segunda-feira, 3 de setembro de 2012

E se todos fôssemos do ‘Movimento Islâmico’?

Canal de Opinião
por Borges Nhamirre



Maputo (Canalmoz) – 1. Num Estado constitucionalmente laico, onde coabitam múltiplas religiões, pode parecer retrógrada e até absurda a ideia da instituição de uma República Islâmica, mas nestes (10) parágrafos tentarei argumentar por que razão penso que isso seria vantajoso para Moçambique e para os moçambicanos.

2. Antes farei uma espécie de declaração de conflito de interesses. Sou um Matswa, Cristão Católico praticante, porque acredito nos valores do Cristianismo e do Catolicismo. Mas tentei pensar e escrever de forma despida das minhas convicções religiosas.

3. Como todos cidadãos normais, sou defensor de um Estado funcional, um Estado onde as instituições respondam em tempo útil às preocupações dos cidadãos, acredito que o Estado só existe para defender os interesses dos cidadãos que o compõem.

4. Por isso saúdo a forma como as mais diversas instituições do Estado encontraram soluções em tempo útil para satisfazer a preocupação dos raptos, que é de toda a sociedade, mas teve como cara o chamado ‘Movimento Islâmico’.

5. Na sexta-feira, 24 de Agosto, o “Movimento Islâmico” reuniu-se na sede da Comunidade Mahometana em Maputo para fazer as já conhecidas ameaças e exigências ao Governo e ao partido no poder. Isso derivava do rapto de uma jovem, membro da comunidade, na tarde da quinta-feira anterior. Dentre vários pontos, o grupo exigia “um encontro ao mais alto nível”, e claro, a restituição da raptada à liberdade.

6. Quarenta e oito (48) horas  depois, isto é, no domingo, 26 de Agosto, o chefe de Estado, Armando Guebuza, reúne-se com o grupo e “promete empenhar-se acima do normal no combate ao crime”. Estava respondida a primeira preocupação do grupo, a da reunião ao mais alto nível.

7. Uma semana depois, na sexta-feira, 31 de Agosto de 2012, o ‘Movimento Islâmico’ volta a reunir-se, desta vez no Hotel VIP, em Maputo, para anunciar que a senhora que havia sido raptada foi restituída ao convívio familiar. Estava satisfeita a exigência maior da restituição à liberdade da vítima do rapto.

8. Como qualquer cidadão normal, estou satisfeito com a actuação exemplar e em tempo útil das instituições do Estado. O órgão máximo do Estado, o Presidente da República, só precisou de 48 horas para reunir-se com o ‘Movimento Islâmico’ para ouvir as suas inquietações. E a Polícia – talvez o símbolo da inoperância das instituições do Estado – conseguiu resgatar a senhora que fora raptada, em uma semana.

9. Para quem vive na pele a letargia que caracteriza o funcionamento das instituições do Estado moçambicano, onde há 37 anos não se consegue criar uma Polícia que garanta o mínimo de segurança à metade dos cidadãos; onde há 37 anos não se consegue criar um serviço de saúde que satisfaça a metade dos cidadãos; onde há 37 anos não se consegue criar um sistema de justiça que sirva 1/4 do povo; onde há 37 anos não se consegue construir escolas para todas as crianças moçambicanas; onde há 37 anos não se consegue criar um exército que proteja o território nacional na sua total extensão e largura; onde há 37 anos não se consegue prover o mínimo de alimentação a todos os moçambicanos; onde há 37 anos não se consegue acabar com as mortes de crianças por malnutrição; onde há 37 anos não se consegue registar todas as crianças que nascem em Moçambique; onde há 20 anos não se consegue dar pensão aos desmobilizados da guerra civil; onde há 14 anos (da municipalização) não se consegue recolher o mínimo do lixo que “ornamenta” os centros urbanos; só pode aceitar ser do ‘Movimento Islâmico’ para poder se fazer ouvir junto das instituições do Estado e pô-las a funcionar.

10. Por isso proponho que todos nós que estamos preocupados com a letargia do Estado e pedimos e suplicamos instituições mais actuantes e nunca vimos os nossos desejos satisfeitos, comecemos a considerar a possibilidade aderirmos ao movimento. Espero que sejamos aceites pelo grupo. (Borges Nhamirre)