terça-feira, 24 de abril de 2018

Em OUTUBRO vamos conversamos - Por Carlos Arouca

SELO: Em OUTUBRO vamos conversamos - Por Carlos Arouca
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Vozes - @Hora da Verdade
Escrito por Redação  em 24 Abril 2018
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Duas excelentes e surpreendentes possibilidades podem tomar espaço à partir de OUTUBRO: primeiro, os que lá estão continuarão no controle e CONTINUAREMOS NA MISÉRIA. Segundo, ou haverá inclusão da oposição e na mesma CONTINUAREMOS NA MISÉRIA, pois nossa ingenuidade não nos permite ver a verdade por detrás do teatro. Mas para vocês que vão CONVERSAR EM OUTUBRO, tenho uma questão.
ATÉ QUANDO? Até quando para que comecemos a pensar na possibilidade de que a relação Governo - povo é apenas uma evolução da relação pai – filho em nossas casas? Afinal por vezes nós pais nos tornamos apenas manuais de regras, fechados e rígidos para com os nossos filhos e mesmo assim desejamos ter admiração dos mesmos.
Até quando para consideremos a possibilidade de sermos nós pais os primeiros a AMURANizar, CISTACizar, SAMORIzar e ERICINizar nossos filhos quando nos criticam? Que sem intenção aparentamos ser deuses e não percebemos que estamos a gerar deusinhos com necessidade exagerada de ser perfeitos, incapacidade de receber críticas e com medo de parecer humanos que também erram? Temos nós pavor de colocar a nossa autoridade em causa?
Até quando vamos continuar a reclamar que o governo não ouve o povo enquanto nós mesmos não desenvolvemos essa capacidade com o nosso povo lá em casa? Não somos capazes de ouvir o silêncio dos nossos filhos que gritam por entendimento e compreensão. Pois tal como os governantes que acusam o povo de pobreza mental, preguiça exacerbada tornamo-nos profissionais em julgar e criticar e se calhar deuses demais para perguntar: o que é que tu sentes que nunca tiveste coragem de dizer? Não procuramos primeiro entender para que possamos ser entendidos. Não nos deixamos influenciar para que possamos influenciar.
Até quando para que percebamos que talvez a incapacidade de resolver conflitos que os partidos políticos exibem com gosto e orgulho seja apenas fruto de uma possível ditadura familiar que não aceita que suas ordens e ideias sejam discutidas, que seus conceitos sejam questionados e muito menos que se debata os seus pontos de vista? Não será que sem nos apercebermos bloqueamos desde cedo o raciocínio, sufocamos a capacidade de pensar e elaborar soluções dos nossos filhos por medo de perdemos o trono?
Até quando para que percebamos que ministros que passeiam suas classes nas áreas da agricultura, transporte e educação podem estar se multiplicando debaixo do teto que usamos para formular qualquer frase de ameaça (enquanto viveres debaixo do meu teto…)? Afinal deixamos que nossos filhos só se nutram de dois objectivos tão vagos quando o infinito: riqueza (sem trabalho) e aplausos (sem sacrifício). Cresceram procurando a escola mais fácil, a secção mais fácil e por fim o curso e profissão menos exigente. São os donos dos corta-matos.
Até quando para que percebamos que os fazedores de dívidas públicas possivelmente germinam dentro das nossas 4 paredes quando não ensinamo-lhes a sonhar e orgulhar-nos dos futuros engenheiros, economistas, gestores super disciplinados e com excelente aproveitamento académico mas que na mesma proporção ou maiores são incapazes de ser altruístas e pensar nos outros, e são revestidos de insensibilidade.
Até quando vamos nos preocupar muito mais com o telejornal, debates políticos e confrontos militares do que com os confrontos psíquicos diários que os nossos filhos enfrentam.
Preocupação
Preocupa-me imenso que sempre que enfrentamos um desafio no trabalho passamos noites em claro lendo vários livros e artigos, dias seguidos debatendo com colegas e especialistas, procurando soluções mesmo se tratando de uma área que teoricamente tivemos uma formação durante 4 anos no mínimo, mas quando nossos filhos nos colocam desafios achamos que a solução seja recitar para eles a nossa autobiografia e dar conselhos previsíveis.
Preocupa-me o facto de lermos jornais Savana, País, Domingo com assiduidade, de analisarmos, sabermos, revermos e até mesmo prevermos todas as maracutaias do Nyusi e não fazermos ideia do que se passa na cabeça dos nossos filhos; nem as suas incertezas, seus medos, seus desafios, seus sentimentos, suas crises e muito menos seus sonhos. Interessa-nos apenas saber “como vai a faculdade?”.
Preocupa-me o facto de exigirmos retorno do que por ventura não ensinamos. Queremos que eles elogiem os irmãos ou as irmãs sem que nós lhes elogiemos; queremos que sejam compreensivos sem que nós compreendamos os erros deles; queremos que sejam afectivos sem que lhes demos beijos e abraços; queremos que saibam pedir desculpas sem que peçamos perdão quando fazemos maus julgamentos.
