quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Nosso sentido, interpretação deles


Os sanitários em comboios alemães costumam ter o seguinte aviso: “por favor, deixe este lugar como gostaria de o encontrar”. O sentido é claro: favor de deixar o lugar limpo. A interpretação, contudo, pode dar alegria a quem gostaria de encontrar os sanitários sujos. Só que duvido que haja alguém que faça essa interpretação e aja de acordo com ela. Os Caminhos de Ferro Alemães confiam na competência linguística dos seus passageiros. Outro exemplo. Anda aqui na Suíça um cartaz publicitário duma agência que facilita relacionamentos românticos. A legenda vai assim: “Todos os dias perdemos clientes”. Aqui também a mensagem é clara, ainda que bem arriscada. A agência quer dizer que os seus índices de sucesso são elevados. Usou o termo “perder” num sentido homónimo, isto é, aproveitando-se do facto de que a mesma palavra pode significar duas coisas diferentes, para criar um efeito publicitário específico. Aqui também seria possível interpretar a frase doutra maneira, digamos, no sentido mesmo de “perder”, isto é, de o negócio não estar a andar bem. Mais um exemplo. Na semana passada algumas pessoas partilharam o título hilariante dum jornal da praça que dizia o seguinte: “Corpo sem vida encontrado em contentor de lixo sem cabeça”. É evidente que não existe contentor de lixo com cabeça assim como é remota também a possibilidade de se encontrar um corpo sem cabeça, mas com vida.

Em qualquer uma destas frases existe um potencial considerável de desentendimento. Isto é normal. A explicação que os linguistas e filósofos da linguagem nos dão é simples. Todo o pronunciamento contém um sentido – isto é, aquilo que a pessoa quer dizer, portanto, a intenção – e a interpretação, isto é, aquilo que nós os outros entendemos. O sucesso da comunicação depende da nossa capacidade de colocar em primeiro lugar a intenção de quem fala, e não a nossa interpretação. Por exemplo, se eu disser a algum hóspede para que se sinta em casa só menos de 99,9% de hóspedes é que vão tirar a camisa, arrotar ruidosamente, invadir a geleira, apalpar traseiros, coçar partes do corpo à vista de todo o mundo ou mesmo pegar no controlo remoto e mudar de canal para ver “Roque Santeiro”. As pessoas entendem que essa frase não é nenhum convite para essas coisas. Isto vale na vida cotidiana como também no debate de ideias na esfera pública. É muito fácil ganhar pontos no debate jogando com esta tensão entre sentido e interpretação.

Há um livro de 1830 dum filósofo alemão cuja escrita é uma delícia (atenção: nunca comi nada do que ele escreveu!), Artur Schopenhauer, com o título (tradução literal) “A arte de ter razão”. Acho até que foi nele que a “Grande Royale”, figura do livro “A aventura ambígua” de Cheikh Hamidou Kane, se inspirou para dar aquela instrução memorável ao seu sobrinho que não queria ir estudar em França: “vá à terra dos brancos, meu filho, para aprenderes a arte de ganhar sem ter razão”. Nesse livro Schopenhauer dá na essência dicas (que ele chama de “truques”) sobre como manipular esta relação entre a intenção e a interpretação. Fiquei fã incondicional dele por causa duma das demonstrações que ele faz usando o seu inimigo número um Hegel (o tal que andou a dizer que África não tinha História…). Ele relata uma conversa com um amigo durante a qual ele (Schopenhauer) confessa a sua admiração pelos Quietistas (uma seita religiosa cristã do século XVII). A conversa progrediu e começaram a falar de Hegel. Aí Schopenhauer disse que Hegel tinha essencialmente escrito parvoíces ou, na melhor das hipóteses, os seus textos continham várias passagens onde o autor apenas tinha colocado palavras na esperança de que os leitores contribuíssem com sentido. Gosto. O interlocutor de Schopenhauer reagiu dizendo que ele tinha elogiado os Quietistas apesar de estes terem também escrito muita parvoíce. A resposta de Schopenhauer foi simples. O seu elogio aos Quietistas não fora por conta das suas qualidades filosóficas, mas sim pela sua conduta.

