30/03/2012
URIA SIMANGO - UM HOMEM, UMA CAUSA, de Barnabé Lucas Ncomo
Agradeço que contactem para macua39@gmail.com
Quem o quiser adquirir directamente pela net vá, sff, a http://www.macua1.org/blog/livriuria.html
Fernando Gil
07/03/2012
Frelimo mandou fuzilar Joana Semião e outros(Repetição)
Leia em: Download frelimo_mandou_fuzilar_joana_semio_e_outros.doc
NOTA:
Não existiam tribunais hà época? Mesmos os "populares"? Agora o Comité Politico Permanente da Frelimo, isto é de um partido político, condenando a fuzilamento outros cidadãos moçambicanos? E agora admiram-se que a Renamo tenha prendido um cidadão em Nampula! Aliás, a lista deveria conter todos os nomes dos que foram então fuzilados. Não nos esqueçamos que a lei que institui a pena de morte em Moçambique é de 1983.
Fernando Gil
MACUA DE MOÇAMBIQUE
07/03/2012 in História, Justiça - Polícia - Tribunais, Política - Partidos, Uria Simango | Permalink | Comments (1)
05/03/2012
Contribuições para a história de Moçambique por Uria Simango (Novembro, 1974)(Repetição)
Situação actual em Moçambique De modo a informar todos aqueles que se interessam pelos acontecimentos em Moçambique, decidi escrever estas breves linhas na esperança de que elas possam vir dar uma visão geral da situação. O golpe de estado de 25 de Abril em Portugal, foi seguido de promessas dadas pela junta militar dirigida pelo General Spínola de que às colónias iria ser conferida a liberdade de escolherem o seu futuro. Deste modo, a independência seria concedida após eleições gerais, nos princípios de 1975, em que todos os partidos políticos poderiam participar. Com efeito, foi concedida uma amnistia a todos os políticos e aos movimentos de libertação, autorizando-se o seu regresso aos seus respectivos países de forma a terem a oportunidade de expressar os seus ideais antes das eleições.
Leia tudo:
Download contribuies_para_a_histria_de_moambique_por_uria_simango.doc
CANAL DE MOÇAMBIQUE - 28.02.2006
NOTA:
Repete-se esta entrada a propósito de um comentário colocado por "Simango" em "Compulsando o que não se disse do comportamento político de Samora (Conclusão)", qundo diz que "entre outras coisas, que as forças que ele comandava haviam já morto mais de 500 soldados da Frelimo". Não é essa a minha interpretação.
Fernando Gil
MACUA DE MOÇAMBIQUE
05/03/2012 in 25 de Abril de 1974, História, M'Telela - Niassa e outros, Uria Simango | Permalink | Comments (0)
16/01/2012
URIA SIMANGO - Um homem, Uma causa de Barnabé Lucas Ncomo (já à venda)
http://www.macua1.org/blog/livriuria.html
Na contracapa do livro pode ler-se:
“Uria Simango - Um homem, Uma causa” é um livro de história da história de Moçambique. Um início do rescrever há muito esperado. A consistência das provas que o autor apresenta é de tal modo irrefutável, que não só a confirmam também alguns dos instrumentalizados de então, que hoje se dizem arrependidos, como mesmo os seus mandantes, bajuladores e cúmplices o fazem, quando, em depoimentos transcritos nesta obra de Barnabé, não negam os ignominiosos factos que lhes são imputados, limitando-se a hercúleos esforços visando rescrever agora a História desse período, para, em vão, a todo o custo se auto-justificarem!
Trata-se de uma obra apaixonada, onde o autor não esconde a simpatia que nutre pela figura do Rev. Uria Simango e pela causa da sua luta, o que, aos olhos de alguns, pode, de certa forma, ferir o princípio de imparcialidade exigido na pesquisa e relato de fenómenos sociais de natureza histórica. Contudo, nada retira à grandeza da obra. Barnabé Lucas Ncomo apresenta documentos inéditos ou no passado recente, por conveniência, escamoteados, a par de depoimentos de testemunhas credíveis, identificadas e presenciais, sobre a natureza, a evolução e o desfecho da crise que, em momento decisivo, se desenrolou na direcção da Luta Armada de Libertação Nacional de Moçambique. Penetra de forma impressionante nas amálgamas do processo da luta de um povo e da singular descolonização portuguesa; cruza factos de forma jamais vista em pesquisas sobre a história recente de Moçambique e, com segurança, conclui: Os moçambicanos vivem uma “longa mentira”, que se perpetua a bem dos interesses de um certo grupo de indivíduos.
Grande é o mérito desta obra pela susceptibilidade de vir a espevitar a memória colectiva dos estudiosos da História Nacional do Moçambique mais recente, de modo a que, no caminho dos Acordos de Roma de 04 de Outubro de 1992, se marche para um genuíno processo de Paz e de Reconciliação Nacional, reconhecendo, sem mentiras nem ódios reacendidos, as páginas trágicas na gesta gloriosa dos Libertadores da Pátria moçambicana.
Benedito Marime
16/01/2012 in História, Letras e artes - Cultura e Ciência, M'Telela - Niassa e outros, Uria Simango | Permalink | Comments (3)
08/01/2012
URIA SIMANGO - Um homem, Uma causa, de Barnabé Lucas Ncomo
O seu custo será de $ 30.00 (trinta dólares USA) mais portes.
Em Moçambique esgotou três edições.
Não perca pois a oportunidade de conhecer esta personagem da história de Moçambique e também de Portugal.
08/01/2012 in História, Letras e artes - Cultura e Ciência, M'Telela - Niassa e outros, Uria Simango | Permalink | Comments (0)
05/06/2011
URIA SIMANGO - Um homem, uma causa (1/2/3)(Repetição)
Dialogando
Por: João Craveirinha
E-mail: joaocraveirinha@yahoo.com.br
AMICUS PLATO, SED MAGIS AMICA VERITAS
(Estimo Platão, mas estimo ainda mais a verdade)
Exórdio
Desde o lançamento do livro de Barnabé Lucas Ncomo em 2004 que o cronista desta coluna tem recebido inúmeras mensagens a pedirem um comentário. Insistência essa, por saberem da presença de João Craveirinha em alguns desses últimos momentos históricos de 1967 a 1976, com um intervalo de Junho 1972 a Julho 1974, em Zâmbia, Tanzânia e Quénia, referidos no livro.
É quebrado o silêncio. Mas, escrever sobre o livro é uma tarefa um pouco ingrata por conhecer de relance o Barnabé Ncomo que tem o mérito de ter colocado a “descoberto” um período conturbado da Luta de Libertação Moçambicana, ainda que numa embrulhada de elementos. No entanto, os meus temores se concretizaram –, do livro se ter transformado num panfleto contra a essência da própria Independência em si mesma, por todos aqueles que até hoje estão contra a legitimidade de ter sido conduzida pela FRELIMO (não a herdeira no Poder), mas a Frente de Libertação de Moçambique.
Conjecturar hoje que haveria outra via é extemporâneo.
O colonialismo Português era reticente a qualquer tipo de Independência e ainda hoje tem os seus herdeiros em Moçambique, em Portugal e na diáspora Portuguesa.
Evidentemente que um dia quando se escrever sobre a via político – militar do Comandante FILIPE MAGAIA, talvez aí, sim, o processo tivesse sido outro e mais regiões Moçambicanas teriam sido atingidas pela guerrilha.
20/02/2011
Quem são os heróis? (Repetição)
É uma pergunta, que vem ao espírito de quem acaba de ler o relatório de Fanuel Guidion MAHLUZA, que o «Canal de Moçambique» publicou há dias.
CANAL DE MOÇAMBIQUE - 16.03.2006
Leia tudo em:
Download contribuies_para_a_histria_de_moambique_quem_so_herois.doc
Mahluza apressou-se a escrever (em inglês) e enviar para «Amnesty International» (Amnistia Internacional) este relatório, pouco depois de chegar a Nairobi, em proveniência do campo de "reeducação" de «Ruarua», planalto de Mueda de onde se tinha evadido, a 27 de Agosto de 1977, com Artur Janeiro da Fonseca, Atanásio Filipe Muhate e Lumbela.
Cansado pela viagem e traumatizado pelas privações e a perda de dois dos companheiros de evasão, a principal preocupação de Mahluza era a sorte dos numerosos combatentes da liberdade, estudantes e intelectuais, que a FRELIMO tinha internado nos seus campos de concentração, oficialmente designados por campos de "reeducação". Como se sabe, também o governo de Hitler, na Alemanha, tinha designado os seus campos de concentração e exterminação por campos de "trabalho": Die Arbeií machlfrei! (O trabalho liberta!), era a divisa destes campos.
Veja a Sétima Parte NA MÃO DOS ALGOZES de URIA SIMANGO - UM HOMEM UMA CAUSA em:
http://www.macua.org/livros/NASMAOSDOSALGOZES.htm
Conheça em:
http://fotw.fivestarflags.com/mz-polit.html
Recorde em:
http://macua.blogs.com/moambique_para_todos/2006/03/contribuies_par.html
31/01/2011
“A mentira não faz História de uma Nação” Fanuel Guidion Mahluza, o homem que deu o nome “FRELIMO” ao movimento de libertação de Moçambique
Por Salomão Moyana
O cidadão que aqui vou entrevistar é natural de Lhovukazi, distrito de Xai-Xai, província de Gaza. Tem 68 anos de idade, dos quais 40 foram passados fora de Moçambique, onde pertenceu a diversos movimentos de libertação nacional. Foi um dos fundadores e vice-presidente da UDENAMO, em 1960 em Bulawayo, foi a pessoa que sugeriu o nome “FRELIMO” ao movimento resultante da união entre UDENAMO e MANU, em 1962 em Acra, e foi adjunto de Marcelino dos Santos na chefia das Relações Exteriores da Frelimo, em Dar-es-Salaam, em Junho de 1962, foi secretário da Defesa do COREMO e foi secretário de Relações Exteriores da Renamo, já nos anos 80. Esteve em várias cadeias, incluindo na de Moçambique “D”, em Cabo Delgado, onde diversos compatriotas nossos foram executados nos anos 70 e 80.