Preocupa-me que o amor incondicional seja condicionado pelo curso e profissão.
Preocupa-me muito mais ainda o facto de que o país esteja como está agora mesmo sendo dirigido por pessoas que tiveram as mães em casa, presentes para cuidar, endireitar e cortar o mal pela raiz, pois daqui a 10 ou 20 anos o petróleo, o gás, o carvão, o ouro, o diamante, o rubi, a madeira, a areia pesada, as terras férteis, etc serão geridos por filhos educados pelas redes sociais e empregados domésticos que recebem migalhas e por essas migalhas são maltratados, rebaixados, diminuídos, insultados e tratados feito animais.
Soluções
Diferentes dos vários analistas “profissionais” existentes hoje, principalmente nas redes sociais, creio estar em condições de sugerir algumas soluções aplicáveis por nós mesmos, sem esperar por nenhum plano quinquenal do governo ou que o petróleo comece a ser exportado. E mais importante, são soluções para este mês de Março.
Percebamos hoje, 30 de Março de 2018, e assumamos que o mundo mudou muito rapidamente, principalmente nos últimos 5 anos, então o que funcionou e era necessário no período de guerra e pós-guerra não tem mesmo peso, funcionalidade ou necessidade nos dias de hoje. Então é momento de repensar em muitas das nossas convicções como pais e encarregados de educação.
Preocupemo-nos hoje, 30 de Março de 2018, em investir mais tempo, esforço e energia na formação do carácter e personalidade dos nossos filhos do que nesse teatro que é a política. Debatamos e discutamos sobre como passar ou ensinar os valores que achamos estar em falta tanto num ladrão de carteira como num que viola uma mãe em frente dos filhos quando efectua assaltos na calada da noite.
Preocupemo-nos hoje, 30 de Março de 2018, e não esperemos que nossos filhos dêem sinais de distúrbios mentais e/ou emocionais para que consultemos psicólogos. Afinal de contas nem fazemos ideia de como identificar tais sintomas até que estes se enterrem profundamente no álcool, nas drogas ou até mesmo tentem o suicídio. O controle ou “check-up” tem de abranger o universo psíquico também, antes que seja tarde.
Preocupemo-nos hoje, 30 de Março de 2018, em pensar que se calhar o sistema educacional é inspirado em países que já possuem uma máquina produtiva montada que só necessita de jovens que apenas reproduzam informação e consequentemente mantenham a mesma em funcionamento. Situação muito diferente da nossa que representa uma tentativa de encontrar caminhos e sistemas há mais de 43 anos. Por tanto é necessário provocar a criatividade, inovatividade, inventabilidade, capacidade de analisar e de saber “como pensar” e não “o que pensar” dos nossos filhos para que algum dia possam ser capazes de fazer diferente. É importante conversamos, debatermos e estimularmos o raciocínio dos mesmos sobre assuntos do dia à dia, sobre seus medos, suas inseguranças, sobre seus desejos, sonhos e ambições e sobre o conceito de família e sociedade.
Preocupemo-nos hoje, 30 de Março de 2018, em perceber que cursos como engenharia, medicina, economia, contabilidade são nobres e muito necessários para que possamos viver mas destes não vem soluções para problemas como a ganância, egoísmo, individualismo, consumismo, narcisismo, até a débil definição de dignidade que alguns governantes padecem e outros -ismos. A filosofia, a psicologia, a sociologia, a expressão de sentimentos e pensamentos em jeito de arte (teatro, música, dança, poesia, escrita, etc) são áreas mais do que necessárias no desenvolver de uma sociedade e na destruição de falsos profetas que nos roubam ou pelos impostos ou pelos dízimos.
Preocupemo-nos hoje, 30 de Março de 2018, em perceber que avaliar e admirar ou menosprezar nossos filhos consoante as notas ou número de diplomas é um erro crasso, pois nenhuma escola no nosso país valoriza algo mais do que a capacidade de memorizar informação, qualidade esta que não é suficiente para desenvolver raciocínios, elaborar soluções para problemas que afectam o dia à dia e muito menos nutre valores e carácter necessários para convivência em harmonia – função esta que pouco a pouco vem sendo abandonada por nós pais.
Preocupemo-nos hoje, 30 de Março de 2018 em perceber a importância de limitar ou abrandar o uso excessivo da internet, tv, celulares, tablets, playstations e etc pois evitará a permanente distração e alienação à realidade que se observa hoje e dará espaço para formação de opiniões e visões próprias não influenciadas por entidades cujo o objectivo é a obtenção de poderes financeiro, político, social, etc, e como bónus criar-se-ão caminhos para uma procura mais consciente de respostas para perguntas que guiam a existência de um indivíduo na sua essência, tais como “ Quem sou?”, “O que sou?”, “O que EU realmente quero?” e “ Que papel desempenho como ser humano e ser social?”
Preocupemo-nos hoje, 30 de Março de 2018, em conhecermos os nossos filhos.
Por Carlos Arouca

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