Centelha por Viriato Caetano Dias (viriatocaetanodias@gmail.com )
“Não é, pois, o conflito que está errado, mas a forma como ele é tratado, pela violência.” Luís de Brito, Director do IESE.
Hoje fala-se tão pouco da malária, da tuberculose, do analfabetismo, dos acidentes de viação, da seca e inundações, enfim, da fome que mata silenciosamente milhares de moçambicanos por ano. Em compensação, predomina os crimes de sangue que resultam em mortes de pessoas, muitas delas inocentes. Grande parte dessas mortes – a avaliar pelos termómetros da imprensa e da sociedade civil – provém de querelas políticas puramente evitáveis. A luta de adamastores, polarizada pela intolerância política, conduz-nos para o pior destino: hecatombe. Pouco a pouco a sociedade moçambicana vai afundando como um navio gigante, devagar e devagarinho, mas, ao mesmo tempo, levando consigo o passado e o futuro do país para o fundo do mar.
Eu não sou perito em assuntos policiais (não sei se sou perito de coisa alguma), por isso aguardo com enorme expectativa a perícia da PRM para esclarecer os contornos do baleamento do deputado e secretário-geral da Renamo, Manuel Bissopo, ocorrido no dia 20 do mês em curso, antes de fazer acusações, muitas delas desprovidas de lógica mental. As deduções emocionais, às vezes, nos conduzem a emitir pronunciamentos que mais tarde a nossa consciência obriga-nos a pedir penitência. O que eu posso dizer sem medo de errar é que qualquer que seja a causa do crime contra Bissopo, a culpa irá sempre recair para o partido Frelimo que é o principal inimigo da Renamo. Difícil será remover da consciência dos mais incautos a ideia de que quando se morre ou se baleia alguém de um partido, o silogismo deve recair sobre o partido oposto, a quem se milita. Ideia errada. Porque como seres humanos, pecadores, além da função que desempenhamos, fazemos inimigos pela nossa simples forma de pensar, de agir, de ser ou até mesmo pela falta de empatia: “não fui com a cara daquele gajo”. Ora, Bissopo pode ter sido vítima desse ódio.
Por outro lado, admitindo o que os termómetros dizem sobre as liças políticas, então estamos perante uma situação grave.
A experiência que tenho (que não é muita e nem pouca) manda dizer que quando há um atentado contra dirigente máximo de um partido político, é porque as armas estão a ser limpas nas casernas para a mobilização da guerra noutro campo de batalha que não seja no parlamento. A Renamo é dos poucos partidos em África que conheço que possui um departamento de segurança. Os paladinos desse partido estarão, neste momento, em prontidão combativa para fazer valer a honra do el comandante Bissopo. Pior será quando a Renamo decidir ripostar, pois o fará contra um inimigo errado que é a população inocente. O meu maior medo reside na teimosia que os partidos têm de quererem resolver os problemas pela via da violência (militar e verbal). Se antes o perigo de um conflito generalizado acontecer era menor, com o baleamento de Bissopo e a morte do seu ajudante de campo, o vulcão entrará em erupção, lançando suas lavras contra o “maravilhoso povo”.
Para isso, meus amigos, eu nem preciso ter a cabeça no lugar para pensar no pior. A acção renamista de Março terá um pretexto: baleamento de Manuel Bissopo. Ainda assim, porque só é verdade aquilo em que a gente acredita, eu acredito que o bom censo vai prevalecer. A par disto, existe uma outra situação que me inquieta. Tenho de dizê-lo aqui, porque é algo que me incomoda. Cresce para o pior a manifestação de uma certa imprensa escrita moçambicana que irradia, de edição em edição, de página a pagina, de verbo a verbo, o terror no país. São mais violentos em suas acções que a própria Renamo, porque antecipa a morte de uns e obriga tantos outros a deslocarem-se para os países vizinhos. Parecendo que não, do ponto de vista de incendiar o país, eu vejo anemia nas acções da Renamo (quem pretende atacar o poder não avisa), ao contrário dessa imprensa, vejo nela vitamina para que o país volte novamente a guerra. Essa imprensa ignora os esforços de desenvolvimento e assume-se como porta-voz da oposição, cujo objectivo não é o de fazer política em águas límpidas, contrariando as directivas de governação do partido no poder, mas sim aniquilar esse poder. Um amigo meu de nome Horácio Picado Nkubvala Kudhanessa Dimas, lá das bandas de Tete, disse-me que as armas da Renamo foram transferidas para uma determinada imprensa que não vê meios para atingir o único fito que os sustenta: acabar com a Frelimo.