Fanuel Malhuza continua a desafiar as teses da Frelimo sobre a História:
Por Salomão Moyana
“Urias Simango nunca foi reaccionário. Foi apenas vítima da demagogia tsonga.Quer dizer, os estatutos da Frente de Libertação de Moçambique diziam que, em caso de morte do presidente, o vice-presidente, automaticamente, ascendia à presidência. Mas, quando morreu Mondlane, três tsongas vão a casa de Simango pedir-lhe para não tomar o poder, alegando que era preciso mais tempo para se organizar uma tomada mais pomposa do poder. Simango comete o grande erro de aceitar a proposta dessas pessoas, não tomando o poder, o que deu campo para todas as manobras que culminaram com a sua expulsão da Frelimo, com nomes feios de reaccionário, traidor, etc.”.
É o nosso entrevistado da semana passada, Fanuel Guidion Mahluza, que nos diz estas coisas, as quais não são muito diferentes das que já ouvimos doutros moçambicanos, igualmente, participantes da libertação nacional. Ele fala o resto.
Uma vez o senhor disse-me que Urias Simango tinha sido vítima de demagogia do tsonga. Pode explicar isso melhor para o público conhecer a sua versão?
13/12/2010
Autor tanzaniano analisa papel desempenhado pelo regime de Nyerere
O Reverendo Uria Simango, uma das proeminentes figuras políticas presentes nos famigerados julgamentos de Nachingwea, foi raptado no Malawi por agentes da Frelimo que “trabalhavam em estreita colaboração com a polícia política tanzaniana, Usalama wa Taifa (UwT)”
Os julgamentos de Nachingwea surgiram na esteira de três outros, organizados pelo regime de Nyerere. O julgamento em massa de Nachingwea foi o maior de todos e que à semelhança dos anteriores teve como principal objectivo “humilhar publicamente os prisioneiros antes da sua execução; talvez como aviso dirigido aos que se opunham à política da Frelimo”, refere ainda Ludovick S. Mwijage, autor do livro “Julius K Nyerere – Servant of God or Untarnished Tyrant”.
O papel desempenhado pelo regime de Julius Nyerere naquilo que já é conhecido em instâncias de Direito internacional como o “Processo de Nachingwea” é um dos temas tratados num livro acabado de publicar com o título, “Julius K Nyerere – Servant of God or Untarnished Tyrant”. O autor, Ludovick S. Mwijage, faz um historial dos chamados julgamentos de Nachingwea, organizados pela Frelimo em estreita colaboração com as autoridades tanzanianas no antigo centro de preparação político-militar da Frente de Libertação de Moçambique, situado em território tanzaniano. Os julgamentos de Nachingwea surgiram na esteira de três outros, organizados pelo regime de Nyerere. O julgamento em massa de Nachingwea foi o maior de todos e que à semelhança dos anteriores teve como principal objectivo “humilhar publicamente os prisioneiros antes da sua execução; talvez como aviso dirigido aos que se opunham à política da Frelimo”, refere ainda Ludovick S. Mwijage, autor do livro “Julius K Nyerere – Servant of God or Untarnished Tyrant”.
02/11/2010
Que ligará M'telela a Wiriamu? (Repetição)
Mão amiga fez-me chegar o livro de Barnabé Lucas Ncomo "URIA SIMANGO Um homem, uma causa".
Aproveito para transcrever o capítulo abaixo:
Do Pelotão Maldito ao efeito boomerang
Manuel Mapfavisse era um dos mais temidos carrascos de M'telela desde a abertura do Centro em 1975. Estava à testa de um pelotão de guardas e, por ser mais instruído literariamente do que a maioria de outros guardas, servia de correio entre M'telela e Lichinga.
Natural de Ampara, no distrito de Búzi em Sofala, Mapfavisse havia recebido a alcunha de "o Bazuca", dada a sua estatura latagónica. Tal como o comandante e a grande parte dos que integravam a Companhia de 150 homens que guarnecia o Centro, Mapfavisse vivia com a família nas cercanias do mesmo.
A páginas tantas, a situação dos presos começou a preocupar um certo grupo de guardas. Condoía-lhes a situação de alguns presos doentes e particularmente da Dra. Joana Simeão. Como esta era ainda muito jovem, chegado o período menstrual, viam-na na sua cela a contorcer-se de cólicas sem poderem ajudá-la. Aos trapos que lhe atiravam como pensos para conter o fluxo sanguíneo, cabia a eles voltar a recebê-los através da portinhola da cela e desembaraçarem-se dos mesmos.
12/09/2010
Simango: de reaccionário a herói (Repetição)
19 de Maio de 2004
Para as gerações mais jovens, educadas num ambiente em que com devoção se cantava: "Simango,reaccionário..." a obra de Barnabé Lucas Ncomo é verdadeiramente o resgate de uma figura histórica deste país. Com efeito, "Uria Simango: Um homem, uma causa" é, uma obra: que estava a faltar ao imaginário político moçambicano. Aliás, quando colocado face desta imagem tão sinuosa quanto emblemática, uma das questões que se erguem é de saber se estamos perante um herói ou perante um mercenário.
Relegado para a condição de reaccionário, Simango, hoje resgatado por Barnabé Lucas Ncomo, começou a despertar interesse enquanto tal através de um questionamento suscitado pela interrupção do som de
uma emissão televisiva alusiva aos vinte anos da morte de Eduardo Mondlane. Ia Janeth Mondlane a dizer que, antes da sua morte, todo o povo moçambicano saberia quem matou Mondlane descartando a teoria que liga o pastor Simango ao assassinato do primeiro presidente da Frelimo, quando houve corte do som por um período suficientemente longo e não seguido de alguma explicação como sempre acontecia.
15/07/2010
Destacados membros da Frelimo contradizem-se em público(2)
Veja http://macua.blogs.com/moambique_para_todos/2010/07/destacados-membros-da-frelimo-contradizem-se-em-p%C3%BAblico.html
(Click para ampliar)
10/06/2010
Devolução de ossadas de Uria Simango e outros às famílias é assunto do Governo
-Sérgio Vieira, quando instando a responder pelo Canalmoz e Canal de Moçambique sobre o “dossier Nhatchingweya”, dos presos políticos fuzilados pela Frelimo, à margem do lançamento, na Beira, do seu livro “Participei, por isso testemunho”
O coronel na reserva e presidente do Conselho de Administração do Gabinete do Plano do Zambeze (GPZ) Sérgio Vieria lançou na sexta-feira transacta, na Beira, num evento bastante concorrido pelo público, o seu livro “Participei, por isso testemunho” (Editora Ndjira). Sérgio Vieira foi um homem de mão de Samora Machel, o primeiro presidente de Moçambique, tendo desempenhado várias funções como ministro da segurança, governador do Banco de Moçambique, governador de Niassa. Entrevistá-mo-lo a respeito deste livro, e não só, para entendermos das razões que o levaram a preterir, neste livro, da abordagem do “dossier Nhatchingweya”. Segundo a ordem de acção número 5/80, com que a Frelimo fecha o referido dossier, ainda hoje mantido no segredo dos deuses, Vieira encabeçou o comité que preparou o dossier declarando supostamente a completa história criminal daqueles indivíduos, bem como suas confissões aos elementos da DD/SI que os interrogaram, declarações de testemunhas, autos do processo e sentença.
10/06/2010 in História, Letras e artes - Cultura e Ciência, M'Telela - Niassa e outros, Uria Simango | Permalink | Comments (10)
26/05/2010
“Processo de Nachingwea” – PGR à margem de um crime político e demitida das suas funções
Editorial
A notícia de que os familiares dos cidadãos moçambicanos desaparecidos se preparam para criar uma associação (Leia nesta edição) destinada a criar as bases para um processo judicial a ser movido contra o Estado Moçambicano serve para confirmar a precariedade do nosso sistema de justiça. Há mais de 35 anos, tinha lugar num campo de treino militar da Frelimo em território tanzaniano uma espécie de “julgamento” envolvendo cidadãos moçambicanos detidos pela Frelimo à revelia dos tribunais, uns, raptados no estrangeiro, outros, e que depois foram “sentenciados” à “reeducação”, pena não prevista em nenhum Código Penal em vigor em Moçambique. A Frelimo desempenhou em simultâneo, no âmbito desse processo, o papel de acusador e de “juiz”. Os acusados não tiverem direito a defesa legalmente constituída. Este simulacro de justiça serviu para ilustrar o tipo e qualidade de justiça que estava reservada para os cidadãos moçambicanos na nação soberana prestes a nascer.
O fim trágico a que as vítimas dos julgamentos stalinistas de Nachingwea ficaram votadas, a ponto de hoje os familiares dessas mesmas vitimas sentirem-se na contingência de terem de formar uma associação para proteger e salvaguardar os seus legítimos interesses, era assunto que, em primeira instância, deveria ser dirimido por instituições de direito moçambicanas, mormente a Procuradoria-Geral da República (PGR), mas como sempre a tendência partidária tem prevalecido e esta instituição pura e simplesmente não age.
26/05/2010 in História, Justiça - Polícia - Tribunais, Política - Partidos, Uria Simango | Permalink | Comments (12)
30/04/2010
“Uria Simango – Um homem, Uma Causa”voltou às livrarias de Moçambique
3.ª edição de livro polémico de Barnabé Ncomo
O polémico livro “Uria Simango-Um homem, Uma causa” já se encontra novamente nas livrarias em Moçambique, desta feita, na sua terceira edição. Tornado público pela primeira vez na segunda metade de 2004, o livro acabaria por levantar polémicos debates com tendências que piscam para um revisionismo da história oficial. Essa tendência tende a encontrar espaço pela sustentação e argumentação com que obras como as de Ncomo e João Cabrita (“Mozambique: The Tortuous Road to Democracy”, Palgrave,2000) se apresentam.
Contactado pelo Canalmoz, Barnabé Lucas Ncomo afirma que a terceira edição agora a venda apresenta-se muito melhorada comparativamente à primeira e segunda edições.
De facto, embora o conteúdo em tudo se pareça com as edições passadas, a terceira edição do Uria Simango-Um homem, uma Causa, tem nele incorporados novos dados para além de muitas melhorias em termos de redacção. Por exemplo, embora nos bastidores da opinião pública se afirme que houve violação dos Estatutos do movimento logo depois da morte de Mondlane, em nenhum momento os historiadores em Moçambique e no mundo apresentaram o instrumento que sustentasse tal facto.
