O Governo do MPLA, que está no poder em Angola desde 1975, sem que nenhum dos seus presidentes da República tenha sido nominalmente eleito, anunciou que depositou (como se fosse uma “coisa”) hoje os restos mortais do líder fundador da UNITA, Jonas Savimbi, numa unidade militar no município do Andulo, província do Bié, sem a presença de representantes familiares ou do partido. E avisou que o Governo “não tem memória curta”, embora não chegue até Maio de 1977.
Segundo o ministro de Estado e chefe da Casa de Segurança do Presidente da República, general Pedro Sebastião, a direcção da UNITA, maior partido da oposição que o MPLA ainda permite, “impediu os seus representantes na comissão [do partido, para as exéquias fúnebres] de estarem presentes no Andulo”, para a recepção dos restos mortais de Jonas Savimbi.
O governante, certamente fazendo uso dos conhecimentos de educação psico-social que aprendeu com a PIDE/DGS enquanto foi militar do Exército português, convocou os jornalistas, em Luanda, proveniente do Andulo, no quadro da inumação dos restos mortais de Jonas Savimbi, morto em combate em 22 de Fevereiro de 2002, para recordar que a pedido da família e da UNITA, o Presidente João Lourenço, criou, em 15 de Agosto do ano passado, a Comissão Multissectorial para o Processo de Exumação, Transladação e Inumação dos Restos Mortais do líder histórico do partido do ‘galo negro’.
“Hoje, dia 28, estava prevista a transladação dos restos mortais do Luena (província do Moxico) para o Bié e mais concretamente para o Andulo, depois de termos tido uma reunião a nível da comissão e ter ficado assim decidido”, disse Pedro Sebastião.
Recorde-se que o presidente da UNITA, Isaías Samakuva, condenou hoje o impasse que disse ter sido criado pelo Governo, acusando o executivo de “falta de diálogo” sobre as questões ligadas às exéquias fúnebres do líder histórico do partido.
Os restos mortais de Jonas Savimbi saíram do cemitério do Luena, na província do Moxico, quando era suposto terem chegado ao Cuíto hoje de manhã, onde se encontra a família de Jonas Savimbi e a direcção da UNITA.
Numa conferência de imprensa no Cuíto, Samakuva indicou que estava tudo preparado para receber os restos mortais na capital do Bié e que face à falta de diálogo há “algo que se está a passar, que o partido não entende”.
Segundo Samakuva, os restos mortais de Savimbi foram entregues na segunda-feira no Luena sem que a UNITA ou a família estivesse presente, pois não havia ninguém mandatado pelo partido ou pela família para o efeito.
Já segundo as explicações dadas ao final da tarde pelo ministro Pedro Sebastião, que coordena a comissão multissectorial, na segunda-feira realizou-se uma última reunião com os familiares e elementos do partido, para acertar detalhes do processo, que deverá culminar em 1 de Junho, com as cerimónias fúnebres previstas para o cemitério de Lopitanga (Bié).
“E hoje, mais do que não cumprimos senão aquilo que estava efectivamente previsto”, afirmou, recordando que “tal como a UNITA solicitou” o Governo montou uma “operação logística” para o efeito, envolvendo, entre outros meios, um Boeing 737, um Antonov An-72 e quatro helicópteros, para além de efectivos policiais e militares armados até aos dentes, muitos dos quais estavam estacionados a alguns quilómetros à espera de… “ordens superiores”.
Pedro Sebastião referiu que no Andulo começou a receber, às primeiras horas, “sinais de que, a partir do Luena, a UNITA estava a inviabilizar a transladação dos restos mortais do Dr. Savimbi”.
“E essa atitude da UNITA baseou-se no sentido de não estarem presentes, na altura da retirada dos restos mortais da capela, onde se encontrava, para a aeronave e fazerem-se acompanhar até ao Bié”, explicou o governante.
“Sabemos que é pretensão da UNITA realizar a inumação em Lopitanga, que dista cerca de 30 quilómetros do Andulo, e, portanto, esta localidade era o ponto mais próximo para esta operação e foi no fundo o que se passou”, acrescentou.
O ministro de Estado e chefe da Casa de Segurança do Presidente da República de Angola disse que os restos mortais do líder fundador da UNITA ficaram depositados no Andulo, numa unidade militar, que não está vocacionada para esta situação.
“Esperamos que não seja muito tarde, porque a unidade não está vocacionada para este tratamento. Naturalmente, as Forças Armadas poderão dar outro destino, que não ter de permanecer com os restos mortais ali na unidade”, alertou.
Questionado se não havia possibilidade de transferir os restos mortais do Andulo para o Bié, Pedro Sebastião respondeu negativamente, justificando – num claro atestado de matumbez aos angolanos – com problemas de ordem logística, nomeadamente combustível, entre outros.
Solicitado a responder se o Governo teve ou não conhecimento do programa apresentado pela UNITA, que previa a entrega dos restos mortais no Luena, Pedro Sebastião esclareceu que todos os assuntos inerentes à exumação dos restos mortais de Jonas Savimbi são tratados na comissão multissectorial, na qual mereceu o devido tratamento.
Pedro Sebastião sublinhou que do último encontro havido com a família e alguns membros do partido “ficou assente que seria no Andulo”.
“Nós fizemos aquilo que nos competia, quando a família assim o entender e quando o partido UNITA assim o entender, os restos mortais estão lá e não devemos esquecer em que circunstâncias o Dr. Savimbi morreu. Nós não temos memória curta”, afirmou.
“O que nós aconselhamos à família e ao partido é que acelerem de facto e que vão buscar os restos mortais, porque nem sempre temos a disponibilidade para estarmos de um lado ou de outro para tratar de assuntos que, em nosso entender, já há muito deviam estar resolvidos”, acrescentou.
Pedro Sebastião acrescentou que o Governo continua aberto ao diálogo se constatar “que há essa vontade, vontade política sobretudo, da parte da família”, mas sem concretizar até quando é que os restos mortais de Jonas Savimbi poderão ficar depositados no Andulo.
E porque, para além do MPLA, há mais gente que não tem memória curta, importa dizer que, como a UNITA “decretou” que este é ano do seu fundador, não seria despiciendo que revelasse, ou que desafiasse o MPLA a fazê-lo, o que Jonas Savimbi pensava de alguns dos angolanos que hoje (como ontem) se julgam donos do país e da verdade, como é o caso de Pedro Sebastião.
Do material “capturado” pelo MPLA no bunker de Savimbi, no Andulo, constam vários dossiers sobre o que o líder da UNITA pensava de figurões e figurinhas do MPLA. O que pensava e não só… Cópias destes dossiers também estão nas “mãos” da UNITA e de muitos angolanos (e não só), alguns a viver no estrangeiro.
Talvez fosse a altura de se tornar público todo esse espólio.
Folha 8 com Lusa
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