nossas relações familiares ligadas a Frelimo. Não vou dizer os nomes dessas pessoas. Diziam que o governo queria que nós fossemos visitar os nossos país em Niassa. Nunca falavam directamente comigo. Dirigiam-se aos meus tios e os tios nunca nos diziam nada porque éramos menores, para além de que se nos dissessem nós imediatamente passaríamos a viver imaginando sempre a hora da partida para Niassa e o reencontro com os país"*.
Desconfiados da "boa fé" do regime, os tios dos três rapazes sempre se opuseram. Tinham informações, vindas de outras pessoas ligadas ao poder, de que tais convites encerravam em si algo de sinistro, que culminaria com o desaparecimento dos filhos do casal Simango.
-"Arranjem-se como puderem, mas não deixem que os meninos sigam para Niassa porque de lá não mais regressarão com vida" – diziam.
Mas a uma dada altura a nostalgia provocada pela separação forçada da família ter-se-á apossado de forma dramática do filho mais velho do Reverendo Simango. O jovem optou então por arriscar, espantando a fera na sua toca. Nos fins de 1981, sem o conhecimento dos tios, Lutero escreveu uma petição ao então ministro residente na província de Sofala, solicitando-lhe que autorizasse a sua deslocação e dos irmãos a Niassa, a fim de visitar os pais. Numa reflexão retrospectiva, Lutero Simango acredita também numa possível existência de separação de poderes no seio da Frelimo daquela época, pois, segundo suas palavras, a existir um plano para os liquidar, ou o ministro residente não estava ao par dele ou, simplesmente, quis poupa-los. "De contrário, não faria o que fez"55.
Com efeito, em face da petição que lhe chegou as mãos, o então ministro residente mandou chamar o rapaz. Eis o que diz Lutero Simango:
" Quatro ou cinco dias depois de ter recebido a minha petição, logo de manhã cedo mandou um jeep militar lá para casa do tio Francisco onde eu vivia, no bairro do Esturro. Foram lá 4 militares bem fardados e armados com AKM's. Os meus irmãos viviam no Bairro do Vaz com o tio Elijah. Como o jeep chegou antes das sete horas, ao tocarem a campainha quem abriu aporta foi o tio Francisco que se preparava para ir ao serviço. Ao deparar com dois homens armados, o velho entrou em pânico. Mas os homens acalmaram-no. Disseram-lhe que não havia problemas nenhuns. Perguntaram muito civilizadamente se era naquela casa onde vivia o filho de Uria Simango. O meu tio disse que sim mas quis saber o que se estava passando. Os homens insistiram que não havia problemas nenhuns. Tinham vindo a mando de sua excelência levar o senhor Lutero para ir ao gabinete do governo, porque sua excelência queria falar com ele. Eu ainda estava na cama. Acordaram-me. E como o velho nada sabia da carta que eu havia feito, ficou mais baralhado. Preparei-me então para seguir com aqueles homens. Os tipos até me deixaram matabichar. Estavam todos atentos aos meus gestos e sorridentes. Acho que nunca tinham visto de perto um filho de um reaccionário!... Achavam graça me vendo comer. Depois saí com eles direitinho para o gabinete do ministro residente. Só que quando lá chego, quem me recebe não é o ministro. Foi o chefe do gabinete. O homem foi muito gentil também. Estava todo sorridente. Começou por oferecer-me um café que recusei. Depois disse que o ministro recebeu a minha carta e pediu-lhe que conversasse comigo antes de estar frente a frente com ele num encontro que se previa para a semana seguinte. Disse que o governo sabia que nós estávamos passando algumas necessidades. Que o camarada ministro deu instruções para disponibilizar uma casa recheada de mobílias e uma viatura para nos os três, etc., etc. Estavam dispostos a disponibilizar-nos uma mesada e garantir as necessidades escolares. Eu deixei-lhe falar e depois disse-lhe: ok, diga ao camarada ministro que eu aceito que o governo tome conta de nós e nos dê mundos e fundos. Mas há uma condição: Que tudo isso esteja aliado a preocupação número um, visitar os nossos pais. Que nos fosse permitido, nem que uma vez de seis em seis meses, visitar nossos país. De contrário, nada feito.
Ele disse que ia encaminhar a preocupação ao ministro. Só que nunca mais me contactaram e eu também não insisti, porque quando regressei a casa os tios estavam em alvoroço. Coitado do tio, nem foi trabalhar nesse dia. A tia Mazwiona, então, estava mergulhada num charco de lágrimas. Só parou de soluçar quando me viu a entrar. Contei-lhes o que havia feito. Nesse dia levei um bom puxão de orelhas e avisaram-me de que nunca mais queriam ouvir falar disso. Foi daí que passei a saber que já houve tentativas de levar-nos para Niassa, e tudo fora água abaixo porque outros diziam que isso significava morte certa. Isso aconteceu entre 1977 e 1978. Como eu não soubesse nada disso, durante as férias escolares de 1981, se a memória não me engana, fiz então a petição, sem conhecimento dos tios. No ano seguinte vim para a Universidade em Maputo. Nunca mais se falou do assunto, porque os tios voltaram a avisar-me que em Maputo eu tinha a missão de estudar e nada de me meter em coisas que podiam dificultar os meus estudos. Penso que eles já desconfiavam que os nossos pais estavam mortos."56.
Bazuca saiu limpo do esquema por ele montado, mas não viveria por muito mais tempo. Nos meados de Janeiro de 1982, eclodiu no Centro de M'telela um problema de índole passional. Uma das filhas do comandante Mombola, já suficientemente donzela para atrair a gula dos homens, seria o centro de gravitação de dois amores: o de Manuel Mapfavisse (Bazuca) e o do jovem operador de rádio de comunicações do Centro. Enquanto Mapfavisse se esgrimia em presentear a rapariga de bugigangas que trazia de Lichinga onde constantemente se deslocava em missão de serviço e em visita a sua esposa que já nessa altura vivia naquela cidade, clandestinamente, a donzela correspondia ao amor do jovem operador de rádio, fazendo de Bazuca um bobo contente. Bazuca sabia que apesar das suas aliciantes ofertas, quem efectivamente tirava proveito da beldade da rapariga era o homem das telecomunicações que, para além de ainda jovem e com boas perspectivas de vir a casar com a rapariga, era, por outro lado, mais culto literariamente do que ele. Bazuca não encontrava formas de se desembaraçar do jovem apaixonado.
Um dia, a esposa do comandante, vê, na calada da noite, um vulto a sair da janela que dava acesso ao quarto da filha. Alarmada com a situação, informou de imediato o marido o que acabava de presenciar. Ferido no seu ego, o casal Mombola entende então pôr a filha na "prensa", para que dissesse quem havia saído pela janela naquela noite. A menina nega pelas "cinzas dos seus antepassados" ter visto alguém. O assunto não morreu por aí. No dia seguinte ao acontecimento, Mombola pôs em formatura todos os guardas que não estavam de serviço na noite anterior. Deles procura saber quem andava a saltar das janelas das meninas na calada na noite.
Enquanto aguardava pela resposta, confidenciou o sucedido à Bazuca, um que se encontrava a seu lado. Este, sem perca de tempo, sentenciou:
"É o Radista" - referindo-se ao jovem operador de rádio:
Havia muito tempo que Bazuca andava desconfiado dos movimentos do rapaz. O operador de rádio foi assim arrastado da formatura e de seguida, severamente punido. Tudo ficou por aí.
Entretanto, a simples punição que consistiu em fazer buracos de dois metros de profundidade e tornar a tapá-los durante quatro dias consecutivos não agradou a Bazuca. O "radista" tinha que sair do seu caminho.
Numa das suas habituais viagens à Lichinga, Bazuca forja um documento, com carimbo e tudo, onde se lia que o "radista" devia ser fuzilado, porque, segundo dados em poder da Contra Inteligência Militar em Lichinga, o rapaz passava informações ao inimigo. No seu regresso ao Centro, Bazuca exibe a Ordem de Serviço a Mombola. Dada a autenticidade do documento, ao comandante nada restou senão executar a medida. Para alegria de Manuel Mapfavisse, aliás, Bazuca, o jovem "radista" foi executado, deixando-lhe livre o caminho para a rapariga em disputa.
Passaram-se semanas até que o comandante se deslocou a Lichinga, desta feita sem ser acompanhado de Bazuca. O jovem operador de rádio, fora, entretanto, substituído por outro, o qual, perante os insistentes pedidos de colegas em Lichinga, não ousava informá-los por via da rede de telecomunicações os pormenores do que ocorrera com o jovem colega. A notícia da liquidação do "radista" chegou a Lichinga por vias não claras. Os operadores de rádio naquela cidade faziam notar ao novo operador de M'telela que o assunto já constava da agenda do chefe provincial da CIM. De facto, assim que Mombola chegou a capital provincial, o chefe da CIM quis ouvir do comandante do campo de M'telela o que se passara com o jovem operador das telecomunicações daquele Centro. Mombola, perplexo e boquiaberto, apercebe-se de que algo não batia certo, pois que a execução daquele rapaz fora a mando daquele mesmo homem que agora o questionava. Não fazia sentido que o chefe local da CIM quisesse saber de histórias passadas. Decide-se a contar tudo e informa que agiu de acordo com a Ordem de Serviço vinda do gabinete do próprio chefe do CIM.
Em face do que acabava de escutar, o chefe da CIM aconselhou Mombola a manter-se calmo. Deu ordens para que Bazuca fosse chamado à Lichinga com a maior urgência possível.
Uma vez em Lichinga, Bazuca comparece no gabinete do chefe da CIM. A princípio não se apercebe de que havia algo de errado. Desperta quando viu o seu Comandante, de semblante pesado, a entrar e tomar lugar no gabinete sob ordens do chefe da CIM. Confrontado com a célebre Ordem de Serviço, Bazuca nada soube explicar. É imediatamente preso e encaminhado para as celas do comando provincial da CIM em Lichinga. Depois de se confirmar que a Ordem de Serviços havia sido forjada, e que afinal, a história da fuga de Joana Simeão havia igualmente sido por si esquematizada, Bazuca viria a morrer enquanto se encontrava sob detenção em Lichinga, ao que se diz, vítima de um golpe de baioneta espetada por um outro prisioneiro. O golpe, desferido do lado inferior esquerdo do pescoço, provocou-lhe morte instantânea e um certo alívio entre alguns dos seus colegas em M'telela que já andavam cansados das peripécias de Bazuca58.
"A partir da morte de Bazuca começou a desvendar-se muita coisa em torno dos seus segredos e da forma como Simango e outros presos foram mortos. Mombola, apesar de na altura ser o comandante do Centro, era um homem calmo. Era apenas obediente às ordens de Lichinga e não queria problemas para ele. Bazuca não. Esse inventava ordens dele e até aldrabava Mombola. Alguns até ficaram felizes quando se soube que ficou preso em Lichinga. Quando chegou a notícia da sua morte, então é que se pulou de alegria porque era daqueles que punia a torto e a direita lá no Centro. Alguns guardas tinham cicatrizes provocadas pelas punições dele e sempre que se envolvesse em problemas pessoais com pessoas em Lichinga, arranjava forma de trazê-las como presos em M'telela para maltratá-las. Quem me conta a história dele é um dos guardas lá de M'telela, pouco tempo depois que nos chegou a notícia da sua morte"59.
Precavendo possíveis transtornos por parte da esposa de Bazuca que certamente não tardaria a procurar saber junto da CIM em Lichinga das causas do silêncio do marido, e dado que esta não possuía filhos ou familiares próximos naquela cidade que pudessem reclamar o seu desaparecimento, a chefia da CIM entendeu "por bem" encaminhá-la à M'telela para visitar o marido "que estava passando alguns problemas de saúde!..."60. A senhora havia sido colocada na mesma palhota onde viviam Celina Simango e Lúcia Tangane. Foi executada no mesmo dia com estas duas.
Os responsáveis? Todos sabemos os nomes.
Mas que ligará M'telela a Wiriamu?
Vejemos o que escreve, em 1977, Inácio de Passos, residente em Tete, no seu livro "Moçambique a escalada do terror":
Um outro elemento da minha confiança — comandante de talabarte da Frelimo — era também meu confidente. Por ele tinha conhecimento dos resultados do trabalho de limpeza ao cérebro de que o Presidente Samora Machel estava a ser cobaia pelo grupo marxista do Partido, resultados que eram palpáveis nos seus discursos e nas suas atitudes. Esse comandante, que para sua segurança não divulgo o nome, alarmava-se de dia para dia com o procedimento dos dirigentes da Frelimo.
Como o comandante Machava, não representava nenhuma corrente política e ainda possuía em comum com ele o desejo de preservar a ordem social e barrar a evolução de Moçambique para o liberalismo e para a anarquia. Tanto um como outro declinavam a ocupação de papéis de executantes da verdadeira justiça que ambicionavam para Moçambique, e aguardavam com ansiedade o momento que lhes proporcionasse, como em 1964, colocaram-se inteiramente ao dispor do seu país, integrando-se sob o verdadeiro mando do povo.
Com ele falei sobre a Fumo. Com ele discuti, e nem sempre estávamos de acordo, sobre a Rádio África Livre. De tudo quanto lhe contava guardava segredo, pois sabia que o seu silêncio não era traição ao seu povo, pois traição às massas e ao Partido era o procedimento e as ideias dos actuais dirigentes. Mas também por ele tomei conhecimento de factos que sei que até hoje não foram por ninguém revelados.
Quem dirigiu os militares portugueses a Wiriamu, ao «massacre» que serviu de ponta de lança à propaganda anti-portuguesa, encetada com sucesso pelo padre Hastings?
Quem os guiou num pequeno «Volks Wagen», protegido por aperradas armas até ao acesso da picada e os acompanhou até ao local?
Quem assassinou, após o 25 de Abril, o seu serviçal, conhecedor do seu segredo, para que a sua criminosa atitude não fosse divulgada aos dirigentes da Frelimo?
O seu nome é Raul Frechaud Fernandes, primo carnal de Sérgio Vieira, um dos homens que dirige e automatiza Samora Moisés Machel.
— Mas a Frelimo não sabe isso? — interroguei-o.
— Eu próprio informei o comandante José Moiane e ele como comandante provincial não procedeu. O velho afirmou que atitudes antigas eram para esquecer. Eu creio que ele não quer tocar na família de Sérgio Vieira... — respondeu-me.
Raul Frechaud Fernandes, mestiço asiático, é dirigente do Departamento Distrital da Frelimo de Informação e Propaganda. Mas apenas ocupa esse cargo após a Independência. Possuía uma pequena cantina comercial de onde o povo de Wiriamu se abastecia. Desse povo veio a adquirir os meios de fortuna que hoje possui, pois lhe furtava o gado que vendia a militares portugueses em candonga.
Colaborou no assassinato do povo moçambicano que mais intimamente lhe esteve ligado mas hoje é um dos dirigentes do Partido. O povo, porém, sabe que os seus inimigos de ontem são os de hoje. São seus inimigos desde que as teorias e as atitudes do dr. Eduardo Mondlane foram silenciadas pelo deflagrar de um livro armadilhado.
Povo de Moçambique, acorda!
Fernando Gil

02-10-2004

Reconstrução da História de Moçambique

PUBLICO -02 de Outubro de 2004
Jorge Heitor
A trajectória política de um missionário presbiteriano que foi vice-presidente da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo) e depois acabou por ser fuzilado durante os primeiros cinco anos após a proclamação da independência do país é traçada por Barnabé Lucas Ncomo no livro "Uria Simango - Um homem, uma causa", recentemente editado em Maputo, onde tem provocado grande polémica.
Numa altura em que um dos filhos de Uria, Deviz, assume a presidência do município da Beira, a segunda cidade do país, eleito nas listas da Resistência Nacional (Renamo), principal força da oposição, os moçambicanos tratam de reconstruir a sua História recente, a destes últimos 50 anos, desde que alguns indivíduos começaram a pensar numa luta de libertação nacional, contra a colonização portuguesa.
A base fundamental do trabalho de Ncomo é a correlação de forças que se verificou durante a primeira dúzia de anos da existência da Frelimo, dominada pelas figuras de Eduardo Mondlane, de Uria Simango e de Marcelino dos Santos, este último ainda vivo, se bem que relegado agora para um papel de referência histórica.
A análise do xadrez político moçambicano nas décadas de 60 e 70 interessa sobretudo a todos aqueles que sempre gostaram de acompanhar o processo de emancipação das antigas colónias e para os quais não são de forma alguma desconhecidos os nomes de Amílcar Cabral, Viriato da Cruz, Agostinho Neto, Mário Pinto de Andrade e Aquino de Bragança.
Uria Timóteo Simango acabou por ser morto com a conivência de alguns dos seus antigos companheiros de jornada, acusado de reaccionário e de traidor à causa que todos unira, mas o biógrafo procura agora reabilitá-lo, no sentido de se rectificar a História oficial que em Moçambique foi contada durante este último quarto de século.
O reverendo era um homem da província de Sofala, no centro do país, tal como Afonso Dhlakhama, o actual chefe da Renamo, de modo que entrou facilmente em conflito com a elite sulista, designadamente da província de Gaza, que em 1969 ou em 1975, para já não dizer mais tarde, se assenhoreara da Frelimo, transformando-a num movimento que não tinha igual implantação em todo o território nacional.
Ou, dito de outra maneira, a clique meridional é que o teria isolado e votado ao ostracismo, nas lutas internas que tantas vezes ocorrem nos movimentos políticos e que chegam a ter consequências trágicas. São os meandros sujos da política, que nem sempre é feita com dignidade; e que nesta altura está uma vez mais bastante viva em Moçambique, quando se aproximam as presidenciais e as legislativas de Dezembro.

26-09-2004

Alberto Chipande conta como foi o ataque ao Chai

No link abaixo poderá ouvir Alberto Chipande a descrever o ataque ao Chai, em 25 de Setembro de 1964

24-09-2004

ESPECIAL – 25 de Setembro 1964

DIALOGANDO
por João CRAVEIRINHA
joaocraveirinha@yahoo.com.br
A Propósito de Chai ou Onda de Ressentimento Colonial?
Much Ado About Nothing – Tanto Tumulto por Nada (peça de William Shakespeare, Poeta e dramaturgo inglês – 1564/1616)
Ultimamente em Moçambique e em certos meios portugueses em Portugal (obviamente) e no mundo, tem surgido o questionar da veracidade do início da luta armada de Libertação Nacional em 25
Setembro 1964 como que a retirar toda a legitimidade Histórica da efeméride. A questão nos moldes em que tem sido abordada torna-se perigosa em termos de identidade nacional sobretudo para as
gerações das crianças moçambicanas futuros adultos da Nação.
Todos sabem que os americanos apoiaram o colonialismo português dentro da perspectiva do combate ao dito “terrorismo” africano. Por tal se torna insuspeita qualquer análise militar americana quando esta confirma o ataque a CHAI. As Forças Armadas americanas através da sua espionagem militar estavam informadas pelo próprio exército português do que se passava no terreno…” Atentamente a D.I.A – Defense Intelligence Agency – a contra inteligência militar norte – americana (e o G.R.U – contra inteligência militar soviética dos russos) …acompanhavam os movimentos de libertação africanos devido à movimentação de armamento de guerra para Tanzânia e Zâmbia. São as ligações perigosas dos tempos da guerra-fria (quente)!”…in DOSSIER (5) TOUPEIRAS NA FRELIMO; A PIDE, A CIA, O MI 6, O KGB – crónica publicada em 2003/2004, de autoria de João Craveirinha.
No texto de hoje temos uma fonte insuspeita de um analista militar – o Major Lance S. Young da USAF (Força Aérea norte - americana) no seu estudo “Mozambique's Sixteen-Year Bloody Civil War - CSC 1991”-, Os Dezasseis Anos da Sangrenta Guerra Civil de Moçambique (em inglês americano): …”On 25 September 1964, FRELIMO solders, with logistical assistance from the surrounding population, attacked the administrative post at Chai in Cabo Delgado Province. This raid marked the beginning of the armed struggle against the colonial regime. FRELIMO militants were able to evade pursuit and surveillance by employing classic guerrilla tactics: ambushing patrols, sabotaging communication”… (5:84)”… - AUTHOR Major Lance S. Young, USAF - CSC 1991, (link)…
…http://www.globalsecurity.org/military/library/report/1991/YLS.htm
Tradução livre: (Em 25 Setembro 1964, soldados da FRELIMO, com assistência logística da população vizinha, atacaram o posto administrativo de Chai na Província de Cabo Delgado. O ataque marcou o início da luta armada contra o regime colonial. Os militantes da FRELIMO foram capazes de levar a cabo acções de reconhecimento, perseguição, evasão, empregando tácticas de guerrilha clássica: emboscando patrulhas, sabotando comunicações)
… Mais adiante: …” and making hit-and-run attacks against colonial outposts before rapidly fading into accessible backwater areas”... (e efectuando ataques de bate-foge contra os postos avançados coloniais e rapidamente desaparecendo por entre as terras acessíveis em água) … Mais adiante o “military report” enfatiza que: -
…”At the war's outset, FRELIMO had little hope for a military victory; its hope lay in a war of attrition to compel a negotiated independence from Lisbon. The goal of FRELIMO was to make the war so costly that eventually Portugal would withdrawl, a goal made difficult by loans from the United States and West Germany and arms from NATO to Portugal.(4: 187)”…
Tradução: (No princípio da guerra, A FRELIMO tinha pouca esperança numa vitória militar; a sua esperança residia numa guerra de desgaste compelindo Lisboa a negociações para a independência.
O objectivo da FRELIMO era o de tornar a guerra tão dispendiosa forçando eventualmente Portugal a retirar-se, um objectivo difícil de atingir devido aos empréstimos [financeiros] dos Estados Unidos e da
Alemanha [Federal] e em armas através da OTAN a Portugal). O relatório realça o facto de apesar de não ter havido derrota militar, os custos muito elevados financeiros e em vidas, custaria a guerra a
Lisboa. …” But the expense in blood and treasure, notmilitary defeat, cost Lisbon the war; its army was never destroyed on the battlefield, although some of its officers were converted to FRELIMO's revolutionary social goals for Portugal.(4:187&188)”…e termina afirmando que o exército [português] nunca foi derrotado no terreno, no entanto, alguns de seus oficiais convertem os objectivos da revolução social da FRELIMO para Portugal”...(fim de tradução).
Num “saite” foi encontrado este texto proveniente de um ex – soldado colonial indígena de Portugal, utilizando o pseudónimo de Salimo… (refere-se a artigo na Internet que questiona a versão oficial do 25 Setembro 1964 em CHAI e do relatório do ARPAC) … Excertos sem correcção do português …”Alô malta. Este artigo é oportuníssimo. A mim não me surpreende nada, absolutamente nada. Aliás, não surpreende a ninguém, sobretudo a quem esteve a prestar serviço militar nas zonas de guerra ou guerrilha, como lhe queiram chamar.
Por acaso estive na zona de Macomia, Salima, Muaguide, etc., etc., junto à Serra Mapé, quando fui militar. Fui operacional e sei do que falo, fazia em média 3 operações por mês e várias picagens
(detectação de minas) por mês. (Por pura coincidência, no próximo dia 04 vai haver, em Évora, [Portugal] um encontro dos militares que estiveram em Muaguide). A Frelimo, militarmente, não era grande coisa, não fossem as minas (....) A Frelimo, militarmente, tendo em conta os apoios dos Russos e Chineses (incluindo homens e mulheres no território) e a boa qualidade deequipamento militar que possuía, além de conhecerem muitíssimo melhor o "terreno que pisavam" e da habituação do clima, tinha por obrigação de ter feito
muito mais do que fez. A meu ver, respeitando opinião contrária, a Frelimo como força militar era umZERO. Não havia militar que se aproveitasse, a começar pelos generais da Frelimo e a acabar nos
guerrilheiros. Se em 1964no tal ataque que a Frelimo diz ter morto "meio-mundo" e que afinal, segundo o relato de quem lá esteve, mesmo que com a idade de 8 anos, não morreu ninguém e que só houve uma rajada e a fuga, … Salimo” (?!)… (Tanto disparate! SEM
COMENTÁRIOS! FIM).
VERTICAL-24.09.2004

23-09-2004

Será que a verdade do 25 de Setembro de 1964 será reconhecida em 2004?

