Sandowana quer regressar
25 de Abril 00h00 - 20 Visitas
Sandowana, ao longo de séculos, habitou, muito respeitada e venerada, na garganta do Zambeze, na região de Estima, agora, Cahora Bassa. Por ter sido o animal que abriu o caminho, entre as rochas basílicas, para que as águas, do serpenteante Zambeze, pudessem levar suas bondades e valências para os interiores, matando sedes, verdejando campos e, refastelando estômagos. Sandowana quer regressar mas não sabe se deve. Vasculha argumentos. Meios e calendários. Quer voltar, para o seu Chicoa para desenterrar os embondeiros da sua magia.
Sandowana parecia que tinha a cor da sombra da sua própria vida, com a sua cabeça humana, corpo escamado de peixe, asas feitas barbatanas e uma mistura de penas e tranças de modelos Rastafári. Era o espírito de quem se ouviu falar, mas que ninguém, alguma vez, ousou ver. Cada movimento resplandecia o descolorido das múltiplas almas que a simbolizavam. Só emergia no final dos rituais ancestrais. Os leitos, exaltadas pelos rufares dos tambores, se transformavam em altares, as ilhas e ondas em museus de artesanato e porcelanas.
Quando os portugueses chegaram e, logo, exploraram as possibilidades de lucro, desdobraram-se entre o descaso e os consensos. Antigas crenças, animistas, foram substituídos por novas utopias. Ao povo local foram propostas o bem-estar e novas auroras, para todos sem excepção, ardósias, giz e cadernos, postos de saúde, estradas e bicicletas, noites de permanente luar e vinho para todas as festas. Riqueza. Chitima ganharia novo rosto desde que Sandowana fosse transferido para outras residências. Só, assim, invasores e engenheiros lograriam remexer as águas e montanhas. Até os colonos faziam fé em Sandowana.
Endiabrados e, a custa de muito álcool, suborno, bijuterias e capulanas, incluindo fardas de sipaios, iniciou-se a edificação de Cahora Bassa. Uma espécie de barragem já finalizada mesmo antes de ter iniciado. Fazer jus ao slogan. Cahora Bassa, fim do trabalho. Refazer a parede que Sandowana, com esforço abrira.
Sandowana foi transportado, nas violentas águas do oceano índico, dobrou as tormentas e ancorou, na Metrópole. Foi um navio militar que transportou, também, os seus sonhos. Na deslocação, foi acompanhado por Mpondoros e Nyabezis. Curandeiros percorreram milhas no desconforto. Banhou suas penas nas geladas águas do Atlântico.
Quando os portugueses chegaram e, logo, exploraram as possibilidades de lucro, desdobraram-se entre o descaso e os consensos. Antigas crenças, animistas, foram substituídos por novas utopias. Ao povo local foram propostas o bem-estar e novas auroras, para todos sem excepção, ardósias, giz e cadernos, postos de saúde, estradas e bicicletas, noites de permanente luar e vinho para todas as festas. Riqueza. Chitima ganharia novo rosto desde que Sandowana fosse transferido para outras residências. Só, assim, invasores e engenheiros lograriam remexer as águas e montanhas. Até os colonos faziam fé em Sandowana.
Endiabrados e, a custa de muito álcool, suborno, bijuterias e capulanas, incluindo fardas de sipaios, iniciou-se a edificação de Cahora Bassa. Uma espécie de barragem já finalizada mesmo antes de ter iniciado. Fazer jus ao slogan. Cahora Bassa, fim do trabalho. Refazer a parede que Sandowana, com esforço abrira.
Sandowana foi transportado, nas violentas águas do oceano índico, dobrou as tormentas e ancorou, na Metrópole. Foi um navio militar que transportou, também, os seus sonhos. Na deslocação, foi acompanhado por Mpondoros e Nyabezis. Curandeiros percorreram milhas no desconforto. Banhou suas penas nas geladas águas do Atlântico.
A chegada recebeu honras militares e populares. Um desajeitado cesto de cordas e palha, permitido que a curiosidade de muitos fosse saciada. Hospedou-se, em definitivo, no actual poluído Tejo. Passou a sobreviver sem as mitologias e importâncias espirituais, que os transcendentais sabiam e faziam valer. Passou a alimentar-se de gaivotas e sobras de bacalhau das águas frias do norte do Atlântico. Nunca mais bebeu pombe, nem se alimentou de farinha de mapira. Nunca entendeu dias de solidariedade prolongada e, muito menos, as noites frias e severas. Chorou, ao longo de anos, suas mágoas e poderes amputados.
No âmago do seu coração nasceu a hidroeléctrica Cahora Bassa. Força da água e engenharia do Homem, que geraram luz para milhões de pessoas. Dos seus longos cabos, quais tranças infinitas, alimentou e próspera as indústrias. Fez a guerra, concentrações militares e estratégicas e milhares de reuniões, de gestores e pseudo empresários. Depois, Cahora Bassa virou nossa. A escuridão ainda atormenta.
Naguib, tetense, também, preenchido de outros espíritos benignos, resgatou os percursos de Sandowana. Pintou e eternizou um dos mais temíveis espíritos das nossas águas fluviais. Nesse deambular entre tradição oral, histórias seculares, contos tradicionais, não houve apeadeiros. As velocidades da descrição, apenas, nos fizeram acreditar que todas as estações e paisagens eram, milimetricamente, iguais. O mural nunca conseguiu perceber as sevícias da transição e o empobrecer daqueles que sempre tiveram tudo e, tudo perderam.
Sandowana quer regressar. Os sinais parecem evidentes. Vila de Chitima mudou. Virou símbolo nacional. Se vencem campeonatos e taças. Só não mudou a sina dos periféricos. Não só não mudou como, até parece, ter ficado mais sombrio.
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