Leiam isto: “Guebuza foi aquele que alicerçou o sistema de educação das zonas libertadas e que lançou o grande movimento da criação do Homem Novo da libertação do Homem que depois Samora foi formalizar no seu livro ‘Façamos da Escola uma Base para o Povo Tomar o Poder’. É ele que já na área do comissariado político (que) trabalha no desenvolvimento de uma consciência ideológica. Foi Guebuza que praticamente lançou os alicerces da Frelimo. Todos conhecem aquelas epopeias que se passaram ali na Avenida de Angola, naquela sede do partido em que a Frelimo se instalou, e em que de um lugar devasso que era, se transformou no núcleo da esperança de todos os moçambicanos”. Quando vi o vídeo que traz esta citação de Fernando Ganhão, um histórico da Frelimo e Reitor da UEM durante muitos anos, senti algum desconforto pelo que me pareceu não ter sido um bom trabalho de citação com indicações claras de onde houve cortes – por exemplo, assim: (…). A frase que me criou mais problemas foi a seguinte: “Foi Guebuza que praticamente lançou os alicerces da Frelimo.”. Ponto final.

O que quis dizer Ganhão com isso? Que Guebuza lançou os alicerces da Frelimo? É evidente que não, e a explicação está na continuação: o trabalho que se fez na sede da Frelimo na Avenida de Angola (em Maputo) e que foi orientado por Guebuza com a participação de muitos ex-presos políticos (relação esta que, ao que parece, e segundo muitos desses ex-presos políticos, mais tarde iria criar muitos problemas entre Samora e Guebuza) contribuiu significativamente para a implantação da Frelimo em Maputo após os Acordos de Lusaka. O ponto final não está bem colocado, mas o sentido está claro para quem tem o hábito de abordar o que os outros dizem na base do princípio de caridade: considerar apenas a melhor e mais forte interpretação duma afirmação. Este é um princípio básico do debate público.

Há três coisas dignas de realce aqui. Uma é o uso desta citação para publicitar uma página em que um ex-Presidente apresenta aquilo que considera ser o seu legado. Pessoalmente, acho que está de parabéns por disponibilizar esta página. Ele não é historiador. Ele é a História. Cabe aos historiadores interpelarem o que ele diz e interpretarem como quiserem. Por mim até ele pode mentir como quiser. Está no seu direito, é a sua própria reputação que ele poria em causa. Fernando Ganhão fala bem dele. Que bom, eu também já comecei a coleccionar todos os comentários positivos que são feitos a minha beleza, inteligência e espírito patriótico aqui no Facebook para citar quando escrever as minhas memórias depois de ter sido Governador de Gaza. Os negativos ignoro demonstrativamente. A segunda coisa é se o que Ganhão diz sobre Guebuza é correcto ou não. Mais uma vez, Guebuza não é historiador. Ganhão foi. Guebuza tem a prerrogativa de aceitar como verdade (sobretudo quando essa verdade faz bem ao seu coração) aquilo que um historiador disse sobre o seu papel na libertação de Moçambique. Nós os outros podemos contestar isso, direito que se nos assiste, ainda mais quando, como na Pérola do Índico, verdade sempre se confunde com as coisas em que cremos. Pacífico. Ganhão escreve, por exemplo, que Samora escreveu um livro. Convenhamos. Mas ninguém se exaltou com isso. Tudo bem.

Finalmente, há aqui uma coisa mais geral que tem a ver com a qualidade do nosso debate público, mais uma vez. Conforme disse mais acima, a comunicação flui melhor quando o nosso foco é a intenção da pessoa, não a nossa interpretação. A primeira permite a troca útil de ideias. A segunda dá-nos pontos fáceis, mas ao mesmo tempo protege as nossas crenças e, no fundo, fecha-nos do debate público. É claro que a responsabilidade não reside toda nos outros. Quem emite opinião tem também a responsabilidade de o fazer de forma clara e, acima de tudo, respeitar a verdade, pois disso depende a sua credibilidade. Mas mesmo quando alguém perde credibilidade existe ainda a saúde da esfera pública que exige uma de duas coisas: se alguém não tem credibilidade para dizer seja o que for, então seria bom para a esfera pública que essa pessoa fosse apenas ignorada. Se não for ignorada, então devemos observar o princípio da caridade para todos os efeitos.

Virou reflexo e moda implicar com tudo que vem de Guebuza como se de exorcismo de espíritos se tratasse. Por mais que não se respeite a pessoa – cada um de nós tem o direito de ter a sua opinião sobre ele – existe ainda algo bem maior do que ele que é a esfera pública. Esta merece melhores discussões para o bem de algo ainda maior que é Moçambique. Achar o tipo arrogante e doido, mas estar sempre a implicar com ele faz dois arrogantes e doidos, não um só.