Independentemente do valor simbólico da data – 25 de Setembro de 1964 – será que Alberto Chipande repetirá neste ano de 2004 o que escreveu no seu relatório:
O polícia veio e estacionou à porta da casa do chefe de posto, sentado numa cadeira. Era branco. Eu aproximei-me do polícia para o atacar. O meu tiro era o sinal para os outros camaradas atacarem. O ataque teve lugar às 21 horas. Quando ouviu os tiros, o chefe de posto abriu a porta e saiu — foi morto por um tiro. Para além dele seis outros portugueses foram mortos no primeiro ataque. A explicação dada pelas autoridades portuguesas foi «morte por acidente». Retirámos. No dia seguinte fomos perseguidos por algumas tropas — mas nesse momento já estávamos longe e não nos encontraram (').
(1) Mondlane, Eduardo, The struggle for Mozambique, p.15"
Ou será que repetirá o que em 2003 afirmou à BBC inglesa:
Alberto Chipande, hoje general na reserva, foi o autor do disparo que marcou o início da luta pela independência.

CHIPANDE: ... o primeiro grupo que entrou em Cabo Delgado, 1964, para iniciar a luta na província de Cabo Delgado.

Ao mesmo tempo, foi o meu grupo que tinha essa missão de ir atacar Porto Amélia, mas como as condições não foram favoráveis, calhou que no dia 25 de Setembro eu fizesse o combate em Chai. Eu fui o comandante. Precisamente pelas 20 horas do dia 25 de Setembro de 1964.

BBC: General, quantos elementos faziam parte do seu grupo?

CHIPANDE: Nesse dia, quando atacámos, nós éramos um grupo de 12 pessoas que atacámos o Posto de Chai.

BBC: Estão todos vivos?

CHIPANDE: Alguns estão vivos e alguns já faleceram durante o tempo da luta armada e outros após a independência.

BBC: Depois de terem atacado o Posto de Chai, como é que foi a retirada? O que é que aconteceu depois?

CHIPANDE: Quando eu disparei o primeiro tiro que atingiu ao sentinela que estava ali atrás, que guarnecia a casa do chefe do posto, os meus colegas, um dos meus colegas abriu fogo directamente para o chefe de posto que caiu logo em frente. E começámos então o ataque. Depois do ataque, que durou aproximadamente uns minutos, eu dei o sinal de recuo e todos recuámos. Não perdemos nenhum do nosso lado, nem ferido, e ao mesmo tempo não perdemos nenhum material.
Ou será que seguirá o que a comissão da ARPAC “descobriu”:
Ensina-nos a História da Frelimo que no desencadeamento da Luta Armada de Libertação Nacional, na noite do dia 25 de Setembro de 1964, foram mortas, pelo menos, duas pessoas, nomeadamente o Chefe do Posto Administrativo Colonial de Chai e o sentinela que guarnecia a residência do Chefe do Posto.
Alberto Joaquim Chipande, o autor do primeiro tiro dado no Chai naquela noite, tem vindo a afirmar e a reafirmar o que os livros da Frelimo ensinam sobre as consequências do primeiro tiro rumo à libertação.
Porém, hoje, quarenta anos depois, tudo indica que essa história do primeiro tiro não está lá muito bem contada, ou, pelo menos, não parece haver consenso sobre as consequências desse primeiro tiro, a julgar pela recente pesquisa levada a cabo pelo ARPAC (Arquivo de Património Cultural), instituição do Estado subordinada ao Ministério da Cultura.
De acordo com essa pesquisa, baseada em 35 entrevistas a pessoas “idosas e nativas de Chai” durante o ataque dos guerrilheiros da Frente de Libertação de Moçambique “nenhuma pessoa foi morta”.
“Uma semana depois do ataque, houve sim, uma morte. Tratou-se do cunhado do Chefe do Posto que, quando regressava do rio Messalo à busca de água de viatura, caiu numa emboscada” , refere o documento do ARPAC citado pela última edição do jornal “Horizonte”publicado na cidade de Pemba.
Em relação a esta morte posso acrescentar e esclarecer:
O Chefe do Posto à data do ataque chamava-se Felgueiras e estava com a família lá. Na hora do ataque não estava no posto pois tinha ido ao Messalo com 2 polícias e varios cipais. Só ficou no posto um polícia branco e vários cipais. Também lá moravam funcionários do posto, o Pinheiro e o Brandão, mais a família Alves. O enfermeiro chamava-se Tivane. O Cozinheiro era o Amade.
O Felgueiras pediu ao Governador para sair e foi temporariamente substituí-lo o Dias de Macomia. Talvez uma semana depois foi o Fonseca lá colocado que levou a mulher. Vindo de Portugal estava com eles o cunhado deste que foi quem, não uma semana, mas cerca de 3 semanas depois, foi morto quando passava junto ao Rio Messalo vindo do Monte Oliveiras. Vinham 3 pessoas no Jeep e ele ia no meio. As outras duas nada apanharam e ele levou um tiro entre os olhos, vindo a falecer já depois de evacuado.
Assim não foi o cunhado do Chefe do Posto da altura que foi morto, mas o cunhado do que o veio substituir.
Fernando Gil
Nota: Visite http://www.macua.org/chai25092003.htm

16-09-2004

Aproxima-se o 25 de Setembro

Para recordar o que em 2003 foi escrito sobre este assunto, convido-vos a visitar
na sequência da notícia publicada em

15-09-2004

Parece que finalmente em Moçambique alguém reconhece ninguém ter morrido no ataque ao CHAI

Chai2p
Chai1p
ZAMBEZE - 09.09.2004
Salomão Moyana
Ensina-nos a História da Frelimo que no desencadeamento da Luta Armada de Libertação Nacional, na noite do dia 25 de Setembro de 1964, foram mortas, pelo menos, duas pessoas, nomeadamente o Chefe do Posto Administrativo Colonial de Chai e o sentinela que guarnecia a residência do Chefe do Posto.
Alberto Joaquim Chipande, o autor do primeiro tiro dado no Chai naquela noite, tem vindo a afirmar e a reafirmar o que os livros da Frelimo ensinam sobre as consequências do primeiro tiro rumo à libertação.
Porém, hoje, quarenta anos depois, tudo indica que essa história do primeiro tiro não está lá muito bem contada, ou, pelo menos, não parece haver consenso sobre as consequências desse primeiro tiro, a julgar pela recente pesquisa levada a cabo pelo ARPAC (Arquivo de Património Cultural), instituição do Estado subordinada ao Ministério da Cultura.
De acordo com essa pesquisa, baseada em 35 entrevistas a pessoas “idosas e nativas de Chai” durante o ataque dos guerrilheiros da Frente de Libertação de Moçambique “nenhuma pessoa foi morta”.
“Uma semana depois do ataque, houve sim, uma morte. Tratou-se do cunhado do Chefe do Posto que, quando regressava do rio Messalo à busca de água de viatura, caiu numa emboscada” , refere o documento do ARPAC citado pela última edição do jornal “Horizonte”publicado na cidade de Pemba.
Quando esse relatório do ARPAC foi apresentado num seminário em Pemba, no passado dia 31 de Agosto, a reacção de alguns antigos combatentes foi de previsível fúria: “É uma grave ofensa histórica afirmar que no ataque de Chai ninguém morreu no dia 25 de Setembro de 1964. Esse relatório é medíocre e superficial pintado com aparentes cores políticas contemporâneas tendentes a deturpar a verdadeira história do povo moçambicano”.
Dentre as 35 pessoas entrevistadas pelo ARPAC figura o então cozinheiro do Chefe do Posto de Chai, identificado pelo único nome de Amade, o qual afirmou, igualmente, que o seu patrão não morreu naquele ataque.
Independentemente das lacunas que possa ter, a pesquisa do ARPAC tem o mérito de indagar uma “verdade absoluta”, um tabú da nossa História. Ao trazer à ribalta novos dados que questionam a história oficial, o ARPAC está a iniciar uma longa e penosa jornada ao passado recente, acto esse capaz de levar os moçambicanos mais corajosos a fazer outras e mais profundas indagações sobre muitas inverdades históricas tidas como “verdades absolutas”.
É oportuno que as revelações do ARPAC vieram num período em que se procura reflectir sobre os últimos quarenta anos da nossa História, oportunidade que os cientistas sociais moçambicanos deveriam aproveitar para vasculhar os arquivos coloniais a fim de constatar se no dia 25 de Sdetembro de 1964 teria morrido no Chai o respectivo chefe do Posto. Pensamos que se trata de uma verdade fácil de constatar, uma vez que os portugueses registavam os óbitos dos seus funcionários públicos.
O que não podemos aceitar é passarmos a vida a ensinar factos duvidosos aos nossos filhos para, quarenta anos depois, dizermos que “parece que as coisas não são bem assim”.
Isso é uma pesada responsabilidade académica mas também política de quem, deliberadamente, conta uma “História conveniente” só para aumentar a sua alegada heroicidade.
Factos são factos e não devem ser ficcionados. Factos devem ser recolhidos e contados como factos. Uma coisa é factos, outra coisa é a sua interpretação. Não se deve dizer que alguém morreu quando está vivo. Nem se deve dizer que está vivo quem morreu.
Contar a verdade dos factos não diminui a heroicidade nem mérito de quem fez a luta de libertação nacional. Antes pelo contrário, a verdade engrandece o mérito e a heroicidade dos combatentes.
Por outro lado, devemos saber reagir a novos dados históricos. Não devemos ter, sempre, uma atitude corporativa e clubista de que quem conta uma versão diferente é porque “visa deturpar a história do povo moçambicano”, como se tal História fosse um conjunto de dogmas imutáveis. A História, seja ela do povo moçambicano ou do povo chinês, é uma construção social permanente e nunca uma coisa acabada e fechada, propriedade de um clube dos bem entendidos. A História é propriedade do povo e é o povo que está a dizer que no Chai não morreu ninguém no dia 25 de Setembro de 1964, o que põe em causa a versão “conveniente” que foi difundida ao longo dos últimos quarenta anos.
Qual é o papel e a função daqueles doutores em História que estão no Ministério dos Antigos Combatentes? Arranjar argumentos “científicos”para validar convicções individuais de cada dirigente que conta a “sua história de libertação nacional”? Ou questionar, analisar criticamente e sistematizar os dados históricos factuais sobre o processo de libertação nacional?
Já o livro sobre Uria Simango, baseado em entrevistas de alguns combatentes ainda vivos, constitui uma dura bofetada na cara dos nossos historiadores da libertação nacional, os quais antes deste livro nunca disseram que Uria Simango não foi aquilo que se dizia que tinha sido.
Acreditamos que os novos dados sobre o Chai venham a catalizar um necessário debate público com vista a encontrarmos a verdade sobre a nossa História. Isso é tão necessário quanto urgente para que da longa desinformação passemos à informação correcta aos cidadãos a fim de os capacitar a participar conscientemente no processo público de tomada de decisões.
Esse é o objectivo supremo do sistema democrático!
Nota: Fotos tiradas pelo responsável deste blog, durante um "banja" algum tempo depois do ataque.

08-09-2004

DESCOBRIMENTO E COLONIZAÇÃO *

VERTICAL - 08.09.2004
A opinião de: Armando Chingore
Segundo ensinamentos dos colonizadores portugueses nas escolas primárias, nós, moçambicanos, fomos descobertos por Vasco da Gama nos finais do século XV. O aspecto que cada um de nós tem e terá de considerar nesta afirmação é a palavra "descobertos", empregada pela maior parte dos historiadores europeus e euro-americanos, que merece várias discussões entre os historiadores do Terceiro Mundo, particularmente, africanos. Eles não a utilizam em relação a si próprios, em relação a sua história, por se tratar de elementos humanos.
Qual seria, por exemplo, a reação do alemão se nós reescrevêssemos que ele foi descoberto pelo italiano ou pelo turco, ou que o holandês foi descoberto pelo espanhol? A palavra "descoberto" é utilizada pelos mesmos historiadores nas ciências naturais em relação a coisas e não a pessoas, o mais correcto. Diz-se descobrir uma fórmula, descobrir um continente; quando se trata de seres humanos, de um povo e de uma civilização, a palavra apropriada seria "encontrar".
Quando se anda na rua, com ou sem destino certo, não se descobre uma pessoa, embora ela nunca tenha sido vista anteriormente. Ela encontra-se ou conhece-se. Utilizam a palavra "descoberta" intencionalmente querendo negar a história e com ela a civilização e inteligência a estes povos ditos "descobertos"! Nós, os moçambicanos, do mesmo modo que os angolanos, os guineus, cabo-verdianos, são-tomenses, todos os povos de África e do Terceiro Mundo, não fomos descobertos, e se não fomos, foi porque somos parte da inteligência, porque temos história e, consequentemente, formamos civilizações. Foi esta atitude dos colonizadores que, negando a existência de história e civilização dos povos oprimidos, tentaram e tentam no oposto apresentando-nos como desprovidos de "inteliegência", história e civilização.
Tentaram e tentam monopolizar todos esses elementos e factores comuns a todos os seres humanos, implantando a divisa de o ser "branco" é sinónimo de ter história, ser inteligente, ter cultura e civilização, com o fim de nos subjugarem. No nosso país, historiadores, políticos, intelectuais, comentadores e singulares formulam as suas opiniões. Historicamente é o que toda a gente sabe. A ocupação colonial não foi pacífica. É um facto. Também a descolonização não está a ser pacífica, muito menos fácil. As consequências deste "complot" organizado são várias e muito mais graves do que cada um de nós pensou até hoje. Uma das consequências imediatas tem a ver, a cima de tudo, com a ameaça que rodeia a existência da nossa identidade africana.
Falar de identidade africana em Moçambique, em Angola, em Guiné, em Cabo Verde, em São Tomé ou qualquer outra parte do continente africano, não é mais do que falar da sua língua, não se pretendendo unicamente frisar o conjunto de sons, mas também a sua cultura, as suas instituições políticas e sociais, a sua religião, magia e tudo o que esteve e está ligado à maneira de viver dos nossos antepassados.
A maneira de garantir a sua existência poderemos encontrá-la na nossa história, desde que os nossos povos tiveram que se opôr e lutar contra a infiltração religiosa, militar, económica e cultural dos colonialistas. Esta resistência encontra-se personificada hoje em dia, na luta do povo africano, em volta de governos revolucionários e da União Africana com que sonham os grandes líderes e os melhores filhos de África, tais como: Patríce Lumumba, Kwame Nkrumah, Eduardo Mondlane, Amilcar Cabral, Samora Machel, Julius Nyerere, Seretze Kama, Sédar Senghor, Gamal Nasser, Kenneth Kaunda, Nelson Mandela, etc.. Outra consequência é terem conseguido influenciar um grupo de africanos a seu favor. Por isso, muitos africanos pensam que sem os nacionalistas a África vai desaparecer e com ela os africanos. Na verdade, não é a África e os africanos mas sim os colonialistas e a sua cultura. Porque com a civilização europeia, muitos africanos passaram a ter os pés em África e a cabeça na Europa e America. Estudantes que se vão formar e nunca regressam, alegadamente, por falta de condições, magros salários, etc.. Esquecendo-se que quando os colonialistas chegaram, pela primeira vez, a Sofala, foram bem recebidos pelo povo e pela autoridade local que lhes permitiu a fixação numa feitoria. Sem falar de Inhambane que ficou conhecida como "Terra de Boa Gente". O que contrasta com que muitos defendam que a religião dos europeus é a única defensora e detentora da moralidade em África. Servindo-se do método psicológico da igreja aterrorizava e aterroriza o povo inculto com o inferno, o demónio, e outros "papões" por elas inventados, para afastá-los das suas crenças, tradições culturais e outras manifestações. Hoje, assistimos igrejas que proibem os seus crentes a recorrerem à medicina tradicional, em caso de doença, considerando-a como práticas do diabo ou demónio. Outras ainda, proíbem aos seus crentes em receber assistência médica, transfusão de sangue, etc.. Este é o poder moral que herdamos dos colonialistas.
A civilização de Mwenemutapa atingiu o período mais elevado do seu desenvolovimento entre os séculos XIV e XV, mesma altura em que os portugues chegaram a Moçambique.
Economicamente o reino vivia, predominamente, de agricultura, até hoje, que os nossos jovens não querem abraçar influenciados pelas perícias da globalização. Variados cereais, frutas, vegetais e criação de gado, aves domésticas e uma pequena indústria caseira. Paralela a esta, existia a indústria e comércio mais desenvolvidos, a extracção mineira, o trabalalho do metal, tais como: o cobre, o ouro, a prata e bronze, detinados ao fabrico de instrumentos utilizados na lavoura, uso caseiro e ourivesaria. Também existia uma indústria de cordoaria e fabrico de tecidos de algodão, curtimento de peles.
A caça era e continua a ser uma outra fonte de riqueza, fornecimento de carne, obtenção de pele e marfim. O marfim, o cobre e outros metais preciosos destinavam-se em grande parte à exportação. Os moçambicanos já tinham contacto com outros povos e culturas. Os colonialistas destruíram tudo o que os africanos construíram, em particular, moçambicanos ao longo da sua existência. Desde as relações comerciais estabelecidas pelos árabes, de igual para igual, que as grandes potências teimam em não aceitar. Na área das construções, as murralhas do Zimbábwè mostram o alto nível tecnológico que os colonialistas encontraram. A presença europeia fechou o frutífero comércio com o oriente e verificou-se, então, a consequente decadência económica. Fomos obrigados a enterrar algumas minas de ouro, ao nos apercebermos da cobiça desenfreada que o ouro despertava nos europeus, o que significou um retrocesso no desenvolvimento do país, do continente e da região austral, em particular. Com a proclamação da Independência Nacional e a fuga precipitada dos colonialistas, provámos mais uma vez que ainda mantemos os conhecimentos suficientes de desenvolver o nosso país sem necessidade de intervenção externa.
A imoralidade que assola o nosso país e o continente não se deve ao curto espaço que as igrejas ficaram inactivas em Moçambique. A imoralidade existe na população, há séculos foi destruída por aqueles que distribuem armas às crianças, transformando-nas em crianças soldados, sentido-se superiores perante seus pais, tios, avós, até matá-los quando lhes apetece.
Mesmo as igrejas não escaparam a esta destruição. As independências políticas dos países do Terceiro Mundo e africanos em particular, são um passo para a reconquista da sua identidade. A perpetuação é o único factor que, baseando-se na luta e na libertação do jugo colonial, tem de ser visto mais em função do futuro. Neste caso, dependerá da consciencialização das massas, da unidade na luta e do esforço de cada um de nós em querer, torná-la imortal. Não será somente dependente de um governo só, de um partido, mas, acima de tudo, da participação de cada um de nós, para esta causa primordial e comum. A igreja contribui muito para a perpetuação da pobreza, em países do Terceiro Mundo, em particular, ao difundir "Bem aventurados aos pobres porque deles é o reino dos Céus". Enquanto os europeus acumulavam riquezas e continuam a melhorar condições de suas vidas, o africano é ensinado que está neste planeta de passagem, que não se preocupe com a vida material, o importante é alcançar o reino de Deus, onde os ricos não entram! Será que toda a Europa vai para o inferno? Porque o número de pobres é muito menor em relação aos ricos que não podem entrar no céu. Aliás, já o primeiro Presidente do Kenya, Jomo Kenyatta, que nunca foi simpatizante do comunismo dizia: "Quando os brancos chegaram à África, nós tinhamos a terra e eles traziam a Bíblia, hoje nós temos a Bíblia e eles ficaram com a terra". A África nunca foi pobre, mas sim foi empobrecida e vai continuar por muito tempo, pois a democratização e a globalização não estão prontas a vestir como muito de nós pensamos, trazem consigo muita coisa oculta!
* Título da responsabilidade do "vt"

