sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Uma das coisas que mais prejudica Moçambique é ter mantido o ministro Adriano Maleiane

, afirma o professor António Francisco
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Tema de Fundo - Tema de Fundo
Escrito por {ga=aderito}  em 30 Dezembro 2016
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Foto de Adérito CaldeiraDentre os membros do Governo de Filipe Nyusi que têm se esforçado em enganador o povo Adriano Maleiane destaca-se. O ministro da Economia e Finanças defendeu as injustificáveis Garantias Soberanas concedidas ilegalmente pelo seu antecessor e, entre outras mentiras, prometeu que os moçambicanos não pagariam as dívidas da Proindicus, EMATUM e MAM e chegou a afirmar que a empresa estatal não só estava a pescar como o atum era exportado e “sem aperceber-nos nestes restaurantes aqui nós comemos”. Confrontado esta semana pelo @Verdade sobre estas inverdades o ministro Maleiane declarou “eu não disse nada que não pudesse repetir hoje”. Para o professor de economia António Francisco o governante deveria ter sido demitido, “uma das coisas que mais prejudica Moçambique é ter mantido um ministro assim”.
Questionado pelo @Verdade sobre como se sentia após várias das suas declarações terem-se verificado não corresponderem a verdade o titular do Ministério da Economia e Finanças reafirmou, num encontro com jornalistas para balanço anual das actividades, que “O que eu disse e continuo a dizer é que os estudos de viabilidade que as empresas apresentaram indicavam que era tudo viável, a fazer fé nos estudos de viabilidade”.
Embora se tenha verificado que os estudos de viabilidade apresentados pelas empresas Proindicus, Empresa Moçambicana de Atum(EMATUM) e Mozambique Asset Managment(MAM) não tinham, nem têm viabilidade, e nem estão a conseguir honrar os seus compromissos com os bancos onde se endividaram Adriano Maleiane explicou que, “Os bancos (referindo-se ao Credit Suisse e VTB) que são de renome também olharam para esses estudos, de facto há estudos de viabilidade que até apontavam que seria possível amortizar praticamente em oito anos. Eu pessoalmente não fiz o estudo nem estive lá”.
Foto de Adérito CaldeiraSobre o facto da EMATUM, que o ministro disse estar operacional e a pescar para o mercado nacional e internacional, nem sequer conseguir pescar e até no Plano Económico e Social para 2017 o Executivo não prever nenhuma pescaria da empresa estatal o governante declarou que “a EMATUM, tal como as outras duas empresas, sob o ponto de vista das finanças para justificar o que terá sido feito foi sempre nessa base dos estudos de viabilidade. Na altura quando eu fui ao Parlamento, e já tinha havido a reestruturação da dívida(da EMATUM), eu disse, reportando aquilo que a empresa havia dito, que dos 24 barcos estavam operacionais 13 ou outros barcos estavam ainda em processo de adaptação”.
Perante a insistência do @Verdade, Adriano Maleiane reconheceu que “naturalmente neste momento as três empresas estão a reanalisar os planos de negócio para se readaptar a nova realidade porque está claro que aqueles estudos de viabilidade que foram apresentados estão desajustados no tempo e nós estamos a aguardar para ver o que pode ser feito”.
Aliás o titular da Economia e Finanças, que durante a conferencia de imprensa esteve acompanhado por um dos assinantes do empréstimo da EMATUM, Henrique Álvaro Cepeda Gamito, entre outros altos membros do seu Ministério, deixou claro que “eu não disse nada que não pudesse repetir hoje. O que eu disse é que alguém disse que os barcos estavam a ser adaptados ninguém desmentiu isso”.
Adriano Maleiane como ministro perdeu o sentido da confiança
Entretanto o @Verdade pediu ao professor de economia e investigador do Instituto de Estudos Sociais e Económicos (IESE), António Francisco, uma avaliação sobre o ano do ministro Maleiane, e do seu Pelouro.
“Para mim foi o Ministério que o Presidente Nyusi tinha criado que eu acho que era de ruptura com aquela visão de Plano, é o primeiro Ministério desde a independência que aparece com da Economia e Finanças, sem a ideia da planificação socialista. Eu encarei isso como passar-se a encarar a Economia e Finanças de uma forma mais de mercado, embora o estado continue a ser o motor da economia”, começou por constatar o académico moçambicano.