14/02/2010
11/02/2010
SITUAÇÃO SOMBRIA NA FRELIMO, por Uria. T. Simango (1969)
A Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) foi formada em Junho de 1962 como resultado da fusão de três organizações políticas: UDENAMO, MANU e UNAMI. As pessoas que fi-nalmente trouxeram esta unidade, e que há quatro anos desertaram, são os senhores Mateus Mmole, presidente da MANU, Adelino Gwambe, presidente da UDENAMO e muitos outros que na época estavam em Dar-Es-Salam.
A unificação dessas organizações foi o mais importante acon-tecimento realizado pelo povo na luta contra o colonialismo portu-guês. Este acontecimento encontrou uma forte oposição de elementos individualistas que entendiam que este processo podia diminuir-lhes a possibilidade de alcançar posições importantes na política. Este processo, que visava juntar, fortificar e dar uma impressionante força a luta contra o colonialismo e o imperialismo, não agradou aos inimigos da liberdade e da independência. Contudo, apesar dos esforços empreendidos para evitar a formação da Frente de Libertação, o desejo do povo moçambicano realizou-se.
O objectivo a atingir - a independência de Moçambique do domínio colonial - era o princípio guia para aceitar membros na Frente. Isto quer dizer que todo o moçambicano, independentemente do seu credo, sexo ou ideais políticos, podia ser membro se aceitasse as regras e programa da Frente. Na opinião dos fundadores, a Frente visava conduzir as massas populares moçambicanas de raça negra que sofriam sob o jugo colonial português, na luta pela liberdade e independência. A unidade e luta, tinham como base o moçambicano e nacionalista africano. Esta orientação que guiou os fundadores da Frente de Libertação, ajudou a reunir todos os membros das organizações anteriores e outros na consolidação da Frente e da luta.
29/11/2009
09/12/2007
Uria Simango e outros, expulsos ou dissidentes da FRELIMO, fazem ou não parte da História de Moçambique? Acha que deve ser criada uma comissão independente que reponha a "verdade histórica"?
Sim e considero urgente | 75,09% (199 votos) | |||||
Sim, embora não considere urgente | 18,49% (49 votos) | |||||
Não, pois acredito na "verdade da FRELIMO" | 6,42% (17 votos) |
Foram estas as respostas ao último inquérito lançado por MOÇAMBIQUE PARA TODOS. Os responsáveis que tirem as suas conclusões, especialmente os Historiadores, especialmente os Historiadores moçambicanos.
14/05/2007
OS RAPTOS DE SIMANGO E GWENJERE - AS MORTES DE SIMANGO, GWENJERE E OUTROS
Leia em:
Download raptossimangogwenjere_savana1995.pdf
14/05/2007 in 25 de Abril de 1974, História, M'Telela - Niassa e outros, Uria Simango | Permalink | Comments (0)
09/04/2007
A dita Confissão de Uria Simango
Achega informativa (e não só opinião) pois é fruto de pesquisa:
“Uma mentira repetida muitas vezes passa a ser verdade”. Atribuem esta táctica, a (Paul) Joseph Goebbels (29 Outubro 1897 – 1 Maio 1945). Goebbels foi ideólogo, chefe da Propaganda Nazi e fiel camarada de Adolf Hitler até ao suicídio.
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CD-Rom Uria Timóteo Simango “confessa” em 1975 em Nachingweia...
(meias mentiras fazem meias verdades) …
http://macua.blogs.com/moambique_para_todos/files/assassinato.swf
Achega informativa (e não opinião) pois é fruto de pesquisa:
........................
Não é consolo que os norte-americanos também forjem ou não evidências a seus prisioneiros de guerra. Mas este CD-Rom é típico da escola estalinista de contra-propaganda...ou tentativa de limpeza da memória histórica. A China de Mao -Tsé -Tung (de que Samora Machel “bebeu” muita coisa) adoptaria durante a revolução cultural de 1968 (além do culto da personalidade) adaptaria o estilo de auto-crítica do Taoísmo sofista tradicional (negação de si mesmo e aceitação debaixo de coacção de tudo que lhe seja exigido que diga... anulação de seu Eu...alguns chamam de lavagem cerebral mas é mais complexo pois envolve, tortura física e psicológica, chantagem afectiva...saudade dos filhos, mulher etc.). O ser humano fica totalmente um farrapo...
Sobre o assassinato de Mondlane:
Leia em:
Download cdrom_uria_simango.doc
Recorde e veja os comentários em:
http://macua.blogs.com/moambique_para_todos/2006/08/a_morte_de_edua.html
09/04/2007 in História, João Craveirinha - Diversos, Morte Eduardo Mondlane - 03.02.1969, Uria Simango | Permalink | Comments (0)
16/08/2006
A morte de Eduardo Mondlane segundo Urias Simango
Veja e ouça em: Download assassinato.swf
Excerto retirado do CD-ROM comemorativo dos 25 anos de Independência 25 de Junho -Moçambique Vitória de um povo
Narrador - Leite de Vasconcelos Edição Creatix-Promédia
NOTA: Tenha o som ligado. Demora um pouco. Aguarde s.f.f.
16/08/2006 in História, Morte Eduardo Mondlane - 03.02.1969, Uria Simango | Permalink | Comments (7)
09/05/2006
Uria SIMANGO, a INDEPENDÊNCIA E A TEORIA DA CONSPIRAÇÃO!
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Reverendo URIA SIMANGO
segundo texto apócrifo rehausser de Zoao Kraveirinya publicado em Moçambique a 19 Outubro 2004
na era do Tsuname
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por Yahia ben Yokhanon
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Uria SIMANGO, a INDEPENDÊNCIA E A TEORIA DA CONSPIRAÇÃO!
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” OS QUE ESQUECEM O PASSADO ESTÃO CONDENADOS A REPETÍ-LO” …escreveu George Santayana (1863 - 1952), filósofo espanhol / norte-americano...
Nas vésperas da Independência, de 11 a 12 de Maio 1975, Samora Machel Presidente da FRELIMO, recebia os Presidentes da Tanzânia Julius K. Nyerere e Keneth Kaunda da Zâmbia, em Nachingweia (Nachingu-eia); Quartel-general da Frente de Libertação na Tanzânia. Desse encontro ficariam registados para a História os discursos dos quais transcrevemos alguns excertos proferidos pelo Presidente do Movimento de Libertação moçambicano, Samora Moisés Machel, no dia 12 de Maio de 1975:
- ...”Antes de vocês falarem (camaradas Kaunda e Nyerere), gostava de vos mostrar um batalhão de agentes (...), quadros que se transformaram em agentes do inimigo”...
Leia em:
Download uria_simango_crnica_exotricajc.doc
PÚNGUÈ - 09.05.2006
09/05/2006 in História, João Craveirinha - Diversos, Portugal, Uria Simango | Permalink | Comments (0)
Frelimo mandou fuzilar Joana Semião e outros
Leia em: Download frelimo_mandou_fuzilar_joana_semio_e_outros.doc
09/05/2006 in História, M'Telela - Niassa e outros, Política - Partidos, Portugal, Uria Simango | Permalink | Comments (0)
14/03/2006
Contribuições para a história de Moçambique
A carta que mais abaixo ides ler é prova mais que provada que o conluíu MFA (Melo Antunes/Mário Soares/Almeida Santos) com a FRELIMO já há muito existia.
Sempre pelos descolonizadores portugueses foi referida apenas a existência de um único movimento armado em Moçambique quando existiam dois: a FRELIMO e a COREMO.
Eis agora a explicação de como a COREMO foi silenciada, com a ajuda da Zambia e da Tanzânia.
Já faleceu o autor da carta e está sepultado em Moçambique.
Quanto ao destino de muitos dos nomes referidos, sabemos o que lhes aconteceu no campo de Mtelela e em outros locais: FORAM ASSASSINADOS SEM JULGAMENTO.
Leia a carta publicada hoje no CANAL DE MOÇAMBIQUE em:
Download contribuies_para_a_histria_de_moambique_mahluza.doc
NOTA:
A foto da esquerda é de Mahluza na Gorongoza e a da direita de Irene Buque
Fernando Gil
MACUA DE MOÇAMBIQUE
28/02/2006
Contribuições para a história de Moçambique por Uria Simango (Novembro, 1974)(2)
A quase totalidade dos portugueses e moçambicanos julga que o único movimento armado em Moçambique era a Frelimo, o que não é verdade, pois a COREMO, especialmente em Tete estava activa há já bastante tempo. Não fossem os conluíos com a Frelimo e com a Zambia,também com este movimento armado se teria que dialogar em pé de igualdade com a Frelimo. Em Angola tiveram os descolonizadores que aceitar 3 movimentos. Não fora a ajuda da Zâmbia e assim teria sido em Moçambique com 2 movimentos armados.
Muito me admira também que todos os historiadores portugueses, para já não falar dos moçambicanos, tenham escamoteado esta verdade. Custa-me dizê-lo: estarão todos vendidos?
Fernando Gil
MACUA DE MOÇAMBIQUE
Contribuições para a história de Moçambique por Uria Simango (Novembro, 1974)
Situação actual em Moçambique De modo a informar todos aqueles que se interessam pelos acontecimentos em Moçambique, decidi escrever estas breves linhas na esperança de que elas possam vir dar uma visão geral da situação. O golpe de estado de 25 de Abril em Portugal, foi seguido de promessas dadas pela junta militar dirigida pelo General Spínola de que às colónias iria ser conferida a liberdade de escolherem o seu futuro. Deste modo, a independência seria concedida após eleições gerais, nos princípios de 1975, em que todos os partidos políticos poderiam participar. Com efeito, foi concedida uma amnistia a todos os políticos e aos movimentos de libertação, autorizando-se o seu regresso aos seus respectivos países de forma a terem a oportunidade de expressar os seus ideais antes das eleições.
Leia tudo:
Download contribuies_para_a_histria_de_moambique_por_uria_simango.doc
CANAL DE MOÇAMBIQUE - 28.02.2006
01/11/2005
Nkomo: desculpa-me a chateação!
ADELINO BUQUE
“Se Buque procurasse informar-se sobre as condições então exigidas para a travessia na ponte de Púnguè talvez não passasse pelo espanto que passou e não nos chateasse, hoje.”, (Nkomo).
Francamente. Aceite o meu pedido de desculpas.
Não era minha intenção chatear o senhor e muito menos as pessoas a que se refere no seu artigo. Na verdade, escrevi pensando que fosse um diálogo entre Nkomo e eu. Nem sabia da existência de um grupo que se ocupava da investigação de seja o que fosse quando, a dado passo do seu artigo, diz e cito: “O artigo referido por Buque
surge apenas em resposta à nossa consciência de cidadania, no âmbito de um exercício democrático reinante no nosso país”.
