segunda-feira, 6 de maio de 2019

Morreu a ativista atada a uma cama de hospital nos Emirados Árabes Unidos


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Alia tinha sido condenada a 10 anos de prisão por terrorismo, quando na verdade fez donativos a sírios. Tinha cancro, mas foi obrigada a renunciar aos tratamentos. Morreu atada à cama de hospital.
O caso aconteceu nos Emirados Árabes Unidos e chamou a atenção dos grupos defensores dos direitos humanos
Getty Images
Morreu nos Emirados Árabes Unidos a mulher com um cancro terminal que cumpria uma pena de 10 anos de prisão por ajudar famílias sírias. Alia Abdulnoor passou os últimos meses de vida num hospital com as mãos e os pés atados à cama. Apesar dos pedidos da família e da ONU para a libertar, tendo em conta o estado de saúde da mulher, Alia Abdulnoor sucumbiu sem nunca ver esse desejo realizado.
Hiba Zayadin, investigadora da Human Rights Watch, contou ao El Mundo que “Alia faleceu num quarto de hospital fortemente vigiado, quando tudo o que queria nos seus últimos dias era morrer com o carinho da família”: “Apesar do seu estado de saúde precário, as autoridades dos Emirados Árabes Unidos ignoraram repetidos apelos de grupos, deputados do Parlamento Europeu, especialistas da ONU e a própria família para libertá-la por razões médicas”, denuncia.
Alia Abdulnoor tinha um cancro na mama e estava na unidade de cuidados intensivos do hospital Tawam, em Al Ain, desde janeiro de 2018, três anos depois de a doença lhe ser diagnosticada numa fase avançada. Desde então que o caso está a ser acompanhado por grupos defensores dos direitos humanos, mas os apelos intensificaram nos últimos tempos quando a ativista começou a piorar. A Human Rights Watch chegou a escrever que os Emirados Árabes Unidos lhe estavam a impedir de receber tratamentos médicos, recorda o El Mundo.
Segundo o jornal espanhol, foi em julho de 2015 que as forças de segurança do país entraram em casa de Alia Abdulnoor e a levaram para um centro de detenção. Ficou desaparecida durante seis meses, que deve ter passado num quarto sem janelas nem luzes ou circulação de ar. Depois, quando foi descoberta, Alia Abdulnoor explicou que só lhe foi entregue uma manta ao fim de 15 dias de prisão. E que não a deixavam dormir, nem rezar ou tomar banho.
Só mais de um ano depois é que Alia Abdulnoor soube que tinha sido detida por alegadamente financiar grupos terroristas, nomeadamente a Al Qaeda, e entregar informação sensível sobre os Emirados Árabes Unidos. Alia confessou o crime, explica o El Mundo, mas os advogados garantem que o fez sob ameaça. E a família também recusa as acusações: em vez disso, sublinha que Alia fez pequenos donativos a famílias sírias em 2011 durante as revoltas contra Bashar Asad.
Alia Abdulnoor passou 11 meses presa numa cela com outras 15 mulheres. Só em finais de 2016 é que deu entrada num hospital, mas terá sido coagida a recusar tratamentos contra o cancro. A doença avançou de forma galopante. E Alia acabou por morrer no último sábado, 4 de maio. “A morte dela é um lembrete trágico de que a retórica dos Emirados sobre tolerância nada mais é do que palavras vazias”, acusa Hiba Zayadin.

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