by Kudumba Root on Saturday, 25 August 2012 at 08:00 ·
Não é certamente agradável ser o mensageiro que é morto pelas más novas que traz, mas não deixa de ser uma necessidade cada um jogar o papel que se acha atribuído. Este intróito vem a propósito do radicalismo discursivo que o Poder tem ultimamente reservado ao outrora exaltado processo de "crítica e AUTOCRÍTICA". Indo directamente ao ponto: não acredito que fenómeno de raptos e sequestros irá acabar a breve trecho graças a medidas de carácter paliativo por um ou outro sector da sociedade.
A partir de 2005 comecei a cogitar sobre um fenómeno que decidi chamar de "Efeito Barra da Tijuca". A inspiração veio sim do bairro carioca e era espantoso pelo postal social que constituía. Na mesma rua (literalmente) tinhamos de um lado condomínios onde moravam Robinho, Ronaldinho, Kaká e outros com diminuitivo no nome e aumentativo na conta bancária; e do outro lado a inominável malta favelada ("Eu não tenho nome/Eu não tenho identidade"). O resultado dessa interacção altamente desequilibrada todos nós já conhecemos: uma das mais sofisticadas indústrias de raptos e sequestros de todo o mundo. Elucubrando sobre isso não é necessário ser-se sociólogo para imaginar um favelado com fome a ver a granfinada a passar ali a frente "à mão de semear".
Regressando à Jóia do Índico já está bastante documentado o enriquecimento fugaz, porque ilícito, de uma pequena minoria aos encovados olhos de uma maioria que, com sorte, tem 25$ por mês para gerir uma família de 6 pessoas. Aqui no nosso burgo temos opulentas festas para comemorar mais um milhão (de dólares entenda-se) adquirido, e aqui é importante ressaltar que não se trata de um exagero fictício para enriquecer (já agora) o efeito do texto: existem de facto festas para comemorar milhões. Outro dia soube que um amigo meu de infância "possui várias ilhas", uma das quais acabara de vender na semana anterior. Tudo isso na EX-República POPULAR de Moçambique.
Ora não será de se estranhar ao que pode levar esse tipo de relação entre os que andam de helicóptero e os que andam amontoados nos chapas de caixa aberta, e estes já constituem a elite assalariada lá do bairro. As características dos levantamentos de 5 de Fevereiro e de 1/2 de Setembro ajudam a reflectir sobre o tipo de frustrações que têm vindo a ser fermentadas pelo "povo". O modo de manifestação escolhido, os alvos a atingir e os movimentos seguidos pelas "massas" são certamente reveladores do que é que mais angustia os menos afortunados. Por isso sempre considerei que o surgimento de uma "onda" de sequestros era uma questão de tempo em um cenário onde as elites ainda agora viram que segurança privada é um "bem essencial". Carlos Cardoso já nos alertara para as características de guerra civil seguinte: "Do Xipamanine para a Sommerschield".
Conheço o argumento dos nossos gendarmes, certa opinião pública e outros que tais, segundo o qual os raptos até agora registados prefiguram "ajustes de contas" ou "lavagem de dinheiro" que apenas envolvem "Moçambicanos de origem asiática" (e o estigma identitário que anda sempre à espreita). As más novas são que apesar de esse fenómeno ter começado com um determinado segmento populacional, não há indicações claras que ele não se venha a alastrar gradualmente para outros grupos, talvez até sem tantas posses. Não acredito que a inversão dessa tendência aconteça por via de greves no comércio ou eufóricas "declarações de guerra" ao estilo daquele que não se CALA(u). Não será pela prisão de uma ou mais quadrilhas, como já está provado pelos acontecimentos das últimas semanas.
A não ser que haja um plano para se investir intensivamente na segurança pessoal de cada endinheirado (famílias inclusas) - e já agora impedir que chapas de caixa aberta circulem pela Kenneth Kaunda e Kim Il Sung -; é preciso insistir no aumento da renda mais baixa, garantir que não haja uma fracção tão gorda de pessoas no última quintilha da pobreza e, acima de tudo, mostrar que a pobreza está distribuída de modo mais ou menos "equitativo". É necessário transmitir a imagem que estamos todos juntos nesse combate e que ninguém faz dele apenas slogan para o Chefe gostar. Se nos enganarmos quanto à natureza dos actuais raptos estaremos fazendo como o vizinho que não se preocupou com o incêndio do outro. Poderemos viver alegremente com os slogans "(A vida é melhor quando) Estamos Juntos" e "Tudo Bom" mas devemos sempre nos lembrar que um dia o povo cantou "Vada voxe" e "La Famba Bicha".