Mas vamos ao que interessa.
Em resposta a tal carta, que chateou o grupo do senhor Nkomo, aparece um dado interessante, que revela a ingenuidade militar do Matsanga. Na verdade, como é que um comandante que se preze age como agiu no fatídico 17 de Outubro? Segundo conta o grupo, “durante o tiroteio de 17 de Outubro de 1979 na Gorongosa, apercebendo-se da presença de um tanque militar governamental que ia disparando a torto e a direito, escudando-se os atacantes no interior dele, Matsangaíce entendeu pegar numa granada e correr com ela para introduzí-la na escotilha daquela máquina, de modo a imobilizá-la. Exactamente no momento em que ia atirar o engenho para o interior do tanque, uma bala disparada por um soldado governamental atingiu-o mortalmente”.
Acredite, caro leitor, eu não sou militar nem entendo lá muito dessa técnica, mas acredito que um homem que goza da sanidade mental não vai se expor tal como se relata que o fez o comandante André Matsangaíce, para quem começava a simpatizar com a estória fica com a impressão de que o seu líder não passava de um aventureiro,
nada mais.
Só um pequeno detalhe: não existe um “rebanho” de buques e julgo que por essa via está claro também que não há imagens a serem cuidadas, aqui e neste artigo está o meu exclusivo exercício de pensamento, não é, por conseguinte, um pensamento do grupo e nem sei se o partido a que pertenço subscreve isto, por uma razão muito simples: nunca ninguém desse partido me disse particularmente ou em público que tinha feito bem em defender este ou aquele posicionamento.
É interessante como busca o termo nó-górdio para sustentar as operações militares no período de guerra de desestabilização, há, de facto, referências inegáveis da nossa história de luta de libertação mesmo olhando de um ângulo difícil, que bom!
Eu disse e reitero a minha admiração pela forma frontal como Nkomo aborda as questões que para uns são autênticos tabus. Este debate, embora tenha chateado o grupo de Nkomo, só é possível porque Nkomo deu a cara e disse o que disse, muitos de nós nunca tínhamos visto a imagem do Matsanga, mas graças às suas publicações passamos a conhecer o homem que é herói para uns e bandido para outros, quando em 2004 publicou o livro sobre o Reverendo Uria Simango de entre o público que lotava o Franco estava lá este Buque exactamente porque gosto das suas abordagens sem pretender assimilar os seus ideais sócio-políticos como é óbvio, será possível para si, caro Nkomo, esta relação sem ferir a ninguém!
Pela forma como apresenta o seu pensamento me parece o único com direitos constitucionais não admitindo que eu pense diferente sem que isso signifique inimizade.
Se aceita o meu conselho, continue a publicar o que souber sobre a estória da nossa sociedade, não se importando em agradar a este ou àquele, quanto questionar o que escreveres isso vai acontecer sempre e não deve ser motivo de se antagonizar com os leitores mesmo que esse leitor se chame Adelino Buque. Valeu, Nkomo!
CORREIO DA MANHÃ (MAPUTO) – 01.11.2005
Veja:
16/07/2005
Uria Simango e companhia imortalizados na Beira
29/03/2005
URIA SIMANGO - Um homem, uma causa (3/3)
João Craveirinha
email: joaocraveirinha@yahoo.com.br
CONCLUSÃO – Duas Fontes não paradigmáticas
Em relação ao livro de Barnabé Ncomo e sem pretender fazermos um juízo que possa ser mal interpretado deixaríamos no entanto reparos sobre duas das fontes apesar do merecido mérito de “relatos” da época, pecando no entanto, pela intenção óbvia subjacente: Tratam-se das referências à participação do intitulado grupo Português dos DEMOCRATAS de Moçambique, citado na página 209 do Livro Moçambique – Sete de Setembro – Memórias da Revolução, escrito em Dezembro de 1976, no Rio de Janeiro – Brasil, por Clotilde Mesquitela. A autora, esposa do deputado Gonçalo Mesquitela da A.N. (de Oliveira Salazar) é Mãe dos irmãos Mesquitelas, fundadores em 1974, de uma organização para-militar portuguesa, ultra nacionalista e colonial –, Dragões da Morte. Segundo seu Boletim Informativo nº 1 esta “organização clandestina” no preâmbulo, 1º, visava -…”pôr termo às conversações com a FRELIMO, nem que tenhamos que começar a fazer TERROSISMO URBANO, para fazer calar os inconscientes que dão vivas à FRELIMO.”…Este grupo “dizia” ter …”20. 500 homens armados de todas as raças e credos espalhados por todo o Moçambique”…in Moçambique 7 de Setembro, página 246, Mesquitela, Clotilde.
O referido livro, faz uma referência incorrecta (entre outras), mencionando na página 104, linha 5 e 6, imputando ao cronista desta coluna, actos nunca praticados pelo mesmo. Refere-se a eventos pouco antes da ocupação da RCM – Rádio Clube de Moçambique que passamos a citar: - …”Recebemos a indicação de que Stélio e Zito Craveirinha e Isaías Tembe, agitadores da Frelimo, andam a distribuir G-3 no «caniço». E, em consequência disso, já tinham dado entrada na morgue do Hospital Miguel Bombarda três corpos de negros. Ao obtermos a confirmação do Hospital, soubemos mais, através de um enfermeiro que, perfeitamente desorientado, nos disse: «Entraram três mortos, mas dois não passavam de brancos com a cabeça rapada e pintados de preto». Identificados um pouco depois, viemos a saber serem de dois universitários que se tinham infiltrado, para tentar provocações, na intenção de levantar a zona do «caniço» contra a população branca, e que os próprios pretos tinham liquidado!”…e mais adiante: …”As buzinas não paravam, o hino era cantado com a mesma fé e desejo de um Moçambique Livre e Português”… Na altura destes eventos o cronista desta coluna aguardava “julgamento” em Tanzânia na FRELIMO. E só teria havido uma G-3 nas mãos do Isaías (dos pesos e halteres). Nem a sabia manejá-la devidamente. Tinha “capturado” a um elemento anti – Frelimo madeirense de um grupo vindo da África do SUL (?!), que se havia introduzido na Mafalala – “ 1ª zona libertada” de LM. Mas isso é outro assunto. Era este cenário que Uria Simango iria encontrar em Lourenço Marques e ingenuamente acreditaria poder fazer “manobras de pressão” à FRELIMO numa partilha de Poder com elementos portugueses anti – Independência. À partida tudo se conjugaria para um fracasso político do COREMO a que aderira. Os portugueses coloniais não estavam interessados em o apoiar rumo a uma Independência mas utilizando-o a um estilo UDI – Independência unilateral à Ian Smith da Rodésia (na altura), mas vinculados a Portugal. Uria Simango ao se aperceber do beco sem saída em que se envolvera recua para Malauí(Malawi), onde o inguaze – Presidente Hasting Kamuzu Banda sela seu destino entregando-o à Frelimo.
Outro “pequeno” reparo ao livro de Ncomo é o da incorrecção da importância havida no papel do dito grupo de DEMOCRATAS Portugueses (MDM), nas conversações com o MFA versus FRELIMO, conducentes à Independência. In página 288 nota 431em rodapé. O processo inicial directo de contactos com o MFA e a FRELIMO, foi efectuado pelo grupo dos antigos presos políticos da FRELIMO tendo por porta-voz o Poeta José Craveirinha. Não é somente por ser um Poeta de renome que se encontra no Panteão dos Heróis mas este detalhe terá pesado muito. O Marechal Costa Gomes e o MFA não tinham autoridade política sobre José Craveirinha e seus camaradas da FRELIMO, antigos companheiros de prisão.
À posterior surgiria o “Movimento dos Democratas de Moçambique”, mas de Portugueses, a que Mário da Graça Fernandes fez parte. Aliás, Mário da Graça Machungo (Mahlungo?). Um dia contamos o resto.
Ao que nos levou o livro – URIA SIMANGO – Um homem, uma causa. Em boa hora, graças ao empenho e pesquisa de Barnabé Ncomo. Só quem trabalha se expõe. Que estas linhas sejam um pequeno contributo e estímulo para mais trabalhos seus neste campo difícil e “perigoso” da investigação da História recente, numa busca incessante de aperfeiçoamento do rigor da verdade. Um muito obrigado pelo privilégio de termos relido este livro polémico, mas necessário aos estudiosos e ao cidadão Moçambicano “cego” e carente de suas Raízes e Identidade. (in Jornal O AUTARCA da Beira) – FIM. 29.03.2005
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28/03/2005
URIA SIMANGO - Um homem, uma causa (2/3)
Dialogando
Por: João Craveirinha
E-mail: joaocraveirinha@yahoo.com.br
CRÍTICA LITERÁRIA ● CRÍTICA LITERÁRIA
EXÓRDIO(2)
Foi – nos possível “consultar”, o livro de Barnabé Ncomo, citado em epígrafe, 1ª edição, graças ao empréstimo do mecunha “malantro”, Fernando Gil do “saite” Macua. Livro – oferta, autografado pelo autor B. Ncomo, dedicado a F. Gil, português natural de Nampula (ilha).
Grosso modo e infelizmente, o livro, não tem um estilo definido de narrativa literária. De amiúde, envereda por um tipo de escrita Histórica mais credível e contraditoriamente noutros casos, sem enquadramento sintagmático, cita fontes duvidosas por partirem de opositores à Independência dos “Pretos” – espinha atravessada na garganta de muitos pró-coloniais, saudosistas do Império perdido. Presume-se que a intenção de B. Ncomo não seja essa. Talvez, a falta de distanciamento “étnico-cultural” e de perspectiva Histórica, lhe tenham impedido separar o milho do capim. Todavia, esse aspecto não lhe retira o mérito de pioneirismo, nesta senda pelo levantar do “véu”, de um determinado período da nossa História “apócrifa” ou maldita. As fontes devem se cruzar para avaliação e contextualidade.
