Canal de Opinião
por Borges Nhamirre
Maputo (Canalmoz) – 1. Num
Estado constitucionalmente laico, onde coabitam múltiplas religiões,
pode parecer retrógrada e até absurda a ideia da instituição de uma
República Islâmica, mas nestes (10) parágrafos tentarei argumentar por
que razão penso que isso seria vantajoso para Moçambique e para os
moçambicanos.
2. Antes
farei uma espécie de declaração de conflito de interesses. Sou um
Matswa, Cristão Católico praticante, porque acredito nos valores do
Cristianismo e do Catolicismo. Mas tentei pensar e escrever de forma
despida das minhas convicções religiosas.
3. Como
todos cidadãos normais, sou defensor de um Estado funcional, um Estado
onde as instituições respondam em tempo útil às preocupações dos
cidadãos, acredito que o Estado só existe para defender os interesses
dos cidadãos que o compõem.
4. Por
isso saúdo a forma como as mais diversas instituições do Estado
encontraram soluções em tempo útil para satisfazer a preocupação dos
raptos, que é de toda a sociedade, mas teve como cara o chamado
‘Movimento Islâmico’.
5. Na
sexta-feira, 24 de Agosto, o “Movimento Islâmico” reuniu-se na sede da
Comunidade Mahometana em Maputo para fazer as já conhecidas ameaças e
exigências ao Governo e ao partido no poder. Isso derivava do rapto de
uma jovem, membro da comunidade, na tarde da quinta-feira anterior.
Dentre vários pontos, o grupo exigia “um encontro ao mais alto nível”, e
claro, a restituição da raptada à liberdade.
6. Quarenta
e oito (48) horas depois, isto é, no domingo, 26 de Agosto, o chefe de
Estado, Armando Guebuza, reúne-se com o grupo e “promete empenhar-se
acima do normal no combate ao crime”. Estava respondida a primeira
preocupação do grupo, a da reunião ao mais alto nível.
7. Uma
semana depois, na sexta-feira, 31 de Agosto de 2012, o ‘Movimento
Islâmico’ volta a reunir-se, desta vez no Hotel VIP, em Maputo, para
anunciar que a senhora que havia sido raptada foi restituída ao convívio
familiar. Estava satisfeita a exigência maior da restituição à
liberdade da vítima do rapto.
8.
Como qualquer cidadão normal, estou satisfeito com a actuação exemplar e
em tempo útil das instituições do Estado. O órgão máximo do Estado, o
Presidente da República, só precisou de 48 horas para reunir-se com o
‘Movimento Islâmico’ para ouvir as suas inquietações. E a Polícia –
talvez o símbolo da inoperância das instituições do Estado – conseguiu
resgatar a senhora que fora raptada, em uma semana.
9.
Para quem vive na pele a letargia que caracteriza o funcionamento das
instituições do Estado moçambicano, onde há 37 anos não se consegue
criar uma Polícia que garanta o mínimo de segurança à metade dos
cidadãos; onde há 37 anos não se consegue criar um serviço de saúde que
satisfaça a metade dos cidadãos; onde há 37 anos não se consegue criar
um sistema de justiça que sirva 1/4 do povo; onde há 37 anos não se
consegue construir escolas para todas as crianças moçambicanas; onde há
37 anos não se consegue criar um exército que proteja o território
nacional na sua total extensão e largura; onde há 37 anos não se
consegue prover o mínimo de alimentação a todos os moçambicanos; onde há
37 anos não se consegue acabar com as mortes de crianças por
malnutrição; onde há 37 anos não se consegue registar todas as crianças
que nascem em Moçambique; onde há 20 anos não se consegue dar pensão aos
desmobilizados da guerra civil; onde há 14 anos (da municipalização)
não se consegue recolher o mínimo do lixo que “ornamenta” os centros
urbanos; só pode aceitar ser do ‘Movimento Islâmico’ para poder se fazer
ouvir junto das instituições do Estado e pô-las a funcionar.
10. Por
isso proponho que todos nós que estamos preocupados com a letargia do
Estado e pedimos e suplicamos instituições mais actuantes e nunca vimos
os nossos desejos satisfeitos, comecemos a considerar a possibilidade
aderirmos ao movimento. Espero que sejamos aceites pelo grupo. (Borges Nhamirre)