7 Setembro 1974 – como tudo começou

CORREIO DA MANHÃ (Maputo) - 08.09.2004
TRIBUNA
Coluna de João CRAVEIRINHA
email: craveirinhajoao@mail. pt
… 1- Quem são os Dragões da Morte de Moçambique? Somos uma organização clandestina de todas as raças e credos, naturais de Moçambique (…) e temos o fim de pôr termo às guerrilhas (…) e pôr termo às conversações com a FRELIMO, nem que tenhamos que começar a fazer TERRORISMO URBANO, para fazer calar os inconscientes que dão vivas à FRELIMO…(in Boletim Informativo nº1 dos Dragões da Morte de 13 Agosto 1974, Lourenço Marques).
Introdução:
O bem sucedido golpe militar do 25 de Abril de 1974, em Portugal, surpreenderia tudo e todos em
Moçambique quer a portugueses quer a moçambicanos ainda não conscientes dos ventos de mudança em África. Muita gente daria uma reviravolta de 360º pretensamente se assumindo como frelimista. Desse período, Abril a Setembro, em Moçambique ainda ocupado pela administração portuguesa, surgiriam em frenesim várias facções de grupos políticos perfilando-se para uma (utópica) PARTILHA do PODER com a FRELIMO, único interlocutor privilegiado no Diálogo com PORTUGAL pós 25 de Abril 1974. Antigos fundadores da FRELIMO e dissidentes, como o reverendo Uria Simango, Paulo Gomane e outros regressam a Moçambique instalando-se na Beira e Lourenço Marques.
Em meados de Maio para Julho 1974 o Dr. Almeida Santos chega de Lisboa em nome do Governo português. Nessa altura teria prevenido o seu amigo António Vaz (antigo director da PIDE /DGS até 1972) para sair de Moçambique o mais depressa possível visto a iminência de eventual prisão. O amigo comum, o Engº Morgado, daria o recado a António Vaz na Companhia de Cimentos onde era director, possibilitando assim a sua fuga via África do Sul depois de contacto com a polícia boer sul-africana. Em 1968/69 o
inspector goês Casimiro Monteiro (da PIDE) teria preparado a morte do Dr. Eduardo Mondlane.
Por essa altura Antº Vaz era director da PIDE/DGS, na “Vila Algarve”, em Lourenço Marques.
A Rebelião branca
Segundo ainda relatos, ao fim da tarde de sexta-feira, 6 de Setembro 1974, na baixa da cidade de Lourenço Marques, avenida da República hoje 25 de Setembro, circularia uma carrinha levantando bem alto a bandeira da FRELIMO em contra – partida arrastando toda esfarrapada a bandeira portuguesa pelo alcatrão da estrada. Transeuntes brancos ao assistirem esta cena revoltam-se perseguindo a carrinha destruindo esta e seus ocupantes rasgando em tiras a bandeira da FRELIMO erguendo triunfalmente num pau a bandeira portuguesa. De pronto a palavra de ordem circula como um rastilho e a comunidade europeia concentra-se na baixa buzinando os automóveis em caravana cantando o Hino de Portugal e espalhando-se por toda a Lourenço Marques. Contra a corrente, três carros com estudantes universitários brancos, sobretudo, surgem do nada na baixa, em provocação, exibindo cartazes com a foto de Samora Machel. Acusados de traidores, de imediato seriam perseguidos pela turba exaltada refugiando – se no jornal Notícias e Tribuna na rua Joaquim Lapa. As viaturas dos estudantes seriam destruídas e apedrejados os vidros e portas das instalações do edifício dos jornais onde se refugiaram e arremessadas granadas de
mão para a entrada. Como um rastilho a onda de “fervor” patriótico português anti – independência
e anti pretos terroristas da Frelimo cresce por toda a cidade branca. Entre outros, os alvos são
a Associação Académica, o RCM – Rádio Clube hoje RM. A caravana de automóveis em protesto dirige-se à Ponta Vermelha no Governo-geral onde quase uma centena de viaturas encontra-se bloqueada por jipes da Polícia de Choque da PSP chefiada pelo coronel Cunha Tavares. Reina enorme agitação na cidade e subúrbios. Ninguém consegue dormir. Sábado à tarde, 7 de Setembro, a bandeira da Frelimo hasteada na RCM é retirada e substituída pela bandeira portuguesa. A Rádio é tomada pelos revoltosos brancos. Aos microfones da RCM, Gomes dos Santos do grupo colonial FICO apela à adesão dos “BONS CHEFES
NEGROS”. Os DRAGÕES da MORTE dos irmãos Mesquitelas da Matola (filhos do deputado português Dr. Gonçalo Mesquitela) organizam a resistência armada anti – FRELIMO.
MAFALALA
Durante o período das conversações em Zâmbia, multiplicavam-se os comícios no Estádio Salazar (Machava). Sábado, 7 de Setembro em “Lussaca” a FRELIMO e PORTUGAL chegam a um Acordo para uma Transição de Moçambique à Independência a 25 de Junho de 1975. O bairro da Mafalala surge toda decorada com bandeiras da FRELIMO. Os boatos circulam de que há guerrilheiros da FRELIMO no bairro. Crê-se que os Dragões da Morte organizam os ataques aos subúrbios. Na MAFALALA a residência de Nuno Caliano da Silva é transformada em Quartel-General ou “Base Galo (amanheceu) ”. A família Caliano dirige todo o processo de acolhimento de “refugiados” vindos da cidade branca da elite da Polana. A maioria,
brancos da esquerda gorda, chega aterrorizada à casa dos Calianos. Teresa, a esposa de Nuno Caliano, seria uma verdadeira e incansável Mãe Coragem.
Perseguido, o poeta José Craveirinha, responsável de uma célula clandestina da FRELIMO, refugia-se em casa da cunhada no interior da Mafalala com sua esposa Maria. Seu filho mais velho, Stélio Newton (a terminar o serviço militar português), apresenta-se ao seu destacamento de Engenharia militar como voluntário enviado para defender o Aeroporto de Mavalane. Suspeita-se da chegada de mercenários madeirenses vindos da África do Sul em apoio aos Dragões da Morte.
O filho mais novo do poeta, Zeca Craveirinha, é um dos vigilantes (desarmados) da Mafalala. O efeito psicológico prevalece e as cantinas da Mafalala poupadas. Reina alguma harmonia multiracial graças à organização cívica do bairro. Todavia alguns Dragões da Morte (ex-Comandos e GEP’s etc.), patrulhariam em particular a Mafalala “procurando turras ou terroristas” da FRELIMO entrando pela rua da Guiné. Isaías Tembe, o único com uma G3 (que não sabia manejá-la), é ferido e capturado pelos Dragões da Morte na Mafalala.
Em Lourenço Marques colonos portugueses e naturais (brancos) mais extremistas entram aos tiros pelos subúrbios atingindo muito cidadão negro e mestiço desprevenido. Centenas de feridos e mortos.
… “Galo… Galo Amanheceu”… – A partir de 10 de Setembro a situação altera-se com a palavra de ordem pró-FRELIMO lançada pelo ex-comando colonial, o mestiço Aurélio Lebon, a partir dos microfones da Rádio Clube de Moçambique recuperada. Mais tarde a população negra retalia em fúria colhendo vítimas brancas inocentes (e não só).

05-09-2004

MOÇAMBIQUE - 7 DE SETEMBRO DE 1974

mocli03mocli02amocli01Moçambique/07 Set: A Base do Galo que resistiu na Mafalala
Luís Andrade de Sá (Texto) e Amândio Vilanculo (Fotos), da Agência Lusa
Maputo, 05 Set (Lusa) - Trinta anos depois, a Base do Galo nada diz aos
jovens que levantam halteres numa casa da Mafalala, o bairro onde nasceu
Eusébio e viveram o poeta José Craveirinha e a atleta moçambicana Maria de
Lurdes Mutola.
Nessa casa modesta, na zona que divide a "cidade do caniço" da "cidade do
cimento", simpatizantes da FRELIMO montaram o quartel-general da resistência
ao Movimento Moçambique Livre, a revolta branca contra a independência
lançada a 07 de Setembro de 1974, quando foi acordada a descolonização de
Moçambique.
"Numa primeira reunião juntámos 60 jovens, depois passámos para 100 e
decidimos que a partir daí a base ficava ali como centro de coordenação de
todos os bairros, passando a haver reuniões de quatro em quatro horas para
que nada descambasse", recorda Aurélio Lebon, então um jovem acabado de
cumprir o serviço militar nos +comandos+ portugueses.
No dia 08 de Setembro, o discurso da Rádio Moçambique Livre, ocupada pelos
revoltosos brancos, endurece e nos arredores de Lourenço Marques dão-se os
primeiros confrontos de que resulta um número elevado de vítimas.
"No Infulene (arredores da Matola), os fuzileiros dispararam
indiscriminadamente e a partir daí avançámos para as barricadas nos
subúrbios, controlando a saída dos moradores e a entrada de estranhos",
relata Pedro Bule, administrador de uma seguradora, na época responsável
pela segurança naquele bairro.
A resistência ao 07 de Setembro foi montada à margem da FRELIMO, cuja
direcção negociava a independência com Portugal em Lusaka, por nacionalistas
moçambicanos da capital da colónia.
"Até então, ninguém tinha ideia do que era a fortíssima inserção da FRELIMO
na população nem do desejo, da ganância, mesmo, das pessoas pela
independência", acrescenta Bule.
No dia 09 de Setembro, a Base do Galo determina uma "greve geral silenciosa"
que, diz Aurélio Lebon, foi cumprida pela maioria da população negra e a
revolta branca começa a perder força, procurando então os comandos militares
portugueses uma solução para pôr termo aos confrontos nos subúrbios e à
ocupação do Rádio Clube de Moçambique.
Lebon afirma ter sido contactado pelo comando militar e integra uma
delegação da Base do Galo, que inclui Amaral Matos, Alberto Chissano e
Orlando Machel que, no quartel-general português prepara a recuperação da
estação, aproveitando a sua experiência como antigo +comando+.
"Fui para o Rádio Clube sem segurança, acompanhado pelos comandantes da
Polícia Militar e da PSP, um ajudante de campo e um condutor e consigo
entrar no edifício. Os revoltosos estavam interessados na minha presença
como alguém ligado à FRELIMO para travar a população que marchava sobre a
cidade", lembra.
Aos microfones, Aurélio Lebon lança a senha "Galo.
Galo. Amanheceu", que indicava que a estação fora reocupada, e acrescenta
vivas à FRELIMO, a Samora Machel, a Portugal e a António Spínola.
"O problema é que eles quando ouviram os vivas à FRELIMO já nem escutaram o
resto e começaram a gritar que tinham sido traídos, pelo que eu e o
comandante da PSP tivemos que sair rapidamente, saltando um muro e apanhando
boleia de um casal em direcção ao comando", diz o antigo presidente da
Federação Moçambicana de Atletismo.
Aurélio Lebon voltará novamente à estação, desta vez fardado - "haviam tido
o cuidado de disfarçar um negro com uma farda e com os galões de alferes do
Exército português", escreve o jornalista Ricardo Saavedra, apoiante da
revolta, no seu livro "Aqui Moçambique Livre".
Nessa altura, já a estação estava cercada por duas companhias de
pára-quedistas e militares de engenharia, e Lebon, já conhecido como
"camarada Galo", volta a ler a senha, "para acalmar a população, travar a
violência e informar", e ali fica durante horas até ser rendido por
locutores do serviço que entretanto regressaram à estação.
Durante as horas que permanece no Rádio Clube, a Base do Galo é alvo de um
ataque, a que resiste, e a senha e contra-senha são mudadas.
"Quando lá cheguei, ainda fardado, um dos nossos apontou-me uma arma e eu
disse: "Galo. Amanheceu", que eram os códigos que conhecia. Tive um grande
trabalho para o convencer que eu era o camarada Galo", ri-se Lebon.
Sem ele saber, o novo código tinha sido mudado, aproveitando um grande êxito
que na época enchia os cinemas de Lourenço Marques: "Laranja?", perguntava
quem montava a barricada, esperando que a resposta fosse "Mecânica!".
Lusa/fim
05-09-2004 13:44:00 GMT .
Moçambique/07 Set: Quatro Dias que incendiaram Lourenço Marques
Luís Andrade de Sá (Texto) e Amândio Vilanculo (Fotos), da Agência Lusa
Maputo, 05 Set (Lusa) - Há 30 anos, Lourenço Marques, actual Maputo, foi
palco de graves motins raciais que causaram centenas de vítimas e destruição
avaliada em três milhões de contos, numa derradeira tentativa dos colonos
portugueses para evitar a independência do país.
A faísca que ateou a revolta branca de 07 de Setembro de 1974 é geralmente
atribuída ao arrastar pelo chão de um bandeira portuguesa no centro da
cidade que deu origem a 92 horas de confrontos.
Segundo alguns dos que viveram os acontecimentos, a provocação foi apenas um
pretexto para uma acção que estava a ser preparada por grupos de radicais
brancos nas vésperas da assinatura dos acordos de Lusaka entre Portugal e a
FRELIMO que, no mesmo dia 07 de Setembro de 1974, fixaram a data de
independência do país para 25 de Setembro de 1975.
"O 07 de Setembro foi uma tentativa organizada e não espontânea, tanto mais
que no dia 02 de Setembro os principais líderes da revolta reuniram-se no
Hotel Avenida para planear a operação", defende José Luís Cabaço, militante
da FRELIMO desde 1967 e que dias depois dos acontecimentos foi nomeado para
o governo provisório que antecedeu a independência.
Desde o dia 05 de Setembro que a capital da colónia estava parada, em
manifestações de apoio às posições que a FRELIMO iria defender em Lusaka
junto da delegação portuguesa, que integrava Mário Soares, então ministro
dos Negócios Estrangeiros.
No estádio da Machava, milhares de pessoas acompanhavam, com os meios
limitados da época, o desenrolar das negociações num comício permanente
organizado por sectores ligados à FRELIMO e apoiado por organizações de
esquerda da comunidade branca como a Associação Académica de Moçambique e os
Democratas Moçambicanos.
No dia 06 de Setembro, Jorge Jardim, o poderoso empresário da Beira que as
autoridades portuguesas procuravam desde Junho, é impedido de entrar na
Suazilândia e as notícias que chegam de Lusaka confirmam o entendimento das
duas partes para uma independência conduzida pela FRELIMO.
Na sequência da provocação à bandeira nacional, uma multidão de portugueses
apedreja as instalações dos jornais Notícias e Tribuna, vandaliza o edifício
do Rádio Clube de Moçambique e as sedes das organizações que tinham apoiado
o comício da Machava.
"Havia cordões de polícia à volta e uma multidão que insultava qualquer
pessoa que saísse do jornal", recorda José Capão, empresário livreiro, na
altura jornalista da secção internacional do Notícias.
O Movimento Moçambique Livre, como passa a ser designado, assalta a
Penitenciária, libertando todos os presos, incluindo os agentes da PIDE ali
detidos, toma conta dos Correios e do Aeroporto Gago Coutinho mas é no Rádio
Clube que se estabelece a direcção da revolta, protegida por uma enorme
multidão.
"Aqui Rádio Livre de Moçambique, fala-vos um grupo de portugueses de
Moçambique que acaba de tomar conta das instalações do Rádio Clube apelando
ao sentido de união de todo o povo moçambicano para que em bloco único faça
prevalecer a sua vontade e decida com a sua presença e voz o seu destino",
assinala o primeiro comunicado, lido às 18:40 do dia 07 de Setembro pelo
"locutor Manuel", Gomes dos Santos, presidente da FICO, uma associação
política radical da comunidade portuguesa.
Com ele estão Hugo Velez Grilo, antigo dirigente do PCP, e o comandante
Daniel Roxo, que criou, em 1971, uma força de "comandos" negros para acções
contra a FRELIMO e, segundo a onda de boatos que invade a cidade, há
milhares de homens de um grupo conhecido como Dragões da Morte prontos para
apoiar a revolta.
"Era tudo mentira, havia alguns jovens que tinham feito a tropa nos
+comandos+ mas não havia essa força especial de que falavam", defende José
Luís Cabaço. Aos microfones da Rádio Livre de Moçambique, apoiada na rua por
milhares de portugueses, apela-se à colaboração de antigos combatentes e
garante-se que Jorge Jardim está com a insurreição mas o empresário não se
envolve.
"As condições em que o Movimento Moçambique Livre tinha sido desencadeado
davam toda a vantagem ao inimigo", escreverá Jorge Jardim no livro
"Moçambique Terra Queimada".
Da Associação de Portugueses de Joanesburgo chega a promessa dos seus
membros atravessarem "a fronteira para ir em socorro", o que nunca
acontecerá.
Acusados de "minoria de reaccionários" pelo Governo de Lisboa, os radicais
brancos dão por finda a sua acção no dia 10 e cerca de 8.000 portugueses
fogem para a África do Sul.
Na revolta morreram centenas de pessoas - "cerca de 100 brancos e 300
negros", segundo Cabaço, ou 1.500, de acordo com o jornalista Ricardo de
Saavedra, que aderiu ao Movimento - e foram destruídas casas, lojas e
fábricas por toda a cidade.
A resposta da população da "cidade do caniço" aos acontecimentos da "cidade
do cimento" não chega a produzir- se - "grupos de negros em que participam
milhares de pessoas são dissolvidos quando se dirigiam à cidade procurando
vingança", informa o jornal Notícias, já a situação está controlada por
forças mistas do Exército português e da FRELIMO.
"O 07 de Setembro estragou tudo, instalou a desconfiança e tornou a FRELIMO
mais agressiva", defende o ex-jornalista Amaral Gomes que dá como exemplo do
que "devia ter sido a regra" o facto da polícia portuguesa só ter abandonado
o novo país em 1977, depois de dois anos de formação aos agentes nacionais.
Lusa/fim
05-09-2004 13:43:00 GMT
Moçambique/07 Set: Acordo de independência assinado há 30 anos
Maputo, 05 Set (Lusa) - Há 30 anos, Portugal e a FRELIMO assinaram em
Lusaka, capital da Zâmbia, o acordo que conduziu à independência de
Moçambique e que provocou uma das mais graves revoltas de brancos nas
antigas colónias portuguesas em África.
Entre os dias 05 e 07 de Setembro de 1974, representantes das duas partes
estiveram reunidos em Lusaka, na terceira ronda que preparou o processo de
descolonização de Moçambique, concluindo um acordo que fixou a independência
para 25 de Setembro de 1975, uma data associada ao início da luta armada
pela FRELIMO, em 1962.
Enquanto decorriam as negociações, um comício permanente em Lourenço Marques
(actual Maputo) convocado por simpatizantes da FRELIMO e organizações de
portugueses favoráveis à independência, apoiava as posições do movimento
liderado por Samora Machel, que se tornaria no primeiro Presidente do país,
mas a maioria da comunidade branca da capital da colónia saiu à rua para
contestar o acordo.
Durante vários dias, os revoltosos ocuparam a estação do Rádio Clube de
Moçambique, o aeroporto e os correios, atacaram jornais e associações
favoráveis à independência, destruíram um paiol militar e libertaram dezenas
de agentes da ex-PIDE/DGS, detidos na cidade após o 25 de Abril.
A rebelião e a reacção da população negra causaram um número indeterminado
de mortos, que diversas fontes estimam entre os 400 e os 1.500, sobretudo,
em Lourenço Marques, a única cidade a aderir em força aos protestos dos
colonos.
Apanhadas de surpresa pelos acontecimentos, as delegações de Portugal e da
FRELIMO mantiveram-se fiéis ao acordo, considerando-o irreversível,
contribuindo para o fim da revolta branca em Lourenço Marques.
Em Lusaka, as duas partes acordaram na constituição de um alto comissariado,
de um governo de transição e de uma comissão militar mista, preparatórios da
independência de Moçambique.
Portugal nomeou Vítor Crespo, militar do Movimento das Forças Armadas (MFA),
para alto-comissário, e Joaquim Chissano, actual Presidente de Moçambique,
foi indicado pela FRELIMO para presidir ao governo provisório, constituído
por nove ministros e um número não fixado de secretários e
secretários-adjuntos.
Segundo o acordo, à FRELIMO cabia indicar seis ministros do novo governo e
os restantes seriam nomeados pelo alto-comissário português.
As duas partes acordaram igualmente na criação de uma comissão militar
mista, constituída por um número idêntico de militares portugueses e da
FRELIMO, com o objectivo de assegurar o cumprimento do cessar-fogo, iniciado
às 00:00 do dia 08 de Setembro.
Em Lusaka, a FRELIMO comprometeu-se com uma política "de não discriminação
racial", segundo a qual "a qualidade de moçambicano não é definida pela cor
da pele mas pela identificação voluntária com as aspirações da Nação
moçambicana".
Preparando a criação de um futuro banco central, Portugal assumiu a
transferência do Departamento de Moçambique do Banco Nacional Ultramarino
para a nova instituição, num processo fiscalizado por uma comissão conjunta.
Por Portugal participaram nas negociações os ministros sem pasta, Melo
Antunes, dos Negócios Estrangeiros, Mário Soares, e da Coordenação
Interterritorial, Almeida Santos, e os militares Vítor Crespo, Almeida e
Costa, Nuno Lousada e Casanova Ferreira.
A FRELIMO, cuja direcção se encontrava na capital tanzaniana, Dar-Es-Salam,
enviou uma numerosa delegação a Lusaka, que incluía o seu presidente, Samora
Machel, e Joaquim Chissano, Alberto Chipande, Jacinto Veloso, Óscar
Monteiro, Mariano Matsinhe, Bonifácio Gouveia, Armando Guebuza e Sebastião
Mabote, entre outros.
Devido aos acontecimentos em Lourenço Marques, o texto do acordo de Lusaka
só foi divulgado dias depois em Moçambique, aos microfones do Rádio Clube,
depois de ali ter sido anunciado "Galo. Galo. Amanheceu", a senha que
indicava a sua recuperação ao movimento radical branco.
LAS.
Lusa/fim
05-09-2004 13:44:00 GMT .
Moçambique/07 Set: A tarde no Rádio Clube "que lixou uma vida"
Luís Andrade de Sá (Texto) e Amândio Vilanculo (Fotos), da Agência Lusa
Maputo, 05 Set (Lusa) - O balanço não é o melhor para quem passou "apenas
umas horas" na Rádio Moçambique Livre, ocupada por um grupo de portugueses
de Lourenço Marques em protesto contra a assinatura do acordo de Lusaka
entre Portugal e a FRELIMO.
"Estive lá uma tarde, subi à varanda e lixei uma vida. Fiquei com a cabeça a
prémio e perdi a casa, os carros, o barco, a +boutique+, as contas
bancárias", recorda Rui Quadros sobre o dia 09 de Setembro de 1974.
Nesse dia, entrou "pela única vez e por poucas horas" no Rádio Clube de
Moçambique, ocupado dois dias antes e rebaptizado Rádio Moçambique Livre, a
partir do qual um grupo de colonos brancos incitou a população a
manifestar-se contra o acordo de independência fixado para 25 de Setembro de
1975.
"Tive que fugir para a África do Sul, disseram uma série de mentiras a meu
respeito e entrei na onda dos que se foram embora", logo nos dias seguintes
aos acontecimentos, diz o caçador e ex-campeão de tiro de Moçambique, onde
regressou em 2000.
O nome de Rui Quadros surge nas notícias da época entre os que participaram
na tomada do Rádio Clube de Moçambique, na altura uma das mais potentes
estações do sul de África, e que durante cerca de 96 horas tentaram inverter
o rumo da História.
Durante a ocupação destacou-se a voz do "locutor Manuel", o nome de guerra
de Gomes dos Santos, presidente de uma associação política de portugueses
com o sugestivo nome FICO.
Foi dele que partiram os apelos à adesão ao Movimento Moçambique Livre de
populares e personalidades, alguns com êxito, como nos casos de Uria
Simango, fundador da FRELIMO e expulso do partido em 1970, e de Joana
Simeão, que se deslocaram ao edifício e proclamaram o apoio à contestação.
"Foi lá toda a gente, menos a FRELIMO", diz Rui Quadros, desvalorizando a
ausência de Jorge Jardim, que não se envolveu apesar do seu apoio ter sido
dado como garantido pela Rádio Moçambique Livre.
"Ele tinha outro projecto", resume, sobre a posição do empresário da Beira,
na altura fora de Moçambique fugido às autoridades portuguesas.
Ao lado de Gomes da Silva estavam Gonçalo Mesquitela, conhecido dirigente em
Moçambique da Acção Nacional Popular, o partido único do regime de Marcelo
Caetano derrubado em 25 de Abril de 1974, e o médico Vellez Grilo, que foi
secretário nacional do Partido Comunista Português nos anos 30 e que,
depois, rumou à colónia do Índico onde foi chefe de repartição da Câmara
Municipal de Lourenço Marques.
A direcção da revolta era ainda constituída por elementos ligados a grupos
de ex-combatentes, à Organização Provincial de Voluntários e a associações
políticas da comunidade portuguesa que se opunham a uma independência
"entregue à FRELIMO".
A segurança das instalações, que estava rodeada por milhares de pessoas, na
maioria brancas, em apoio à acção do Movimento Moçambique Livre, cabia a
Daniel Roxo, que, durante a guerra, tinha organizado comandos especiais de
soldados negros para combater a FRELIMO e que morreu no início dos anos 80
durante uma incursão militar sul- africana a Angola.
Durante os quatro dias que dura a ocupação, a Rádio Moçambique Livre emitiu
os mais lancinantes apelos à mobilização "dos portugueses de Moçambique" e à
generalização da revolta, a que as outras cidades da colónia não aderem,
intercalados com música de todo o tipo, incluindo as canções revolucionárias
Grândola, Vila Morena, Avante Camarada e hinos da FRELIMO.
No dia 10 de Setembro, um jovem com 25 anos, acabado de ser desmobilizado
dos +comandos+, entra no edifício da Rádio e aos microfones proclama: "Galo.
Galo.
Amanheceu", a senha destinada aos habitantes negros dos bairros periféricos,
prontos a marchar sobre Lourenço Marques, que indicava que a estação tinha
voltado à normalidade e terminara a revolta branca.
"Durante anos, tentou dar-se um cunho organizativo ao 07 de Setembro que não
o teve. Nenhum dos dirigentes mais representativos do antigo regime esteve
ligado a esses acontecimentos", defende Amaral Gomes, ex-jornalista, sobre a
forma atabalhoada como a revolta cresceu e acabou.
No dia 14 de Setembro, o novo alto-comissário, Vítor Crespo, anunciava que a
situação estava "sob controlo".
Lusa/fim
Nota: As fotos da época foram colocadas pelo responsável do blog e não são as da Agência Lusa, que não foram recebidas.