Foto de Adérito Caldeira“No nosso caso o que acontece é que o socialismo não acabou, a terra continua a ser controlada pelo Estado, os recursos financeiros, existem as empresas estatais, a centralidade da intervenção mantém-se. E depois pelas políticas de salário, emprego, migração, taxa de câmbio cria-se uma situação não de economia de mercado mas sim de uma economia intervencionada em que os mercados são os nossos parceiros. Uma economia que é gerida desta maneira não está a desenvolver a sua base privada de funcionamento e eu achei que (o novo Ministério da Economia e Finanças) poderia vir a ter essa orientação, de lhe dar mais funcionalidade”, explicou o investigador do IESE.
Na óptica do professor António Francisco, “O azar disto é que havia todo este processo de endividamento e euforia financeira que vinha na sequência na aposta nos recursos minerais e energéticos e entretanto o ministro foi apanhado neste turbilhão e ficou a gerir basicamente as dívidas ocultas. Logo no primeiro ano teve que lidar com a EMATUM e, quando acaba de renegociar saltam-lhe as outras todas! Eu penso que a partir daí ele como ministro perdeu o sentido da confiança. Uma das coisas que mais prejudica Moçambique é ter mantido um ministro assim”.
“Porque um ministro que toma uma postura daquelas está ali para quê, para não queimar outro ou para manter um objectivo que ficou visto que era bater o pé e manter a tal firmeza de que aquelas dívidas foram virtuosas. Então começou a orquestrar-se aquela narrativa, eu acho que isso é lamentável porque do ponto de vista daquilo que poderia ser para o Governo salvar a imagem não optaram pela renúncia das dívidas, se são assumidas pelo Governo são para ser pagas, obviamente que eles tinham a intenção de as assumir à custa dos outros mecanismos porque não mostram que aquilo fosse viável”, lamentou Francisco.
“Houve uma tentativa de dar um salto da dependência da ajuda para a dependência dos recursos naturais”
Para o economista ficou evidente que a intenção do Governo de Filipe Nyusi era assumir e legalizar as dívidas da Proindicus, EMATUM e MAM e começar a amortiza-las através do “circuito de recurso à poupança externa por via ou do investimento(directo), ou pelos doadores, ou pelos créditos que vinham e fazer essas engenharias. O círculo foi rompido exactamente porque a coisa foi feita de uma forma completamente inapropriada”.
“O Banco de Moçambique ficou completamente incapacitado, eles tinham mantido equilíbrio cambial favorável basicamente para a importação e o círculo foi rompido porque o investimento quebrou, as divisas deixam de vir, a guerra manteve-se, os raptos mantiveram-se, o quadro que essa aposta de crescer com a poupança dos outros quebrou”, constatou o académico.
Por outro lado, segundo António Francisco, “ficou evidente que a aposta não é investir na economia nacional porque as taxas de câmbio não são favoráveis para produzir frango, arroz, para produzir nada. São favoráveis para produzir aqueles produtos que são lucrativos no mercado internacional, isso é loucura”.
Mas o académico da Universidade Eduardo Mondlane julga que existe um lado positivo. “Só não vejo isto totalmente mal porque a alternativa seria pior do que isto, que seria voltar a um regime samoriano, tu vais cometendo erros mas estás-te a integrar no processo. Houve uma tentativa de dar um salto da dependência da ajuda para a dependência dos recursos naturais convencidos que os íamos usar para capitalizarmo-nos e para vender o futuro, mas claramente não controlamos e fizeram logo esse conjunto de asneiras”.
“Ao fim de 30 anos o País não se capitalizou em função do apoio que recebeu para hoje por exemplo estar em condições de libertar-se do Fundo Monetário (Internacional). O grande problema é que não nos tornamos capazes de aumentar a capacidade de endividamento, a capacidade de merecer confiança. Reconhecendo o erro poderíamos sair disto mas não está fácil porque a nível do poder político, administrativo e legislativo mostra-se incapaz de lidar com a situação”, concluiu o professor António Francisco.

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