A partir de 2005 comecei a cogitar sobre um fenómeno que decidi chamar de "Efeito Barra da Tijuca". A inspiração veio sim do bairro carioca e era espantoso pelo postal social que constituía. Na mesma rua (literalmente) tinhamos de um lado condomínios onde moravam Robinho, Ronaldinho, Kaká e outros com diminuitivo no nome e aumentativo na conta bancária; e do outro lado a inominável malta favelada ("Eu não tenho nome/Eu não tenho identidade"). O resultado dessa interacção altamente desequilibrada todos nós já conhecemos: uma das mais sofisticadas indústrias de raptos e sequestros de todo o mundo. Elucubrando sobre isso não é necessário ser-se sociólogo para imaginar um favelado com fome a ver a granfinada a passar ali a frente "à mão de semear".
Regressando à Jóia do Índico já está bastante documentado o enriquecimento fugaz, porque ilícito, de uma pequena minoria aos encovados olhos de uma maioria que, com sorte, tem 25$ por mês para gerir uma família de 6 pessoas. Aqui no nosso burgo temos opulentas festas para comemorar mais um milhão (de dólares entenda-se) adquirido, e aqui é importante ressaltar que não se trata de um exagero fictício para enriquecer (já agora) o efeito do texto: existem de facto festas para comemorar milhões. Outro dia soube que um amigo meu de infância "possui várias ilhas", uma das quais acabara de vender na semana anterior. Tudo isso na EX-República POPULAR de Moçambique.
Ora não será de se estranhar ao que pode levar esse tipo de relação entre os que andam de helicóptero e os que andam amontoados nos chapas de caixa aberta, e estes já constituem a elite assalariada lá do bairro. As características dos levantamentos de 5 de Fevereiro e de 1/2 de Setembro ajudam a reflectir sobre o tipo de frustrações que têm vindo a ser fermentadas pelo "povo". O modo de manifestação escolhido, os alvos a atingir e os movimentos seguidos pelas "massas" são certamente reveladores do que é que mais angustia os menos afortunados. Por isso sempre considerei que o surgimento de uma "onda" de sequestros era uma questão de tempo em um cenário onde as elites ainda agora viram que segurança privada é um "bem essencial". Carlos Cardoso já nos alertara para as características de guerra civil seguinte: "Do Xipamanine para a Sommerschield".
Conheço o argumento dos nossos gendarmes, certa opinião pública e outros que tais, segundo o qual os raptos até agora registados prefiguram "ajustes de contas" ou "lavagem de dinheiro" que apenas envolvem "Moçambicanos de origem asiática" (e o estigma identitário que anda sempre à espreita). As más novas são que apesar de esse fenómeno ter começado com um determinado segmento populacional, não há indicações claras que ele não se venha a alastrar gradualmente para outros grupos, talvez até sem tantas posses. Não acredito que a inversão dessa tendência aconteça por via de greves no comércio ou eufóricas "declarações de guerra" ao estilo daquele que não se CALA(u). Não será pela prisão de uma ou mais quadrilhas, como já está provado pelos acontecimentos das últimas semanas.
A não ser que haja um plano para se investir intensivamente na segurança pessoal de cada endinheirado (famílias inclusas) - e já agora impedir que chapas de caixa aberta circulem pela Kenneth Kaunda e Kim Il Sung -; é preciso insistir no aumento da renda mais baixa, garantir que não haja uma fracção tão gorda de pessoas no última quintilha da pobreza e, acima de tudo, mostrar que a pobreza está distribuída de modo mais ou menos "equitativo". É necessário transmitir a imagem que estamos todos juntos nesse combate e que ninguém faz dele apenas slogan para o Chefe gostar. Se nos enganarmos quanto à natureza dos actuais raptos estaremos fazendo como o vizinho que não se preocupou com o incêndio do outro. Poderemos viver alegremente com os slogans "(A vida é melhor quando) Estamos Juntos" e "Tudo Bom" mas devemos sempre nos lembrar que um dia o povo cantou "Vada voxe" e "La Famba Bicha".