03-09-2004

Crónicas do Reino de MuêneMutapa

joao01Escrito por João Craveirinha

Quinta, 02 de Setembro de 2004
Por: João Craveirinha
ENFº BALTAZAR da COSTA “CHAGONGA”
Herói Esquecido e co-fundador da FRELIMO
Caríssimos - Donnas e Muênês
Esta é uma nova Coluna periódica no jornal ZAMBÉZIA On – Line. Tem o nome simbólico do Império de Muenemutapa (Senhor das Minas de Ouro) que abrangia o actual Zimbabué, Tete, Manica, Sofala e parte da Zambézia (vale do rio Zambeze)......
Crónicas do Reino de MuênêMutapa
escrito por João Craveirinha

Sexta, 03 de Setembro de 2004
Dossier para colecção (2)
Em Ghana – Accra, nasceu a ideia da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) …Mondlane veio depois
- Kwame Nkhrumah Versus Julius Nyerere -
Caríssimos – Donnas e Muênês

Em declarações atribuídas ao fundador da UNAMI – o Enfermeiro Baltazar da Costa “Chagonga”......

http://www.zambezia.co.mz/index.php?option=content&task=view&id=63

Nota: Para acompanhar no Zambézia On Line
http://www.zambezia.co.mz/index.php?option=com_frontpage&Itemid=1

HISTÓRIA DA LUTA ARMADA PODE TER NOVA VERSÃO- ESCREVE O “IMPARCIAL”

O diário “Imparcial” escreve na edição de hoje que o lançamento recente da biografia do antigo vice-presidente da Frelimo, Uria Simango, parece não estar a sossegar os seus antigos companheiros de armas e diz estar na posse de informações dando conta de que antes das eleições de Dezembro, deverá ser lançada uma versão exaustiva da história da Luta Armada.
De acordo com este jornal, um grupo de historiadores de renome como Allen Issacman, Arlindo Chilundo e Antonio Sopa, estão a levar a cabo na Universidade Eduardo Mondlane (UEM) um trabalho que o secretário para a Mobilização e Propaganda do partido no poder, Edson Macuacua, diz ser de digitalização da história da Luta Armada de Moçambique.
IMPARCIAL, 03/09/04

27-08-2004

"Uria Simango, Um Homem, Uma Causa

Retirado de um outro local da Internet (27.08.2004):
Deixo aqui uns pequenos excertos de um livro maningue interessante que acabei de ler, e que fala da vida de Uria Simango. O livro, para quem ainda não conhece ou ainda não leu, chama-se "Uria Simango – Um Homem, Uma Causa", da autoria de Barnabé Lucas Ncomo, e é a história daquele que supostamente terá sido um "traidor" da revolução moçambicana.
Aconselho a todos vocês a lerem o livro, porque repito, está maningue nice. Não só porque conta a História de Moçambique de outro modo, e não como nós a conhecemos, fazendo com que os actuais heróis moçambicanos, saiam desde livro um pouco (para não dizer muito) beliscados. Como também porque, tratando-se de um livro redigido por um moçambicano, é curioso verificar que este autor não comunga da ideia da maioria, quando diz que a culpa do estado actual do país é da colonização. Como ele diz, é preciso reconhecer que Portugal ia deixar no solo moçambicano o mínimo para um arranque visando o progresso, que era preciso saber aproveitar. Apesar de ninguém pôr em causa que Portugal espoliou desenfreadamente Moçambique de norte a sul.
Aqui ele vai de encontro ao que eu digo sempre... os tugas fizeram muita merda, mas já chega de culpar a colonização pah! Já passaram 30 anos... quando é que esse tipo de papo acaba?!?
Para terminar, só dizer que os sublinhados, as aspas, os itálicos etc. São todos meus. Fiquem bem!
"Simango acreditava que Moçambique tinha as mínimas bases de arranque para se apresentar ao mundo como um exemplo ímpar a seguir. Portugal não só havia colonizado e espoliado desenfreadamente de uma ponta a outra, as riquezas do país. Também, em abono da verdade, era preciso reconhecer que igualmente ia deixar no solo moçambicano o mínimo para um arranque visando o progresso, que era preciso saber aproveitar.
(...) É que cada estágio do paupérrimo desenvolvimento e progressivo subdesenvolvimento de África, para além da lendária culpa do sistema colonial, tinha também em si como razão a miopia política dos próprios homens que herdaram a histórica missão de conduzir os destinos dos povos do continente na era pós-colonização. E essa miopia consubstanciava-se na intolerância; na prepotência; na falta de pudor e, sobretudo, na falta de vergonha e realismo político.(Barnabé Lucas Ncomo/autor do livro)
Simango achava que as modalidades de ascensão do país à independência diziam respeito a todos os moçambicanos. Para tal, todas as forças políticas existentes no país tinham uma palavra a dizer, pois "o facto de um movimento lutar durante vários anos para a independência dum determinado país, não implica que todos os filhos desse país sejam a favor desse movimento, em termos ideológicos e na matéria de governação. É natural existirem outras opiniões nesse país; mesmo que sejam minorias, merecem o seu devido respeito"- dizia Simango.
Pelo contrário, a FRELIMO não aceitaria qualquer outra força política no país. Invocaria uma legitimidade exclusiva na representação do povo moçambicano, decorrente da luta armada de libertação nacional, e "contada não por votos, mas pelos seus mortos em combate."(Castigo Lucas Ncomo)
"Se o governo português vier a decidir o futuro de Moçambique só com a FRELIMO, qual será a nossa reacção? A nossa reacção deve ser uma manifestação do pensamento do povo moçambicano. O povo sentir-se-à magoado se o governo português fizer isso. Se o governo português fizer isso, terá feito um erro. Lamento informar que isso fará com que nasça uma situação tal que por enquanto eu não posso profetizar, mas não há dúvida alguma de que vai nascer uma situação que não é muito boa. Será um grande erro e o governo português assumirá uma grande responsabilidade pelas consequências... Quais são não posso dizer. Mas é natural que nasça uma situação não agradável."
(Conferência de Imprensa de Uria Simango na Beira – 24 de Agosto de
1974)
"Simango perdeu o controle da situação na FRELIMO não só em consequência da estratégia traçada pelos seus adversários, mas sobretudo porque foi traído e vendido pelos seus próprios irmãos oriundos da sua província e da sua tribo –os Ndaus. Contrariamente ao que o regime propalou a respeito da sua intelectualidade, comparando-a à de Eduardo Mondlane, Simango era um intelectual que se impôs na FRELIMO, desde a primeira hora, por mérito próprio e não pela beleza dos seus olhos. Era um homem eloquente que quando falava para uma multidão as pessoas deliravam. Era um adversário sério para Mondlane e toda a gente sabia disso. Todos os que conheceram Simango e Mondlane conheceram também a diferença entre estes dois homens.
Mondlane, apesar de ser académico, em termos de eloquência e retórica não chegava a um palmo de Simango. Se Simango estivesse vivo, a FRELIMO hoje depararia com problemas, porque nas campanhas eleitorais no sul de Moçambique, por exemplo, Simango falaria às populações na língua deles. O reverendo era um bom poliglota. Falava bem o tsonga, swahili, nyanja, português, inglês, ximakonde, sena e ndau. Mondlane, Samora e Chissano, por exemplo, não falavam nenhuma língua do Centro ou do Norte."
(Z. Maurício)
"Havia tribalismo na FRELIMO. Isso não se pode negar. Eu sou do Sul do país, mas tenho que admitir que havia tribalismo e quem o galvanizou foram algumas pessoas do sul que chegaram mais tarde, entre 1963 e 1965. Viviam muito preocupados com Simango e agitavam Mondlane dizendo-lhe que o Reverendo pretendia usurpar o Poder; que era preciso ter cuidado com ele etc. Souberam jogar, dividindo as pessoas e usando até alguns do centro e norte do país que pouco entendiam de afinidades e lealdades. Algumas dessas pessoas, ignorantes que eram, foram sendo usadas como marionetas sem se aperceberem que os outros pretendiam dividir para reinar."(José Massinga)
"Até o delito mais comum, de carácter pessoal, era transformado em crime de lesa pátria por via de mentira e artimanha, e recebido do grupo a pena capital por via de julgamentos apelidados de justiça
popular. A denominada justiça popular da FRELIMO, consistia, na realidade, em incitar a população ou uma multidão de combatentes através de discursos prenhes de acusações não provadas. Não se dava nenhuma possibilidade de defesa ao visado e, de seguida, perguntava-se ao chamado povo o que fazer com a pessoa. Em coro, os mais violentos títeres entre o povo, rasgavam as gargantas com "mata-se o gajo"; "vamos semeá-lo". E, para poupar munições, atirava-se a vítima aos lobos onde não faltavam paus e catanas para executar a sentença. Era um recurso muito corrente, utilizado pela facção sulista da FRELIMO para eliminarem os seus compatriotas nortenhos indesejáveis."(A. Mutusso)
Conclusão do autor do livro:
"Simango morreu vítima de uma causa: a causa da liberdade e da igualdade nos direitos e nos deveres entre os homens do seu país.
Todavia, seria vítima de uma outra causa inconfessa: a causa da tribo, da região e da ambição desmedida de alguns (...) tudo indica que Simango terá sido dos poucos na FRELIMO que sabia que a moral é apenas uma: - Não há duas morais, uma do indivíduo e outra da política ou do Estado.
(...) Tal como muitos, Simango não viveria para ver o tipo de independência que almejara. Mas a profecia por ele proferida em Agosto de 1974, segundo a qual se Portugal não honrasse os seus compromissos, e entregasse o poder político a uma só força em detrimento de uma processo democrático multipartidário, Moçambique mergulharia numa triste situação, vingou. Vingou no corpo e na alma dos moçambicanos, por via de um conflito sangrento de 16 anos que todos sentiram na carne.

24-08-2004

METELELA - URIA SIMANGO E OUTROS

Textos todos publicados em Maputo em Dezembro 2003

Semanário DEMOS
CONFIDENCIAL
(ÀS TERÇAS FEIRAS)
Coluna de João CRAVEIRINHA
DOSSIER (7)
NA FRENTE DE LIBERTAÇÃO
A CLARIFICAÇÃO TOTAL
O Hospital da Frente de Libertação encontrava-se localizado no sul de Tanzânia, em Mutuara (Mtwara), na direcção de Cabo Delgado, região nortenha de Moçambique para além do rio Rovuma. Nesse Hospital em situação anterior à sua expulsão (1968), o médico Hélder Martins, “ in extremis”, seria salvo por Manuel dos Santos (de Tete), de uma iminente agressão de uns guerrilheiros (muito irritados) de Cabo Delgado que se encontravam a receber tratamento de ferimentos em combate, por não aceitarem alta hospitalar e as ordens de regresso ao interior dadas pelo médico e responsável da Saúde da Frente, Hélder Martins. Estaria (entre outros) criado o cenário propício para as expulsões à posteriori depois dos distúrbios, de Maio de 1968, no escritório da Frente em Dar-es-Salaam e da revolta dos estudantes no Instituto Moçambicano em “Kurassini”. No entanto, muito após o assassinato de Eduardo Mondlane (1969), seria rectificada a situação com a autorização do regresso pela parte tanzaniana.
Provisoriamente uma “troika” substituiria Mondlane: - Samora Machel, Marcelino dos Santos e Uria Simango que se antecipara evocando os estatutos e distribuíra cartões de visita com o título de “acting President” – Presidente em exercício até às eleições do Congresso. Os acontecimentos precipitam-se. Uria Simango sente-se inconfortável ladeado pelos seus pares e tenta “ dar a volta” em vão. Encontra-se “espartilhado” sem margem de manobra. Seus apoiantes declarados são detidos ou o abandonam mudando de campo. Os detidos enviados a Cabo Delgado são executados depois de torturados na Base Central. Entre eles o tesoureiro da Frente de Libertação – Silvério Nungo; - A 18 de Julho de 1969 seria torturado (ainda mais), durante toda noite até ao amanhecer. Devido às coronhadas de espingarda recebidas na cabeça estas provocariam fracturas expostas, com partes abertas do crânio, por onde escorreria líquido da matéria encefálica, conduzindo-o, a uma morte lenta e muito dolorosa, debaixo de soluços roucos infra – humanos, de dor. Seria morto depois de uma agonia de cerca de 8 dias até a essa fatídica noite.
Em finais de 1969, o reverendo Uria Simango, distribui um Manifesto de 13 páginas intitulado “Gloomy Situation in Frelimo” – Situação Tenebrosa na Frelimo, onde acusa os seus camaradas e a viúva de Eduardo Mondlane, Janet. É a gota de água que transborda o copo. Em Novembro de 1969, Uria Simango é oficialmente expulso da Frente de Libertação. Após ouvir o reverendo U. Simango, o preocupado Presidente Nyerere, não intervém. A situação torna-se insustentável em Dar-es-Salaam para Uria Simango. Refugia-se no Cairo – Egipto onde (re) adere a uma nova Udenamo e posteriormente à COREMO – Comité Revolucionário de Moçambique, fundada em 1965 em “Lussaca” – Zâmbia. A Coremo, presidida por Paulo Gomane, combatia o exército português em Tete com o apoio da Zâmbia, China Popular e de elementos sedeados nos Estados Unidos. Era um movimento oficialmente pró-maoísta mas contraditoriamente de ligações norte-americanas. Colaborava com o PAC da África do Sul, a UNITA de Angola, ZANU da Rodésia e SWANU da Namíbia. (Uria Simango surgiria em Moçambique depois de Junho de 1974).
Em finais de 1969, Samora Machel, admirador confesso do maoísmo, passa a presidir abertamente à Frelimo e o veterano Marcelino dos Santos, relegado para segundo plano, é o vice-Presidente.
Tem início uma nova era na Frente de Libertação de Moçambique. (Contrinua)■■■
Dia 26 Dezembro 2003 – 472 palavras ou sexta feira 19 de Dezembro
TRIBUNA
(SAI ÀS SEXTAS FEIRAS)
Coluna de João CRAVEIRINHA
email: joaocraveirinha@yahoo.com.br
ARQUIVOS IMPLACÁVEIS(10)
CAMPO DE REEDUCAÇÃO DE MITELELA OU CAMPO DE CONCENTRAÇÃO?
(VAE VICTIS – AI DOS VENCIDOS!)
3ª Parte (Fim da 1ª Fase)
Em 1975 – Novembro (?!), João Craveirinha e mais elementos são transferidos (detidos) de Nachingueia (Tanzânia) para Niassa oriental, via Lago. São enviados para o campo de concentração da FRENTE em Mitelela, no antigo quartel português de Nova Viseu, deixado pelos militares lusos, todo minado ao redor e com garrafas partidas enterradas nas instalações. Entre os detidos e transferidos encontravam-se muitos nomes conhecidos do nacionalismo africano como Adelino Guambe fundador da FRELIMO, o reverendo Uria Simango, sua esposa Celina, Paulo Gomane, Narciso Inbule, antigos comandantes de élite entre eles, Pascoal Almeida Nhapulo, Pedro Simango (2), Januário Napulula e Chéés-padres muçulmanos (sheiks), curandeiros, etc. Entre os presos, ainda, Lázaro Kavandame, Verónica, o ex-representante da Frente no Cairo, Judas Honwana, o médico Dr. João Unhai(Unyai), o engenheiro Marqueza, o Prof. Dr. Kambeu de Direito Internacional, a Dra. Joana Simeão da FRECOMO (anteriormente do GUMO do Dr. Máximo Dias), o primo de 1º grau do Prof. Dr. Eduardo Mondlane – Pedro Mondlane, e muitos outros. O campo de Mitelela de máxima segurança encontrava-se numa região lamacenta muito isolada e de fauna bravia – leões, leopardos, elefantes, cobras. Os felinos e as cobras eram “visitas” normais. No campo encontravam-se também, antigos agentes moçambicanos da Pide como Leonel Soleimane Motty, o 1º em Moçambique (1972), a ter uma empresa privada de segurança com uma rede bem montada nas principais empresas e 3 “chóferes” privados à disposição e respectivas viaturas novas. Leonel Motty, natural de Quelimane, provinha da Polícia Judiciária onde se formara em Lisboa e tinha acesso aos arquivos da PIDE na Casa Algarve em Lourenço Marques. Acumulava com a tarefa de Inspector do Trabalho e de empresário de ligações com as representações da Volkswagen e da BMW. Teve tempo e dinheiro para fugir para a África do Sul, mas ingenuamente, ofereceu-se para trabalhar para a FRELIMO em 1974. Muito mais tarde, prisioneiro com tuberculose e maus-tratos, sucumbiria em Niassa nos anos 1980 (?!). Talvez, L. Motty, pensasse nos chefes da Gestapo alemã de Hitler que se ofereceram para trabalhar para os russos em Moscovo na iminência da queda do 3º Reich em 1945. É o caso do director Müeller da mesma polícia secreta nazi. Não só seria poupado como integraria os serviços secretos soviéticos, na formação. Os russos aproveitaram a sua experiência. Existe uma cultura comum nas polícias secretas a serviço de qualquer poder político. São instrumentos e a experiência conta. Da rede piramidal total, montada por Motty em Moçambique, quem poderá saber se eventualmente muitos desses elementos que nunca seriam detectados, teriam integrado os grupos dinamita…dores, digo, dinamizadores de tão triste memória da Frelimo? Quiçá alguns poderiam ter subido na hierarquia da própria estrutura política de bairro da Frelimo aos dias de hoje. A muito longo prazo – o acesso a serem empresários de sucesso, mostrando a verdadeira face, renegando a Frelimo que lhes deu o ”escadote” para subirem e quem sabe à custa de acusar os outros de serem reaccionários, na era de Samora Machel, enviando-os aos fatídicos campos de “reeducação”? Era preciso mostrar serviço para serem de confiança política. Poderá estar aí o embrião da conspiração e do oportunismo actualmente patente no nosso país!
A terminar esta 1ª fase dos ARQUIVOS IMPLACÁVEIS coloca-se uma questão de fundo: Sempre houve infiltrações (ou tentativas) descobertas na Frelimo e em qualquer Movimento de Libertação e em toda a História da Humanidade sempre houve e haverá espionagem no campo do inimigo. Mas a questão de fundo é maior. Saber se a nível da cúpula, na Frelimo, terá havido uma Grande Toupeira ou várias?
A PIDE, em Lourenço Marques, na Costa do Sol, queimou todos os nomes, dados, e documentação dos seus arquivos, no campo de futebol do Benfica de LM, hoje CDCS. A Torre do Tombo não tem esses dados. Há só indícios. Havia um grande infiltrado ou mais a nível da cúpula? Mas quem? E que percurso? Chegaram a ministros e a membros do Comité Central? Estiveram entre os 10 mais poderosos de Moçambique na era de Machel? Se existiram, agora onde andarão esses super agentes da PIDE? Serão empresários ou deputados ou ministros? Presumo que para sempre será um mistério!
E sobre, João Craveirinha, PRESO POLÍTICO (voluntário), na FRENTE de LIBERTAÇÃO, em Nachingueia(Nachingwea) e Niassa…Um dia, será contada e publicada a história depois da sua morte! ●

23-08-2004

Será ‘Simango, uma obra, uma Causa’ a Biblia alternativa?