Comments

Eusébio A. P. Gwembe E foi com Guebuza que Mondlane trabalhou no desenho dos vários manuais de ensino quer para o Instituto Moçambicano assim como para as zonas libertadas que dois ex-extudantes daquele instituto, numa carta em que apelavam e apoiavam Simango quando foi suspenso, em 1970, afirmavam que «na verdade é Guebuza quem controlava a Frelimo». Talvez um estudo de vida e obra de Guebuza seja um melhor antídoto para quem o queira julgar. Caso contrário, o risco é criticar a obra desconhecida. Muito mau!

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Egidio Vaz Você Eusébio A. P. Gwembe não nos irrite. Trabalhar COM é alicerçar o partido? Outras coisas.

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Egidio Vaz Assim você conhece a obra? Porque gosta de se enrolar em mistérios meu mano? Porquê?


Elisio Macamo não conhecia esse pormenor, Eusébio A. P. Gwembe, obrigado.


Eusébio A. P. Gwembe Vou procurar o documento, não passa muito tempo que estive a ler. Egidio Vaz, além da admiração que tenho de Guebuza (nunca escondi) tenho focado a minha pesquisa histórica em histórias individuais. E posso dizer, sem medo de errar, que o Ensino foi uma das bases para alicerçar a Frelimo. Mondlane, como deve saber, apostava na Educação, mas os seus afazeres o impediam de organizar as coisas no Terreno. Encarregou a Guebuza essa missão

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Hermes Sueia Imaculada Conceição...........


Hermes Sueia O mais importante é olhar para o futuro.........quais são as bases presentes para enfrentar o futuro........há que reconhecer as grandes conquistas e obras do passado, mas manter a capacidade de ver aquilo que consubstancia desvios ideológicos e desvios que nos fazem levantar algumas reticências.........é legitimo e só não vê que não quer ver..

Inacio Fernando ta certo profe


Anísio Buanaissa A comunicacao eh uma arte Prof e por vezes abandonamos principios elementares de leitura de textos e fenomenos tais como: o todo deve dar sentido a parte. 
Eu acho que por vezes lemos o que queremos e noutras o que nos ensinaram a ler!

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Egidio Vaz O que está querer dizer Anísio Buanaissa? Você viu o vídeo? Qual foi a intenção dos autores em trazer aquela citação fora do contexto? E julga que devia passar impune? A quem cabe a responsabilidade de melhor comunicar? Aos leitores/ouvintes/receptores ou ao emissor? Elementar é entender isso. Se nao entende isso você pode ser manipulado

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Egidio Vaz ....ou pode manipular, como está prestes a fazer


Anísio Buanaissa Caro Egidio Vaz, devo estar em porta errada. Confesso que nao vi video algum acompanhando o post!
Agora, em momento algum desejei manipular quem quer que seja.

PS: vamos ao post caros, ha muito a comentar...


Elisio Macamo sim, Anísio Buanaissa, a comunicação é uma arte, sobretudo quando o bicho mexe para entender a intenção antes de interpretarmos.

Serrote Madeira A história é escrita no sentido de beneficiar o escritor e os seus, mas como ciência devemos dar lugar a mudança como uma das características do conceito ciência. Daí que, as vezes devemos recuar há alguns anos atrás e reviver os arquivos do jornal savana quando abriram um debate aceso sobre a história de Moçambique. A história de Moçambique não é dogma muito menos deve existir tabu no tratamento de alguns assuntos.

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Osvaldo Jocitala Anísino Buanaissa, ainda vive? Por qualquer desconforto que esta minha descabida questão possa lhe causar, antecipo o meu pedido de desculpas.


Elisio Macamo não percebo este comentário. pode ser mais claro?

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Osvaldo Jocitala Fui claro, Professor! Não via o Ilustre Buanaíssa faz tempo - tinha suas saudades. Reconheço a extemporaneidade da questão que faço quando esta mesma, se cruza com o conteúdo do objecto da comunicação que se faz aqui. Me perdoe Prof.