APROFUNDAMENTO : Etno-História Moçambicana
A falta do ensino da etno – História nas Universidades Moçambicanas é uma falha gritante que pode criar confusão na actualidade em relação ao inter relacionamento e consanguinidade étnica no passado. O próprio Reverendo URIA SIMANGO tem avoengas (avós) Rongas iMpfumos vindas do SUL. A Mãe era uma iMpfumo por ser TIVANE – em linhagem directa NHONDZOMA do Rei inLharuti iMpfumo (inHLARUTI). “Regressado” da Suazilândia no século XVII / XVIII (1600 / 1700) da região de Psatine (inHlati inkulo), fixa-se com seus filhos – iMpfumo “iMpfumo”, Polana, Massinga e TIVANE (uá in’Tiwane). Após a morte do pai, guerras inter – clânicas provocariam uma diáspora entre os príncipes – irmãos. iMpfumo sai vencedor e fixa-se na Matola (dos iMpfumos maTsolo mais tarde). Uá iMpfumo, governaria toda a região da actual caMpfumo / cidade Maputo, limitando com a caTEMBE, moAMBA, maHOTA e maRRACUENE. Massinga migra com seu clã para Inhambane. Polana fixa-se exactamente onde está o Hotel com o seu nome, numa área da Escola Comercial, Ponta Vermelha – Sommerschield / campo de Golfe à Costa do Sol. TIVANE uáMpfumo migra para Gaza. Muitos grupos da região a partir de 1820 seriam integrados no exército inGuni (dos grandes), com a “invasão” de Sochangana – descendente dos Tembes. Entra por maPutso (o verdadeiro), vindo de Pongola (Zulolândia). Seus antepassados teriam saído em 1500, da Ponta Malongano – êMalanguene (caTembe), se fixando na cordilheira dos Libombos. Os TIVANES assim como muitos outros seriam absorvidos e integrados nos regimentos inGunis, do futuro Imperador de Gaza (Sochangana). São levados para Manica e Sofala, em particular entre Mussapa ao Buzi. Não é por acaso que os chefes ou tinDuna de maior confiança de Gungunhana eram os velhos muTAZABANO e SIMANGO já inDaos. Uma das suas tarefas, era a de controlar maGuiguana de maCôssine, antigo submetido – cozinheiro e criado de seu pai umuZila. Os primeiros “maChangana” foram os vaNdao submetidos a Sochangana (Soh – CHANGANA). Muitos anos depois (c. Abril 1889), Gungunhana, o neto, retira-se de Mossurize (e de Udengo onde está o túmulo do Pai). INVADE O SUL DO SAVE com cerca de 100 mil vaNdao, famílias, guerreiros do tempo do pai e gado, com apoio dos portugueses. Massacrariam pelo caminho os pacíficos agricultores e artistas vaLengue (chopes), rumo ao “khokholo” de Mandjacaze (Mand – lha; inKazi), derrotando Binguane Mondlane (Mond-lhane). A origem do nome inDao teria a ver segundo a tradição oral, com a chegada dos novos conquistadores inGunis fugidos de Tchaca Zulo, em 1818 / 20. Um deles, Zuan-guen-daba, ao chegar a uma povoação Shona em Manica, teria dito espetando uma lança no chão : …”iNDAO la mina”…é minha terra…outra tradição diz que iNxaba – inQaba, também fugido de Tchaca, recebido pelas mulheres de uma povoação Shona, de joelhos, batendo palmas, o teriam saudado: …”iNDAO-ú-ê Baba”…seja bem-vindo Pai…
As invasões inGunis na primeira vintena do século XIX, reforçariam o processo de mestiçagem inter étnica. Não nos esqueçamos que os Muchangas (muHLANGA), Mandjazes (Mandlaze), Djalalas(Dlalala), Djacamas (Dlakhama), inGonhamos (inGonyamo), Machavas, Guenhas, Ncomos, Mugabes e muitos outros, hoje assumindo-se como iNDAO / shona, terão a sua origem entre os inGunis ou Zulos a SUL. Um dos chefes de Tchaca Zulo era muHLANGA (Muchanga). Mais tarde se fixariam na região Shona, em Mussapa, nos princípios do século XIX. Em Harare encontram-se iMpfumos (hoje aculturados de shonas). A guerra da RENAMO contra a FRELIMO, finalizaria essa mestiçagem étnica, FORÇADA, em Moçambique. (Conclui na próxima Crónica).
CORREIO DA MANHÃ(Maputo) - 28.03.2005
28/03/2005 in História, João Craveirinha - Diversos, Letras e artes - Cultura e Ciência, Uria Simango | Permalink | Comments (1) | TrackBack (0)
23/03/2005
URIA SIMANGO - Um homem, uma causa (1/3)
Dialogando
Por: João Craveirinha
E-mail: joaocraveirinha@yahoo.com.br
AMICUS PLATO, SED MAGIS AMICA VERITAS
(Estimo Platão, mas estimo ainda mais a verdade)
Exórdio
Desde o lançamento do livro de Barnabé Lucas Ncomo em 2004 que o cronista desta coluna tem recebido inúmeras mensagens a pedirem um comentário. Insistência essa, por saberem da presença de João Craveirinha em alguns desses últimos momentos históricos de 1967 a 1976, com um intervalo de Junho 1972 a Julho 1974, em Zâmbia, Tanzânia e Quénia, referidos no livro.
É quebrado o silêncio. Mas, escrever sobre o livro é uma tarefa um pouco ingrata por conhecer de relance o Barnabé Ncomo que tem o mérito de ter colocado a “descoberto” um período conturbado da Luta de Libertação Moçambicana, ainda que numa embrulhada de elementos. No entanto, os meus temores se concretizaram –, do livro se ter transformado num panfleto contra a essência da própria Independência em si mesma, por todos aqueles que até hoje estão contra a legitimidade de ter sido conduzida pela FRELIMO (não a herdeira no Poder), mas a Frente de Libertação de Moçambique.
Conjecturar hoje que haveria outra via é extemporâneo.
O colonialismo Português era reticente a qualquer tipo de Independência e ainda hoje tem os seus herdeiros em Moçambique, em Portugal e na diáspora Portuguesa.
Evidentemente que um dia quando se escrever sobre a via político – militar do Comandante FILIPE MAGAIA, talvez aí, sim, o processo tivesse sido outro e mais regiões Moçambicanas teriam sido atingidas pela guerrilha.
Todos os processos políticos da História das Nações tem os seus lados obscuros e violentos. Lamentavelmente é assim. Caso o Reverendo Uria Timóteo Simango, tivesse obtido o Poder, a situação seria igual, com outra face somente. A moeda é sempre a mesma.
Mas sem dúvida, Uria Simango, foi um Nacionalista Africano que regou com o seu sangue de Mártir a Independência
Moçambicana e há que honrar esse legado sem o desvirtuar com os falsos defensores, de HOJE, da Liberdade do negro – africano. Nessa época, essas vozes pró Uria Simango de hoje, se o encontrassem na guerrilha anti-colonial (“o terrorista” Uria Simango), tê-lo-iam fuzilado depois de o torturar pois a convicção Nacionalista era muita em Uria Simango. Não cederia ao colonialismo Português. Uria Simango, protestante envangélico, provinha da escola do Nacionalismo Negro Rodesiano
(Zimbabué) e Sul-Africano do “BLACK MAJORITY RULE” (governo da maioria negra). Raízes profundas de Uria Simango no anti-apartheid da Rodésia e da África do Sul. Apartheid que os imigrantes Portugueses nesses Países e os de Moçambique, na sua maioria, pactuaram e apoiaram. O “moto” – slogan “ Juntos Venceremos” era o da santa aliança entre o Portugal colonial (Angola e Moçambique) e a Rodésia e África do Sul (bóer -africaner). As respectivas 3 bandeiras entrelaçadas (1957 / 1974), simbolicamente, e o projecto da Hidroeléctrica de “Cabora” Bassa, faziam parte dessa
aliança, para a Hegemonia Branca na África Austral. (Cahora).
Esses, hoje, são os que mais choram lágrimas de crocodilo com o livro de Barnabé Ncomo.
O cronista desta coluna, para escrever estas linhas, teve de ter o distanciamento necessário psicológico, não misturando os factos das suas vivências magoadas na própria FRELIMO, no cativeiro, na sua tortura psicológica e física, “ouvindo e sentindo solidariamente” também, a tortura em grupo dos outros. Em particular a do Rev. Uria Simango, próximo do cronista desta coluna, nesses momentos, em Nachingueia, 1975. Em 1976, o martírio continuaria em Mitelela ex- Nova Viseu.
(CONTINUA na próxima segunda-feira 28 e termina na terça-feira 29 Março)
O AUTARCA – 23.03.2005
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28/12/2004
Biografia de Simango terá nova edição
Moçambique.
O livro em causa, retrata de forma minuciosa o percurso de Uria Simango, o Reverendo protestante que foi vice- presidente da Frelimo, nos anos de Mondlane.
Uria Simango, pai do edil da cidade da Beira, Deviz Simango e do deputado pela Renamo-União Eleitoral Lutero Simango, foi fuzilado extra-judicialmente pelo regime monolítico dirigido por Samora Machel.
No seu livro (um best seller) Barnabé Lucas Ncomo, faz crer que o fuzilamento de Simango terá ocorrido algures em M’telela na Província nortenha do Niassa. Acredita-se que na mesma ocasião terão sido mortas outras figuras tidas como “reaccionárias” pela lógica do regime Machelista.
Uria Simango, que pelos estatutos da Frelimo deveria substituir Eduardo Mondlane, assassinado em 1969, foi membro do “triunvirato” formado imediatamente a seguir à morte do primeiro presidente da Frelimo. Outros membros do trio eram Marcelino dos Santos e Samora Machel. Simango desiludiu-se com os seus colegas de liderança e retirou-se do movimento não, sem antes, tornar pública uma carta intitulada “ Triste Situação no Seio da Frelimo”. A referida carta denunciava as atrocidades cometidas contra alguns militantes de primeira hora pela liderança de Samora Machel assessorada pela denominada “Gang de Argel”. Paradoxalmente, segundo Ncomo, alguns membros séniores do partido Frelimo, só à posteriori tiveram conhecimento do fuzilamento de Simango. Aquando do lançamento da primeira edição do livro em referência os antigos camaradas de armas de Simango primaram pela ausência.
CM – IMPARCIAL – 28.12.2004
28/12/2004 in História, Letras e artes - Cultura e Ciência, Uria Simango, África - SADC | Permalink | Comments (0) | TrackBack (0)
23/10/2004
URIA SIMANGO Um homem, uma causa
Da obra de Barnabé Lucas Ncomo, com o título acima, aqui transcrevo, com a devida vénia, a Sétima Parte - Nas mãos dos algozes.