Por Manuel de Araújo
Domingo, 22 de Agosto de 2004
ZAMBÉZIA ON LINE
Desde os primordios da evolução humana, uma regra universal tem conseguido, com poucas excepções, impor-se e resume-se no facto de que ’ a História é escrita pelos Vencedores’! O resto não passa de 'estorietas' como o afirma Sérgio Vieira no seu artigo de 18 de Julho no Semanário Domingo!
Da Grécia Antiga, a Roma, passando pela I e II Guerras mundiais, sem menosprezar a epopeia de libertação de África, esta regra parece manter-se! Muitas vezes essa 'estoria' é transmitida de gerações em gerações alimentando sonhos e mitos que se mantém ao nível informal. Moçambique não tem sido excepção a esta regra. Durante anos os mitos sobre Ngungunhana, Maguiguane, Mataca e outros foram mantidos no informal e eram transmitidos de geração em geração através de contos, lendas e outras vias informais até que a Independência nacional os transformasse de lendas a História Oficial.
Nkomo, parece que consegue subverter esta lógica quase que universal ao transferir a 'estoria' oficiosa do informal para o formal. O livro de Nkomo, independentemente de constituir verdade absoluta, pois essa apenas existe na cabeça de individuos megalomanos consegue coleccionar numa obra a perspectiva, os... ... (VEJA O RESTO EM
http://www.zambezia.co.mz/index.php?option=content&task=view&id=9&Itemid=

09-08-2004

INDEPENDÊNCIA TEM DIREITOS AUTORAIS?

Eugenio_CostaEugénio Costa Almeida*
Pode-se dizer que as independências dos países oceano-afro-lusófonos estão íntima e unicamente ligados a uma personalidade ou a uma organização e que estes são os pais omnipresentes e omnipotentes das mesmas. Penso que não.
Apesar da enorme legitimidade que lhes é conferida pela História não podemos, sob forma de negar esse valor a terceiros, dizer que Xanana e a Fretilin, foram os únicos pais da independência timorense; como também os não devemos afirmar que Moçambique só existe devido à Frelimo e a Mondlane, nem Angola, ao esquecer o papel de outros que não Neto e o MPLA, nem tão-pouco para a Guiné-Bissau, ao afirmar que a independência se deve unicamente a Amílcar Cabral e ao PAIGC; ou ainda a São Tomé e Príncipe ao afirmar que foi o MLSTP quem conquistou a pátria santomense. Definitivamente não a Cabo Verde.
Talvez por isso, não será de surpreender que a polémica esteja definitivamente instalada entre os primos lusófonos das duas pátrias africanas do Atlântico Norte.
De um lado os cabo-verdianos a defenderem a retirada do "C" no PAIGC guineense, do outro os guineenses, com a autoridade que lhes confere a História, a quererem manter a sigla como está e questionarem os cabo-verdianos da legitimidade para a contestação( l).
Aliados a isto temos as declarações do líder do MpD ao afirmar que Amílcar Cabral não terá sido o pai da independência cabo-verdiana(2).
De facto e de acordo com o sítio cabo-verdiano Semana Online(3), Agostinho Lopes, líder do Mpd, o maior partido da oposição, de Cabo Verde, afirmou, nos EUA que era tempo de acabar com a paternidade individualizada da independência de Cabo Verde.
De facto e de acordo com o sítio cabo-verdiano Semana Online(3), Agostinho Lopes, líder do Mpd, o maior partido da oposição, de Cabo Verde, afirmou- nos EUA que era tempo de acabar com a paternidade individualizada da independência de Cabo Verde.
Segundo aquele líder(?) cabo-verdiano, numa entrevista ao programa radiofónico Porton de Nós Ilha, da comunidade cabo-verdiana em Bróckton, MA, o reconhecido pai da independência da Guiné-Bissau e de Cabo Verde teria sido mais um entre os inúmeros cabo-verdianos que lutaram pela Pátria crioula.
Ainda de acordo com Lopes, Cabo Verde nasceu de uma da vontade de uma única personalidade; o povo cabo-verdiano. Para ele, Amílcar Cabral, que o historiador Basil Davison(4) terá considerado como o maior líder africano, a par de Agostinho Neto e de Nelson Mandela D num eventual ranking imaginário D teria sido um mero impulsionador na sequência de um caminho de encontrou e desbravou.
Como será evidente a comunidade crioula nos EUA, que continua a pautar pela paternidade cabralina, não ficou nada satisfeita.
Provavelmente, também os guineenses não se sentirão descansados. E já agora, nem nós, os outros africanos, para quem Amílcar Cabral, continua a ser o grande líder que mostrou que a sã convivência entre povos era possível, apesar das diferenças políticas G consta que, quando em no final da década de 50, inícios de 60, teria vindo a Portugal propor a autonomia africana, Salazar não permitiu que a PIDE o detivesse D, nos sentimos tranquilos quando líderes partidários, com a natural apetência para o poder fazem afirmações deste quilate.
Por este andar e com afirmações destas, creio que o PAICV e o seu líder poderão reformular o mobiliário do Palácio governamental, porque tão cedo não devem sair de lá.
Mas, se as afirmações pecaram pela inoportunidade, face à polémica do "C", também não deixa de ser verdade que é tempo dos Movimentos emancipalistas e de libertação colocarem as siglas onde deveriam estar: num qualquer Museu de História Nacional, em local nobre e resguardado de polémicas.
É tempo dos países que passaram por lutas de Libertação procurarem substituir as siglas dos Movimentos por siglas de Partidos Políticos. As guerras e as crises internas já acabaram. Há que enterrá-las definitivamente.
Tempos houve que o MPLA, adicionou, em 1977, a sigla PT(5), o MLSTP a do PSD, e penso que até a própria Frelimo chegou a fazê-lo. Apolítica histórica aconselhou-os desprezá-las. Vejam Portugal. Fora quando as conveniências políticas internas o aconselham, alguém se lembra de chamar ao PSD, PPD, apesar do nome oficial ser PPD-PSD?. Não; são os social-democratas, nada mais.
Porque não fazermos o mesmo nos nossos países. Inicialmente, poderíamos e deveríamos clamar para a legitimidade histórica, como já ocorreu, por exemplo MLSTP/ PSD. Depois seriam reconhecidos por aquilo que são. Partidos políticos virados para o engrandecimento e desenvolvimento dos nossos países. Nada mais. A História não deve ser enterrada. Antes, preservada.
*Doutorando em Ciências Sociais
(1) http://www.ditaduradoconsenso.blogspot.com/
(2) http://www.pululu.blogspot.com/
(3) http://www.asemana.cv
(4) DAVISON, Basil, Os Africanos.
Uma Introdução à sua História Cul-
tural, Lisboa, Edições 70, 1981 .
(5) http://www.hrdc.unam.na/an_history.htm
Semanário África – 02.08.2004

04-08-2004

Uria Simango - Um homem, uma causa

Semanário Domingo - Maputo, 18 de Julho de 2004
Carta a muitos amigos - por Sérgio Vieira
Sobre história e historietas

Quando escrevo esta carta ainda não se encontra nas livrarias um livro de Barnabé Lucas Ncomo, intitulado Uria Simango um homem, uma causa, puplicado pela Edições Novafrica. Uma enorme publicidade, em termos nacionais, lembrando a de Mel Gibson vom a Paixão, ou Michel Moore com Fahrenheit 9/11, acompanha o lançamento, não faltando neste caso pimenta das supostas ameaças a morte. Um amigo emprestou-me.
Analisar um texto de História em duas páginas, não me parece justo, mas trata-se de uma historieta em 466 páginas, que não procura a veracidade como objectivo. Nào se comentam paixões ou motivações sobrenaturais, que o autor afirma haverem-no inspirado. Faço-o, porém, para não cair na armadilha do quem cala consente.
O que posso notar nesta obra?
Primeiro, que a Internacional Comunista, criada nos anos vinte do século passado e dissolvida no início dos anos quarenta, comandou o processo moçambicano a partir do final dos anos cinquenta! Inexistente no mundo real, mas perene para a tese do autor.
Segundo, que um grupo conspirativo tsonga e de aliados, mestiços, indianos e brancos, enfeudados no KOMITERN, assenhorreou-se da FRELIMO desde os inícios e para efectivar os seus desígnios obscuros assassinava e massacrava tudo que de gente honesta e boa existia na FRELIMO e que essa mafia dirigiu o processo de libertação da Pátria. Que nas zonas libertadas da FRELIMO se implantaram escolas, que haja instaurado um sistema moderno de ensino, com excelentes manuais de matemática, física e outras disciplinas concebidos pela FRELIMO, que se haja aí erradicado a varíola, feita a assistência materna infantil, que se fomentara a auto sustentabilidade de alimentos, que a Frente formou mais gente no ensino superior em dez anos de luta, do que o colonialismo em quinhentos, que soldados inimigos capturados a partir do primeiro assalto em 1965 beneficiaram da política de clemência e a Cruz Vermelha os recebeu, nada disso existe para o autor e assim melhor esteia a sua tese.
Terceiro, para fazerem triunfar a causa tsonga comunista, a China maoista e a URSS de Brejnev, mão na mão, teleguiaram a FRELIMO, associados a Nyerere, Kaunda, George Magombe e aos Kennedy.
Quarto, que os moçambicanos tão engalfinhados em matanças intestinas não levaram a cabo uma guerra vitoriosa contra os colonialistas. A exaustão das Forças Armadas coloniais, o facto de em Moçambique, onde a guerra menos durou, haver inflingido o maior número de baixas ao inimigo, tudo isto não demove o autor da tese. Ele ignora que a derrota de Nó Górdio, a maior ofensiva colonial de sempre, ocorre após a deserção de Nkavandame, Murrupa, Simango e a sua ligação com os colonialistas. Não imagima sequer uma relação causa efeito nisto.
Quinto, Moscovo, Pequim, o PCP, Costa Gomes, o MFA, a CIA, Kissinger, Mac Namara, os Rockfeller, o Barão Rotschild, o Príncipe Bernardo da Holanda, o Clube Bilderberger arquitectaram, com Caetano, um 25 de Abril, que nunca existiu como derrube do Estado Novo, para entregarem as colónias à FRELIMO, ao MPLA e ao PAIGC.
Sexto, que Mondlane não passava de um tribalista que, graças à antropologia, armadilhava os ingénuos da zona centro do país. Sedento de poder, não recuava perante o crime. A bomba que o matou, a PIDE, Rosa Casaco, Casimiro Monteiro, Orlando Cristina e outros, jamais existiram. No consulado português no Malawi nunca se entregou a bomba ao Padre Pollet; este nunca a remeteu a Samuel Dhlakama na fronteira tanzaniana, com o pedido de fazer chegar a encomenda a Simango e Nungu em Dar-es-Salam. Nungu, no escritório, não mandou Rosária levar o pacote a Mondlane, que estava a entrar no seu carro. Nkavandame, em Mtwara, antes da morte de Mondlane, não a celebrou.
Sétimo, a direcção, ao decidir que o II Congresso não se realizasse em Cabo Delgado, onde as tropas portuguesas aguardavam que acontecesse, pergunte-se ao General Sousa Meneses, ao insistir que ele se realizasse em território nacional, ao garantir a participação activa dos combatentes, os que se encontravam empenhados na tarefa principal, apenas levou a cabo o propósito sinistro dos tsongas e seus aliados e seus aliados.
Oitavo, que os ditos reaccionários eivados do maior pacifismo, não conspiraram com os FICO, Spínola, Smith, antigos PIDE e Jorge Jardim. Não tentaram criar grupos armados, nem levar a Rodésia e o “apartheid” a invadirem Moçambique. Jamais existiram os moçambicanos assassinados no 7 de Setembro e 21 de Outubro, os patriotas Nkavandame, Caliate, Magno nunca conduziram as tropas coloniais para massacres de compatriotas.
Nono, Jardim, Cristina, o major Óscar Cardoso nunca estiveram em ligação com os ditos reaccionários, muito embora lhes providenciassem dinheiro, aviões, ligações, os aguardassem na Rodésia e äfrica do Sul para os levar a encontros com os sectores da securocracia racista.
Décimo, as melhores fontes de história encontram-se nos boatos, maledicências e frustraçoes de desertores, bêbados e gente marginal aos eventos reais.
Como estamos perante uma historieta e mal contada, nada mais comento. Abraço os que respeitam a História e a investigam com seriedade.
                                                                                              
Semanário Zambeze - Maputo 22 Julho 04
Sob os Vapores de Baco
Artur Nkaíma
Tal como Sérgio Vieira, também tive o privilégio de ler o livro de Barnabé Lucas Ncomo – Uria Simango, um homem, uma causa.  Surpreso fiquei com o à-vontade de Sérgio Vieira em baralhar a opinião pública, misturando alhos com bogalhos, numa tentativa de lançar no descrédito um trabalho sério de investigação conduzido ao longo de muitos e difíceis anos.  (ver “Carta a Muitos Amigos” - Domingo - 18 de Julho de 2004).  A intenção de Sérgio Vieira foi mais do que evidente: desviar a atenção do público sobre a vida e obra de Uria Timóteo Simango.  O método utilizado não é, aliás, inédito – os moçambicanos há muito que se habituaram a esse tipo de malabarismos desde os tempos em que lhe quizeram  impor o “pensamento comum”.
Não ficar calado nem sempre significa deixar de consentir. O facto de Sérgio Vieira, no meio de tanto rancor, não ter sequer uma palavra, um simples desmentido relativamente às graves acusações que o autor de Uria Simango – um homem, uma causa, lhe dirigiu a propósito do seu envolvimento directo em todo o processo que culminou na execução sumária do vice- presidente eleito da Frelimo, é disso prova.
Em vez de rejeitar a acusação sem rebuços, Sérgio Vieira recorreu aos habituais epítetos, mas com uma novidade: agora, os que pensam por si próprios e recusam a “verdade oficial” passam também a ser considerados de “bêbados”, não necessitando, para isso, de passar pela triste figura de Sérgio Vieira num restaurante muito chique da Julius Nyerere no decurso dum repasto bem regado com os “xaropes” das marcas mais sonantes, e, como que a acamar a fausta merenda com que acabara de se locupletar, os digestivos da praxe.
As testemunhas são várias, e o próprio visado deixou as pegadas no livro de reclamações que autoritariamente, e com uma voz já a arrastar sob os vapores de Baco, solicitou ao gerente do estabelecimento em causa pelo simples facto do empregado de mesa ter servido azeite italiano, e não do português; “o de oliveira”, como soi dizer-se.
Saudades do outro Oliveira, o tal que também era ditador?

A propósito de “Uria Simango”

vertical nº 623 de 29.07.2004
(Maputo) A propósito do recente lançamento do livro “Uria Simango: Um homem, uma causa”, as reacções que têm vindo a surgir, já pouco antes do seu lançamento, terão que ser, à medida, calculadas pelo próprio autor, pois, segundo ele mesmo, nunca se assumiu como um historiador no verdadeiro sentido do termo.
Barnabé Lucas Ncomo defende que, apesar de ter algumas ferramentas necessárias para um historiador, a sua obra, como qualquer outra obra histórica, contém uma verdade relativa. É que, segundo Barnabé Ncomo, quando se escreve no momento em que se vive, tendo como base os próprios protagonistas, a história torna-se uma fabulação controlada. Indagou-se: “o que seria da memória histórica em si, se essas pequenas verdades repousam sobre fabulações controladas?”.
Motivado pela pré-concepção da ocorrência de um erro hsitórico, Ncomo concluiu que o que importa, neste momento, após a almejada publicação da obra, é que as pessoas se mudem de todas as verdades relativas de modo a que cada um vislumbre nessas pequenas verdades aquela que mais se aproxima à realidade de vida.
O autor da obra sobre Uria Simango pretende, através dela, contribuir para que aqueles a quem couber a missão de reescrever a história do nosso País, tenha dados capazes para conduzir a verdadeira história. O autor deixou ficar uma nota: “É natural que algumas pessoas considerem tratar-se de 400 páginas de lixo se tivermos em conta que estamos num conflito de memória colectiva. Contudo, antes de atirá-lo aos caixotes de lixo, da obra recomendo que seja explorado o que é reciclável”.
Falando por ocasião da cerimónia de lançamento oficial, que contou com a participação de destacados membros da Renamo, entre figuras proeminentes da sociedade civil, Barnabé Ncomo disse acreditar que muitas das perguntas que a muitos tem apoquetado ao longo dos últimos anos podem encontrar pequenas respostas no seu livro.
Na ocasião, o autor afirmou que “não é um livro de história, mas talvez um livro de história da historia. É apenas uma contratese de um Uria Simango reaccionário e traidor. Procura demonstrar a dimensão de um homem não só no contexto da luta de libertação nacional, como o seu protagonismo no mesmo contexto. Provar que Simango não só nunca foi um perigo para a independência do País, como também provar que os seus detratores terão falhado no processo da construção de bases sobre as quais se assentaria a construção da moçambicanidade”.
O autor advertiu que, a história da libertação de Moçambique “supera a imaginação de todos”, justificando-se pelo facto dele próprio ter ficado “estupefacto” com as conclusões a que chegou. E, além do mais, segundo ele, para se compreender o que se passou, “é preciso ir para além do que os olhos viram e do que os ouvidos ouviram”.
Citando um conceituado pensador italiano, Barnabé Ncomo, bacharel em Ciências Sociais pela Universidade Eduardo Mondlane (UEM), actualmente a fazer licenciatura em Administração Pública na mesma universidade, frisou: “O fenómeno conhecer não se resume apenas na constatação do facto. É saber explicá-lo e a explicação de qualquer coisa faz- se apelando as suas causas. Ou seja, o conhecimento tem de ser procurado no conhecimento da produção ou na reprodução do processo causal”.
“Certamente que alguns dirão que este homem não é neutro e que este livro não tem nada de científico. Aceitarei todas as críticas. Mas, a neutralidade de um processo de construção de uma memória colectiva estaria em função de que? Da inexistência da dor no pesquisador? Ou estaria em função da cegueira auto-assumida? Nem mesmo a distância que separa do facto acontecido do seu relato pelo pesquisador pode garantir justiça na memória histórica se a história se basear apenas em manuais oficiais escritos num contexto de conflito da memória colectiva”, rematou Barnabé Lucas Ncomo, numa das suas alocuções.
(A. Nenane e A. Oliveira)

27-06-2004

MANIPULAÇÕES POLÍTICAS DIFICULTAM DIVULGAÇÃO DA HISTÓRIA

Da luta de Libertação Nacional
MANIPULAÇÕES POLÍTICAS DIFICULTAM DIVULGAÇÃO DA HISTÓRIA
•Dizem antigos combatentes por ocasião de 25 de Junho
•E governo queixa-se de falta de meios financeiros
Discursos pouco abonatórios de certos políticos sobre a história da Luta de Libertação Nacional são considerados como estando a comprometer a sua divulgação de forma isenta e transparente, em benefício das novas e futuras gerações.
Cidadãos entrevistados por ocasião do 29º aniversário da Independência Nacional, que hoje se assinala, responsabilizaram a Frelimo e a Renamo pelo alegado desentendimento nas interpretações de todas as datas moçambicanas.
Da forma como as datas são interpretadas pelos nossos políticos não nos permite que ensinemos aos nossos filhos acerca da sua importância. Disse um académico.
Por seu turno, Pedro Fernandes, um quadro sénior do Ministério Ministério da Educação é da opinião que os partidos deveriam continuar a trabalhar no sentido de consolidar a paz. Para Fernandes, Moçambique soube conquistar a sua independência política, reafirmando um país soberano.
Entretanto, Robero Saíde, director provincial dos Assuntos dos Antigos Combatentes, afirma não haver condições financeiras para garantir a divulgação efectiva da história.
Em Nampula, várias actividades culturais e recreativas tiveram lugar durante a semana em todos os bairros desta cidade sob a coordenação da Direcção Provincial dos Assuntos dos Antigos Combatentes.
WAMPHULA FAX - 25.06.2004

12-06-2004

CAMPO DE REEDUCAÇÃO DE MITELELA OU CAMPO DE CONCENTRAÇÃO?