Ismail Mahomed Há uma tendência de culpar o ex-PR AEG dr toda a nossa situação actual, não deixa de ter alguma razão de ser, mas para sermos justos é préciso também enaltecer o que de bom foi feito e reconhecer que grande parte do que esta sendo realizado neste momento neste país é resultado do trabalho deste grande homem, não é por acaso que o chamam de megalómano, mas graças à este seu pensar grande para além do nosso quintal, que tenho à certeza que Guebuza lançou as sementes para que nos próximos 20 anos o país venha à ser muito respeitado nesta parte do nosso continente, é verdade quê houve erros, e só os comete quem alguma coisa faz, e o presidente Guebuza fez muita coisa que à médio longo prazo irá ajudar no desenvolvimento do país, hoje não vemos isso porque nos incomoda à ideia de que ele individou o país, mas como queremos fazer investimentos sem nos individarmo-nos? , construir pontes, caminhos de ferros, estradas e auto - estradas, grades investimentos nesta área só é possível com individamento, que pessoalmente acredito terem sido oportunas, talvez pecarem por serem mal negociados (juros muito altos)

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Lindo A. Mondlane Muito pedir professor.. Kkkk..as nossas discussoes sao no sentido básico de q foi (é) bom ou mau sem meias tintas, nao nos peca mais profundidade por favor professor, é o mais profundo que chegamos..isso de reflexoes profundas é la com os filosofos alemas q esta bem longe de casa... A propria frelimo ja resumia no: abaixo tal fulano, e nao admite pouco abaixo, ou pouco viva.. Excelente reflexao..... Em cuba na praca da escola podiam chamar um individuo ha pouco exemplar em tudo e lhe ejogiavam tipo: o melhor aluno, o mais inteligente. Aluno revolucionario, aluno exemplar... Bla..bla..bla e no final diziam PERO ( mas)... So por um erro no dia anterior, recorriam o mesmo discurso no sentido inverso e uma vez terminada o discurso ja podia arrumar as malas, porq estava expulso, ou mesmo acabar com os ossos na cadeia....

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Elisio Macamo hahaha!


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Gabriel Muthisse Quando vi que era um simples truque para cacar "likes", como alguns personagens nos veem habituando, nem sequer liguei. Comentei na pagina de um amigo comum, que me pareceu estar a indignar-se de forma honesta. Referi-lhe a alusao de Ganhao ao Snack Bar Vasco da Gama, para lhe fazer ver que Ganhao nao se referia a alicerces aquando da fundacao em 1962. Na verdade, soo verdadeiros estudiosos da nossa historia recente sabem o que que foi e o que veio a ser o Snack Bar Vasco da Gama. Recordei a esse amigo, porque sei que o sabe, que guebuza foi encarregue de dirigir o processo de estruturação do Partido pouco antes e depois do III Congresso. E por fim, indiquei quando ee que Fernando Ganhao disse aquilo (no lançamento da biografia de Guebuza em 2004, em plena campanha eleitoral. Tudo isso ee importante para quem quer discutir este trecho. Abraco

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Armistício Mulande Sou fã de Guebuza, o tipo desperta paixões até ao extremo. Infelizmente, acho que ele está a viver muito à frente do seu tempo. Não estamos a conseguir aproveitar na plenitude tudo o que este senhor está a presentear-nos. Distraimo-nos com o supérfluo. Este website é mais uma ferramenta que o "velho" nos proporciona para discutirmos o nosso país, a nossa história, as nossas realizações e os nossos erros e desafios. Acham mesmo que este website é para promover a sua imagem?
Infelizmente, estamos, mais uma vez, a ler mal as coisas. E Elisio Macamochama-nos atenção a isso. Se continuarmos a ler mal perderemos a oportunidade de discutir o essencial. Guebuza foi ou não fundamental para alicerçar a Frelimo como partido político?

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Elisio Macamo e mesmo que fosse para promover a imagem,Armistício Mulande, mesmo que fosse. a interpelação em si com chamadas de atenção para o que pode estar errado é legítima e deve ser feita. mas a insistência no negativo é simplesmente doentia.

