sábado, 28 de abril de 2018

A MENTIRA DA MODERNIDADE

A MENTIRA DA MODERNIDADE

O que torna Angola um país moderno não são satélites construídos pelos outros (e que não funcionam), radares avariados ou comboios rápidos de cidade que só existem em bonitas maquetas televisionadas.
Não existe razão lógica alguma que justifique o denominado Programa Espacial Nacional, cujo principal símbolo é o satélite angolano que não opera. Contudo, não vale a pena especular sobre se o satélite Angosat-1 trabalha ou não, se desapareceu ou não. Mas vale a pena perguntar por que razão Angola se meteu nesta aventura, gastando, pelo menos, 320 milhões de dólares.
Estará Angola a criar um cluster (nicho de mercado) aeroespacial com a participação de técnicos nacionais, universidades locais e tecnologia doméstica? Haverá uma aposta estratégica, quantificável em recursos humanos, educativos e técnicos, no sector do espaço? Isto faz sentido na presente conjuntura?
De entre as várias explicações dadas, designadamente a entrevista ao Jornal de Angola, no passado dia de 23 de Abril, do ministro das Telecomunicações e Tecnologias de Informação, José Carvalho Rocha, não se vislumbra nada disso. O que aparenta é que Angola fez um contrato com os russos para estes produzirem um satélite com nome angolano, em que o único contributo de Angola é pagar o serviço. Não existe qualquer transferência de tecnologia ou partilha de know-how. Não se constata, portanto, a criação do cluster angolano da engenharia aeroespacial.
Na realidade, os benefícios para Angola da existência de um satélite são residuais. O próprio ministro tem dificuldades em avançar com justificações para o projecto, além de umas referências vagas à diversificação da economia e da monitorização do clima para a agricultura. Mas certamente que o satélite não é como o antigo rei da Tailândia, Bhumibol Adulyadej, que patenteou uma invenção que fazia chover e prevenia a seca. O contributo angolano é menor do que o tailandês.
A verdade é que esta história do satélite parece mais uma negociata, das várias que existiram ao longo dos anos, entre russos e angolanos, e certamente alguém terá beneficiado de muitos milhões a contratar um satélite que não funciona….
Ao mesmo tempo que o governo gasta mais de 300 milhões num satélite que não fala e não faz chover, a TPA, citando o Novo Jornal, informa que o aeroporto internacional de Luanda não tem o radar a funcionar. Isto quer dizer que os aviões que lá aterram o fazem com a mesma segurança que uma avioneta na picada. Não se percebe como é que Angola pretende ser uma potência regional, se nem de um aeroporto em condições dispõe.
Este facto demonstra a mendicidade das políticas públicas de José Eduardo dos Santos. Houve dinheiro para engordar os oligarcas e os familiares do regime, mas não para colocar um radar a funcionar no aeroporto mais importante do país. Este fenómeno é o espelho do regime de roubalheira nacional em que o país viveu durante décadas. Só a completa impunidade e irresponsabilidade dos dirigentes justifica que se tenha chegado tão baixo.
E, como se já não bastasse ser a classe dirigente composta por uns faraós do absurdo, o ministro dos Transportes ainda vem anunciar um comboio rápido de cidade com ligação ao aeroporto, e mostra umas bonitas imagens. Qual metro para qual aeroporto? Talvez seja melhor primeiro colocar um radar no aeroporto.
Satélites, aeroportos, metros são símbolos de uma modernidade que os dirigentes angolanos querem exibir, mas que é falsa. A única verdade de que temos a certeza até agora é que o dinheiro público foi desbaratado. A saúde não funciona, a educação não funciona, o radar não funciona, o satélite é uma farsa.
E era bom saber o que se passa com as barragens novas, o Porto do Caio e muitas obras de envergadura anunciadas no estertor do mandato de José Eduardo dos Santos, para percebermos se é tudo uma farsa, apenas montada para propaganda.
Face ao estado a que chegou, Angola tem de voltar ao seu ano zero e começar tudo de novo.
