Uma carrinha atropelou várias pessoas em Toronto, no Canadá. O suspeito chama-se Alek Minassian e já foi detido. Tem 25 anos, é natural de Toronto e não está associado a nenhum grupo terrorista.
Pelo menos dez pessoas morreram e 15 ficaram feridas esta segunda-feira em Toronto, no Canadá, depois de terem sido atropeladas por uma carrinha branca, confirmou a polícia. O incidente aconteceu por volta das 13h30 (18h30 em Lisboa) e a polícia foi chamada ao local instantes depois.
Ainda não se conhecem os motivos do atropelamento nem se sabe se foi um atentado terrorista, embora essa hipótese não tenha ainda sido ainda afastada. As autoridades têm-se referido ao atropelamento como um incidente. Também não foi alterado o nível de alerta de terrorismo no país. O alegado condutor foi detido e já foi identificado como sendo Alek Minassian de 25 anos, natural de Toronto e sem ligações conhecidas a qualquer grupo extremista, conta o canal canadiano CBC.
O atropelamento aconteceu entre a Yonge Street e a Finch Avenue, a norte de Toronto e a 30 km de distância da baixa, onde um grupo de sete ministros dos Negócios Estrangeiros estavam reunidos. Stephan Powell, porta-voz dos bombeiros de Toronto, explicou que os pedestres foram “atingidos pelo veículo em, pelo menos, duas localizações”.
Um total de dez pessoas deu entrada no Hospital Sunnybrook. Dois deles chegaram às urgências já sem sinais vitais e o óbito foi declarado de imediato. Há cinco pessoas em estado crítico, duas em estado grave e um ferido ligeiro.
Multiple casualties at Younge and Finch in Toronto pic.twitter.com/VMNoE3Rtrh— phyllis burge (@burge_phyllis) April 23, 2018
“Disparem na minha cabeça!”. A detenção do suspeito
O condutor foi detido pelas autoridades. Tem 25 anos e é natural de Richmond Hill, a norte de Toronto, avança a agência Reuters. Alek Minassian é o nome do suspeito de ter atropelado mortalmente 10 pessoas e ferido outras 15. De acordo com a sua página no LinkedIn, o suspeito é estudante na Seneca College, uma universidade em Toronto. As autoridades já confirmaram que o suspeito não está ligado a nenhuma organização terrorista.
O condutor conduzia uma carrinha que seria alugada. O suspeito atingiu os pedestres que se encontravam no passeio a uma velocidade de 40 quilómetros por hora, suficiente para deixar um rasto de destruição. A carrinha seguia na Younge Street e começou a atropelar pessoas na Mel Lastman Square.
O veículo terá abandonado o local imediatamente após o sucedido e só parou depois de percorridos sensivelmente dois quilómetros. Enquanto estava a ser detido, Minassian apontou um objeto às autoridades e terá dito: “Matem-me. Tenho uma arma no bolso”. Os agentes da polícia responderam: “Não queremos saber. Para baixo”. De seguida, pediram ao homem que colaborasse ou iriam disparar. “Disparem na minha cabeça!”, respondeu o condutor da carrinha. Este momentos foram registados num vídeo divulgado pela CBC News:
Bystander video provided to CBC News appears to show the apprehension of a suspect in connection with a van collision that left nine people dead and 16 injured in Toronto on Monday. pic.twitter.com/xZf3bIy5bD— CBC News: The National (@CBCTheNational) April 23, 2018
O ministro da Administração Interna, Ralph Goodale, revelou que se trata de um “incidente muito grave”. O presidente do município de Toronto, fala numa “terrível tragédia” e apelou a todos os comerciantes a fechar os estabelecimentos e a mandar os empregados para casa. O serviço de metro foi suspenso entre as estações próximas do local. Os paramédicos estão a aconselhar as pessoas a evitar a área onde aconteceu o atropelamento.
O primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, já expressou condolências e avançou que teria mais a dizer nas próximas horas. “O nosso pensamento está com todos aqueles que foram afetados pelo terrível incidente em Yonge Street e a Finch Avenue em Toronto. Obrigado a todos aqueles que estão a trabalhar na zona. Estamos a acompanhar a situação de perto”.