Os sinais estão à vista e a olhos nus. Eu não sou apologista de que o governo mande fechar essa imprensa, como sou contra uma sociedade sem centelha, tal como diria o professor Carlos Serra “Uma sociedade sem diferenças, sem variabilidade histórica e sem conflitos é uma sociedade impossível”. Contudo, entre uma imprensa pobre e uma imprensa que só lança chamas contra o país, escrevendo mentiras ou atiçando o ódio, prefiro a pobreza que é uma condição social alterável. A imprensa que lança chamas não muda, nem que passem cem anos, é geracional. É uma questão de voto que prestam a Caim e Lúcifer, seus enviados especiais neste “Vale de Lágrimas”. ZICOMO (Obrigado).
WAMPHULA FAX – 25.01.2016
Aceleram-se os preparativos do CC da Frelimo
Canal de Opinião por Noé Nhantumbo
Parece que as emboscadas “e assassinatos” fazem parte disso.
Os cultores da ditadura de partido único jamais dormiram na sua agenda de dominação por todos os custos. Quando se mostrava que estavam cedendo e reconhecendo os novos tempos, terá sido só um momento de espera para recuperar forças.
Armaram-se de todo o tipo de recursos e convenceram meio mundo de que estavam bem-intencionados. Muito boa gente acreditou que agiam de boa-fé.
Se no passado o assassinato político fazia parte do menu entre os “libertadores” e foi utilizado energicamente para resolver diferendos, esse expediente operacional parecia abandonado.
A realidade diz que existem moçambicanos que abominam a igualdade.
Abominam tratar os outros como compatriotas com direitos iguais aos seus. Arvoraram-se o direito de possuir o país como se fosse só deles.
Excluir é um verbo que sempre praticaram, mesmo quando se cobrem do véu da tolerância, da democracia e de outros adjectivos pertencentes ao dicionário do politicamente correcto.
É difícil não ver que estes “moçambicanos especiais” continuam firmes na defesa de seu “status”.
Tendo sido os “herdeiros” do controlo do poder que lhes foi entregue de bandeja por Lisboa, desde cedo mostraram que a coabitação política não estava dentro da sua agenda.
Depois de uma luta ou guerra fratricida financiada por potências no quadro do que foi a Guerra-Fria, chegou-se a um ponto em que as partes se sentaram e assinaram um AGP que jamais foi integralmente cumprido.
Por cálculos e estratégias concebidas no seio da Frelimo terá sido decidido que a margem de cedências jamais deveria dar lugar a um sector de defesa e segurança apartidário.
Também não deu oportunidade para a emergência de poder judicial independente, porque isso contribuiria para abrir fissuras e colocar em causa o poder que detinham.
O que parecia pacífico e de consenso acabou por se revelar um fiasco.
O AGP de Roma foi sabotado mesmo antes de ter sido assinado.
Exímios jogadores combinaram sobre como se devia agir para manter o poder, e há que reconhecer que conseguiram. Entre JAC e AEG e as suas alas de apoio foi feita uma salada que resultou na actual crise.