Chamo a vossa atenção de que poderão ouvir Uria Simango em
http://macua.blogs.com/moambique_para_todos/2004/10/stronga_confiss.html
bem como outra parte da obra em
http://macua.blogs.com/moambique_para_todos/2004/10/que_ligar_mtele.html
Download NASMAOSDOSALGOZES.doc
23/10/2004 in História, Letras e artes - Cultura e Ciência, Uria Simango | Permalink | Comments (0) | TrackBack (0)
14/10/2004
A confissão de Uria Simango
Download Assassina
(Aguarde um pouco para abrir)
Excerto retirado do CD-ROM comemorativo dos 25 anos de Independência
25 de Junho -Moçambique
Vitória de um povo
Narrador - Leite de Vasconcelos
Edição Creatix-Promédia
Que ligará M'telela a Wiriamu?
Mão amiga fez-me chegar o livro de Barnabé Lucas Ncomo "URIA SIMANGO Um homem, uma causa".
Aproveito para transcrever o capítulo abaixo:
Do Pelotão Maldito ao efeito boomerang
Manuel Mapfavisse era um dos mais temidos carrascos de M'telela desde a abertura do Centro em 1975. Estava à testa de um pelotão de guardas e, por ser mais instruído literariamente do que a maioria de outros guardas, servia de correio entre M'telela e Lichinga.
Natural de Ampara, no distrito de Búzi em Sofala, Mapfavisse havia recebido a alcunha de "o Bazuca", dada a sua estatura latagónica. Tal como o comandante e a grande parte dos que integravam a Companhia de 150 homens que guarnecia o Centro, Mapfavisse vivia com a família nas cercanias do mesmo.
A páginas tantas, a situação dos presos começou a preocupar um certo grupo de guardas. Condoía-lhes a situação de alguns presos doentes e particularmente da Dra. Joana Simeão. Como esta era ainda muito jovem, chegado o período menstrual, viam-na na sua cela a contorcer-se de cólicas sem poderem ajudá-la. Aos trapos que lhe atiravam como pensos para conter o fluxo sanguíneo, cabia a eles voltar a recebê-los através da portinhola da cela e desembaraçarem-se dos mesmos.
Deste modo, até princípios de 1977, havia em M'telela dois tipos de guardas para mesmos prisioneiros: Um grupo de defensores acérrimos da causa do regime e um outro que aparentava ser defensor dos direitos dos prisioneiros. Bazuca alinhou com o segundo grupo constituído pelo pelotão que ele chefiava. Num dia, sem dar conta da dimensão do problema que ia criar, planeia com alguns do seu pelotão a fuga de três prisioneiros dentre os quais a Dra. Joana Simeão. Mas antes, Bazuca ter-se-á queixado junto do comandante dos transtornos que aqueles três presos davam. Falou da situação de Simeão e de homens que se prezavam como tal - como aqueles guardas - terem que suportar situações que contrariam a tradição, lidando com coisas íntimas que só às mulheres diziam respeito, apenas porque a infeliz prisioneira não podia sair da cela. Aparentemente, a lamentação foi ao encontro da sensibilidade de Mombola e este, tomando a peito a questão, garantiu que encontraria uma solução. Efectivamente, Mombola encaminhou a preocupação a Lichinga, usando como argumento a tradição africana e os "perigos" que advinham de um homem lidar com coisas femininas daquele tipo. A resposta de Lichinga não se fez esperar. Veio "curta e grossa": "Mandem a Joana e os outros dois cortar lenha!...'»9.
Na gíria da guerrilha da Frelimo, especialmente desde a abertura da base Moçambique D, próximo de Nangololo, na província de Cabo Delgado, "cortar lenha" significava execução sumária de prisioneiros.
Recebida a Ordem de Serviço, Mombola incumbiria a missão precisamente a Bazuca, a quem deu aval para escolher alguns do seu pelotão para executarem a missão. Bazuca escolheu então quatro guardas dentre os que com ele conspiravam e deu instruções claras, alertando-os como deviam agir para libertarem os três presos sem levantar suspeitas.
As instruções de Lichinga haviam chegado numa altura em que o Comandante preparava uma viagem para aquela cidade, exactamente na companhia de Bazuca. Assim, achou-se por bem executar a "missão Joana" antes da partida, de forma a poder relatar os resultados à chefia da Contra Inteligência Militar na capital provincial.
Ao entardecer, os quatro homens, sob ordens de Bazuca, que na circunstância se viu impossibilitado de se fazer à mata dado o avalanche de trabalho que tinha que executar antes de seguir para Lichinga, retiraram os presos e encaminharam-nos para o local da execução. Chegados aí, os quatro guardas deram instruções aos presos para que escapulissem. Mas antes, terão exigido que estes lhes assegurassem possuir capacidades para alcançarem "terra firme" , isto é, o vizinho Malawi. E mais, exigiram aos presos que nunca revelassem as circunstâncias da sua fuga. O receio de possíveis transtornos recaía sobre Joana Simeão por na época o seu nome ter sido muito sonante na opinião pública moçambicana. Se reaparecesse no estrangeiro, certamente que iria complicar a vida dos guardas. Joana Simeão assegurou, então, que se manteria calada, e uma vez a salvo no estrangeiro adoptaria um outro nome como garantia de passar ao anonimato.
Tendo concordado que tudo ficaria no segredo dos deuses, os guardas dispararam alguns tiros ao acaso e depois instruíram os presos como deviam caminhar e comportar-se na densa floresta de Niassa. Iniciou assim a fuga dos três prisioneiros incómodos. Todavia. Joana ficaria para trás por não conseguir manter a passada" dos seus companheiros de cárcere. Como consequência disso, viria a ser recapturada dias depois.
Mas antes, regressados ao Centro, os quatro carrascos relataram os factos ao seu chefe - Bazuca - o qual, por sua vez, informou ao Comandante sobre o "pleno cumprimento" da Missão Joana. Sossegado, no dia seguinte, Mombola empreende então a viagem programada a Lichinga, na companhia de Bazuca para, entre vários afazeres, informar aos seus superiores hierárquicos acerca da execução da Dra. Joana Simeão e de outros dois prisioneiros.
Contudo, contrariamente às garantias dadas pêlos presos, as coisas no terreno complicaram-se. Um dos prisioneiros, conhecedor da mata e natural de Majune, uma vila situada a norte de M'telela, conseguiu lá chegar pedindo protecção a familiares seus. Estes imediatamente esconderam-no, para mais tarde tratar do seu envio para o Malawi onde residiam pessoas de família. Antes, porém, o antigo prisioneiro revelaria as atrocidades cometidas pelas autoridades em M'telela e as circunstâncias da sua fuga na companhia de Joana Simeão e de outro prisioneiro. Se bem que o homem não tivesse denunciado os guardas que lhe facilitaram a fuga, não evitou que a notícia se espalhasse entre os aldeões, chegando ao conhecimento das autoridades locais.
Notificadas as autoridades em Lichinga sobre o acontecido em Majune, Mombola, ainda mergulhado nos seus afazeres na capital provincial, foi posto ao corrente da situação pelo chefe provincial da CIM. Perante o choque inicial da notícia, e longe de imaginar que Bazuca fosse a pessoa que planificou tudo, o Comandante recorre a este para com ele estudar a forma de se livrar da situação. Igualmente alarmado, Bazuca apercebe-se da dimensão do problema que criou. Precavido, ciente do que lhe aconteceria se Mombola regressasse primeiro à M'telela, sugere ao comandante do centro que permaneça em Lichinga para ultimar os seus afazeres, e que ele regressaria de imediato a M'telela para acudir à situação. Tanto Mombola como o Chefe da CIM terão concordado com a ideia e deu-se instruções para que assim que chegasse ao Centro, Bazuca perseguisse os fugitivos. Aos infractores que deixaram escapulir os presos, devia-se-lhes "mandar cortar lenha", vituperou o chefe da CIM.
De regresso a M'telela, Bazuca move-se no sentido de evitar que o seu nome se associe ao plano da fuga. Age com cautela e rapidez. Fala em surdina com os outros chefes de pelotões que ficam estupefactos com a notícia. Informa-os sobre os passos à seguir, de acordo com as instruções que trazia. Numa missão silenciosa, os quatro carrascos foram imediatamente presos e não se lhes deu tempo para se explicarem, pois perante um quadro devidamente pintado por um homem de extrema confiança como o era Bazuca, a medida não sofreu qualquer suspeita dos restantes chefes de M'telela. Na calada da noite, os detidos foram levados para um local afastado e executados a golpes de baioneta desferidos por Bazuca e outros chefes de pelotões.
"Aqueles tipos morreram sem perceber porquê. Primeiro porque não lhes passou pela cabeça que um dos presos foi parar ao Posto administrativo de Majune. Segundo, como cada um deles foi amordaçado, tendo uma venda colocada sobre a vista, não era possível perceber quantas pessoas estavam a sua volta. Depois foram arrastados para sítios diferentes e mortos."50.
No dia seguinte a morte dos 4 guardas, iniciou a caçada aos fugitivos. Um grupo de cerca de quinze homens armados de kalashnicovs fizeram-se ao mato à caça dos fugitivos. A Dra. Joana Simeão viria a ser recapturada pouco tempo depois. Sozinha na mata de Majune, não conseguiu ir longe. Os guardas, ao avistarem-na, gritaram para que parasse. Por não obedecer à ordem, um dos guardas disparou, atingindo-a na mão direita. Meses depois seria sumariamente executada na companhia do Rev. Uria Simango e dos restantes prisioneiros políticos.
Cerca de uma semana após a execução dos quatro carrascos e da recaptura de Joana Simeão, Mombola regressou ao Centro tendo felicitado Bazuca pelo trabalho. Todavia, para as autoridades, os guardas de M'telela haviam vacilado. Era necessário imprimir uma maior rigidez na disciplina do Centro. Mombola regressou a M'telela com uma ordem severa para cumprir, e, aos chefes dos vários pelotões, viria a declarar:
" (...) o que aconteceu aqui é grave. Todos vocês sabem que isto não é brincadeira camaradas. Nós que somos responsáveis aqui podemos ser culpados e morrermos por brincadeiras de alguns desordeiros. Trago ordens que devem ser cumpridas, doa a quem doer. Todos aqueles que estavam de serviço naquele dia também sabiam do jogo. Os chefes em Lichinga disseram que é preciso punir severamente todos para servir de lição para que ninguém no futuro aceite mais ser comprado ideologicamente por estes reaccionários aqui:51 .