Joao Teixeira · 
OAE na empresa Spdh/groundforce
Realmente até que enfim se consegue ler algo sobre o nosso aeroporto que para qualquer pessoa que sabe da importância do radar punha a mão na cabeça, meus caros o aeroporto internacional 4 de fevereiro de Luanda a muito anos a fio que não possui ou o radar não funciona eu ja sei sobre esta realidade a pelo menos este tempo porque um familiar que la trabalha na torre de controlo me informou e segundo ela so deus mesmo e a experiência de alguns é que se consegue aterrar um avião naquele aeroporto, segundo ela muitas companinhas estrangeira so continuam a voar para Luanda porque não sabem.
GostoResponder23 dia(s)
Este comentário já diz tudo, TUDO... acerca dessa brincadeira do satélite. Trezentos e vinte milhoes pagos aos russos para eles fazerem o "brinquedo" !!! Uma loucura, um crime. Como se um pai de família em que os filhos estao com roupa velha estragada, com sapatos rebentados, com fome na barriga e sem escola... fosse comprar um jeep V.8 para fazer banga aos vizinhos. Isso que é o "nosso" satélite.. Um país desgraçado que compra satélite, está condenado continuar desgraçado...
GostoResponder23 dia(s)
Afinal qual foi o investimento público que teve resultado positivo na vida do povo Angolano?
GostoResponder22 dia(s)
Abituaram nos com mentiras ja nao tem como acreditar nestes senhores... Só o bom dia ou boa noite talvez posso acreditar porque estou a ver quando é de dia ou quando é noite.
GostoResponder13 dia(s)
Fernando Alberto Mendonça Mendonça · 
Trabalha na Empresa PAENAL
devia se demitir ja o jose carvalho da rocha e pra ja ou, tal jlo acionava a demisao do camarada.
GostoResponder13 dia(s)
Acho que estão a dramatizar a situação, pois só não atinge grandes resultados quem não sabe arriscar.
Isto nao é risco, é dar tiros no escuro. É absurdo e simplesment xtupidez d nosas entidads.
Responder2 dia(s)
Felisberto Correia · 
Trabalha na Empresa Estudante
Esse texto não foi baseado em nenhum livro de drama? Não precisa dramatizar de tal forma, será que para desenvolver seja qual for o sector não vamos de alguma forma arriscar? O caso aeroporto já tem a resposta na página oficial da TPA.
assim mesmo esta bom? quem falava era considerado UNITA , não quer o bem do PAÍS , quando tudo estava na cara, onde estão os ANGOLANO que bastavam ouvirem o país está mal quase que matavam porque queriam indeusar o seu presidente? eu tive um sonho em que o mpla foi banido da vida política ANGOLANA por 100 anos e vi prosperidade , acho que só me falta orar para que este sonho se realize
GostoResponder13 dia(s)
O radar do aeroporto não só não funciona porque nem sequer existe. Mas infrasturas aeroportuárias se fosse só o radar não era mau
GostoResponder13 dia(s)
Nosas entidads sao uma porcaria, tdo é feito na intensao d enganar o povo, dar a ideia d q alguma coisa xtao a fazer, poêm o povo dstraido enquuanto enxem os bolsos c falsos contratos. Lagoas hidroelectricas c turbinas do seculo XVlll e dao nelas o nome d "maiores da africa". Ms luz continua sendo ponto critico e ds pioes no continente. Dstroem pavimentos com mais d 100 anos sobre ele contratos criminosos, so para aguentar o periodo de campanha, até ao momento, parte dstas estradas tornaram-s mais perigosas q no periodo de guerra.Centralidades descartaveis com tempo d vida técnicamente inferior a metade do tempo dos contratos, politécnicos sem laboratorios, laboratorios sem reagentes. Contrataçao de professores e médicos com niveis de profissionalismo ladtimaveis. Em suma, é tdo uma xtupidez.
Comungo da visão aqui expendida em atenção ao estado caótico para o qual a gestão do ex-presidente jes.lançou um pais tão heróico e potentoso. É de lamentar a insuportavel situação que abraça os angolanos na actualidade.
Em Angola, a saúde não funciona, a educação não funciona, o radar não funciona, o satélite é uma farsa: estamos em obras e não admitimos pedreiros russos, nem chineses, nem brasileiros ou portugueses!