Um dos veteranos da Frelimo, Marcelino dos Santos, já veio a público prognosticar o fim do seu maior opositor, e isso tem sido tentado por todos os meios. Há evidências que indicam haver concertação estratégica multifacetada no sentido de impedir que a democracia triunfe e que as eleições livres, justas e transparentes sejam a forma como os partidos chegam ao poder.
Engenharia eleitoral promotora de fraudes e qualquer possibilidade de haver segunda volta em qualquer eleição, utilização do aparato de defesa e segurança para reprimir os opositores, controlo e utilização do aparelho judicial como forma de inviabilizar as reclamações dos opositores foram amplamente postos em prática desde que se adoptou o pluralismo político.
Mas, porque estes meios não abertamente violentos têm falhado e o poder tem sucessivamente escorregado, círculos poderosos no seio da Frelimo devem ter decidido que se deveria adoptar uma estratégia conjugada envolvendo uma componente militarizada. Se não havia dúvidas de que todas as opções estavam na mesa, só faltava saber quando a “savimbização” seria aplicada. O que acabou por serem emboscadas relativamente pouco produtivas mostrou que decisões atinentes haviam sido tomadas.
Nenhuma produção analítica com um mínimo de honestidade intelectual pode deixar de dizer que as emboscadas foram sancionadas em meios que têm poderes específicos.
Com o aproximar da data de realização da reunião do CC da Frelimo aceleram-se os preparativos em todas as frentes.
Nesse quadro, não se podem afastar as diversas interpretações sobre o que acontecerá naquele fórum.
Ir para uma reunião daquele tipo com poder e influência é vital para quem possui aspirações de continuar em cena e com poder.
E apresentar como troféu um secretário-geral da Renamo pode ter estado nas contas de alguém. Se triunfa a facção que defende a solução militar para limitar e eventualmente eliminar a Renamo como oposição política, isso constituiria sem dúvidas uma garantia para a manutenção do “status”. Significaria o fim do pluralismo tal como o conhecemos em Moçambique. Sem a Renamo no panorama político nacional, o MDM e os outros partidos extraparlamentares teriam a sua existência não só arriscada, mas tornar-se-iam jogadores inexpressivos ou sem pujança para discutir com aquele que seria o único partido militarizado.
Seria uma regressão política incomensurável e não há que ter dúvidas de que é isso o que pretendem os que abominam a democracia efectiva, os falcões da guerra, os branqueadores da verdade histórica, os cultores da fraude.
Vive-se num país em que as aparências são mais importantes do que a substância. A manipulação na e através da comunicação social é gritante.
Claro que isso faz parte do conjunto de meios utilizados pelos detentores do poder para assegurar que nada fuja ao seu controlo.
Existem políticos que querem à viva força que se abrace o modelo chinês, em que prevalece um só partido dominando tudo e um grupo restrito de pessoas com poder discricionário absoluto. A viragem para a China não foi só por questões de acesso a crédito e armas fáceis “não condicionados”, mas também por orientação filosófica. A retórica política de alguns antigos comissários políticos tem as suas origens na China maoísta.
Hoje joga-se o presente e o futuro de Moçambique num processo sinuoso e complexo.
Manter a frieza e conjugar esforços para que a barbárie não regresse é a responsabilidade de todos.
É ilusório adoptar o comodismo como modo de actuação ou colocar a hombridade no bolso a favor de vantagens materiais efémeras. Os que se apegam ao poder vão continuar a oferecer guloseimas aos jovens que se prestem a integrar as “brigadas de choque” e aos “intelectuais mercenários”.
É tão barato comprar obediência e silêncio em Maputo, mas isso tem consequências profundamente nefastas para milhões de pessoas.
Sair da crise e abraçar soluções que tragam respeito pela vida humana requer coragem e trabalho.
Ter orgulho de ser moçambicano significa trabalhar para que a moçambicanidade aconteça e seja vivida com dignidade e não subserviência de espécie alguma. (Noé Nhantumbo)
CANALMOZ – 25.01.2016
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