Dessa forma, os restantes quinze guardas de um pelotão de 20 homens comandados por Bazuca, morriam. Levados para o local da matança, foram todos executados.
Entretanto, eliminados os guardas, surgiu o problema de como se informar as esposas de alguns deles sobre o brusco desaparecimento dos maridos. A solução encontrada foi a de se liquidar não só as senhoras, mas também os filhos52.
Medida semelhante estava, ao que se diz, reservada aos filhos do Rev. Uria Simango. Depois de o ter mandado executar, o regime da Frelimo insistentemente endereçava convites aos filhos do casal Simango para que se deslocassem ao Niassa a fim de "visitarem" os pais. "0s meus tios disseram-me que, por duas vezes, apareceram na Beira, vindas de Maputo, pessoas das nossas relações familiares ligadas a Frelimo. Não vou dizer os nomes dessas pessoas. Diziam que o governo queria que nós fossemos visitar os nossos país em Niassa. Nunca falavam directamente comigo. Dirigiam-se aos meus tios e os tios nunca nos diziam nada porque éramos menores, para além de que se nos dissessem nós imediatamente passaríamos a viver imaginando sempre a hora da partida para Niassa e o reencontro com os país"*.
Desconfiados da "boa fé" do regime, os tios dos três rapazes sempre se opuseram. Tinham informações, vindas de outras pessoas ligadas ao poder, de que tais convites encerravam em si algo de sinistro, que culminaria com o desaparecimento dos filhos do casal Simango.
-"Arranjem-se como puderem, mas não deixem que os meninos sigam para Niassa porque de lá não mais regressarão com vida" – diziam.
Mas a uma dada altura a nostalgia provocada pela separação forçada da família ter-se-á apossado de forma dramática do filho mais velho do Reverendo Simango. O jovem optou então por arriscar, espantando a fera na sua toca. Nos fins de 1981, sem o conhecimento dos tios, Lutero escreveu uma petição ao então ministro residente na província de Sofala, solicitando-lhe que autorizasse a sua deslocação e dos irmãos a Niassa, a fim de visitar os pais. Numa reflexão retrospectiva, Lutero Simango acredita também numa possível existência de separação de poderes no seio da Frelimo daquela época, pois, segundo suas palavras, a existir um plano para os liquidar, ou o ministro residente não estava ao par dele ou, simplesmente, quis poupa-los. "De contrário, não faria o que fez"55.
Com efeito, em face da petição que lhe chegou as mãos, o então ministro residente mandou chamar o rapaz. Eis o que diz Lutero Simango:
" Quatro ou cinco dias depois de ter recebido a minha petição, logo de manhã cedo mandou um jeep militar lá para casa do tio Francisco onde eu vivia, no bairro do Esturro. Foram lá 4 militares bem fardados e armados com AKM's. Os meus irmãos viviam no Bairro do Vaz com o tio Elijah. Como o jeep chegou antes das sete horas, ao tocarem a campainha quem abriu aporta foi o tio Francisco que se preparava para ir ao serviço. Ao deparar com dois homens armados, o velho entrou em pânico. Mas os homens acalmaram-no. Disseram-lhe que não havia problemas nenhuns. Perguntaram muito civilizadamente se era naquela casa onde vivia o filho de Uria Simango. O meu tio disse que sim mas quis saber o que se estava passando. Os homens insistiram que não havia problemas nenhuns. Tinham vindo a mando de sua excelência levar o senhor Lutero para ir ao gabinete do governo, porque sua excelência queria falar com ele. Eu ainda estava na cama. Acordaram-me. E como o velho nada sabia da carta que eu havia feito, ficou mais baralhado. Preparei-me então para seguir com aqueles homens. Os tipos até me deixaram matabichar. Estavam todos atentos aos meus gestos e sorridentes. Acho que nunca tinham visto de perto um filho de um reaccionário!... Achavam graça me vendo comer. Depois saí com eles direitinho para o gabinete do ministro residente. Só que quando lá chego, quem me recebe não é o ministro. Foi o chefe do gabinete. O homem foi muito gentil também. Estava todo sorridente. Começou por oferecer-me um café que recusei. Depois disse que o ministro recebeu a minha carta e pediu-lhe que conversasse comigo antes de estar frente a frente com ele num encontro que se previa para a semana seguinte. Disse que o governo sabia que nós estávamos passando algumas necessidades. Que o camarada ministro deu instruções para disponibilizar uma casa recheada de mobílias e uma viatura para nos os três, etc., etc. Estavam dispostos a disponibilizar-nos uma mesada e garantir as necessidades escolares. Eu deixei-lhe falar e depois disse-lhe: ok, diga ao camarada ministro que eu aceito que o governo tome conta de nós e nos dê mundos e fundos. Mas há uma condição: Que tudo isso esteja aliado a preocupação número um, visitar os nossos pais. Que nos fosse permitido, nem que uma vez de seis em seis meses, visitar nossos país. De contrário, nada feito.
Ele disse que ia encaminhar a preocupação ao ministro. Só que nunca mais me contactaram e eu também não insisti, porque quando regressei a casa os tios estavam em alvoroço. Coitado do tio, nem foi trabalhar nesse dia. A tia Mazwiona, então, estava mergulhada num charco de lágrimas. Só parou de soluçar quando me viu a entrar. Contei-lhes o que havia feito. Nesse dia levei um bom puxão de orelhas e avisaram-me de que nunca mais queriam ouvir falar disso. Foi daí que passei a saber que já houve tentativas de levar-nos para Niassa, e tudo fora água abaixo porque outros diziam que isso significava morte certa. Isso aconteceu entre 1977 e 1978. Como eu não soubesse nada disso, durante as férias escolares de 1981, se a memória não me engana, fiz então a petição, sem conhecimento dos tios. No ano seguinte vim para a Universidade em Maputo. Nunca mais se falou do assunto, porque os tios voltaram a avisar-me que em Maputo eu tinha a missão de estudar e nada de me meter em coisas que podiam dificultar os meus estudos. Penso que eles já desconfiavam que os nossos pais estavam mortos."56.
Bazuca saiu limpo do esquema por ele montado, mas não viveria por muito mais tempo. Nos meados de Janeiro de 1982, eclodiu no Centro de M'telela um problema de índole passional. Uma das filhas do comandante Mombola, já suficientemente donzela para atrair a gula dos homens, seria o centro de gravitação de dois amores: o de Manuel Mapfavisse (Bazuca) e o do jovem operador de rádio de comunicações do Centro. Enquanto Mapfavisse se esgrimia em presentear a rapariga de bugigangas que trazia de Lichinga onde constantemente se deslocava em missão de serviço e em visita a sua esposa que já nessa altura vivia naquela cidade, clandestinamente, a donzela correspondia ao amor do jovem operador de rádio, fazendo de Bazuca um bobo contente. Bazuca sabia que apesar das suas aliciantes ofertas, quem efectivamente tirava proveito da beldade da rapariga era o homem das telecomunicações que, para além de ainda jovem e com boas perspectivas de vir a casar com a rapariga, era, por outro lado, mais culto literariamente do que ele. Bazuca não encontrava formas de se desembaraçar do jovem apaixonado.
Um dia, a esposa do comandante, vê, na calada da noite, um vulto a sair da janela que dava acesso ao quarto da filha. Alarmada com a situação, informou de imediato o marido o que acabava de presenciar. Ferido no seu ego, o casal Mombola entende então pôr a filha na "prensa", para que dissesse quem havia saído pela janela naquela noite. A menina nega pelas "cinzas dos seus antepassados" ter visto alguém. O assunto não morreu por aí. No dia seguinte ao acontecimento, Mombola pôs em formatura todos os guardas que não estavam de serviço na noite anterior. Deles procura saber quem andava a saltar das janelas das meninas na calada na noite.
Enquanto aguardava pela resposta, confidenciou o sucedido à Bazuca, um que se encontrava a seu lado. Este, sem perca de tempo, sentenciou:
"É o Radista" - referindo-se ao jovem operador de rádio:
Havia muito tempo que Bazuca andava desconfiado dos movimentos do rapaz. O operador de rádio foi assim arrastado da formatura e de seguida, severamente punido. Tudo ficou por aí.
Entretanto, a simples punição que consistiu em fazer buracos de dois metros de profundidade e tornar a tapá-los durante quatro dias consecutivos não agradou a Bazuca. O "radista" tinha que sair do seu caminho.
Numa das suas habituais viagens à Lichinga, Bazuca forja um documento, com carimbo e tudo, onde se lia que o "radista" devia ser fuzilado, porque, segundo dados em poder da Contra Inteligência Militar em Lichinga, o rapaz passava informações ao inimigo. No seu regresso ao Centro, Bazuca exibe a Ordem de Serviço a Mombola. Dada a autenticidade do documento, ao comandante nada restou senão executar a medida. Para alegria de Manuel Mapfavisse, aliás, Bazuca, o jovem "radista" foi executado, deixando-lhe livre o caminho para a rapariga em disputa.
Passaram-se semanas até que o comandante se deslocou a Lichinga, desta feita sem ser acompanhado de Bazuca. O jovem operador de rádio, fora, entretanto, substituído por outro, o qual, perante os insistentes pedidos de colegas em Lichinga, não ousava informá-los por via da rede de telecomunicações os pormenores do que ocorrera com o jovem colega. A notícia da liquidação do "radista" chegou a Lichinga por vias não claras. Os operadores de rádio naquela cidade faziam notar ao novo operador de M'telela que o assunto já constava da agenda do chefe provincial da CIM. De facto, assim que Mombola chegou a capital provincial, o chefe da CIM quis ouvir do comandante do campo de M'telela o que se passara com o jovem operador das telecomunicações daquele Centro. Mombola, perplexo e boquiaberto, apercebe-se de que algo não batia certo, pois que a execução daquele rapaz fora a mando daquele mesmo homem que agora o questionava. Não fazia sentido que o chefe local da CIM quisesse saber de histórias passadas. Decide-se a contar tudo e informa que agiu de acordo com a Ordem de Serviço vinda do gabinete do próprio chefe do CIM.
Em face do que acabava de escutar, o chefe da CIM aconselhou Mombola a manter-se calmo. Deu ordens para que Bazuca fosse chamado à Lichinga com a maior urgência possível.
