Entrou no hospital a implorar por ajuda para o filho recém-nascido e até foi fotografada a chorar junto dele. Era tudo mentira.
Nos últimos meses, Clarissa Figueroa andava estranha. É pelo menos desta forma que os vizinhos, que preferiram manter o anonimato em entrevista ao jornal local “Chicago Sun Times”, descreveram o comportamento da norte-americana de 46 anos. A viver na cave de casa da mãe em Scottsdale, uma cidade no estado norte-americano do Arizona, para surpresa de todos anunciou um dia que estava grávida.
Clarissa descreveu a gestação como um verdadeiro “milagre”, no entanto continuou a beber álcool e a fumar como se nada se passasse. No Facebook, porém, parecia estar a viver um dos momentos mais felizes da sua vida — partilhou fotos de um berço, de um quarto de bebé e até de um ultra-som.
Mas foi no grupo “Help A Sister Out“, dedicada a mulheres que se ajudam umas às outras, que o comportamento de Clarissa levantou mais suspeitas. Meses depois de fazer uma publicação sobre “como prevenir futuras gravidezes”, e de explicar que tinha feito uma laqueação de trompas, Figueroa anunciou que estava grávida.
“Não fazia qualquer sentido para nós”, contou Adriana Floyd, membro do grupo, ao “Chicago Sun Times“. Houve quem chegasse a perguntar à norte-americana se tinha feito algum procedimento médico para estar apta a engravidar novamente, mas Clarissa respondia sempre de forma vaga. “Nós pensávamos: ‘Ou está a mentir ou enlouqueceu. Parecia que queria atenção”.
As dúvidas pareceram dissipar-se — ou aumentar ainda mais — no dia 23 de abril. Passavam poucos minutos das 18 horas quando uma vizinha se apercebeu de que estava uma ambulância parada em frente à casa de Clarissa.
“Eu perguntei-lhe: ‘O que é que aconteceu?, e ela respondeu: ‘Acabei de ter o bebé. Não está a respirar’.” Clarissa continuou, garantindo que o bebé “saiu” quando se levantou.
Havia algo de estranho naquela história. Figueroa tinha sangue nas mãos e na blusa, mas os calções estavam limpos. Naquele momento, porém, a única coisa em que conseguiu pensar foi naquele bebé. O recém-nascido tinha deixado de respirar e estava azul.
Nos dias que se seguiram, a vizinha e a suposta recém-mãe ainda trocaram algumas mensagens. Até que, de repente, Clarissa deixou de responder.
Um desaparecimento e uma família em pânico
No mesmo dia em que Clarissa Figueroa chamou a ambulância depois de alegadamente dar à luz, Marlen Ochoa-Lopez, de 19 anos, desapareceu. Casada com Giovanni López, a mulher, mãe de uma criança de 3 anos, estava grávida de 9 meses. Não havia uma única razão que justificasse a sua ausência, no entanto a polícia obrigou a família a esperar 72 horas até Marlen ser considerada oficialmente como desaparecida.
Foram dias terríveis para a família. Formaram-se grupos de busca, organizaram-se conferências de imprensa, pressionou-se a polícia local por novidades. Até chegaram a contratar um investigador privado. Nada. Marlen parecia ter desaparecido sem deixar rasto.
Enquanto uma família desesperava por respostas, no Advocate Christ Medical Center, Clarissa chorava ao lado do menino entre a vida e a morte. Numa fotografia divulgadapela CBS 2 esta quinta-feira, 23 de maio, a mulher de 46 anos é vista a chorar de forma emocionada junto ao bebé entubado e ligado às máquinas.
O prognóstico era reservado. Tanto que Clarissa acabou por lançar no Facebook uma campanha de angariação de fundos, com o objetivo de dar um funeral digno ao filho, a quem tinha dado o nome Xander. Na madrugada de 15 de maio, porém, tudo mudou: as autoridades descobriram o corpo de Marlen Ochoa-Lopez num caixote do lixo do quintal de Clarissa.
A polícia não teve dúvidas: Marlen tinha sido estrangulada até à morte e o bebé tinha sido arrancado à força do seu ventre.
As mulheres conheceram-se através do Facebook — tudo por causa de um pedido de ajuda
Foi o investigador privado contratado pela família de Ochoa-Lopez quem encontrou as mensagens trocadas entre Marlen e Clarissa. No grupo de Facebook “Help A Sister Out”, a jovem de 19 anos publicou um pedido de ajuda: com um filho a caminho, precisava desesperadamente de um carrinho de bebé. Desempregada e com pouco dinheiro, estava disposta a comprar, negociar ou simplesmente aceitar uma doação.
