A CULPA DO EX-MARIDO FÉRTIL (2a edição)
Era uma vez, numa certa aldeia, algures nesta Pátria de Heróis, um homem de alguma idade desposou uma bela donzela, cujos atributos físicos despertavam a atenção de muitos dos patrícios, mas também e sobretudo, de jovens, adultos e velhos das aldeias vizinhas. Apesar de ser consensual que a beleza feminina é tirania á curto prazo, muitos são os que viam na donzela a razão dos seus suspiros em sonhos nocturnos e razão para lutar por um futuro melhor. Havia até quem pensava que tendo a donzela em seus braços resolveria todo o tipo de problemas enfrentados, incluindo os de cariz económico.
O marido da donzela, qual experimentado na estrada da vida, cedo se empenhou em presentear a todos uma esposa sorridente, sempre esbelta, ainda mais desejada por todos os homens da aldeia. Até porque das aldeias vizinhas iniciou uma verdadeira rumaria para aquela aldeia, pois todos queriam não só perceber como um homem daquela idade conseguia resultados tão animadores diante da formosa donzela, que apesar do enorme assédio e inveja de alguns homens da aldeia, lhe era completamente fiel. Por todos os bairros por onde o sortudo homem passava assistia-se a banhos de saudação, admiração e respeito. É que apesar de na juventude ter sido cortejada por outros homens, havia unanimidade no sentido de dizer-se que aquele homem era o que melhor havia alguma vez tratado daquela cobiçada donzela. Foram muitas, inimagináveis e admiráveis os presentes que a donzela recebeu, tanto é que o homem não media esforços para ver a sua amada sempre sorridente e gozar de boa saúde e conforto.
Mas como era tradição naquela aldeia, uma década depois do casamento, o homem devia ceder o seu lugar de esposo a uma outra pessoa, que tanto podia ser um jovem ou adulto, como era o seu caso, quando a desposou. Imbuído na máxima de “quem sai aos seus não degenera” e convencido que só da sua tribo podia haver quem o substituísse com a clarividência necessária, o homem sugeriu ao conselho dos anciãos que um dos seus irmãos mais novos o pudesse suceder na relação com a tão desejada donzela. Não fosse o interesse em ver sempre a donzela sorridente e bem cuidada, outra não seria escolha do homem, sufragada pelos anciãos da aldeia.
De um grupo de 5, a escolha recaiu, de facto, sobre um dos irmãos mais novos do homem, que tanto se esmerou por mostrar-lhe os caminhos por onde sempre percorrera, em busca do bem-estar da donzela, para além e ter se disponibilizado para a qualquer momento acudir a uma situação de desacerto do seu sucessor, na relação com a donzela. O jovem, muito dinâmico, bom vivant, também admirado por crianças, jovens, adultos, velhos, mulheres, entre outros, iniciou o que tinha tudo para ser uma jornada ainda mais cobiçada, cortejando a já não donzela, mas dama, que conservava os seus hipnotizantes atributos, tendo até, acrescido tantos outros, que deixavam qualquer homem a salivar de tanta gula. No princípio o jovem, qual marido respeitoso e atento aos conselhos dos mais velhos, viveu uma jamais vista lua-de-mel, com espumantes e tudo o que tinha direito um jovem casal. Era o homem do momento.
Porém, como em todas as relações, surgiram os primeiros sinais de conflito conjugal, com a dama a reclamar mais atenção do seu amado, pois acreditava na capacidade daquele em fazer maravilhas melhores que as do anterior marido.
Como esposa compreensiva e submissa, a dama foi descontado os naturais desacertos do cônjuge, qual debutante nas andanças matrimoniais. Aliás, os anciãos sempre iam chamando atenção ao jovem sobre os cuidados a ter no relacionamento com a sua consorte, sugerindo-lhe que evitasse algumas companhias que certamente não o ajudariam a manter e fazer cada vez mais a sua dama feliz. Infelizmente, a medida que crescia a preocupação dos anciãos e dos restantes aldeões, ao se aperceberem que a dama, vezes sem conta, andava pensativa, triste e cabisbaixa. Mas ainda assim, tanto a dama como o resto das pessoas sempre acreditou que que desafios por que passava o casal, não iam para além de incidente de percurso que, com o tempo os dois se iriam ajustar.
Porém, o jovem, qual recém-casado não só mantinha algumas amizades não recomendáveis, como também e sobretudo se aliou a pessoas que nunca o quiseram bem, nem mesmo se alegravam com o sorriso da sua amada. Aliás, alguns dos novos aliados soltaram gargalhadas ensurdecedoras quando se aperceberam que o jovem tinha sido um dos escolhidos para cortejar a dama, outrora donzela, alegando que a sua escolha só podia ser uma brincadeira de mau gosto.
Não se sabe por cargas de água, o jovem dispensou não apenas o conselho dos anciãos como ainda disse ao seu sucessor que já não era necessário que este habitasse no mesmo quintal, pois ele se preparara para tomar conta da dama em qualquer circunstância. Quando se pensava que esta medida permitiria ao jovem empenhar-se ainda mais no alcance do bem-estar da esposa, mantendo-lhe a auto-estima, admiração e sorriso nos lábios, os conflitos conjugais avolumavam-se.
Não raras vezes a dama queixava-se junto dos anciãos e amigas, dado o facto de se sentir altamente frustrada. Algumas vezes confessou – medrosa e cautelosa – que sentia saudades imensas do anterior marido. E a medida que o tempo passava o nível de frustração da dama ganhava contornos preocupantes e isso já não passava despercebido diante das gentes da aldeia. Desapareceu o brilho, o sorriso, surgiu um corpo desnutrido e mal cuidado. Perante isso, nada mais podia escapar ao escrutínio das pessoas.
Cansada de sofrer calada, a dama abriu-se com os anciãos e com o próprio consorte, dando conta das suas inquietações. Os anciãos disseram-na que tendo sido colocados em posição subalterna na relação dos dois, muito pouco podiam fazer, senão esperar que o tempo jugasse os factos, pelo que se sentiam quase impotentes para dizer o que quer que fosse, para além de quem anteriores ocasiões terem tentado, sem sucesso, reverter o curso das coisas, em favor da dama.
Mas a resposta mais surpreendente veio mesmo do cônjuge da dama. Este alegou que o grande problema no casamento dos dois era o anterior marido. Dizia em alta voz que se a não conseguia satisfazer é porque o anterior marido era potente e fértil, que bem a podia dar filhos e que para tal usava o ngonadzololo ou o pau de Cabinda para fazer a mulher feliz, para além de que fazia coisas que ele não estava sequer disposto a tentar.
Independentemente de o homem ter ou não razão, a verdade é que os problemas iam se avolumando, sem que ele mostrasse sinais de mudança de mentalidade e comportamento, pelo que uma vez mais os anciãos remeteram-se a um silêncio que tem como consequência tudo, menos algo previsível.
Enfim, é por causa do ex-marido potente e fértil que surgiram se avolumaram os problemas do jovem casal.
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