Carlos Nuno Castel-Branco Elisio Macamo, obrigado pelo teu post. Gostaria de fazer alguns comentários. Primeiro, a interpretação da frase do comboio alemão sobre casa de banho é uma função não apenas da competência linguística. Ela é associada a valores comuns partilhados e aoponto de partida, que permitem a descodificação comum do sentido da frase. Experimenta pôr uma placa com essa frase na casa de banho de um dos nossos comboios (não sei se têm casa de banho e luz para as pessoas lerem a placa, mas suponhamos que sim). Provavelmente, alguém iria arrancar a placa. Duvido que alguém a lesse. Provavelmente cada um usaria a casa de banho com sabe. Era mais provável que a casa de banho estivesse suja para começar, pelo que a ambiguidade da frase seria exacerbada. Os valores partilhados e os pontos de partida influenciam decisivamente as expectativas sobre o significado das coisas. Segundo, em relação com o primeiro, e aplicando a este caso concreto, nós temos uma história recente de abusivo culto da personalidade sobre Guebuza. O omnipresente, o filho mais querido, o pai da Nação - quantos país pode a nação ter? -, o insubstituível. As biografias dele são kimilsunguistas. O seu nome foi atribuído a uma percentagem altíssima das obras que ele inaugurou. Quando David Simango pediu para falar com ele para que a lei das mordomias - como ficou popularmente conhecida - fosse vetada, os bajularores profissionais insultaram-no, desencadearam ataques racistas e de outro tipo contra outros indivíduos que se pronunciaram contra a lei; assim que ele, o filho mais querido, devolveu a lei ao parlamento para rectificação, o seu acto transformou-se numa sábia, quase divina e inspiradora acção. Em reuniões restritas com ele, foi alertado para os perigos do culto da personalidade e falsificação da história levados a cabo pelo seu séquito. Quando obras eram inauguradas, era sempre o génio de Guebuza que era exaltado e pouco se falava doa trabalhadores que construíram a obra. Mas este estado de coisas nunca melhorou, pelo contrário, foi piorando ao longo dos anos. Esta é experiência partilhada, o ponto de partida e faz parte das expectativas. Portanto, quando aquele vídeo surge não há simpatia nenhuma - pelo contrário, cada um volta atrás para se lembrar do Gueus. Terceiro, porque foram buscar o Ganhão agora? Porque não o respeitaram e lhe deram as honras devidas quando ele morreu? Porque não o trataram devidamente em vida? Onde está escrita/gravada essa intervenção do Ganhão e qual é o seu contexto? No final da sua vida, o Ganhão não foi tratado como antigo combatente, historiador da luta de e libertação nacional, primeiro reitor da UEM; porque o foram citar agora fora de contexto e sem registo? Porque não puseram lá as críticas registadas à sua actuação? Quarto, imagina que cada um de nós começa a dizer "eu fiz isto, o chefe só assinou; eu fiz aquilo, o chefe só autografou ou leu"? Onde vamos parar com isto? Cada um de nós participou em inúmeras grandes obras e inúmeros grandes disparates; participou, com outros, deu a sua contribuição. Há uma questão que é humildade e serenidade. Sem esses valores ele não vai ter simpatia e aquele vídeo vai ser interpretado da pior forma possível. Quinto, aquela página tem o cunho da sua presidência - excessivamente formal. Ele aparece como um ser acima de outros seres, parecendo ter criado uma plataforma para o verem e o aplaudirem. A riqueza da sua história pessoal podia ser tratada de outra forma, com simplicidade e com humildade, e usar a plataforma para de facto discutir, ouvir, aprender e ensinar. Mas os autores da página não conseguiram resistir à tentação: aquilo parece uma praça com a estátua formal do chefe para ser adolada. Finalmente, não foi ele que, no auge dos ataques a qualquer crítico, quando todos os que discordavam de alguma questão substancial eram agentes externos, declarou o Facebook como uma fábrica de sonhos irrealizáveis? Que simpatia queres que ele tenha agora? No auge da crise económica e política herdada do seu último mandato e parcialmente (não totalmente, claro) resultante de estratégia e abordagens por si promovidas, este vídeo vira o feitiço contra o feiticeiro - parece um tentativa de fabricar sonhos irrealizáveis. Guebuza não precisa dessas coisas. Ele é parte destacada da construção da nossa história contemporânea e construiu a sua própria história. Uma discussão crítica da vida é muito mais interessante que a contínua exaltação, e é um vector de interacção muito mais interessante é útil. O que é que eu gostaria de aprender com ele? As lições e experiências que ele ganhou no muito bom e no muito mau que fez ao longo de tantos anos de história. Não me interessa saber se alguém acha que ele lançou alicerces disto ou daquilo, mas o que fez, o que coreeu bem, o que correu mal, o que aprendeu, o que havia de corrigir ou fazer diferente se voltasse atrás, etc. Essa experiência é o legado dele, não o endeusamento que alguns de nós, os que estamos sempre à espera de um Messias (para te parafrasear) fazemos.