O LÓBI DE TRUMP EM ANGOLA, PETRÓLEO E “SABOTAGEM”

Recentemente, o diário norte-americano The New York Times publicou uma investigação sobre um contrato entre o governo angolano e um lobista próximo do presidente Trump. Esse contrato, no valor de 64 milhões de dólares, daria acesso à Casa Branca e a vários negócios.
Maka Angola aprofundou a investigação. O chefe do Serviço de Inteligência Externa (SIE), tenente-general André de Oliveira Sango, responsabilizou-se pelo dossiê e, ao que apurámos, envolve a “sabotagem” interna da ida de João Lourenço ao empossamento de Trump, promessas de financiamento de 50 mil milhões de dólares e acesso ao petróleo angolano.
O americano em causa é o lobista Elliott Broidy, e o caso remonta a 2016, quando Donald Trump foi eleito presidente dos Estados Unidos e, um mês depois, João Lourenço foi escolhido como sucessor de José Eduardo dos Santos.
Segundo o New York Times, Broidy “ofereceu” acesso aos eventos VIP para celebração da tomada de posse de Donald Trump. O pacote incluía o encontro com senadores republicanos e uma viagem à instância turística privada de Donald Trump, Mar-a-Lago, na Flórida.
De acordo com o jornal, “esse tipo de acesso tem valor na arena internacional, onde a percepção de apoio de um presidente americano – ou mesmo uma foto com este – pode beneficiar os líderes estrangeiros nos seus respectivos países”.
Conforme a investigação publicada, a 3 de Janeiro de 2017 Elliott Broidy enviou um email a dois altos dirigentes angolanos, informando-os sobre o envio de um convite para as festividades de empossamento e uma proposta de lobbying. O New York Times identificou um dos dirigentes como sendo João Lourenço, na altura ministro da Defesa. Na sua investigação, o Maka Angola apurou o segundo como sendo o director do Serviço de Inteligência Externa (SIE), tenente-general André de Oliveira Sango.
A proposta de lobby indicava que a Circinus prestaria serviços de segurança a Angola pela soma de 64 milhões de dólares, durante um período de cinco anos.
Três dias antes do empossamento de Trump, o governo angolano, de acordo com o New York Times, efectuou um pagamento de seis milhões de dólares à Circinus, aparentemente dois milhões a menos do que havia sido previamente acordado. “No mesmo dia, os angolanos e Broidy encontraram-no no senado com os senadores republicanos Tom Cotton, do Arkansas, e Ron Johnson, do Winsconsin”.
Entretanto, João Lourenço não marcou presença na tomada de posse de Trump nem no encontro com os senadores. A sua viagem aos Estados Unidos foi “sabotada” pela presidência da República de Angola, conforme apurou o Maka Angola e adiante se revelará.
Em Fevereiro, seguindo o New York Times, Broidy escreveu novamente a João Lourenço, informando-o sobre os seus planos para que este se deslocasse ao complexo turístico privado de Trump, para um encontro com o presidente dos Estados Unidos. Broidy falava nos preparativos para a visita, que incluíam encontros no Capitol Hill (Congresso e Senado) e o departamento do Tesouro. Para o efeito, exigia o “pagamento imediato” pelos serviços da Circinus.
João Lourenço deslocou-se aos Estados Unidos em Maio de 2017, onde foi recebido pelo secretário de Defesa James Mattis.
Já depois de ter sido empossado, em Setembro do mesmo ano, Lourenço recebeu nova mensagem de Broidy, em que este se propunha a organizar encontros com Donald Trump e Mike Pence, para a promoção de melhores relações entre os dois países.
O jornal nota que Lourenço não se deslocou a Mar-a-Lago e nunca respondeu às mensagens de Broidy. Por sua vez, a Circinus, empresa de Broidy, não recebeu pagamentos adicionais para além dos seis milhões de dólares iniciais.
A maka do Sango
O artigo do New York Times inspirou o Maka Angola a expandir a investigação para melhor contextualização junto dos leitores angolanos.
Segundo fontes angolanas familiares com o negócio, Elliott Broidy estabeleceu contacto com o chefe do SIE, tenente-general André de Oliveira Sango, ainda durante a campanha eleitoral nos Estados Unidos.
Broidy propunha acesso privilegiado de Angola, em África, ao poder politico de Trump: investimentos no valor dos 50 biliões de dólares. Em troca, solicitava acesso ao petróleo angolano para os interesses privados que representava.