DEMOS - Dezembro 2003
CONFIDENCIAL
Coluna de João CRAVEIRINHA
email: joaocraveirinha@yahoo.com.br
DOSSIER 10
CAMPO DE REEDUCAÇÃO DE MITELELA OU CAMPO DE CONCENTRAÇÃO?
(VAE VICTIS – AI DOS VENCIDOS!)
3ª Parte (Fim da 1ª Fase)
Em 1975 – Novembro (?!), João Craveirinha e mais elementos são transferidos (detidos) de Nachingueia (Tanzânia) para Niassa oriental, via Lago. São enviados para o campo de concentração da FRENTE em Mitelela, no antigo quartel português de Nova Viseu, deixado pelos militares lusos, todo minado ao redor e com garrafas partidas enterradas nas instalações. Entre os detidos e transferidos encontravam-se muitos nomes conhecidos do nacionalismo africano como Adelino Guambe fundador da FRELIMO, o reverendo Uria Simango, sua esposa Celina, Paulo Gomane, Narciso Inbule, antigos comandantes de élite entre eles, Pascoal Almeida Nhapulo, Pedro Simango (2), Januário Napulula e Chéés-padres muçulmanos (sheiks), curandeiros, etc. Entre os presos, ainda, Lázaro Kavandame, Verónica, o ex-representante da Frente no Cairo, Judas Honwana, o médico Dr. João Unhai(Unyai), o engenheiro Marqueza, o Prof. Dr. Kambeu de Direito Internacional, a Dra. Joana Simeão da FRECOMO (anteriormente do GUMO do Dr. Máximo Dias), o primo de 1º grau do Prof. Dr. Eduardo Mondlane – Pedro Mondlane, e muitos outros. O campo de Mitelela de máxima segurança encontrava-se numa região lamacenta muito isolada e de fauna bravia – leões, leopardos, elefantes, cobras. Os felinos e as cobras eram “visitas” normais. No campo encontravam-se também, antigos agentes moçambicanos da Pide como Leonel Soleimane Motty, o 1º em Moçambique (1972), a ter uma empresa privada de segurança com uma rede bem montada nas principais empresas e 3 “chóferes” privados à disposição e respectivas viaturas novas. Leonel Motty, natural de Quelimane, provinha da Polícia Judiciária onde se formara em Lisboa e tinha acesso aos arquivos da PIDE na Casa Algarve em Lourenço Marques. Acumulava com a tarefa de Inspector do Trabalho e de empresário de ligações com as representações da Volkswagen e da BMW. Teve tempo e dinheiro para fugir para a África do Sul, mas ingenuamente, ofereceu-se para trabalhar para a FRELIMO em 1974. Muito mais tarde, prisioneiro com tuberculose e maus-tratos, sucumbiria em Niassa nos anos 1980 (?!). Talvez, L. Motty, pensasse nos chefes da Gestapo alemã de Hitler que se ofereceram para trabalhar para os russos em Moscovo na iminência da queda do 3º Reich em 1945. É o caso do director Müeller da mesma polícia secreta nazi. Não só seria poupado como integraria os serviços secretos soviéticos, na formação. Os russos aproveitaram a sua experiência. Existe uma cultura comum nas polícias secretas a serviço de qualquer poder político. São instrumentos e a experiência conta. Da rede piramidal total, montada por Motty em Moçambique, quem poderá saber se eventualmente muitos desses elementos que nunca seriam detectados, teriam integrado os grupos dinamita…dores, digo, dinamizadores de tão triste memória da Frelimo? Quiçá alguns poderiam ter subido na hierarquia da própria estrutura política de bairro da Frelimo aos dias de hoje. A muito longo prazo – o acesso a serem empresários de sucesso, mostrando a verdadeira face, renegando a Frelimo que lhes deu o ”escadote” para subirem e quem sabe à custa de acusar os outros de serem reaccionários, na era de Samora Machel, enviando-os aos fatídicos campos de “reeducação”? Era preciso mostrar serviço para serem de confiança política. Poderá estar aí o embrião da conspiração e do oportunismo actualmente patente no nosso país!
A terminar esta 1ª fase dos DOSSIERS CONFIDENCIAIS coloca-se uma questão de fundo: Sempre houve infiltrações (ou tentativas) descobertas na Frelimo e em qualquer Movimento de Libertação e em toda a História da Humanidade sempre houve e haverá espionagem no campo do inimigo. Mas a questão de fundo é maior. Saber se a nível da cúpula, na Frelimo, terá havido uma Grande Toupeira ou várias?
A PIDE, em Lourenço Marques, na Costa do Sol, queimou todos os nomes, dados, e documentação dos seus arquivos, no campo de futebol do Benfica de LM, hoje CDCS. A Torre do Tombo não tem esses dados. Há só indícios. Havia um grande infiltrado ou mais a nível da cúpula? Mas quem? E que percurso? Chegaram a ministros e a membros do Comité Central? Estiveram entre os 10 mais poderosos de Moçambique na era de Machel? Se existiram, agora aonde andarão esses super agentes da PIDE? Serão empresários ou deputados ou ministros? Presumo que para sempre será um mistério!
E sobre, João Craveirinha, PRESO POLÍTICO (voluntário), na FRENTE de LIBERTAÇÃO, em Nachingueia(Nachingwea) e Niassa…Um dia, será contada e publicada a história depois da sua morte! ●

NA FRENTE DE LIBERTAÇÃO - A CLARIFICAÇÃO TOTAL

TRIBUNA Dia 5 Dezembro 2003
Coluna de João CRAVEIRINHA
email: craveirinhajoao@mail. pt

ARQUIVOS IMPLACÁVEIS(7)
NA FRENTE DE LIBERTAÇÃO - A CLARIFICAÇÃO TOTAL
O Hospital da Frente de Libertação encontrava-se localizado no sul de Tanzânia, em Mutuara (Mtwara), na direcção de Cabo Delgado, região nortenha de Moçambique para além do rio Rovuma. Nesse Hospital em situação anterior à sua expulsão (1968), o médico Hélder Martins, “ in extremis”, seria salvo por Manuel dos Santos (de Tete), de uma iminente agressão de uns guerrilheiros (muito irritados) de Cabo Delgado que se encontravam a receber tratamento de ferimentos em combate, por não aceitarem alta hospitalar e as ordens de regresso ao interior dadas pelo médico e responsável da Saúde da Frente, Hélder Martins. Estaria (entre outros) criado o cenário propício para as expulsões à posteriori depois dos distúrbios, de Maio de 1968, no escritório da Frente em Dar-es-Salaam e da revolta dos estudantes no Instituto Moçambicano em “Kurassini”. No entanto, muito após o assassinato de Eduardo Mondlane (1969), seria rectificada a situação com a autorização do regresso pela parte tanzaniana.
Provisoriamente uma “troika” substituiria Mondlane: - Samora Machel, Marcelino dos Santos e Uria Simango que se antecipara evocando os estatutos e distribuíra cartões de visita com o título de “acting President” – Presidente em exercício até às eleições do Congresso. Os acontecimentos precipitam-se. Uria Simango sente-se inconfortável ladeado pelos seus pares e tenta “ dar a volta” em vão. Encontra-se “espartilhado” sem margem de manobra. Seus apoiantes declarados são detidos ou o abandonam mudando de campo. Os detidos enviados a Cabo Delgado são executados depois de torturados na Base Central. Entre eles o tesoureiro da Frente de Libertação – Silvério Nungo; - A 18 de Julho de 1969 seria torturado (ainda mais), durante toda noite até ao amanhecer. Devido às coronhadas de espingarda recebidas na cabeça estas provocariam fracturas expostas, com partes abertas do crânio, por onde escorreria líquido da matéria encefálica, conduzindo-o, a uma morte lenta e muito dolorosa, debaixo de soluços roucos infra – humanos, de dor. Seria morto depois de uma agonia de cerca de 8 dias até a essa fatídica noite.
Em finais de 1969, o reverendo Uria Simango, distribui um Manifesto de 13 páginas intitulado “Gloomy Situation in Frelimo” – Situação Tenebrosa na Frelimo, onde acusa os seus camaradas e a viúva de Eduardo Mondlane, Janet. É a gota de água que transborda o copo. Em Novembro de 1969, Uria Simango é oficialmente expulso da Frente de Libertação. Após ouvir o reverendo U. Simango, o preocupado Presidente Nyerere, não intervém. A situação torna-se insustentável em Dar-es-Salaam para Uria Simango. Refugia-se no Cairo – Egipto onde (re) adere a uma nova Udenamo e posteriormente à COREMO – Comité Revolucionário de Moçambique, fundada em 1965 em “Lussaca” – Zâmbia. A Coremo, presidida por Paulo Gomane, combatia o exército português em Tete com o apoio da Zâmbia, China Popular e de elementos sedeados nos Estados Unidos. Era um movimento oficialmente pró-maoísta mas contraditoriamente de ligações norte-americanas. Colaborava com o PAC da África do Sul, a UNITA de Angola, ZANU da Rodésia e SWANU da Namíbia. (Uria Simango surgiria em Moçambique depois de Junho de 1974).
Em finais de 1969, Samora Machel, admirador confesso do maoísmo, passa a presidir abertamente à Frelimo e o veterano Marcelino dos Santos, relegado para segundo plano, é o vice-Presidente.
Tem início uma nova era na Frente de Libertação de Moçambique.■■■

ENFº BALTAZAR CHAGONGA

TRIBUNA
Coluna de João CRAVEIRINHA
email: craveirinhajoao@mail. pt

ARQUIVOS IMPLACÁVEIS (1)
ENFº BALTAZAR CHAGONGA, HERÓI ESQUECIDO e CO-FUNDADOR da FRELIMO
Nesta nova Coluna periódica no CORREIO da MANHÃ a partir da “minha TRIBUNA”, inicio uma série de comentários sobre a consulta feita a arquivos e de testemunhos pessoais relacionados com a luta anti-colonial dos moçambicanos contra o colonialismo português…Iniciamo-la com um dos fundadores da Frente comum de Libertação de Moçambique…Trata-se do Enfermeiro “Baltazar Chagonga” nascido na cidade de Tete em 6 de Janeiro de 1905 e falecido em Maputo em 25 de Setembro de 1988. Outro Herói do nosso tempo…
Foi preso político da PIDE em Lourenço Marques depois de raptado em Malaui em Março de 1965 para Milange na Zambézia… Em Junho de 1974 era enfermeiro no Posto de Socorros nº 2 da Soberana Ordem de Colombo no bairro da Munhuana. Este Posto como muitos outros de solidariedade social no campo da saúde pública, seriam extintos ou nacionalizados pela Frelimo ao tomar o poder. Chagonga em 1961 foi um dos líderes das manifestações anti-coloniais em Tete contra as brutalidades e torturas praticadas pelos administradores coloniais portugueses sobre as populações, em particular a do Administrador do Concelho de Moatize, Edgar Nazi Pereira, cronista na Rádio Clube de Moçambique. Várias décadas mais tarde deixaria escrito o livro “Mitos, Feitiços e Gente de Moçambique”, editado em 1998 pela Caminho de Portugal associada da Ndjira de Maputo. Na altura o seu nome escrevia-se Nazi com Z. Depois do 25 de Abril de 1974 mudou para Nasi…”Mudam-se os tempos mudam-se as vontades – O Tempora – O Mores”…Lá dizia o velho advogado romano, Marco Túlio Cícero, muitos anos antes de Cristo.
Voltando a “Chagonga” este seria preso em 1961 em Moatize – Tete e libertado por ordem do Governador-geral. Funda na clandestinidade em Tete a UNAMI – União Nacional Africana de Moçambique Independente… Continua a ser perseguido pelo administrador Nazi Pereira. Foge para a então Niassalândia onde é protegido pelo médico e líder político – Inguazi, Dr. Kamuzu Banda, futuro Presidente do Malaui da ex- Niassalândia…Ainda em 1961 é enviado por Banda a Dar-es-Salaam …Note-se Malaui (Malawi), Zâmbia e Tanzânia ainda não estavam Independentes… Os líderes nacionalistas de Tanzânia – Julius Kambarage Nyerere e Rashid Kauaua(Kawawa), da TANU, instalam-no no Princess Hotel. Na cidade de Dar-es-Salaam instalar-se-iam outros movimentos políticos de Moçambique : - a UDENAMO de Adelino Guambe e de Machuza (Mahluza), fundada na Rodésia (gente do centro – sul de Moçambique) e a MANU de predominância maconde de Mola e Vanomba de ligações a Tanzânia e a Mombaça – Quénia. Dos três, a UNAMI era o único movimento político fundado em Moçambique e na clandestinidade. Em 1962 Chagonga e outros nacionalistas moçambicanos assistem à Conferência da PAFMECA em Adis- Abeba, na Etiópia do Imperador Hailé Selassie. Orientou a Conferência o então secretário-geral Mbyu Kuinangue. Após a reunião Baltazar Chagonga e outros nacionalistas regressam a Dar-es-Salaam…A PAFMECA era a Pan – African Freedom Movement for East and Central Africa …é mais ou menos isso – Movimento Pan – Africano de Libertação da África Central e Oriental...mais tarde da África Austral…No início era composto por Tanganhica(Tanganyika), Quénia, Uganda, Rodésia do Norte(Zâmbia) e Niassalândia( Nyasaland – Malawi)…De Moçambique além da UNAMI de Chagonga tínhamos a UDENAMO – União Democrática NAcional de Moçambique e a MANU – posteriormente Mozambique African National Union antes MAkonde National Union…decalque da TANU de Tanganhica anterior à Independência de 09.12.1961. No ano seguinte, em 25 de Junho de 1962 é criada a FRE.LI.MO em Dar-es-Salaam. O Uganda Independente em 09.10.1962…Zanzibar a 10.12.1963. Fusão de Tanganhica com Zanzibar em 27.04.1964 passando a Tanzânia. Malaui Independente em 06.07.1964 e a Zâmbia a 24.10.1964…
O Enfermeiro independista, José Baltazar da Costa, conhecido por Chagonga – outro Herói esquecido pela história moçambicana, assistiria como observador convidado a 3 dessas Independências africanas – a do Tanganhica; do Malaui e da Zâmbia que seriam muito importantes para o futuro de Moçambique… □□□

11-06-2004

Assassínio de Eduardo Mondlane

pidedgscapa1... Em Moçambique, António Vaz, responsável da Delegação, confirma que a PIDE/DGS «possuía uma muito razoável rede de informadores no seio da FRELIMO...»}63. Novos exemplos o demonstram. Em 1969, numa informação classificada de «totalmente segura» faz-se um inventário das armas existentes no armazém da FRELIMO, em Mitomani164. Em 1974, um informador dá conta da chegada a Dar-es-Salam de «armas mais potentes que o foguetão de 122 mm»165. A polícia desconfia que seja o míssil Strella, o que será confirmado166. Ainda um último exemplo: as circunstâncias que conduziram ao assassínio de Eduardo Mondlane.
Sabe-se hoje quem fabricou e enviou a bomba que vitimaria o presidente da FRELIMO. Terá sido Casimiro Monteiro, segundo acusação de Rosa Casaco167, secundado por Oscar Cardoso168. Mas ficamos sem saber quem informou a PIDE de que Mondlane encomendara uma «tradução francesa das Obras Escolhidas do célebre marxista russo George V. Plekhanov»169 e onde a encomendara. Sabe-se, apenas, que dificilmente se encontraria aquele autor e aquela versão linguística numa livraria portuguesa.
O inspector-adjunto da PIDE-DGS, Oscar Cardoso, tão parco noutro tipo de informações, tem neste caso o cuidado de afirmar que Casimiro Monteiro «teve a colaboração do chefe de segurança do Mondlane, o Joaquim Chissano, actual Presidente da República de Moçambique»170®. Tratar-se-á de uma provocação. Contudo, persiste a interrogação:
- Quem, dentre os elementos próximos do presidente e da direcção da FRELIMO, informou a PIDE?
O mais provável é que tenha sido Silvério Nungu, que adiante identificaremos. Nungu foi preso quando tentava fugir para Moçambique e teria morrido em resultado de uma greve da fome. A hipótese foi avançada pelo jornalista inglês David Martin, correspondente em Dar-es-Salam do jornal The Observer171. Uma coisa é certa. Tinha de ser alguém perto do presidente da FRELIMO. Mas voltaremos a falar de tudo isto no capítulo consagrado às operações, quando abordarmos mais em pormenor o assassínio de Eduardo Mondlane...
1.2. Assassínio de Eduardo Mondlane
Tentemos, agora, fazer luz sobre o assassínio de Eduardo Mondlane, presidente da FRELIMO.
1.2.1. O crime
Na manhã do dia 3 de Fevereiro de 1969, em Dar-es-Salam, Eduardo Mondlane, presidente da FRELIMO, morre, quando abria uma encomenda armadilhada contendo «a tradução francesa das Obras Escolhidas do célebre marxista russo George V. Plekhanov»23. A explosão ter-lhe-ia decepado as mãos e separado o tronco em duas partes24.
1.2.2. Cortinas defumo
Polícias e membros do regime lançam cortinas de fumo, tendentes a desviar a atenção dos verdadeiros criminosos:
O inspector Gomes Lopes, chefe da Subdelegação da PIDE/DGS na cidade da Beira, declara a um jornalista norte-americano: «Ou os russos planearam o assassinato ou se tratou duma engenhosa armadilha montada pêlos chineses»25.
O engenheiro Jorge Jardim, por seu lado, afirma que Hastings Banda, do Malawi, atribuíra a morte de Mondlane a «manobras dos agentes da China»26.
Finalmente, o professor Silva Cunha, membro dos Governos de Salazar e de Caetano, declara que ao regime interessava mais Mondlane do que Machel à frente da FRELIMO. A mesma versão seria avançada por António Vaz, chefe da delegação da PIDE em Moçambique, para quem Mondlane era o «menos mau»2'1.
1.2.3. A verdade sobre o crime
Segundo Geoffrey Sawaya, chefe dos serviços secretos da Tanzânia, no livro bomba teria sido usado material explosivo fornecido por uma empresa japonesa à Casa Praff, sita no n° 5 da rua Joaquim Lapa, em Lourenço Marques. E a PIDE teria sido ajudada no seio da FRELIMO, por Lázaro Nkavandame e por Silvedo Nungu. Nungu fora secretário administrativo do Comité Central, eleito no 1° Congresso da FRELIMO, sendo igualmente assinalada a sua presença na Direcção do Departamento de Informação e Propaganda, ao lado de Pascoal Mucumbi28. Ao que parece, morreu na prisão em resultado duma greve da fome29.
O jornal The Observer, de 7 de Fevereiro de 1972, atribui à PIDE/DGS as responsabilidades pelo crime. E declara que a polícia tanzaniana tinha como suspeitos e colaboradores da polícia portuguesa Lázaro Nkavandame e Silvério Nungu, detido quando tentava fugir para Moçambique30.
O jornal The Sunday Times, num artigo publicado em 20 de Janeiro de 1975, refere, pela primeira vez, o envolvimento de Casimiro Monteiro no crime31.
A espionagem italiana do Servizio Informatione Difesa (SDI) atribuiu o crime a uma rede envolvendo a PIDE e a AGINTERPRESS, o engenheiro Jorge Jardim, Uria Simango e Robert Leroy, espião em Dar-es-Salam. O autor material teria sido Casimiro Monteiro32.
Segundo testemunho do chefe de redacção do Notícias da Beira, o engenheiro Jorge Jardim compareceu na redacção no dia do atentado (facto, ao que parece, inédito) e aguardou várias horas pela chegada duma «.importante notícia», precisamente a notícia do atentado que vitimou Eduardo Mondlane33.
O inspector Rosa Casaco, em entrevista ao Expresso, assegura:
«Quem montou a carta foi o Casimiro Monteiro, parece que a mando do António Fernandes
O próprio filho de Casimiro Monteiro, em testemunho prestado à RTP, afirma ter sido o pai quem esteve por detrás da não desvendada morte do então presidente da FRELIMO35.
Oscar Cardoso, antigo responsável da PIDE/DGS, declarou em entrevista publicada:
«A carta armadilhada, que provocou a morte de Eduardo Mondlane, foi preparada por Casimiro Monteiro, que era de facto um grande especialista em explosivos. Mas o Casimiro Monteiro não agiu sozinho, teve a colaboração do chefe de segurança de Mondlane, o Joaquim Chissano, actual Presidente da República de Moçambique»^
Descontada a previsível provocação de quem foi instrutor da RENAMO, fica mais uma confirmação do papel de Casimiro Monteiro no crime. De resto, também o antigo operacional da CIO rodesiana, Henrick Ellert, atribui o assassínio a Casimiro Monteiro37. E o falecido marechal Costa Gomes garantiu que «quem matou o Mondlanefoi a PIDE»^.
Assim, todos os dados carreados parecem suficientes para concluir da responsabilidade da PIDE/DGS no assassínio de Eduardo Mondlane. Afigura-se, também, indubitável ter sido Casimiro Monteiro o autor material do crime. Já os instigadores são mais difíceis de discernir, embora pareça claro ter havido intervenção do chefe da delegação António Vaz e do engenheiro Jorge Jardim.
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Deputado brasileiro culpa herança portuguesa

