sexta-feira, 8 de junho de 2018

Semana atribulada


MESMO para não variar, ‘semana’ mortífera em Cabo Delgado, com ataques à catanada e recurso a arma de fogo, ontem se expandindo para o distrito de Quissanga, com saldo indicativo de seis mortos e dois feridos graves.
Dados escandolosos até ontem, da Amnistia Internacional, 37 aldeões já mortos.
Ainda assim, Armando Guebuza tentou quebrar a rotina, pela primeira vez ‘abrindo o livro’ após silêncio prolongado, não vendo problema nenhum em ressuscitar velhos companheiros da luta armada que terão andado a roubar.
Guebuza não terá granjeado nenhuma simpatia junto da opinião pública com esse tipo de comparação, mas também por outros dizeres que, provavelmente, não caíram bem igualmente nas hostes frelimistas, antes pelo contrário.
O quebrar do silêncio da Comunidade Muçulmana de Moçambique face aos acontecimentos iniciados a 04 de Outubro’17 e que se prolongam até aos nossos dias, em Cabo Delgado. A Comunidade sacode o capote e reafirma o distanciamento de seus membros no caso, atribuindo a autoria das matanças a estrangeiros.
Versão contrária têm alguns fazedores de opinião que entendem haver ‘mão interna’ em todo o caos que se vive lá mais para o norte de Moçambique.
Vale recuperar as palavras de Afonso Dhlakama, imediatamente após o rebentar do escândalo de Mocímboa da Praia, segundo as quais, citando a sua ‘inteligência’, por detrás do sucedido estaria mão frelimista, com o  intuito de distrair as negociatas em curso governo e Renamo.
O caos, lembre-se, já fez cair Lagos Lidimo da liderança da secreta, SISE, ele que só tinha alguns meses da nova casa. No entanto, o quadro continua nebuloso, mesmo com a saída do homem que ajudou a travar a guerrilha de Dhlakama quando se preparava para dividir o país a partir do Rio Zambeze.
Para amenizar, Ferrão, o Jorge, acha que urge aposta na investigação científica sobre fenómenos que ocorrem em Moçambique, não se sabendo se no pacote o académico inclui o terror vivido em Cabo Delgado e o caso das dívidas ocultas.
Por tabela, se calhar, a requisição de experts para análise pormenorizada da entrevista de Armando Guebuza, à suspeita TVM, com as sínteses a serem trazidos a público. Seria interessante, dizemos nós.
Cá está o presidente Nyusi a engordar a lista de promessas.
Desta vez garante acabar com a corrupção em prol do turismo. Bom saber, o problema é a aplicação dos mecanismos a serem eleitos para o tal combate.
É que Nyusi dá os ditames e há quem aplica, ou devia aplicar, no terrenos as regras pré-estabelecidas. É precisamente aquí onde reside o problema. Quem está destinada a missão de combater, acaba sendo ele próprio o corrupto-mor.
Turismo baseada na natureza é o que reúne, em Maputo, peritos e homens de negócios de quase todo o mundo. Foi na abertura da reunião que Filipe Nyusi fez as promessas atrás relatadas.
Hipocrisia envolto do tema, sabido que indivíduos de nomeada andam à caça em zonas que ela é vedada por Lei. As comunidades sabem, de memória, quem são os que invadem as áreas de conservação e se fazem aos bang-bang contra os animais.
A Estrada Circular de Maputo de novo na ribalta, com o Zé Povão a rebeldar-se. Em causa, a insegurança que tem vitimado os locais, devido à alta velocidade com que os veículos automóveis se fazem por ali, nomeadamente na área de Chiango.
Aquilo parece ter virado uma espécie de pista de corrida automóvel, influenciada pela ausência de sinalização que ajude a disciplinar os automobilistas.
Deixamos para os parágrafos finais a questão da Renamo.
O Ossufo Momade mudou-se, repentinamente, para Gorongosa, de tal forma que nem seque teve tempo para arrumar as suas coisinhas.
Isto não deixa margens para dúvidas de que Afonso Dhlakama não esteve na Serra por vontade própria, mas por imposição dos camaradas – ala dura da guerrilha – como forma de pressionar o poder a negociar ‘de verdade’.
Só que Dhlakama teve tempo para preparar a mudança, saltando sucessivamente da Julius Nyerere, esquina com Mao Tse-Tung, para Nampula e de lá só foi um zás, com escala em Quelimane.
A ‘semana’ foi um bocadinho disto, para trás, a caricata figura da porta-voz do
CM incompetente na abordagem ao caso-Cabo Delgado.
Deu um gozo…
EXPRESSO – 08.06.2018

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