Clarissa Figueroa respondeu-lhe. Na publicação, disse que tinha roupas de bebé novas, entre outros objetos que nunca tinham sido usados. Pediu que lhe enviasse uma mensagem privada.
Assim foi. As mulheres marcaram um encontro na casa de Clarissa para 23 de abril, logo a seguir às aulas de Marlen na Escola Secundária da Juventude Latino e antes de ir buscar a filha à creche. Só que Marlen nunca chegaria a sair daquela casa com vida.
Mas recuemos ao momento em que o investigador privado entrega a troca de mensagens à polícia. Convictos de que aquela mulher chamada Clarissa Figueroa poderia ter mais informações, deslocaram-se à casa da mesma. Foi a filha mais velha, Desiree Figueroa, quem abriu a porta. Primeiro disse que a mãe estava no hospital devido a uns problemas nas pernas, depois acabou por confessar que tinha acabado de dar à luz.
A polícia achou a situação bizarra. No hospital, procuraram registos hospitalares e decidiram recolher amostras de ADN do bebé. Os resultados não deixaram margem para dúvidas: Xander era filho de Marlen e Giovanni.
Com um mandato de busca à casa de Clarissa, a polícia encontrou soluções de limpeza, roupas queimadas e sangue no chão da sala, casa de banho e corredor. Se dúvidas ainda restassem, Desiree Figueroa acabou por confessar o crime: juntamente com a mãe, estrangularam a jovem de 19 anos e retiraram-lhe o bebé do ventre.
Neste momento, Clarissa e Desiree estão acusados de homicídio em primeiro grau. Já Pete Piotr Bobak, namorado de Clarissa, foi acusado de cumplicidade no homicídio.No Facebook deste, as autoridades descobriram publicações onde anunciava que estava prestes a ser pai — sabendo perfeitamente que a namorada não estava grávida.
Quando Clarissa lançou a campanha de angariação de fundos, Piotr também se juntou a ela: “O meu filho é um lutador por ter chegado aqui, mas não lhe resta muito tempo. As funções cerebrais estão danificadas”, escreveu.
Porque é que Clarissa fingiu uma gravidez?
As autoridades têm neste momento algumas teorias. Em primeiro lugar, existe a possibilidade de Clarissa e Piotr viverem uma espécie de “gravidez permanente”, ou seja, de estarem à espera da oportunidade certa para encontrar uma vítima a quem roubar a criança. Se tudo corresse bem seria apenas um sequestro, se a situação se complicasse teriam de matar a mãe — o que acabou por acontecer.
Também existe a hipótese de Clarissa ter engravidado no ano passado e perdido o bebé. Incapazes de lidar com a situação, o casal perdeu o discernimento da realidade e decidiu cometer o crime. As autoridades salientam ainda que Clarissa Figueroa perdeu o filho de 26 anos em julho de 2017. Poderá haver uma ligação entre essa perda e o crime atual.
Clarissa Figueroa não tinha cadastro criminal. Já o namorado, Piotr, foi preso várias vezes nos últimos 20 anos por roubo e violência.
E como é que o hospital não percebeu que Clarissa estava a mentir?
É a questão que mais tem atormentado a família de Marlen Ochoa-Lopez. Em entrevista aos jornalistas, conforme cita a CNN, o advogado da família, Frank Avila, disse: “Se eu vejo alguém a entrar com um bebé… porque é que a mãe parece estar de boa saúde e não tem sangue? Isto não faz qualquer sentido”.
Em resposta, o Advocate Christ Medical Center disse apenas: “A nossa prioridade é fornecer os cuidados mais seguros e de alta qualidade para os pacientes e para a comunidade que atendemos. Por respeito à privacidade do paciente e em conformidade com os regulamentos estatais, não podemos fazer nenhum comentário. Continuamos a cooperar com as autoridades locais”.
Recém-nascido continua em estado grave
No domingo, 19 de maio, o filho de Marlen Ochoa-Lopez abriu os olhos pela primeira vez ao colo do pai. “Estávamos a rezar quando ele abriu os olhos. O pai disse: ‘Meu Deus, ele abriu os olhos'”, contou Cecilia Garcia, porta-voz da família, à CNN.
O bebé corre perigo de vida, continuando sem atividade cerebral e ligado às máquinas. A família, porém, acredita que vai melhorar. Esta quinta-feira, 23 de maio, Yovanny Jadiel, é este o seu nome, faz um mês de vida.
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