Elisio Macamo
Termino a minha pequena incursão pelos meandros da análise política nacional com uma explicação:
A riqueza do director do projecto
O director do projecto, que é funcionário do Ministério da Saúde, mas foi para o projecto em comissão de serviço, mudou-se para o distrito e ocupou uma casa paga pelo projecto (segundo os termos de referência do projecto). Antes de entrar para o projecto tinha partic...ipado numa consultoria, também legal, que lhe rendeu cerca de US$17.575,00. Arrendou a sua casa em Maputo a estrangeiros (cooperantes) para a qual cobrou uma renda muito alta (que é característico de Maputo), o que lhe permitiu contrair um empréstimo (apesar dos juros altos da banca luso-moçambicana) para a compra da vivenda do condomínio (que também alugou a uma embaixada); como o projecto lhe deu uma “4X4”, ele deixou o seu carro pessoal com um sobrinho que fez serviço de táxi (com o salário do projecto, em dólares, comprou um “chapa” “dubaizinho” para fazer transporte público de longo curso); a sua mulher começou a comprar galinhas e cabritos (baratíssimos lá na zona do projecto) para vender em Maputo, comprou um refrigerador para fazer gelo-doce e vender à miudagem na EP2 local, ao mesmo tempo que usava algumas das receitas para fazer pequenos empréstimos à comunidade (micro-crédito) em troca de juros (os camponeses riam-se dela dizendo que tinha enriquecido na base da venda de gelo-doce). Em várias conversas com ele e com alguns dos membros do projecto ficou claro que a sua riqueza não vinha do desvio de fundos, mas sim duma boa aplicação dos pequenos investimentos que ele (e sua mulher “manhembane”, peço desculpas...) foram fazendo. Curiosamente, em várias ocasiões ele tirou dinheiro do seu bolso para tapar furos (roubos dos guardas e o desfalque causado pela falência do fornecedor de redes mosquiteiras). Os 30% que ele não consegue justificar referem-se a despesas resultantes de preços mais altos do que os previstos inicialmente, dos atrasos nas obras e outros serviços que implicaram sempre mais gastos suplementares. O que ele não pode justificar é o que os doadores não previram como despesa e, por isso, ele não tem como digitar no “software” financeiro que os doadores impuseram. Ele tem todos os recibos que documentam essas despesas. A sua riqueza não tem muito a ver com os 30% em falta.
Porque é que tenho a impressão de que tiramos conclusões apressadas? Porque é que tenho a impressão de que como o director do projecto há muitos que são apenas vítimas de maneiras simplistas de pensar problemas complexos na Pérola do Índico?See more
A riqueza do director do projecto
O director do projecto, que é funcionário do Ministério da Saúde, mas foi para o projecto em comissão de serviço, mudou-se para o distrito e ocupou uma casa paga pelo projecto (segundo os termos de referência do projecto). Antes de entrar para o projecto tinha partic...ipado numa consultoria, também legal, que lhe rendeu cerca de US$17.575,00. Arrendou a sua casa em Maputo a estrangeiros (cooperantes) para a qual cobrou uma renda muito alta (que é característico de Maputo), o que lhe permitiu contrair um empréstimo (apesar dos juros altos da banca luso-moçambicana) para a compra da vivenda do condomínio (que também alugou a uma embaixada); como o projecto lhe deu uma “4X4”, ele deixou o seu carro pessoal com um sobrinho que fez serviço de táxi (com o salário do projecto, em dólares, comprou um “chapa” “dubaizinho” para fazer transporte público de longo curso); a sua mulher começou a comprar galinhas e cabritos (baratíssimos lá na zona do projecto) para vender em Maputo, comprou um refrigerador para fazer gelo-doce e vender à miudagem na EP2 local, ao mesmo tempo que usava algumas das receitas para fazer pequenos empréstimos à comunidade (micro-crédito) em troca de juros (os camponeses riam-se dela dizendo que tinha enriquecido na base da venda de gelo-doce). Em várias conversas com ele e com alguns dos membros do projecto ficou claro que a sua riqueza não vinha do desvio de fundos, mas sim duma boa aplicação dos pequenos investimentos que ele (e sua mulher “manhembane”, peço desculpas...) foram fazendo. Curiosamente, em várias ocasiões ele tirou dinheiro do seu bolso para tapar furos (roubos dos guardas e o desfalque causado pela falência do fornecedor de redes mosquiteiras). Os 30% que ele não consegue justificar referem-se a despesas resultantes de preços mais altos do que os previstos inicialmente, dos atrasos nas obras e outros serviços que implicaram sempre mais gastos suplementares. O que ele não pode justificar é o que os doadores não previram como despesa e, por isso, ele não tem como digitar no “software” financeiro que os doadores impuseram. Ele tem todos os recibos que documentam essas despesas. A sua riqueza não tem muito a ver com os 30% em falta.
Porque é que tenho a impressão de que tiramos conclusões apressadas? Porque é que tenho a impressão de que como o director do projecto há muitos que são apenas vítimas de maneiras simplistas de pensar problemas complexos na Pérola do Índico?See more
Sem comentários:
Enviar um comentário