Informado da proposta, o presidente José Eduardo dos Santos encorajou Sango a prosseguir com as negociações, tendo passado uma autorização formal para ser presente aos lobistas associados a Trump.
O chefe do SIE, André Sango e o lobista Elliott Broidy (dir.).
Para além da exploração petrolífera, o chefe da inteligência externa angolana discorreu sobre a importância estratégica de Angola como o baluarte do cristianismo em África, devido à onda crescente do Islão. Referiu também que Angola é o país africano que mais assimilou a civilização ocidental, o que lhe confere uma relação vantajosa com o Ocidente.
Entretanto, a equipa de Elliott Broidy foi clara em afirmar que a condição sine qua non para o apoio à futura administração Trump seria a reforma política de José Eduardo do Santos.
Sango, segundo as fontes familiares com o dossiê, revelou a intenção de José Eduardo dos Santos em abandonar voluntariamente o poder, comunicando que já havia um sucessor na calha.
Foi nesse encontro, já depois da eleição de Trump, que Sango foi convidado a participar na cerimónia de empossamento. Um segundo convite foi formulado ao então putativo sucessor de Dos Santos.
José Eduardo dos Santos aprovou a representação de Angola na cerimónia de tomada de posse de Trump, e indicou João Lourenço como o mais alto representante do país.
Por sua vez, as mesmas fontes enfatizam, João Lourenço mostrou-se bastante animado com o convite e com a perspectiva de um encontro com Trump.
Uma semana depois, os convites chegaram a Angola, e Sango cuidou de informar o presidente. Por sua vez, José Eduardo dos Santos pediu-lhe para trabalhar com o então chefe da Casa de Segurança do PR, general Manuel Hélder Vieira Dias Júnior “Kopelipa”. A partir daqui, começa a cabala.
Kopelipa duvidou da autenticidade dos convites. Nessa altura, Kopelipa animava um grupo que considerava errada a potencial escolha de João Lourenço como candidato do MPLA e sucessor de Dos Santos.
“O Kopelipa chamou o Aldemiro Vaz da Conceição para criar confusão. Este, por sua vez, chamou o embaixador-itinerante António Luvualu de Carvalho, para ir transmitir a João Lourenço que os convites eram falsos”, relata a fonte.
Luvualu transmitiu o sucesso da operação a Kopelipa e a Aldemiro, este repescado pelo presidente João Lourenço como director do Gabinete de Acção Psicológica da Casa de Segurança do PR.
Contactado por Maka Angola, o embaixador Luvualu de Carvalho preferiu não comentar a questão.
Sango na ribalta
Na conversa seguinte, antes da viagem de Sango para a tomada de posse de Trump, José Eduardo dos Santos transmitiu-lhe o memorando de Kopelipa sobre a “falsidade” dos convites. Sango seguiu para Washington, onde teve de explicar que João Lourenço ficou em terra por imperativos da pré-campanha eleitoral.
Sango sentou-se “três ou quatro mesas depois de Trump”, numa das cerimónias inaugurais do presidente dos Estados Unidos da América.
Em Luanda, Sango não só comunicou a João Lourenço os estragos causados pela “sabotagem”, como foi “discutir” com o seu chefe.
“JES disse apenas que houve falha do general Kopelipa e que a sua filha Isabel dos Santos resolveria o assunto, na sua qualidade de amiga da filha de Trump”, revela uma das fontes.
“Sango disse que o presidente não devia confundir assuntos pessoais com assuntos de Estado. Falou da oportunidade desperdiçada devido ao acto de sabotagem de Kopelipa e de Aldemiro Vaz da Conceição. Colocou o seu cargo à disposição e retirou-se da sala sem se despedir do presidente”, continua.
Em reacção, Dos Santos ligou ao general Leopoldino Fragoso do Nascimento, seu indefectível, para ir falar com o Sango e acalmá-lo. Nessa noite, contam as fontes, Sango assistiu ao telejornal da Televisão Pública de Angola(TPA), à espera de ouvir a notícia da sua demissão. Mas a verdade é que se mantém no posto no actual governo.
João Lourenço visitou Washington em Maio de 2017, durante a pré-campanha eleitoral, e teve encontros com o secretário de Defesa dos EUA, James Mattis, assim como com senadores. Não se sabe, no entanto, se essa viagem fez parte dos esforços de Elliott Broidy ou de outros lóbis norte-americanos.

