Depois de ventos e trovoadas de todo o tipo sobre a sua figura, Aramando Guebuza, o presidente de Moçambique à data da contracção de dívidas escondidas, apresentou, este 25 de Junho, a sua versão sobre o actual custo de vida em Moçambique que, como diversos economistas têm vindo a mostrar, está proporcionalmente ligado, em parte, aos empréstimos feitos durante o seu consulado. Tido como peça fundamental no esclarecimento do sensível tema, Armando Guebuza não recorreu a outra coisa senão a uma fuga para frente, evocando as calamidades naturais e a baixa de preços dos produtos de exportação de Moçambique como os únicos e exclusivos factores que levaram à subida do custo de vida que afecta sobretudo as camadas menos desfavorecidas. Com a lição estudada para um terreno que sabia de antemão que lhe seria desfavorável, dada a presença dos incómodos jornalistas, Guebuza, com óculos escuros estampados na cara, era um homem com pouco tempo para a imprensa. Instruídos, os seus seguranças mostraram-se valentes para proteger o chefe das “torturas” dos homens da pena. “Eu gostaria de tornar claro que as causas dos problemas que nós temos hoje, que felizmente foram apresentados já noutra ocasião, por outros dirigentes, é de que é uma causa económica, tanto no plano internacional, assim como no plano nacional, incluindo a seca e cheias”, foi assim que apresentou o dogma ao qual os jornalistas não tiveram direito de rebater, com os seguranças já a fecharem o círculo. Na verdade, Guebuza não teve tempo para se pronunciar sobre o impacto das dívidas no custo de vida, mas o teve para dizer que “podemo-nos levantar, firmemente, para fazer face a esse desafio”. Entende o antecessor de Filipe Nyusi que os moçambicanos sempre souberam fazer face aos desafios que incluem a consolidação da paz e a luta contra a pobreza em prol do desenvolvimento. “Demos provas no passado de sermos capazes de vencer, eu acredito que nós continuaremos, firmemente, a vencer” ripostou “o filho mais querido da nação”, na mesma cerimónia em que o actual presidente da República, Filipe Nyusi, procedeu ao lançamento das comemorações dos 30 anos após a morte, nas colinas de Mbuzini, de Samora Machel, o primeiro presidente de Moçambique que, a 25 de Setembro de 1975, proclamava, no Estádio da Machava, a independência de Moçambique, 10 anos depois da insurreição armada, a 25 de Setembro de 1964. Neste momento de crises, Nyusi reconheceu que as profecias de Samora, um presidente que se batia contra a má governação, estão presentes, trinta anos depois da sua morte a 19 de Outubro de 1986, num fatídico acidente ainda misterioso, mas que, ano passado, a Comissão da Verdade e Reconciliação da África do Sul (TRC), revelou suspeitas de envolvimento de Armando Guebuza no acidente. O depoimento é do Coronel João
Honwana, ouvido pelo TRC, à porta fechada, na Cidade do Cabo, a 3 de Junho de 1998, no âmbito da Comissão de Inquérito moçambicana instaurada para investigar as causas da morte do presidente Samora Machel, que faleceu na sequência da queda de um avião russo nos montes Libombos, próximos da aldeia sul-africana de Mbuzini. O depoimento do antigo militar moçambicano, publicado ano passado, ao abrigo da Lei da Promoção do Acesso à Informação, em vigor naquele país desde 2000, revelava “relações tensas” entre Guebuza e Machel, nas vésperas da morte do considerado fundador da Nação moçambicana. Honwana relatou uma série de reuniões do Bureau Político da Frelimo em “torno da questão Guebuza” que motivaram uma “troca de palavras bastante tensas entre Guebuza e o Presidente Samora Machel”. Referiu-se também à situação militar de Moçambique, na altura marcada por guerra civil com a Renamo, sobre a qual Samora Machel pouco sabia. “Ele deu a entender que havia sido induzido em erro e levado a acreditar que as Forças Armadas tinham o controlo da situação”, quando a realidade era outra, disse o coronel. Guebuza, entrevistado ano passado pelo Magazine Independente, classificou todas as acusações como boatos. “Eu não vivo de boatos”, disse, na altura, num tom intimidatório.
A culpa vai morrer solteira?
do lado da evidência
luisnhachote@gmail.com
Desde a eclosão do escândalo da dívida contraída no maior dos segredos, por um grupo de cidadãos conhecidos e, que a quiseram soberana, que a economia do país se encontra de rastos.
Entretanto a inflação dispara a cada dia e os doadores, há muito que fecharam as suas torneiras, até que se esclareçam as zonas de penumbra em torno dessa dívida. Aliás, o director do departamento africano do Fundo Monetário Internacional (FMI) é citado pela agência Lusa a informar que sem o esclarecimento dessa colossal dívida não há apoios. O Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional exigem que se faça uma auditoria forense internacional as contas públicas do país, com vista a aferir qual foi o destino dado aos cerca de dois biliões de dólares americanos...
Entre portas, soa a resistência soberba por altos dignatários, que vêem na auditoria forense uma intromissão a sua soberania. De que soberania falam ou querem falar se esta reside nos doadores? Num certo dia o PRG adjunto, Taibo Mucobora, disse que no caso das dívidas escondidas há “...indício de comportamento criminoso. Abuso de cargo e funções e o dinheiro será rastreado por peritos nacionais e internacionais”.
O trilho do dinheiro que comprou algumas armas e barcos (que definham ali no porto de Maputo), em nome da defesa da soberania, só se pode ser encontrado com uma auditoria forense internacional.
Com todos estes cenários e já que perguntar não ofende: A culpa vai morrer solteira?
luís nhachote
CORREIO DA MANHÃ – 26.04.2018
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