FranciscoTurraNa «Voz do Brasil»
Deputado brasileiro culpa herança portuguesa
2004-06-08 05:09:23
São Paulo - Francisco Turra, deputado da Câmara Federal de Brasília, eleito pelo Partido Progressista (PP) do Estado do Rio Grande do Sul, culpou a «herança lusitana pelas distorções na administração pública, que prioriza interesses políticos e coloca pessoas despreparadas em cargos de confiança». As declarações, proferidas no programa radiofónico «Voz do Brasil» no passado dia 1 de Junho, causarem indignação no seio da comunidade portuguesa e luso-descendente em todo o Brasil.
O advogado Paulo Porto Fernandes, radicado na capital paulista, dirigiu uma carta ao parlamentar lamentando o ocorrido. «Gostaria de lamentar que o senhor possa ter uma visão tão restrita e vestida de preconceito ao fazer tal afirmação. A comunidade portuguesa e os seus descendentes, que herdaram a dignidade, a honra e o respeito de seus ancestrais portugueses (onde me incluo, pois sou filho de português e actuo na comunidade prestando assessoria aos carentes), sente-se profundamente ofendida mediante tal afirmação. Está na hora de, nós brasileiros, fazermos uma 'mea culpa' e assumirmos de uma vez por todas nossos erros ao invés de culpar os outros, afinal de contas já se passaram séculos e a desculpa continua a mesma», escreve o jurista.
O Jornal Digital tentou contactar Francisco Turra em Brasília sem sucesso. A informação foi de que o deputado encontrava-se em trabalho numa das Comissões que integra.
EM
(c) PNN - agencianoticias.com


«Lamentável distorção» diz Francisco Turra
Deputado brasileiro esclarece polémica sobre «herança lusitana» 

2004-06-10 09:16:53
Brasília - O deputado federal Francisco Turra eleito pelo Partido Progressista (PP) do Estado do Rio Grande do Sul, em contacto com a delegação do Jornal Digital no Brasil, disse que o locutor do programa radiofónico «Voz do Brasil», no último dia 1 de Junho, distorceu as suas palavras contidas num discurso proferido no dia 31 de Maio na Câmara dos Deputados.
«Inicialmente declaro meu incondicional apreço ao povo lusitano, especialmente àqueles que adoptaram este nosso Brasil como sua terra. Nossa cultura nacional é repleta de aspectos originários dos colonizadores portugueses e isto é motivo de orgulho, pois somos herdeiros, isto sim, de uma das mais grandiosas e inovadoras civilizações que se tem registro no mundo. Portugal foi pioneiro em muitas frentes: o primeiro Estado Nacional da era moderna; o principal desbravador dos mares e descobridor de novas terras; e inovador na organização de uma administração pública de maior grau de complexidade», afirmou o parlamentar.
«Foi apenas sobre este último aspecto citado que fiz referência em meu discurso. Afirmei que na formação de sua monarquia, nos séculos XIV e XV, a então modesta extensão territorial portuguesa fez com que a definição de títulos de nobreza estivesse vinculada à ocupação de cargos públicos hereditários, e não pela concessão de terras, como predominou posteriormente na França, Inglaterra e Espanha, que se mantiveram por mais tempo enraizadas no modelo medieval. É claro, na sua posição pioneira, os portugueses não tinham um exemplo a seguir, sendo obrigados a desenvolver suas próprias experiências ante a uma administração pública, cuja complexidade crescia na mesma rapidez da expansão do Império. Evidentemente, o risco de erro dos pioneiros é sempre maior. Na verdade, uma das melhores qualidades da humanidade talvez seja exactamente a de aprender com os próprios equívocos», esclareceu.
«Minha crítica foi centrada no fato de que o Brasil está há menos de duas décadas de completar dois séculos como país independente e ainda não modernizou os conceitos mais básicos de administração pública. Minha crítica naquela oportunidade foi dirigida a nossa ética de gestão, o que nada tem a ver com Portugal, uma Nação que actualmente está caminhando rapidamente para padrões de bem-estar sócio-económico equivalentes aos mais ricos países europeus. O que me causa indignação é que o modelo brasileiro de administração estatal ainda insiste em fechar os olhos para as suas próprias verdades. A meu ver, as questões a serem resolvidas são de cunho ético. E isto, evidentemente, nada tem a ver com o grandioso legado da civilização portuguesa. Culpar a cultura portuguesa pelos nossos próprios equívocos seria imperdoável e, tenha certeza, tal procedimento jamais faria parte de minha conduta política», acrescentou Francisco Turra.
O deputado conclui a sua missiva pedindo desculpa por este lamentável mal-entendido e coloca-se à disposição de todos os componentes da comunidade lusa no Brasil para os esclarecimentos que forem necessários.
E. M.
(c) PNN - agencianoticias.com

09-06-2004

Simango: de reaccionário a herói

DEMOS(Maputo)
19 de Maio de 2004
Para as gerações mais jovens, educadas num ambiente em que com devoção se
cantava: "Simango,reaccionário..." a obra de Barnabé Lucas Ncomo é verdadeiramente o resgate de uma figura histórica deste país. Com efeito, "Uria Simango: Um homem, uma causa" é, uma obra: que estava a faltar ao imaginário político moçambicano. Aliás, quando colocado face desta imagem tão sinuosa quanto emblemática, uma das questões que se erguem é de saber se estamos perante um herói ou perante um mercenário.
Relegado para a condição de reaccionário, Simango, hoje resgatado por Barnabé Lucas Ncomo, começou a despertar interesse enquanto tal através de um questionamento suscitado pela interrupção do som de
uma emissão televisiva alusiva aos vinte anos da morte de Eduardo Mondlane. Ia Janeth Mondlane a dizer que, antes da sua morte, todo o povo moçambicano saberia quem matou Mondlane descartando a teoria
que liga o pastor Simango ao assassinato do primeiro presidente da Frelimo, quando houve corte do som por um período suficientemente longo e não seguido de alguma explicação como sempre acontecia.
Muito mais recentemente Mahluza, o homem que se apresentou como quem sugeriu o nome FRELIMO para o movimento de libertação, afirmaria de boca cheia uma espécie de heroísmo para a mesma figura.
A obra de Ncomo apresenta-se como algo de particularmente impressionante na medida em que em quase quinhentas páginas, o autor nos conduz no meio de um ambiente obscuro e proibido à busca do um
Simango reinterpretado e, através de um percurso histórico resgata a figura histórica.
Sem se preocupar pelo rigor científico, vai a busca da verdade e não teme deixar questões em aberto, como foi o caso da data e circunstâncias da sua morte.
Por outro lado, mesmo sem sucumbir ante a dificuldade de discernir um pensamento simanguiano vai mostrar o caminho tortuoso e difícil da formação e desenvolvimento da Frente. Mais do falar em consensos,
ele mete em evidência as várias tendências que era necessário fazer convergir.
Nas linhas que se seguem Demos transcreve alguns excertos da obra.
MORTO EM DATA E LOCAL INCERTO
Difícil estabelecer com exactidão as datas. O certo é que em dia impreciso do período que vai de Maio de 1977 a Junho de 1980, durante o mandato do então governador da província do Niassa, Aurélio Benete Manave, M'telela acolhe no seu solo o que resta de um homem que muito fez para a libertação de Moçambique. O Rev. Uria Timóteo Simango era barbaramente assassinado na companhia de outros
moçambicanos tidos como reaccionários pelo regime totalitário da Frelimo.
O acto, executado dentro do secretismo que caracterizava as hostes do poder político em Moçambique, só viria a tornar-se público cinco anos mais tarde com a fuga para a Africa do Sul de um destacado
membro do SNASP (Serviço Nacional de Segurança Popular) e pela voz da Resistência Nacional Moçambique.
DISCIPLINA PARTIDÁRIA
A primeira tentativa de se conciliar ideias a volta do assunto nas hostes do. poder a politico em Maputo ocorre em 1980 quando o Comité Politico Permanente da Frelimo ensaia a intenção de informar o país
e o mundo sobre o destino de Simango. De certa forma ao que tudo indica, essa tentativa criou algumas desinteligências no seio do próprio partido no poder, pois um considerável número de membros da
cúpula daquele partido não terá aceite pactuar com a farsa de que se pretendia forjar.
Desde então, a Frelimo tem-se esforçado por apresentar o caso como encerrado, visto que o plano denominado Código Namuli, conforme mais adiante se verá, não seria levado avante.
O que se sabe sobre a morte de Uria Simango e seus companheiros gira em torna informações colhidas junto de pessoas que de M'telela escaparam com vida mantendo-se o silêncio dos mandantes e dos
executores directos do acto. Tudo leva a crer que houve um pacto entre a classe dirigente, consubstanciado a disciplina partidária.
Segundo assevera o então governador Manave:
"Uma das características da Frelimo é a disciplina e o sigilo partidários. Ninguém está autorizado a tocar na questão Simango senão os que têm autoridade. Eu, como indivíduo singular, não tenho essa autoridade. Houve um juramento de sigilo à volta da questão e apenas a quebra oficial desse juramento poderá libertar os pactuantes para falarem do assunto. Duvido que algum dia isso aconteça. A maioria dos pactuantes está viva e acho que mesmo com a garantia de se manter seus nomes no anonimato, dificilmente podem
dizer algo sobre a figura de Uria Simango.
Conheci Simango e com ele convivi durante muitos anos. O que posso dizer e apenas que aquando da captura dos reaccionários em 1974 eu era o Comandante do Campo de preparação político-militar de
Nachingweia, para onde foram conduzidos esses reaccionários. Todos eram humanamente tratados e nunca torturámos alguém. Fui igualmente o governador de Niassa até 1983, altura em que de lá saí para
cumprir outras tarefas que me confiaram. Nada mais posso acrescentar, senão isso. (Aurélio Benete Manave).

NÃO HÁ RAZÃO PARA TAL
Sintomático do receio e terror psicológico que a questão provoca nos então detentores do poder político em Moçambique, passados que são décadas do silêncio absoluto, e a indisponibilidade mostrada por alguns em abordar com profundidade a "questão Simango". Tal é o caso de Óscar Monteiro, um nome sonante da vida nacional moçambicana após independência. Monteiro afirma que apesar de ter conhecido Simango, conviveu pouco tempo com ele, pois cedo passou a representante da Frelimo em Argélia, o que, de certo modo, o impediu de o conhecer com profundidade. Pouco adiantou sobre o homem. Contudo reconhece
ter tido alguns contactos com o Reverendo no contexto da luta armada de libertação nacional. Nada mais acrescentou, porque "ando muito ocupado e não sei quando é que terei disponibilidade para falarmos
disso." (Óscar Monteiro) Apesar da insistência do autor, visando marcar uma entrevista para outra ocasião, Monteiro pouco interesse mostrou em abordar o assunto. Todavia, Monteiro aparecera mais tarde
a lamentar-se do fim que tiveram Os presos de M'telela dizendo que não se devia ter feito uma tal coisa, pois "não havia razão para isso" (Óscar Monteiro)

O EMBARAÇO DE CHISSANO
Joaquim Chissano, que subira ao trono depois da: morte de Samora Machel em Outubro de 1986, num comício em Maputo a 9 de Janeiro de 1990, igualmente denotando perturbação, em resposta a uma questão sobre os presos políticos levantada na ocasião por um cidadão Zebedias Jaime Machava, viria sub-repticiamente a confundir a questão que lhe era colocada. Estava-se no auge da paz, e uma amnistia em favor dos chamados "bandidos armados", e os considerados "traidores da Pátria", havia sido decretada.
Corajosamente, e em resposta ao apelo formulado por Chissano para que as pessoas naquele comício apresentassem livremente as suas preocupações, implicitamente, Machava levantou a questão de Simango
e outros presos de consciência, tendo-se estabelecido então com o presidente um estranho diálogo nos seguintes termos:
(Machava) Chamo-me Zebedias Jaime Machava. Eu vim aqui para poder apresentar algumas questões que sinto. Eu tenho acompanhado passo a passo a evolução política do nosso país, do nosso partido, e tenho
também acompanhado as iniciativas do nosso governo no sentido de estabelecer a paz neste país. E também queria aproveitar esta oportunidade para poder exprimir o meu sentimento perante os membros
do governo, os membros do Bureau Político e membros do partido para poder fazer chegar essa preocupação que eu tenho.
O governo da República Popular de Moçambique procedeu a uma amnistia aos bandidos armados. Essa amnistia abrange todos aqueles que estão a matar. Os que foram os primeiros que ainda permaneciam no
banditismo armado beneficiam dessa lei quando vieram se entregar voluntariamente, e quando abandonaram a via violenta. Estão beneficiados por essa lei.
Então, eu queria pedir a todos os membros que estão aqui para podermos também rectificar, ver também aqueles que praticaram crimes durante a luta de libertação nacional, os desertores, aqueles que desertam ou que .. .aqueles que nós consideramos como dissidentes, aqueles que não quiseram corresponder com a linha da Frelimo. Estes até este momento estão numa situação de privação, não é? Estão privados não ouvimos falar deles, não se ouve quase nada, não é? não se ouve. Não sei se existem ou já morreram eu não sei. Portanto, eu queria que o povo moçambicano, dentro do sentimento que nós temos de amnistiar aqueles que fizeram ma1, ou que fazem mal, então.
(Chissano) - Sim podemos responder a sua preocupação,já compreendemos.
(Machava) -Sim
(Chissano) - A amnistia era para todos, incluindo esses aí.
(Machava) - Sim
(Chissano) - Não estão incluídos. Estão amnistiados.
(Machava) - Estão amnistiados?
(Chissano) - Uns estão em Portugal, estão na América. Não são muitos. Podem vir a qualquer altura aqui e esses aí para eles a amnistia não acaba. Podem
(Machava) - E também...
(Chissano) - Obrigado
(Machava) - Desculpe Sua Excelência.
(Chissano) - E por causa dos outros. Temos que limitar o tempo.
(Machava)_ Há aqueles que estão nas nossas mãos. Aqueles...
(Voz de mulher) A luta continua! (Rádio Moçambique)
EXECUTADO À REVELIA
Entre as escassas informações (a maioria das quais desencontradas) existem também acusações e ilibações caricatas que ilustram o peso de consciência que reina nos que detinham o poder nas mãos. Fernando Ganhão, outra figura de destaque nas hostes do regime, afirma que tomou conhecimento da liquidação física de Simango posteriormente ao acontecido. Segundo ele, "aquilo foi decidido lá no norte sem o conhecimento de ninguém cá em Maputo.
Foi "AM" quem fez aquilo. Mandou para lá um indivíduo que andava com a filha dele. Parece que mandou liquidar esse indivíduo e, por extensão, todos os presos políticos que estavam a guarda dele no Niassa. Todos foram mortos. Samora chateou-se muito com isso. Ninguém sabia de nada cá. Mesmo Marcelino dos Santos não sabia de nada. Foi uma decisão unilateral de alguém consultar o próprio Chefe do Estado e a direcção máxima do partido. (Fernando Ganhão)

EXEMPLO DE JUSTIÇA POPULAR
Marcelino dos Santos altura segunda pessoa importante na hierarquia partidária foi categórico ao afirmar que a decisão de executar sumariamente Simango e outros presos políticos fora um exemplo de "justiça altamente popular", tendo frisado:
"Mas que se diga bem claramente que nós não estamos arrependidos da acção realizada porque agimos utilizando violência revolucionária contra traidores e contra traidores do povo moçambicano. (Marcelino
dos Santos)
As informações existentes - fruto de mais de 15 anos de cuidadosa investigação - indicam os anos entre 1977 como o período mais provável em que o Rev. Uria Timóteo Simango terá sido morto cruelmente. A sua esposa, professora Celina Simango, viria a ser executada, segundo uma das fontes, em Julho de 1982 na companhia de duas outras senhoras dentre as quais Lúcia Tangane, esposa de um destacado prisioneiro de M'telela -(Raul Casal Ribeiro), ex-comissário politico da Frelimo e secretário-adjunto do Departamento
de Defesa após a morte de Filipe Samuel Magaia.
SAMORA NÃO QUERIA AQUELE HOMEM MORTO
Por sua vez, Mariano de Araújo Matsinhe, outro proeminente membro da hierarquia da Frelimo, afirma que "a confissão Política não foi informada sobre a liquidação física dos presos. Samora não queria
aqueles homens mortos. Queria mantê-los vivos para depois mostrar-lhes o Moçambique independente que ele sonhava.
Ele foi pressionado para fazer aquilo. Nem eu, nem o presidente Chissano sabíamos da morte de Simango e de outros. Alguns passaram a saber que os presos foram liquidados através de uma informação que o
presidente Chispando acabou dando em resposta a perguntas feitas por alguns moçambicanos exilados nos Estados Unidos foi numa reunião com moçambicanos em Nova Iorque. (Mariano Matsinhe)
Mas Matsinhe não ousa divulgar quem terá pressionado Samora Machel a fazer a que ele chama "aquilo", remetendo para a inconcebível ideia de uma Frelimo com separação de poderes, onde par um lado estava
Machel dirigindo uma Comissão Política (Bureau Político) imaculada nos actos e, por outro, o mesmo Machel, na companhia alguns veteranos da luta ar como Salésio Nalyambipano, Lagos Lidimo, Abel
Asikala e alguns mais, agindo independentemente. Uma espécie de anarquia que não bate certo com a realidade, mas, em todo o caso hipótese que não se pode descurar se se tiver em conta que o Serviço
Nacional de Segurança Social (SNASP), então instituído em Outubro de 1975, conferia ao Chefe do Estado plenos poderes de agir (em alguns momentos) num círculo restrito com os oficiais daqueles serviços,
sem prévia consulta aos diversos órgãos do partido no poder.
A IMPRENSA ESTRANGEIRA
No início do último trimestre de 1976, um grupo de jornalistas nacionais e o cineasta mauritano Abid Med Honda, contra todas as previsões, visitaram M'telela no âmbito de uma digressão que faziam pelo norte do País. Com a excepção de Muradali Mamadhusen, então Director Nacional de Informação no Ministério da Informação, os restantes componentes do grupo não sabiam em que local de Niassa se encontravam. De Lichinga, foram todos introduzidos em viaturas tendo seguido para um destino incerto. Chegados a -M'telela, reconheceram de imediato Uria Simango e Joana Simeão.
"Na altura" - segundo relataria um dos jornalistas "a nossa preocupação imediata foi ver o estado de espírito em que se encontravam esses homens e se estavam sendo bem tratados, embora o comandante do campo - um tipo alto e forte, todo ele simpático para connosco - nos tivesse garantido que os presos estavam sendo bem tratados, custou-nos a acreditar pelo semblante que ostentavam aqueles detidos. Ao responderem as nossas perguntas, os presos transmitiam no seu olhar uma mensagem de tristeza e profunda angústia. Víamos medo nas suas respostas porque estavam a volta guardas a controlar todos os movimentos. Para despistar aqueles guardas, e pôr os presos à-vontade. alguns de nós tiveram que mentir
dizendo que eram jornalistas estrangeiros. Fomos fazendo perguntas em inglês e francês ao que Simango e Joana iam respondendo sem problemas porque os guardas não entendiam essas línguas. De regresso a Lichinga ficou combinado que nenhum jornalista deveria fazer uso do material recolhido. E como o seguro morreu de velho. Muradali recolheu tudo, desde apontamentos, filmes, gravações, etc. Esse material está algures aí em Maputo, certamente com os detentores do poder. Os presos estavam sendo maltratados. Julgo que previam um fim fatal.
(Eliodoro Baptista)
UMA DATA PROVÁVEL
Mas a data de 25 de Junho de 1977, segundo aniversário da Independência nacional, tida como o dia da saída dos presos do Centro de acordo com Maria Flora Ribeiro - e data prováveis da execução dos mesmos, entra em colisão com uma das principais testemunhas de M'telele - Manuel Pereira - como mais adiante se verá, Contudo, é curioso notar que aquela data poderá, de facto, ter sido a data da execução de diversas sentenças decretadas nos corredores do poder em Maputo. Com efeito, a 25 de Junho de 1977, no
outro extremo de Moçambique, na zona de Nambude em Cabo Delgado, o então director local da Contra Inteligência Militar, António Miguel, é referido como tendo presidido à execução pública de dois antigos
combatentes, nomeadamente do comandante Joaquim Mandeio Muthamangue, cognominado Francisco Ndeio e do seu adjunto Pedro Canisio.
No decurso da tarefa que the fora incumbida, Pereira constatou que Uria Simango e outros políticos detidos no Centro de M'telela, haviam sido executados em Outubro de 1978. O ano de 1978 como altura
provável da execução dos prisioneiros políticos voltaria a ser ventilado pelo próprio Sérgio Vieira no decurso de um debate televisivo em 2001. Ao se abordar o sistema de reeducação no Moçambique pós-Independência, Vieira admitiu terem havido falhas durante a vigência do monopartidarismo em Moçambique. Sem precisar datas, afirmou que no período entre 1978 e 1979 se haviam cometido excessos, tendo os mesmos culminado com a execução sumária de presos políticos. Em particular, Vieira afirmou ter assinado e ordenado diversas execuções extrajudiciais. Todavia, em jeito de conclusão,
afirmou que não se sentia arrependido.
E SIMANGO NÃO PEDIU PERDÃO
Para RR, os presos políticos foram executados em Junho de 1980 pouco depois da passagem de Samora Machel por Niassa a caminho de Madagáscar. RR que estava ligado as Forcas de Defesa e Segurança na
cidade de Lichinga, diz que lembra-se muito bem do mês porque Samora fez uma escala rápida em Lichinga e no dia seguinte estava de volta a Maputo para anunciar a nova moeda, a metical.
CF por sua vez, citando afirma que a sua fonte informou que o Rev. Simango foi severamente maltratado durante a sua audição. Permaneceu de pé quase seis horas consecutivas perante as pardas figuras que o exigiam que pedisse perdão. Alguns dos presos aflitos, acabaram acedendo ao pedido na esperança de verem as suas penas comutadas.
Contudo, a despeito do cansaço físico que denotava e a constante zombaria à sua volta, Simango negou continuamente pedir perdão. "Não vejo razão nenhuma que me leve a ter que pedir perdão. Não fiz mal
nenhum. A quem devo pedir perdão, aos senhores?" - insurgia-se constantemente Simango, de acordo com a mesma fonte.
NACIONALIDADE E RELIGIAO
Em 1957 foi-lhe concedida uma bolsa de estudos por uma instituição religiosa nos Estados Unidos da América. Todavia, as autoridades coloniais impediram-no de se ausentar de Moçambique para prosseguir
os estudos. Segundo pessoas da época, a recusa fundava-se no facto de, ate então, estarem frescos na memória das autoridades portuguesas os transtornos causados por Kamba Simango aquando do seu
regresso dos Estados Unidos à cidade da Beira. Certamente, as autoridades consideravam ser perigoso se Uria trilhasse os mesmos caminhos que kamba. Para além do mais, vivia-se nessa altura outra turbulência causada por um outro Simango-Sixpence - promotor do Núcleo Negrofilo de Manica e Sofala. A coberto do Núcleo, Sixpence Simango e seus correligionários, os Negrófilos, como habitualmente se identificavam os membros do Núcleo, transformaram-se em ouvido e fiéis mensageiros das populações negras perante as autoridades.
Contra as sevícias infringidas pelas autoridades coloniais contra a população negra, o Núcleo Negrófilo de Manica e Sofala destacava-se nos pronunciamentos em nome dos oprimidos.
O destino havia apanhado o jovem pastor Uria Simango nesse ambiente de discriminação racial e de perseguições.
A semente do nacionalismo havia sido plantada anos antes pelo Rev. Kamba. Todavia, o conceito de nação em Manica e Sofala, e em particular entre as populações da etnia shona, agudizar-se-ia com o deflagrar do motim da Machanga. O motim seria urna das principais fontes de inspiração para uma luta aberta contra a presença colonial portuguesa em Moçambique. Vários jovens abandonaram nessa época a colónia indo refugiar-se na então Rodésia do Sul. Do Búzi, onde trabalhava numa empresa açucareira, saiu o principal percursor da Udenamo, Lhomulo Chitofo Cwambe, mais conhecido por Adelino Gwambe.
Muitos outros abandonariam Mocambique exilando-se nos países vizinhos.
Mas da leitura de um estudo recente sobre e motim de Machanga,
depreende-se que o levantamento não tinha um cunho político, pois foi motivado pelo comportamento irresponsável de alguns funcionários administrativos corruptos que haviam desviado donativos de
emergência para as vitimas dum ciclone que havia assolado a zona.
Simango havia tomado conhecimento da Constituição na África do Sul, por um grupo de moçambicanos oriundos maioritariamente de Mambone e Machanga de uma associação denominada Associação Fúnebre de Moçambique (AFM). Ferraz de Freitas queria saber de Urias Simango e Ngwenha qual o papel que a Igreja Protestante havia tido nos levantamentos de Machanga e Mambone.
Para além de mais, sendo Resende um agente do Vaticano, não poderia na altura fazer mais ondas do que então fazia. Pelo que Simango nunca se expunha muito perante o bispo no respeitante à independência das colónias portuguesas. Contudo, de Resende e Bertulli, soube Simango extrair grandes ensinamentos. Tanto um como outro nutriam denodada admiração pelo jovem pastor negro que, contrariamente à maioria naquela época, falava bem o português e o inglês, e tinha ideais claros sobre a salvação humanidade.