EX-PGR PEDE ADIAMENTO DE SESSÃO DE JULGAMENTO CONTRA RAFAEL MARQUES

A audição do ex-procurador-geral da República de Angola no processo judicial que moveu contra o jornalista e activista Rafael Marques, agendada para a sede da Procuradoria-Geral da República (PGR), deverá ser adiada, a pedido do próprio João Maria de Sousa.
Depois do adiamento da sessão de 16 de Abril, em que o ex-procurador não compareceu no tribunal de Luanda, a mesma tinha sido remarcada para 24 de Abril, mas na sede da PGR, alteração que motivou a crítica da defesa de Rafael Marques.
Agora, de acordo com documentação a que a Lusa teve hoje acesso em Luanda, o advogado do ex-procurador avançou com um requerimento ao tribunal a pedir o adiamento dessa nova sessão, desta vez porque o ex-procurador se encontra fora de Angola até 5 de Maio.
O pedido é justificado com a anexação de um bilhete de viagem, em nome de João Maria de Sousa, emitido em Dezembro de 2017, no valor de 1,467 milhões de kwanzas (5.500 euros), de Luanda para Lisboa (22 de Abril) e de Lisboa para Luanda (4 de Maio).
Neste julgamento, está em causa uma notícia de Novembro de 2016, divulgada no portal de investigação jornalística Maka Angola, de Rafael Marques, com o título “Procurador-Geral da República envolvido em corrupção”, que denunciava o negócio alegadamente ilícito realizado por João Maria de Sousa, envolvendo a aquisição de um terreno de três hectares em Porto Amboim, província angolana do Kwanza-Sul, para construção de condomínio residencial.
Na passada segunda-feira, Rafael Marques considerou ser bizarra a marcação da audição do ex-procurador-geral nas instalações da PGR – que deveria acontecer a 24 de abril às 10:00 –, dizendo que aquele pedido, autorizado pelo tribunal, representa “um ato de cobardia”.
“Como o ex-procurador teve tanta coragem de proceder com esta acusação, deveria ter tanta coragem de vir a tribunal. É um ato de cobardia agora pedir que o julgamento seja na PGR. É cobarde”, disse, em declarações à imprensa, a 16 de Abril, após o adiamento da sessão do julgamento em que é acusado por João Maria de Sousa de crimes de injúria e ultraje a órgão de soberania, após queixa apresentada em 2017.
“Está confirmado nos autos e é bizarra uma audiência de julgamento na PGR. O Ministério Público é a instituição que promove a acusação, e o julgamento será nesta mesma instituição que está a promover a acusação. Quer dizer, nós estamos a inovar em termos de matéria judicial, em termos de criatividade”, ironizou.
Tudo isso, sublinhou, “tem o objectivo de impedir que as pessoas estejam presentes quando o general João Maria de Sousa fizer o seu depoimento”. “Mas é bizarro que a PGR se preste a este papel de servir de sede para uma audiência de julgamento, é ridículo”, apontou.
Além de Rafael Marques, é também arguido no processo o jornalista angolano Mariano Brás, acusados dos crimes de injúria contra a autoridade pública e de ultraje a órgão de soberania, o primeiro pela publicação de um artigo em que indicia que João Maria de Sousa está “envolvido em corrupção”, e o segundo pela republicação da mesma notícia noutro jornal.
Para Rafael Marques, a remarcação da audição para a sede da PGR configura uma “manobra dilatória” que vem igualmente descredibilizar as instituições do Estado.
“O meu advogado disse em tribunal e eu reitero aqui: é uma manobra dilatória, mas é isso também que expurga o zelo e a probidade das instituições do Estado. Como é que se realiza uma audiência de julgamento na sede da PGR?, não faz sentido nenhum”, adiantou.
Os advogados do queixoso, que cessou em Dezembro as funções de procurador-geral da República, solicitaram que o mesmo seja ouvido fora do tribunal, pelo facto de, enquanto juiz jubilado, gozar de foro especial. O pedido foi autorizado pela juíza da causa.
A juíza da causa tinha agendado para a próxima terça-feira, 24 de Abril, a audição ao ofendido, João Maria de Sousa, e no dia 25, já em tribunal, a dos declarantes arrolados no processo.

