domingo, 26 de maio de 2019

PODEMOS, a vingança que se serve fria e cria uma ferida irreparável no seio da FRELIMO, a 5 meses das Eleições Gerais

ARTIGO: Moçambique quando quer, PODE!

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Dando sequência à rubrica RADAR MAGREBE LUSÓFONO, com várias publicações na VOA, aqui fica a última reflexão/análise do Radar Magrebe Lusófono #23, sob o título
Moçambique quando quer, PODE!
PODEMOS, a vingança que se serve fria e cria uma ferida irreparável no seio da FRELIMO, a 5 meses das Eleições Gerais. A análise do Politólogo e Arabista da VOA, Raúl M. Braga Pires.
Já é oficial, Moçambique tem um novo Partido Político, o Povo Optimista para o Desenvolvimento de Moçambique, vulgo PODEMOS, o qual segue a cartilha do “converter a indignação em mudança política”.
Qual é a indignação e por que é que se pode falar de vingança?
A indignação é dos moçambicanos no seu geral, corporizada desta forma numa vingança levada a cabo por aquilo que se pode considerar uma “sub-elite” da/na FRELIMO, revoltada com a elite dominante que levou o país à ruina com o recente escândalo das Dívidas Ocultas (2 mil milhões de dólares), o qual veio por sua vez a revelar publicamente a verdadeira face da 1ª linha do Partido-Estado, já que tem colocado permanentes obstáculos à mais que desejada renovação interna, crucial para a sobrevivência da Frente de Libertação de Moçambique.
Dito doutra forma, trata-se do culminar do perverso processo de tribalização do Partido, refém dos Macondes (Norte) e que tem agora uma perversa investida dos Machanganes, do Sul.
A vingança serve-se fria e quando menos se espera.
Samora Machel Junior, Samito para os íntimos, filho do 1º Presidente de Moçambique, quis apresentar-se como Candidato Independente ao Município de Maputo, nas eleições de Outubro passado, o que lhe valeu um Processo Disciplinar por não cumprimento dos Estatutos do Partido. Em resposta, Machel Junior, pede também um Processo Disciplinar ao Presidente Nyusi, enquanto Presidente do Partido, pela mesma razão. Ou seja, com a quantidade de frelimistas da 1ª linha presos e acusados de corrupção, também o Presidente não cumpriu com os Estatutos da FRELIMO. A partir de dentro, já há quem fale em fraudes eleitorais internas, como é o caso do ex-Ministro da Energia de Joaquim Chissano, Castigo Langa, que especifica uma votação para o 11º Congresso do Partido, na qual uma recontagem de votos transforma 81 em 281 a favor de uma Candidata predilecta.
Esta denúncia aconteceu durante uma reunião do Comité Central da FRELIMO, em Maio passado e na qual o objectivo era a preparação das próximas eleições de Outubro, mas Machel Junior elevou a fasquia da contestação e fez o que em 44 anos nunca ninguém se atrevera a fazer, acusando o Presidente Nyusi de tirania, tendo ainda como momento alto e simbólico o abandono da reunião da/na Matola de Graça Machel, madrasta (a mãe de Samito foi Josina Machel, mas todos/as continuam a insistir no erro de dar a maternidade do primogénito do 1º Presidente de Moçambique, a Graça Machel) do protagonista desta afronta nunca antes vista.
Propósitos e consequências do PODEMOS.
Liderado por Albino Forquilha, membro sénior da FRELIMO, o PODEMOS emana da AJUDEM, a Associação de Ajuda ao Desenvolvimento de Moçambique, que apoiou e enquadrou legalmente a Candidatura de Machel Junior a Edil de Maputo, em Outubro último, pugna pela democratização do Estado, pela Separação de Poderes, pela transparência dos processos eleitorais e pela Justiça Social. Os habituais jargões, nada de novo, não há nenhum partido que não pugne pelo mesmo, mas esta ruptura no seio da FRELIMO demarca as Gerações da Paz das Gerações da Guerra e quebra o Partido, como habitualmente se quebra um grupo terrorista ou uma organização mafiosa, colocando pais contra filhos, corroendo assim uma entente que durava há quase 5 décadas.
Moçambique, arrisca-se assim a passar finalmente do Multi-partidarismo à Democracia plena, agora que a RENAMO também deixou de ser um “Partido de Líder” e o PIMO e Yaqub Sibindy perceberam como capitalizar as virtudes das redes sociais, sobretudo para um Partido com dificuldade em recrutar quadros. As eleições gerais de Outubro próximo, poderão marcar o início do fim da hegemonia da FRELIMO em Moçambique e abrir portas aos críticos que, já com os constrangimentos do exercício do Poder, terão oportunidade de demonstrar, ou não, que sabem fazer mais e melhor que a clique que tem governado o país desde a independência.

Raúl M. Braga Pires
Politólogo/Arabista Voz da América-português

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