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Gabriel Muthisse Haveria muitas coisas a discutir no comentário da Carlos Nuno Castel-Branco: (ii) Houve mais culto de personalidade de Guebuza em relação a quem? Em relação a Samora? Em relação a Chissano? Temos certezas do que afirmamos? (ii) Guebuza deu o seu nome a todas as obras que inaugurou! Quais são essas obras? Ele tem mais infra-estruturas com o seu nome mais do que quem? Mais do que Samora? Mais do que Chissano? (iii) Seria possível ir buscar o texto em que Guebuza fala das redes sociais? Ha certeza de que ele se opôs a estas ferramentas? Alguem tem a certeza disso? (iv) ligado ao ponto anterior; esta ee a primeira vez que Guebuza usa as redes sociais para se mobilizar uma campanha contra ele por agora ter criado uma pagina web? Não teve no passado um blog, através do qual interagiu com o publico? (v) Fernando Ganhao ja não era valorizado quando morreu!!! entendi isto do comentário de Carlos Nuno. Não era valorizado porque? Porque ja não era reitor? Ou por qualquer outro motivo? Ele era hostilizado pelo poder político? De que modo essa hostilização se manifestou? (vi) A pagina web de Guebuza estaa mal concebida? Neste aspecto eu não teria nenhuma dificuldade em aceitar que tenha muitas coisas que tenham de ser melhoradas. Entao porque não se discute isso? Porque não se pega em aspectos concretos (texto, discurso postado, fotografia, video) e se demonstra que a escolha por esse material especifico estaa errada, e que opaco se deveria ter seguido? Porque o bota abaixo? So porque nos ee antipático? (cii) Finalmente, não se estará a confundir o video promocional, com a pagina web em si? carlos Carlos Nuno Castel-Branco viu-a? Ou so se ficou nesse tal video?

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Nadia Zafirah "Virou reflexo e moda implicar com tudo que vem de Guebuza como se de exorcismo de espíritos se tratasse"...Não poderia estar mais de acordo. Por outro lado, dúvido que algum seu crítico nato e reincidente "gostaria de aprender alguma coisa boa ou má" com o seu objecto de critica negativa. Isso é hipócrita, isso é falso e, como muito bem registou o Elisio Macamo, "Achar o tipo arrogante e doido, mas estar sempre a implicar com ele faz dois arrogantes e doidos, não um só". Uma salva de palmas para os dois doidos, deviam beber um copo juntos, um destes dias, ou talvez fumar um cachimbo, o da paz.


Carlos Nuno Castel-Branco Acho que estamos na presença clara de um caso em que quem leu não o que foi escrito por quem escreveu, Gabriel Muthisse. Aliás, eu já sabia que vinha aí a comparação com Samora e Chissano, a negação de factos - porque não vai procurar o discurso da penúltima e antepenúltima sessões do Comité Central antes da saída del como presidente da Frelimo? Mas já sabia. Até pensei se valia a pena fazer algum comentário aqui, nesta plataforma, por causa do tipo de reacções que já sabia que aí vinham (estão a ficar repetitivas). Mas a minha consciência deidiu que era melhor fazer o comentário e ir à vida. Abraços. PS: Não sou antipático à causa. Acho que o vídeo é péssima propaganda e faz muito mal à causa. Por isso mencionei o que gostaria de aprender com Guebuza. Se fosse antipático à causa não falaria nisso.


Gabriel Muthisse Fiz as perguntas inevitáveis, em função das afirmações anteriores de Carlos Nuno Castel-Branco. Era bom que ele debatesse as minhas questões. Mas isso nao é forçoso. As perguntas estão lá. Quem quiser reflectir objectivamente e, sobretudo, nunca tinha pensado nelas, lá estão para serem avaliadas.


Gabriel Muthisse Ademais, quando alguém diz que o nome de guebuza era dado a um numero altíssimo das obras que inaugurava, essa pessoa deveria ter a obrigação de enumerar essas obras que ostentam o nome de Guebuza. Quando afirma que Fernando Ganhao, um nacionalista deprimeira hora, não foi valorizado nem em vida, nem na morte, deveria demonstrar como essa não valorização tomou forma. Quando, de forma reiterada, insiste em que Guebuza estimulava um ABUSIVO culto de personalidade, essa pessoa deveria ser capaz de demonstrar como o tratamento a Guebuza transgrediu o que sempre se fez na FRELIMO, no Estado e mesmo na cultura política moçambicana. Poderia prosseguir na enumeração das acusações que se fazem a Guebuza com certa ligeireza. Recusar-se a debater isso ee quase afirmar que podemos dizer o que queremos dos outros, sem preocupação nenhuma de consubstanciação. E, quando alguém nos exigir justificação, nos limitarmos a dizer que quem exige fundamentação não leu o que dissemos. E ficarmo-nos por ai. Assim, ninguém se safava na esfera publica (na política, na academia, no clero...)

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