Os gambianos vão esta quinta-feira às urnas. O atual
chefe de Estado, Yahya Jammeh, venceu três eleições presidenciais e não
tenciona abandonar as rédeas do poder. A oposição tem sido intimidada.
De repente, o taxista pára e olha para mim, nervoso. Esteve minutos a
fio a queixar-se da situação na Gâmbia: a economia está pela hora da
morte; ele a família mal conseguem sobreviver com os seus trabalhos
esporádicos - como taxista e eletricista. Digo-lhe que sou jornalista,
e, por segundos, ele não se mexe. Mas diz depois: "É perigoso falar
abertamente, mesmo na minha família. Não podemos confiar em ninguém."
Detenções, tortura, raptos
É o medo de dizer algo de errado - não é a primeira vez que sou confrontado com isso no país, como jornalista estrangeiro. Entrevistas que tinha combinado são adiadas à última hora - "estou demasiado ocupado" é a justificação. A organização de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch denuncia um clima de medo neste pequeno país da África Ocidental. Desde que chegou ao poder através de um golpe de Estado, há 22 anos, o Presidente Yahya Jammeh governa a Gâmbia com mão de ferro. O regime usa detenções arbitrárias, tortura e raptos para pressionar jornalistas e sociedade civil a auto-censurarem-se.
"Algumas pessoas disseram-nos que têm medo de falar, têm medo que as relacionem com as pessoas erradas", diz Hannah Forster, do Centro Africano para a Democracia e Direitos Humanos, em Serrenkunda, a maior cidade da Gâmbia.
O Presidente Yahya Jammeh é frequentemente tema de notícias pouco abonatórias na imprensa internacional. Já ameaçou degolar homossexuais, anunciou que conseguia curar a SIDA, expulsou diplomatas críticos ao regime e, mais recentemente, anunciou que retiraria a Gâmbia do Tribunal Penal Internacional. Depois de cortar laços com vários parceiros ocidentais, Jammeh converteu o país numa República Islâmica, em dezembro de 2015. Observadores acreditam que a decisão visa angariar novos parceiros, provavelmente Estados do Golfo. As funcionárias públicas são, atualmente, obrigadas a cobrir a cabeça com um lenço, embora os turistas sexuais europeus continuem a ser vistos com bons olhos.
Três anos de prisão por protesto
Jammeh venceu três eleições, mas, de cada vez, a oposição foi intimidada. E desta vez também se sente a tensão no país. Após a morte de um opositor que estava detido, dezenas de críticos do regime saíram às ruas, em abril e maio. Por causa das manifestações não terem sido autorizadas, 30 manifestantes foram condenados a três anos de prisão.
No início de novembro, a emissora pública GRTS transmitiu em direto a nomeação dos candidatos da oposição que iriam concorrer contra Jammeh nas eleições desta quinta-feira (01.12). Pouco depois, o chefe da emissora, Momodou Sabally, foi demitido e detido pelos serviços secretos - até hoje, desconhece-se a razão. Sabally permanece em prisão preventiva, embora, segundo a Constituição, tivesse de ser ouvido por um juiz no prazo de 72 horas, criticam as Nações Unidas. A família e os advogados não têm autorização para o visitar.
"Presidente faz ótimo trabalho"
Yankuba Colley, organizador da campanha eleitoral de Jammeh, sacode as críticas. Garante que o Presidente tem o apoio inabalável do povo e do partido no poder, a Aliança para a Reorientação e Construção Patriótica (APRC).
"A Human Rights Watch ouve sempre apenas um lado da História. Acredita que tudo é verdade, mas nós duvidamos", diz Colley, confidente de Jammeh há anos. E assegura que a oposição é livre, apesar de ser apoiada apenas por 30% dos gambianos. O Presidente fez com que o país avançasse, sobretudo nos setores da agricultura, educação e saúde, afirma Colley em entrevista à DW África.
A Gâmbia registou, de facto, grandes progressos ao nível dos Objetivos de Desenvolvimento do Milénio traçados pelas Nações Unidas. A mortalidade infantil reduziu drasticamente e a pobreza diminuiu quase um terço. A mutilação genital feminina, a que três quartos das mulheres gambianas foram sujeitas, foi entretanto proibida. "O Presidente faz um ótimo trabalho, mudou a vida dos gambianos. As pessoas adoram-no porque houve 22 anos de progresso, de desenvolvimento. Portanto, os gambianos sabem que ele consegue fazer mais."
Milhares deixaram a Gâmbia
Mas o êxodo indicia uma outra realidade. Mais de 10 mil gambianos deixaram o país este ano. Muitos atravessam o deserto do Sahara para chegarem à Líbia, onde entram em barcos rumo a Itália. O candidato da oposição Adama Barrow pretende acabar com o clima de intimidação. Pela primeira vez, há uma aliança da oposição ampla: "Vamos garantir que não há mais medo. Vivemos no século XXI", diz Barrow em entrevista à DW. "As coisas não podem continuar assim".
O taxista que, no início, se queixava sobre a situação na Gâmbia concorda. Mesmo que Jammeh vença as eleições, é preciso mais liberdade: "Nós não somos parvos!", diz, mostrando o smartphone, com orgulho. Serviços de mensagens escritas como o WhatsApp ou o Viber são constantemente bloqueados. Mas, à semelhança de outras pessoas na Gâmbia, o taxista arranjou uma maneira de contornar o bloqueio: "Se fechas uma janela, o povo abre uma porta."
