quarta-feira, 6 de junho de 2018

Diretora da Cambridge Analytica reuniu-se com Julian Assange para discutir eleições nos EUA


Uma diretora da Cambridge Analytica reuniu-se no ano passado com Assange para discutir as eleições nos EUA. Esta quarta-feira, o líder da empresa criticou o ex-funcionário que denunciou o caso.
ANDY RAIN/EPA
Uma diretora da Cambridge Analytica, Brittany Kaiser, reuniu-se com o líder do WikiLeaks, Julian Assange, em fevereiro do ano passado, para discutir as eleições norte-americanas de 2016, escreve o jornal britânico The Guardian. O jornal escreve ainda que Kaiser terá sido responsável por encaminhar pagamentos em criptomoedas da Cambridge Analytica para a WikiLeaks.
Em outubro do ano passado, Julian Assange confirmou que a Cambridge Analytica tinha contactado o WikiLeaks, em julho de 2016, a oferecer ajuda para piratear os 33 mil emails roubados da campanha de Hillary Clinton. Na mesma altura, Assange assegurou que rejeitou a oferta. Esta informação já tinha colocado as duas empresas no radar do conselho especial liderado pelo procurador Robert Mueller, nos EUA, para investigar a interferência russa nas eleições norte-americanas.
Porém, a revelação de que uma responsável de topo da Cambridge Analytica visitou Julian Assange para discutir as eleições norte-americanas vem adensar as dúvidas sobre a relação entre a empresa de Alexander Nix e o WikiLeaks.
O The Guardian cita um registo de visitas à embaixada do Equador em Londres, onde está registada a visita de Brittany Kaiser a Assange a 17 de fevereiro de 2017. Essa informação foi transmitida a comités no parlamento britânico e no congresso norte-americano.
Anteriormente, Alexander Nix, o líder da Cambridge Analytica, tinha negado qualquer relação com o WikiLeaks. “Não temos nenhuma relação com o WikiLeaks. Nunca falámos com ninguém no WikiLeaks. Nunca fizemos negócios com o WikiLeaks. Não temos nenhuma relação com eles, ponto final”, afirmou numa audiência no parlamento britânico. Uma informação que Kaiser viria a contradizer mais tarde, em abril, quando afirmou que tinha contactos com os advogados que representavam Assange.
O jornal britânico avança também que Brittany Kaiser terá sido responsável por encaminhar pagamentos em criptomoedas para Assange, mas o WikiLeaks já veio negar. “O WikiLeaks não tem conhecimento de donativos de nenhuma das partes mencionadas, nem teve nenhuma reunião para discutir a eleição nos EUA, nem foi abordado por [Robert] Murtfeld ou por ninguém ligado a ele”, escreveu o WikiLeaks no Twitter esta quarta-feira.
Robert Murtfeld é um conselheiro jurídico que trabalhou com o WikiLeaks e que depois foi trabalhar para a Cambridge Analytica, e que será o principal intermediário entre as duas partes, tendo organizado a reunião entre Brittany Kaiser e Julian Assange.

Presidente da Cambridge Analytica diz que Christopher Wylie era “cruel e invejoso”

O presidente da Cambridge Analytica, Alexander Nix, disse esta quarta-feira aos deputados do parlamento britânico que a empresa — que encerrou depois do escândalo em torno da utilização de dados de utilizadores do Facebook para benefício da campanha eleitoral de Donald Trump — foi destruída por causa de um denunciante “cruel e invejoso”.
Nas declarações em audiência no parlamento britânico, citadas pelo jornal The Guardian, Alexander Nix afirmou que Christopher Wylie, o ex-funcionário da Cambridge Analytica que denunciou o esquema usado pela empresa para recolher dados de utilizadores da rede social, “mentiu sobre muitos assuntos”, e acusou a “imprensa liberal global” de ter levado a cabo um “ataque coordenado” para acabar com a empresa.
“Se estivessem sentados aqui onde eu estou neste momento, provavelmente iriam sentir-se vitimizados”, disse Nix aos deputados, naquela que foi a primeira audiência pública do líder da empresa, que encerrou no mês passado, e em que admitiu pela primeira vez não ter sido claro quanto ao facto de a empresa ter recolhido informações de utilizadores do Facebook através de um “teste de personalidade”.
“Algumas das minhas respostas podiam ter sido mais claras, mas garanto-vos que não tive a intenção de vos enganar. Na altura, não tínhamos razão para acreditar que [a informação] tinha sido recolhida de forma imprópria”, afirmou Nix, segundo as declarações citadas pelo The Guardian, que foi o jornal que divulgou inicialmente a investigação sobre o caso.
Grande parte da audiência de Nix foi passada a criticar Christopher Wylie e não a defender a prática da sua empresa. Segundo Nix, Wylie “finge ser um protetor da soberania da informação, mas na verdade comprou um conjunto de dados significativamente maior do que o nosso e depois tentou comercializá-lo exatamente da mesma forma” que a Cambridge Analytica, tendo mesmo tentado criar uma empresa rival, quando se tornou “cruel e invejoso”.
Alexander Nix negou ainda as acusações de que a Cambridge Analytica esteve envolvida na campanha do Brexit, garantindo que se trata de uma “acusação sem fundamento”. “É perturbador que esta teoria da conspiração tenha ganho tanta dimensão e causado danos irreversíveis na nossa empresa”, lamentou Nix.
O antigo líder da Cambridge Analytica também rejeitou a acusação de que foi alvo de que teria retirado 8 milhões de dólares (cerca de 6,8 milhões de euros) da empresa antes de esta falir. Pelo contrário: Nix garante que gastou o seu dinheiro pessoal a pagar aos funcionários que perderam o emprego. “A maioria do nosso tempo é gasto a vender pasta de dentes e equipamentos para automóveis”, afirmou, para exemplificar que o trabalho de propaganda política era apenas uma pequena parte do trabalho da empresa.

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