Our thoughts are with all those affected by the terrible incident at Yonge and Finch in Toronto. Thank you to the first responders working at the scene – we're monitoring the situation closely.— Justin Trudeau (@JustinTrudeau) April 23, 2018
Toronto. O que passou pela cabeça de Alek Minassian?
Saúde mental (e não terrorismo) terá estado na origem do atropelamento em Toronto. Suspeito inspirou-se noutro caso de atropelamento na Califórnia e insurgia-se contra a rejeição pelas mulheres.
“A rebelião dos Incel já começou. Vamos derrubar todos os Chads e as Stacys. Deem vivas ao Supreme Gentleman [Supremo Cavalheiro] Elliot Rodger!“. Esta foi uma das últimas mensagens escritas numa conta de Facebook que se acredita ser de Alek Minassian, o homem que estaria atrás do volante da carrinha que atropelou uma série de pessoas em Toronto, na segunda-feira, matando 10 peões e deixando mais 15 feridos. Este post nas redes sociais pode ajudar a perceber os problemas de saúde mental que terão estado na origem do crime, que a polícia acredita não estar relacionado com terrorismo ou crime organizado.
Eis a descodificação possível do que Minassian terá escrito no Facebook, numa conta que a polícia está a tentar confirmar se pertence realmente ao suspeito.
- Incel é uma contração das palavras involuntarily e celibate, ou seja, “celibatários involuntários”. São aqueles que vivem em abstinência sexual, mas não porque assim o desejem — porque as mulheres não darão seguimento aos seus avanços amorosos e sexuais.
- Os Chads e as Stacys serão referências a nomes que, na cultura pop norte-americana, aparecem associados aos jovens sexualmente ativos e com maior popularidade, entre os seus pares, na escola (uma popularidade, frequentemente, inversamente proporcional ao grau de cultura ou inteligência).
- Elliot Rodger foi o autor de outro atropelamento, em 2014, na Califórnia (EUA), que matou sete pessoas depois de se queixar de que as mulheres não queriam sair com ele. Poucos dias antes desse ataque, num vídeo no youtube, Elliot Rodger também usava os nomes Chad e Stacy para se referir, de forma depreciativa, aos jovens que seriam sexualmente ativos. Depois desse atentado, Elliot Rodger, que tinha 22 anos, suicidou-se (não sem antes ter publicado um “manifesto” contra as relações amorosas e sexuais entre pessoas de raças diferentes).
A possibilidade de Alek Minassian se ter referido, nessa conta do Facebook, a Elliot Rodger leva a crer que o ataque de segunda-feira foi resultado de um problema de saúde mental que, ainda assim, nunca se tinha manifestado ao ponto de o suspeito ter entrado nos radares da polícia.
Minassian, que depois do crime saiu da carrinha e implorou à polícia que o alvejasse na cabeça, seria um estudante da Seneca College, segundo o seu perfil na rede social LinkedIn. Estaria a estudar Informática e o seu nome aparece ligado às equipas de programadores que criaram apps de telemóvel, incluindo uma que procurava lugares de estacionamento na cidade.
A Seneca College fica perto do local do crime, na zona norte de Toronto. O suspeito cresceu e vive não muito longe dessa zona, numa rua suburbana em Richmond Hill — a polícia esteve, ainda durante o dia de segunda-feira, no interior da casa, no âmbito da investigação ao incidente.
Os vizinhos conheciam-no mal e até os velhos colegas de escola não guardam grandes memórias de alguém que “não era especialmente sociável”. Essa foi a descrição feita por Ari Bluff, que andou com Alek Minassian na escola secundária e partilhou com ele algumas aulas de informática.
À CBC, o ex-colega de turma diz que, de acordo com a sua memória “imperfeita”, Alek não teria muitos amigos. “Acho que ele não tinha quaisquer amigos próximos, pelo menos que se conhecessem publicamente”.
Eu nunca o vi com grupos de amigos. Mas sempre que nos cruzávamos com ele nos corredores dizíamos olá e falávamos um bocadinho, ou assim. Lembro-me dele a percorrer os corredores, normalmente sozinho, ou na cantina sozinho.”
Era alguém, basicamente, “metido consigo mesmo, com o mínimo de protagonismo”, afirma Ari Bluff, que partilhou com a televisão canadiana uma foto da turma de 2011, em que Minassian aparece na linha de cima, o segundo a contar da esquerda.