JLO PROMOVE TORTURADORES

O MPLA acaba de aprovar a realização de um Congresso Extraordinário para a primeira quinzena de Setembro de 2018, a fim de eleger João Lourenço como presidente do MPLA. Acaba a “bicefalia” – que na verdade nunca existiu – e Lourenço é entronizado como o grande líder de Angola. Ao mesmo tempo, por estes dias têm abundado as declarações de basbaques internacionais a elogiarem João Lourenço. Muitos destes “especialistas” são os mesmos que juravam pela excelência da gestão de Manuel Vicente na Sonangol. A gestão que levou a firma à falência. Não aprendem.
A verdade é que a prestação de João Lourenço é, até ao momento, ambígua. Tomou medidas boas e medidas más. Muitas têm sido contraditórias com a retórica presidencial, por isso há que ter muita cautela com as análises apaixonadas.
Um exemplo gritante das más decisões que têm sido tomadas é a promoção de dois conhecidos torturadores no SIC. Fernando Manuel Bambi Receado foi nomeado para o cargo de director provincial do Serviço de Investigação Criminal de Luanda, em substituição de António Pedro Amaro Neto. E Lourenço Ngola Kina foi designado como director provincial do SIC-Uíge.
Como se sabe, atendendo à consagração imperial na Constituição da figura do presidente da República, este é responsável por todas as nomeações, sendo os seus ministros meros auxiliares. Assim, é o próprio João Lourenço quem dá o aval a estas nomeações surpreendentes.
Recordemos o papel destes polícias. Fernando Receado era chefe do Gabinete Central de Operações do SIC a nível nacional, e Ngola Kina, director-adjunto de operações em Luanda quando ocorreram as matanças indiscriminadas descritas do relatório de Rafael Marques “O CAMPO DA MORTE RELATÓRIO SOBRE EXECUÇÕES SUMÁRIAS EM LUANDA 2016-2017”.
Não deixemos que Lameth – fuzilado na casa de banho à queima-roupa, com um tiro do lado direito da cabeça e outro da testa, no canto onde estava de cócoras – seja esquecido. Nem esqueçamos Fernando, a quem um dia o SIC apareceu em casa com o filho algemado e severamente torturado, todo ensanguentado, com olhos de tal modo inflamados, que nem conseguia abri-los. E ainda António Matias, atingido com um tiro no nariz depois de ser torturado no SIC.
Em relação a estes e outros casos de tortura e assassinato pelos agentes do SIC, as testemunhas e interessados não têm dúvidas em afirmar que o comando da Polícia sabe quem fez o trabalho. Dito de forma mais clara: Receado e Kina sabem tudo e são responsáveis, pelo menos moralmente e por omissão, pelos assassinatos e torturas.
Noutro caso, o do pastor Daniel Cem, João Dala e Garcia Dala contam que foram directamente torturados por Fernando Receado e Ngola Kina (ver aqui e aqui).
Sobre a tortura a que foram sujeitos, ficam as suas palavras: “O chefe de operações do SIC optou antes pela tortura do pénis. (…) O chefe Fernando Receado foi quem pessoalmente amarrou o fio no meu pénis e foi o primeiro a começar a puxar e a correr comigo à volta da sala, enquanto o pastor Daniel Cem e o irmão diziam que eu falaria rápido e todos se riam. (…) Os chefes da investigação e os acusadores revezaram-se então, solidariamente, a torturar.”
E acrescenta um deles: “Então, o Ngola Kina propôs um outro método de tortura. Puseram-me um pedaço de cobertor preto, que usavam como pano de chão, nas costas. Despejaram-me água fresca e começaram a torturar-me com o lado da catana (…). O superintendente Fernando Receado foi o que mais me espancou.”
Não são conhecidos quaisquer inquéritos, investigações, ou sequer averiguações, em resultado da publicação do relatório sobre as execuções sumárias perpetradas por agentes às ordens de Receado e Kina, ou da divulgação do caso dos Dala.
O que se sabe é que estes dois torturadores angolanos receberam um prémio do novo presidente João Lourenço: a promoção. Como é sabido, Lourenço tem sido dextro em exonerações e instauração de inquéritos. Não se percebe como é que, neste caso, em vez de instaurar inquéritos, recompensa os prevaricadores.
Todos adivinhamos que João Lourenço quer cair nas graças dos norte-americanos para voltar a ter dólares em circulação sem restrições. É por isso que inventou aquele programa de cooperação com o FMI. Contudo, tal não basta. Ainda recentemente, o Departamento de Estado norte-americano, no seu relatório de Direitos Humanos 2017, acusa Angola de ter formas de punição cruéis em que abundam casos de tortura e espancamento, que em casos alguns terminam em morte.
É que, para voltar a ter dólares, não basta o FMI, é preciso acabar com o comportamento arbitrário e brutal das autoridades. Parece que é isto que João Lourenço não percebe.
Em suma, a promoção de torturadores é um sinal dissonante e preocupante acerca de João Lourenço. Perante esta iniciativa, somos todos forçados a questionar as reais intenções do presidente, agora que ele vai abocanhar mais um pedaço de poder.

1 comentário:

Anónimo disse...

GRANDE MATERIA.
BRAVO, BRAVO!