Detenções, tortura, raptos
É o medo de dizer algo de errado - não é a primeira vez que sou confrontado com isso no país, como jornalista estrangeiro. Entrevistas que tinha combinado são adiadas à última hora - "estou demasiado ocupado" é a justificação. A organização de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch denuncia um clima de medo neste pequeno país da África Ocidental. Desde que chegou ao poder através de um golpe de Estado, há 22 anos, o Presidente Yahya Jammeh governa a Gâmbia com mão de ferro. O regime usa detenções arbitrárias, tortura e raptos para pressionar jornalistas e sociedade civil a auto-censurarem-se.
"Algumas pessoas disseram-nos que têm medo de falar, têm medo que as relacionem com as pessoas erradas", diz Hannah Forster, do Centro Africano para a Democracia e Direitos Humanos, em Serrenkunda, a maior cidade da Gâmbia.
O Presidente Yahya Jammeh é frequentemente tema de notícias pouco abonatórias na imprensa internacional. Já ameaçou degolar homossexuais, anunciou que conseguia curar a SIDA, expulsou diplomatas críticos ao regime e, mais recentemente, anunciou que retiraria a Gâmbia do Tribunal Penal Internacional. Depois de cortar laços com vários parceiros ocidentais, Jammeh converteu o país numa República Islâmica, em dezembro de 2015. Observadores acreditam que a decisão visa angariar novos parceiros, provavelmente Estados do Golfo. As funcionárias públicas são, atualmente, obrigadas a cobrir a cabeça com um lenço, embora os turistas sexuais europeus continuem a ser vistos com bons olhos.
Três anos de prisão por protesto
Jammeh venceu três eleições, mas, de cada vez, a oposição foi intimidada. E desta vez também se sente a tensão no país. Após a morte de um opositor que estava detido, dezenas de críticos do regime saíram às ruas, em abril e maio. Por causa das manifestações não terem sido autorizadas, 30 manifestantes foram condenados a três anos de prisão.
No início de novembro, a emissora pública GRTS transmitiu em direto a nomeação dos candidatos da oposição que iriam concorrer contra Jammeh nas eleições desta quinta-feira (01.12). Pouco depois, o chefe da emissora, Momodou Sabally, foi demitido e detido pelos serviços secretos - até hoje, desconhece-se a razão. Sabally permanece em prisão preventiva, embora, segundo a Constituição, tivesse de ser ouvido por um juiz no prazo de 72 horas, criticam as Nações Unidas. A família e os advogados não têm autorização para o visitar.
"Presidente faz ótimo trabalho"
Yankuba Colley, organizador da campanha eleitoral de Jammeh, sacode as críticas. Garante que o Presidente tem o apoio inabalável do povo e do partido no poder, a Aliança para a Reorientação e Construção Patriótica (APRC).
"A Human Rights Watch ouve sempre apenas um lado da História. Acredita que tudo é verdade, mas nós duvidamos", diz Colley, confidente de Jammeh há anos. E assegura que a oposição é livre, apesar de ser apoiada apenas por 30% dos gambianos. O Presidente fez com que o país avançasse, sobretudo nos setores da agricultura, educação e saúde, afirma Colley em entrevista à DW África.
A Gâmbia registou, de facto, grandes progressos ao nível dos Objetivos de Desenvolvimento do Milénio traçados pelas Nações Unidas. A mortalidade infantil reduziu drasticamente e a pobreza diminuiu quase um terço. A mutilação genital feminina, a que três quartos das mulheres gambianas foram sujeitas, foi entretanto proibida. "O Presidente faz um ótimo trabalho, mudou a vida dos gambianos. As pessoas adoram-no porque houve 22 anos de progresso, de desenvolvimento. Portanto, os gambianos sabem que ele consegue fazer mais."
Milhares deixaram a Gâmbia
Mas o êxodo indicia uma outra realidade. Mais de 10 mil gambianos deixaram o país este ano. Muitos atravessam o deserto do Sahara para chegarem à Líbia, onde entram em barcos rumo a Itália. O candidato da oposição Adama Barrow pretende acabar com o clima de intimidação. Pela primeira vez, há uma aliança da oposição ampla: "Vamos garantir que não há mais medo. Vivemos no século XXI", diz Barrow em entrevista à DW. "As coisas não podem continuar assim".
O taxista que, no início, se queixava sobre a situação na Gâmbia concorda. Mesmo que Jammeh vença as eleições, é preciso mais liberdade: "Nós não somos parvos!", diz, mostrando o smartphone, com orgulho. Serviços de mensagens escritas como o WhatsApp ou o Viber são constantemente bloqueados. Mas, à semelhança de outras pessoas na Gâmbia, o taxista arranjou uma maneira de contornar o bloqueio: "Se fechas uma janela, o povo abre uma porta."
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- Data 01.12.2016
- Autoria Adrian Kriesch, gs, gcs
- Assuntos relacionados Eleições em Angola, Eleições em Cabo Verde, Eleições na Guiné-Bissau, Eleições em Moçambique, Eleições em São Tomé e Princípe, Eleições de 2017 em Angola, Comissão Nacional de Eleições (CNE)
- Palavras-chave eleições, presidenciais, Yahya Jammeh, oposição, Gâmbia
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