05-06-2004

A book that will make waves URIA SIMANGO

22/05/2004 MOZAMBIQUE
A book that will make waves
The biography of a former vice president of Frelimo who was executed after the country gained independence, will go on sale in Maputo next month.
A political science student at the University Eduardo Mondlane in Maputo is the author of a biography of the former vice president of Frelimo, Uria Simango . Simango was executed after the country gained independence, and he is still the subject of controversy thirty years on. The book by Barnabé Lucas Nkomo, entitled Uria Simango : un homem, uma causa (468 pages) will be published by Ediçoes Novafrica of Maputo. It is the result of long years of research and interviews with people who lived through the events and will raise considerable doubts on the official version of the role of Uria Simango in the movement of national liberation. This will not fail to cause a degree of embarrassment to the leaders of the governing party just six months before the general elections at the end of this year.
Nkomo, a native of the province of Sofala, like the Simango family, has reconstituted the first years in the life of Uria Simango , then a churchman, and of his close ties with the Udenamo, a nationalist movement which afterwards formed the core of the Frelimo of which Simango later became vice president. By working from testimonies by the founder members of Frelimo and from documents declassified by the American State Department, the author is able to sketch a portrait of the various factions that were in contention at the time within Frelimo. The author also outlines Simango 's last years, interned by his former companions in arms, in a re-education camp in Niassa province (in the northern part of the country) where he was summarily executed on an unknown date sometime between 1977 and 1979. Since then Uria Simango has always been presented as a reactionary ?enemy of the people? in Frelimo mythology. However, Nkomo sees him more as ?a nationalist missionary whose commitment and dedication to the cause of freedom of his people were negated by his country's recent history? .
One of Uria Simango 's sons, Lutero is now the leader of the Partido da Convençao Nacional (PCN, opposition) while another son, Davis, was elected mayor of Beira in November 2003 on an opposition list presented by Afonso Dhlakama's Renamo.

07-05-2004

Eduardo Mondlane 1968 - Lutar por Moçambique

Veja como os visitantes do MACUA DE MOÇAMBIQUE respondem ao inquérito sobre a obra e tire as suas próprias conclusões:
Eduardo Mondlane 1968 - Lutar por Moçambique Responda ou sim ou não à mesma pergunta. Obrigado.
Tinha conhecimento desta obra? Sim. 8,59% (55 votos)
Tinha conhecimento desta obra? Não. 9,69% (62 votos)
Já tinha lido esta obra? Sim. 4,84% (31 votos)
Já tinha lido esta obra? Não. 12,81% (82 votos)
Achou importante conhecer esta obra? Sim. 14,22% (91 votos)
Achou importante conhecer esta obra? Não 2,03% (13 votos)
Se E. Mondlane não tivesse desaparecido, Moçambique seria diferente? Sim. 14,38% (92 votos)
Se E. Mondlane não tivesse desaparecido, Moçambique seria diferente? Não. 3,13% (20 votos)
Acha a obra factualmente correcta? Sim. 10,47% (67 votos)
Acha a obra factualmente correcta? Não. 2,81% (18 votos)
Gostaria de ver DOCUMENTOS DO IMPÉRIO aumentada com novos documentos? Sim. 17,03% (109 votos)
Total: 640 votos
(*) Posição obtida em: 06/05/2004
http://www.macua.com/documentos82.html

02-05-2004

Historieta Portuguesa

Retirado de um grupo de moçambicanos na net:
Leiam esta carta de um leitor do jornal Notícias, foi publicada na secção "Carta dos Leitores" do Jornal Notícias do dia 17 de Abril...
Mais uma vez vem à baila aquele tão característico sentimento de recalcamento do ex-colonizado, com o qual eu simplesmente não concordo nem um pouco.
Leiam a carta e digam se concordo comigo, mas eu sinceramente não alinho neste tipo de pensamento... o querer culpar os portugueses e a sua colonização não nos leva a lado nenhum, e só cria rancores
desnecessários.
Não está em causa a colonização(qualquer ela que seja, absurda!), mas acho que o nosso país está como está, acima de tudo, por culpa própria (ou mais especificamente da FRELIMO)!! Aquela que se julga
dona da terra...
Obrigada pela luta da independência, vocês realmente foram os que lutaram e conquistaram a
independência do nosso Moçambique, o povo está agradecido a vocês!! Mas isso não vos dá o direito de serem donos da terra, de estarem no poder à quase 30 anos, de serem corruptos e o povo não poder reclamar... simplesmente porque vocês alcançaram a independência, e julgam-se donos da terra!!
a democracia por si só, implica alternância de poderes!!
Kandayane Wa Matuva Kandiya
Notícias, 17 de Abril de 2004
1. Historieta Portuguesa
Uma das piores senão a pior desgraça que há cinco séculos abateu o Povo Moçambicano, foi o de ter sido colonizado por portugueses.
Oriundos de um pequenino país da Europa, produto da fusão de vários povos, acabaram sendo conhecidos por Lusitanos.
Encravado no extremo sudeste [sic] da Península Ibérica, Portugal foi várias vezes feito colónia ou província Castelhana, depois de ter sido sucessivamente esgravatado por Iberos, Celtas, Fenícios,
Gregos, Cartagineses, Romanos, Vândalos, Suevos, Alanos, Visigodos, e por fim ainda hoje se podem encontrar naquele país, vestígios dos seus últimos colonizadores, os Muçulmanos, também conhecidos nessa época por Sarracenos, Árabes, Maometanos e Mouros.
Trazendo consigo recalcamentos de vários sofrimentos não podiam ter encontrado melhor campo para descarregar e semear as suas mágoas, as desilusões e enfim a sua fúria senão no pobre Povo Moçambicano.
Mal se tornou independente da Espanha pelo tratado de Zamora assinado entre D. Afonso Henriques e o Rei de Espanha lá para os anos 1149 por aí, e apercebendo-se da sua pequenez no tamanho e na
forma, Portugal decidiu desde logo tornar-se grande à custa de conquistar, subjugar e dividir para reinar outros povos, imitando os seus anteriores suseranos romanos e, pedaço a pedaço, os "Tugas" como hoje são apelidados formaram um "grande império português" que, partindo da praia do Restelo iniciou uma marcha longa cujo destino seria a Índia, contornando e conquistando quase todos os povos da parte ocidental do Continente Africano, desembocando depois em Moçambique.
Quer dizer, o conceito de poder e grandeza para os portugueses de então, não era em termos de possuir ou armazenar riqueza, tal como ouro, carvão ou gás de Moçambique que sempre jazeram no subsolo
inexploráveis (sic), muito menos o petróleo ou os diamantes angolanos que também sempre existiram, mas apenas e só apenas descobrir o caminho marítimo para a Índia, para de lá carregar para Europa piri-piri e outras especiarias culinárias, tais como gegimbre (sic), açafrão, colorau servindo apenas de entreposto comercial!
Ridículo não é?
Mas foi assim mesmo: a noção de riqueza e grandeza para os portugueses de então, não consistia na busca e/ou descoberta e estar sobre o seu domínio as areias pesadas de Angoche, Moebase e Chibuto
em Moçambique, Mancarra, olém de dedém ou borracha da Guiné, cacau em São Tomé e Príncipe, ou pelo menos algumas palancas em Angola que fariam delirar de encanto aos (sic) visitantes do Jardim Zoológico
de Lisboa, não senhor!
Apenas e só apenas espezinhar outros povos e levar para Portugal, pimenta, cravo e títulos honoríficos para os seus reis. Por exemplo, um dos seus reis o Rei D. João II, quiçá o mais sanguinário dos reis
portugueses, teve a alcunha ou o cognome de "Princípe Perfeito", após ter ordenado o abate de muitos dos seus adversários, mandando igualmente ao cadafalso o Duque de Bragança e apunhalado com as suas
próprias mãos o Duque de Viseu e assim ficou Rei e Senhor absoluto de tudo, passando depois a usar pomposamente os títulos de "Rei de Portugal e dos Algarves, d'aquém e d'além mar em África, Senhor da
Guiné, da Conquista e Navegação, da Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia".
Assim, El-Rei, ficava sumptuoso e altivamente arrogante gabaroso e amalham (sic) ao ponto de "chutar" alguns poderes para os seus "vice-reis" lá para as Índias, após ter descoberto o tão almejado caminho
marítimo e levar a Lisboa, malaguetas e outros afrodisíacos!
Com este tipo de colonizadores, outra sorte não podia nos calhar senão a pior.
...........................................................................................................................................................
Um comentário:
Em parte concordo contigo, repito, em parte, pois o culpar os colonizadores de fato não nos levará a lugar nenhum, a não ser a sentimentos de raiva, e ódio infundados, que aliás são dos mais perigosos, visto que o sujeito ignorante, é capaz de fazer "loucuras.
Por outro lado, é importante, distinguir, da culpabilização da colonização e dos colonizadores, pois tratam-se de dois aspetos diferentes, a colonização em si, nos colocou numa situação de eternos perdedores, ou inferiores. e isso poderás ver o estilo de linguagem que se cria, no período da colonização para designar o negro africano, importante perceber que isso não acontece apenas em Moçambique, e não é obra exclusiva do colonizador português, mas de uma conjuntura, sócio-economica da europa quanto um todo...
também, não posso, concordar contigo, quando dizes "Não está em causa a colonização(qualquer ela que seja, absurda!),
Mas acho que o nosso país está como está, acima de tudo, por culpa
própria (ou mais especificamente da FRELIMO)!! Aquela que se julga
dona da terra..."
Bem, a FRELIMO, embora tenha uma grande parcela de culpa pelo que vem acontecendo em nosso país desde que se alcançou a independência, é responsável também por um significativo crescimento.
Pois, Moçambique, forçado a seguir o Marxismo L. em detrimento do capitalismo, provocou uma guerra sem tamanho que os países capitalistas, luta essa que foi travada e combatida com garra e aguçada visão de futuro pelos frelimistas, hoje, devido a essa opção, está o nosso país sendo agraciado por um crescimento significativo, em relação só a título de exemplo, aos países que optaram pelo capitalismo logo após a Independência...
Não vou aqui escrever um ensaio, sobre a nossa breve história, pois minha intenção primeira é mostrar o lado inverso dos discursos que muitas vezes por conhecermos pouco nossa história temos feito, esses discursos, cheios de paixão e zelo, podem nos trair!
Não concordo e nem me afirmo frelimista, mas nossa realidade política, enquanto a nova geração não buscar e propor alternativas concretas, continuará por mais sei lá quantos anos nas mãos na Frelimo, pois ainda não conseguimos fazer frente nos vários aspetos imprescindíveis ao referido partido, falta-nos oposição de peso...

Fui, me desculpem se me alonguei demasiado, mas o discurso arraigado pela paixão me levou a tal extremo (rsrsrsrsssss)

Gaspar Sitefane

26-04-2004

Sérgio Vieira “ginga” por matar

Jornal Zambeze – 04.04.2004
Por Yá-qub Sibindy*
No jornal “Domingo” de 04 de Abril de 2004, página 8, na coluna "Carta a muitos amigos", Sérgio Vieira fala como um mestre hipócrita, de "Reconciliação com os compatriotas instrumentalizados pelos saudosistas do colonialismo e os radicais do racismo rodesiano e sul-africano” Temos imensas dúvidas se a propalada reconciliação a FREL IMO também a fez com os familiares e parentes das vítimas dos fuzilamentos e deportados protagonizados pelo regime. A reconciliação não faz esquecer que a FRELIMO fuzilou cidadãos inocentes, deportou para as densas matas do Niassa e Cabo Delgado cidadãos cujas razões são ainda desconhecidas.
Quando Sérgio Vieira, publicamente e em sede do Parlamento, declarou que “Fuzilámos os reacionários e traidores da Pátria", deveria o PGR ter requerido a sua suspensão da AR e submetê-lo à investigação. Em nenhum momento Sérgio Vieira e seus colegas carniceiros substituíram os tribunais e muito menos ainda deliberar quem é reacionário ou revolucionário, poupar a vida ou passar a certidão de óbito a cidadãos, pelo facto de não concordarem com a Frelimo. A PGR não deveria aguardar por queixas dos familiares destes para se fazer justiça.
A sobrevivência deste bando de assassinos deve-se ao facto de a Frelimo ainda continuar a controlar todos os poderes do Estado, apesar de uma separação fictícia. Sérgio Vieira não tem provas de que o Dr Eduardo Mondlane foi assassinado por Urias Simango Silvério Nongo e noutras aparições mete Samuel Dhlakama no barulho. Durante a luta de libertação nacional a Frelimo tinha estatutos e programa e não se sabe porquê um grupo de pessoas tem que decidir pela vida dos demais, à margem dos órgãos. Documentos oficiais existentes provam que Urias Simango foi vítima de uma cabala de assassinos infiltrados na Frelimo.
Urias Simango opunha-se que as armas de libertação servissem para matar combatentes e por isso arranjou-lhe vários inimigos de entre os “revolucionários" que tentavam assaltar o poder, após a morte de Eduardo Mondlane. É absurdo classificar de reaccionário alguém que pensa de tal modo. Não está claro quem se opunha à libertação da pátria. Sérgio Vieira usa sofismas para manipular a historia pretendendo ser advogado dos criminosos.
Se a Frelimo tivesse poupado a vida de Urias Simango e seus companheiros do martírio, hoje poderiam ser grandes parceiros do desenvolvimento democrático, económico, sócio-político do nosso País, tal como Nelson Mandela, poupado pelo apartheid, o tem sido para a RSA e o mundo. Temos dificuldades em dizer quem foi mais cruel, se o regime do apartheid ou os bandos revolucionários da Frelimo.
As matanças de inocentes continuaram mesmo depois de 1975
A cultura de matanças e assassinatos continuou na Frelimo mesmo depois da proclamação da Independência Nacional, em 1975. EM Moçambique havia um Estado constituído com todas as suas instituições implantadas em território nacional, deveria, por esta razão, guiar-se na base das leis e não perseguir métodos terroristas, que até aos nossos dias prosseguem sob outras formas de crime organizado que Sérgio Vieira chama de “evolução de um corpo social”.
Os juízes que são coagidos a julgar as farsas do crime organizado na BO acabam entendendo que são usados por malfeitores e dizem que os mandantes estão fora a passear a sua classe de corruptos, protegidos pelo poder do Estado. Sérgio Vieira não compreende que o seu partido já não é de “vanguarda dos operários e camponeses". Fala para as pessoas como se ainda fosse o "manda-chuvas" do SNASP, considera os outros como insignificantes que nada têm a dizer sobre o País. Ainda não entendeu que Moçambique já não é "propriedade" da Frelimo
Não fosse desconhecido teria sido morto pela SNASP
Dou-me por feliz por ter sido “um ilustre desconhecido”. Gostaria de lembrar a Sérgio Vieira que se não fossemos “um ilustre desconhecido”, não teríamos sobrevivido ao SNASP que empreendia buscas para apanhar cidadãos com opiniões diferentes ou contrárias sobre a história do País e seu Povo ou que discordavam da ideologia comunista, teria sido “pescado” e nossa família teria tomado conhecimento do facto pelos jornais anunciando a nossa “fuga” da cadeia, apelando aos GDs, GVs, Milícias Populares, Células do Partido para nos “capturarem”, tal como acontecia com vários outros moçambicanos.
Os familiares das vítimas ainda aguardam por um esclarecimento do que se passou com os seus parentes. Sérgio Vieira deve ter ficado aliviado quando Afonso Dhlakama desmentiu que não levaria os dirigentes da Frelimo ao julgamento quando fosse eleito Presidente da República. Seria “renovação na continuidade” se Afonso Dhlakama, na qualidade de chefe de Estado, impedisse que cidadãos demandem a justiça sobre os seus familiares mortos pelo regime. Sérgio Vieira não perde por esperar, o vendaval que virá partir-lhe a coluna vertebral.
Armando Guebuza, então chefe da bancada da Frelimo, não emitiu nenhuma declaração publica a distanciar-se do deputado Sérgio Vieira quando declarou que “nós matamos os reacionários e traidores”. Estamos a conviver com criminosos confessos, que não perderam tempo para tirar vida a seus compatriotas e camaradas de armas. Seria um grande erro político se nas próximas eleições o eleitorado voltar a dar voto de confiança de confiança a assassinos que ainda se não arrependeram dos seus males, por mais que o povo tente esquecer, votam à carga, vangloriando-se dos crimes hediondos que cometeram como se tivessem degolado animais.
Frelimo reclama verdade absoluta para si
Não queremos ser julgados pelas gerações vindouras quando questionarem a nossa seriedade em não termos sabido distinguir assassinos dos revolucionários, governantes honestos de bandos de malfeitores, ladrões de votos de democratas, delapidadores do bem público e “mainatos” de capitais de "empresários de sucesso". Arrogantes e incompetentes de prometedores do futuro melhor e mudanças, manipuladores da justiça. O que estamos escrevendo ficará na memória colectiva e não afundado no fundo do mar como os arquivos da Frelimo que foram mergulhados no Oceano Índico, em Dar-Es-Salam, pelos criminosos e manipuladores da história de Moçambique com objectivos de reclamar para si a verdade absoluta dos factos.
*Candidato à Presidência da República

1 comentário:

Diane disse...

TUDO NOVO DE NOVO.
meu nome é Viviane,estou em busca de emprestar dinheiro por vários meses, eu fui 5 vezes vítimas de fraude, com a falsa credores que me arruinou,fiz uma tentativa de suicídio por causa deles.Porque eu tinha dívidas e contas para pagar.Eu pensei que estava acabado para mim, não tenho mais o sentido de viver.
Mas, felizmente, eu vi o testemunho feito por muitas pessoas no Ms. Rose DUBOI,é assim que entrei em contato com ele para obter um empréstimo para liquidar minhas dívidas e cumprir o meu projeto .É com a Senhora Rosa DUBOI vida me sorrir novamente este é um coração simples e muito entendimento .Cuidado com os magistrados provenientes de África, porque, de fato, há indivíduos credor aqui na França.
Se você precisa de financiamento ;de empréstimos de dinheiro ou de qualquer projeto para a realização deste Ms vai ajudar você a atingir e sustentar financeiramente

Contato : roseduboi33@gmail.com
Conta Do Facebook: 100010357905911@facebook.com
Obrigado e compartilhar informações para salvar vidas.