Uma vez em Lichinga, Bazuca comparece no gabinete do chefe da CIM. A princípio não se apercebe de que havia algo de errado. Desperta quando viu o seu Comandante, de semblante pesado, a entrar e tomar lugar no gabinete sob ordens do chefe da CIM. Confrontado com a célebre Ordem de Serviço, Bazuca nada soube explicar. É imediatamente preso e encaminhado para as celas do comando provincial da CIM em Lichinga. Depois de se confirmar que a Ordem de Serviços havia sido forjada, e que afinal, a história da fuga de Joana Simeão havia igualmente sido por si esquematizada, Bazuca viria a morrer enquanto se encontrava sob detenção em Lichinga, ao que se diz, vítima de um golpe de baioneta espetada por um outro prisioneiro. O golpe, desferido do lado inferior esquerdo do pescoço, provocou-lhe morte instantânea e um certo alívio entre alguns dos seus colegas em M'telela que já andavam cansados das peripécias de Bazuca58.
"A partir da morte de Bazuca começou a desvendar-se muita coisa em torno dos seus segredos e da forma como Simango e outros presos foram mortos. Mombola, apesar de na altura ser o comandante do Centro, era um homem calmo. Era apenas obediente às ordens de Lichinga e não queria problemas para ele. Bazuca não. Esse inventava ordens dele e até aldrabava Mombola. Alguns até ficaram felizes quando se soube que ficou preso em Lichinga. Quando chegou a notícia da sua morte, então é que se pulou de alegria porque era daqueles que punia a torto e a direita lá no Centro. Alguns guardas tinham cicatrizes provocadas pelas punições dele e sempre que se envolvesse em problemas pessoais com pessoas em Lichinga, arranjava forma de trazê-las como presos em M'telela para maltratá-las. Quem me conta a história dele é um dos guardas lá de M'telela, pouco tempo depois que nos chegou a notícia da sua morte"59.
Precavendo possíveis transtornos por parte da esposa de Bazuca que certamente não tardaria a procurar saber junto da CIM em Lichinga das causas do silêncio do marido, e dado que esta não possuía filhos ou familiares próximos naquela cidade que pudessem reclamar o seu desaparecimento, a chefia da CIM entendeu "por bem" encaminhá-la à M'telela para visitar o marido "que estava passando alguns problemas de saúde!..."60. A senhora havia sido colocada na mesma palhota onde viviam Celina Simango e Lúcia Tangane. Foi executada no mesmo dia com estas duas.
Os responsáveis? Todos sabemos os nomes.
Mas que ligará M'telela a Wiriamu?
Vejemos o que escreve, em 1977, Inácio de Passos, residente em Tete, no seu livro "Moçambique a escalada do terror":
Um outro elemento da minha confiança — comandante de talabarte da Frelimo — era também meu confidente. Por ele tinha conhecimento dos resultados do trabalho de limpeza ao cérebro de que o Presidente Samora Machel estava a ser cobaia pelo grupo marxista do Partido, resultados que eram palpáveis nos seus discursos e nas suas atitudes. Esse comandante, que para sua segurança não divulgo o nome, alarmava-se de dia para dia com o procedimento dos dirigentes da Frelimo.
Como o comandante Machava, não representava nenhuma corrente política e ainda possuía em comum com ele o desejo de preservar a ordem social e barrar a evolução de Moçambique para o liberalismo e para a anarquia. Tanto um como outro declinavam a ocupação de papéis de executantes da verdadeira justiça que ambicionavam para Moçambique, e aguardavam com ansiedade o momento que lhes proporcionasse, como em 1964, colocaram-se inteiramente ao dispor do seu país, integrando-se sob o verdadeiro mando do povo.
Com ele falei sobre a Fumo. Com ele discuti, e nem sempre estávamos de acordo, sobre a Rádio África Livre. De tudo quanto lhe contava guardava segredo, pois sabia que o seu silêncio não era traição ao seu povo, pois traição às massas e ao Partido era o procedimento e as ideias dos actuais dirigentes. Mas também por ele tomei conhecimento de factos que sei que até hoje não foram por ninguém revelados.
Quem dirigiu os militares portugueses a Wiriamu, ao «massacre» que serviu de ponta de lança à propaganda anti-portuguesa, encetada com sucesso pelo padre Hastings?
Quem os guiou num pequeno «Volks Wagen», protegido por aperradas armas até ao acesso da picada e os acompanhou até ao local?
Quem assassinou, após o 25 de Abril, o seu serviçal, conhecedor do seu segredo, para que a sua criminosa atitude não fosse divulgada aos dirigentes da Frelimo?
O seu nome é Raul Frechaud Fernandes, primo carnal de Sérgio Vieira, um dos homens que dirige e automatiza Samora Moisés Machel.
— Mas a Frelimo não sabe isso? — interroguei-o.
— Eu próprio informei o comandante José Moiane e ele como comandante provincial não procedeu. O velho afirmou que atitudes antigas eram para esquecer. Eu creio que ele não quer tocar na família de Sérgio Vieira... — respondeu-me.
Raul Frechaud Fernandes, mestiço asiático, é dirigente do Departamento Distrital da Frelimo de Informação e Propaganda. Mas apenas ocupa esse cargo após a Independência. Possuía uma pequena cantina comercial de onde o povo de Wiriamu se abastecia. Desse povo veio a adquirir os meios de fortuna que hoje possui, pois lhe furtava o gado que vendia a militares portugueses em candonga.
Colaborou no assassinato do povo moçambicano que mais intimamente lhe esteve ligado mas hoje é um dos dirigentes do Partido. O povo, porém, sabe que os seus inimigos de ontem são os de hoje. São seus inimigos desde que as teorias e as atitudes do dr. Eduardo Mondlane foram silenciadas pelo deflagrar de um livro armadilhado.
Povo de Moçambique, acorda!
Fernando Gil
02/10/2004
Reconstrução da História de Moçambique
Jorge Heitor
A trajectória política de um missionário presbiteriano que foi vice-presidente da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo) e depois acabou por ser fuzilado durante os primeiros cinco anos após a proclamação da independência do país é traçada por Barnabé Lucas Ncomo no livro "Uria Simango - Um homem, uma causa", recentemente editado em Maputo, onde tem provocado grande polémica.
Numa altura em que um dos filhos de Uria, Deviz, assume a presidência do município da Beira, a segunda cidade do país, eleito nas listas da Resistência Nacional (Renamo), principal força da oposição, os moçambicanos tratam de reconstruir a sua História recente, a destes últimos 50 anos, desde que alguns indivíduos começaram a pensar numa luta de libertação nacional, contra a colonização portuguesa.
A base fundamental do trabalho de Ncomo é a correlação de forças que se verificou durante a primeira dúzia de anos da existência da Frelimo, dominada pelas figuras de Eduardo Mondlane, de Uria Simango e de Marcelino dos Santos, este último ainda vivo, se bem que relegado agora para um papel de referência histórica.
A análise do xadrez político moçambicano nas décadas de 60 e 70 interessa sobretudo a todos aqueles que sempre gostaram de acompanhar o processo de emancipação das antigas colónias e para os quais não são de forma alguma desconhecidos os nomes de Amílcar Cabral, Viriato da Cruz, Agostinho Neto, Mário Pinto de Andrade e Aquino de Bragança.
Uria Timóteo Simango acabou por ser morto com a conivência de alguns dos seus antigos companheiros de jornada, acusado de reaccionário e de traidor à causa que todos unira, mas o biógrafo procura agora reabilitá-lo, no sentido de se rectificar a História oficial que em Moçambique foi contada durante este último quarto de século.
O reverendo era um homem da província de Sofala, no centro do país, tal como Afonso Dhlakhama, o actual chefe da Renamo, de modo que entrou facilmente em conflito com a elite sulista, designadamente da província de Gaza, que em 1969 ou em 1975, para já não dizer mais tarde, se assenhoreara da Frelimo, transformando-a num movimento que não tinha igual implantação em todo o território nacional.
Ou, dito de outra maneira, a clique meridional é que o teria isolado e votado ao ostracismo, nas lutas internas que tantas vezes ocorrem nos movimentos políticos e que chegam a ter consequências trágicas. São os meandros sujos da política, que nem sempre é feita com dignidade; e que nesta altura está uma vez mais bastante viva em Moçambique, quando se aproximam as presidenciais e as legislativas de Dezembro.
27/08/2004
"Uria Simango, Um Homem, Uma Causa
Deixo aqui uns pequenos excertos de um livro maningue interessante que acabei de ler, e que fala da vida de Uria Simango. O livro, para quem ainda não conhece ou ainda não leu, chama-se "Uria Simango – Um Homem, Uma Causa", da autoria de Barnabé Lucas Ncomo, e é a história daquele que supostamente terá sido um "traidor" da revolução moçambicana.
Aconselho a todos vocês a lerem o livro, porque repito, está maningue nice. Não só porque conta a História de Moçambique de outro modo, e não como nós a conhecemos, fazendo com que os actuais heróis moçambicanos, saiam desde livro um pouco (para não dizer muito) beliscados. Como também porque, tratando-se de um livro redigido por um moçambicano, é curioso verificar que este autor não comunga da ideia da maioria, quando diz que a culpa do estado actual do país é da colonização. Como ele diz, é preciso reconhecer que Portugal ia deixar no solo moçambicano o mínimo para um arranque visando o progresso, que era preciso saber aproveitar. Apesar de ninguém pôr em causa que Portugal espoliou desenfreadamente Moçambique de norte a sul.
Aqui ele vai de encontro ao que eu digo sempre... os tugas fizeram muita merda, mas já chega de culpar a colonização pah! Já passaram 30 anos... quando é que esse tipo de papo acaba?!?
Para terminar, só dizer que os sublinhados, as aspas, os itálicos etc. São todos meus. Fiquem bem!
"Simango acreditava que Moçambique tinha as mínimas bases de arranque para se apresentar ao mundo como um exemplo ímpar a seguir. Portugal não só havia colonizado e espoliado desenfreadamente de uma ponta a outra, as riquezas do país. Também, em abono da verdade, era preciso reconhecer que igualmente ia deixar no solo moçambicano o mínimo para um arranque visando o progresso, que era preciso saber aproveitar.
(...) É que cada estágio do paupérrimo desenvolvimento e progressivo subdesenvolvimento de África, para além da lendária culpa do sistema colonial, tinha também em si como razão a miopia política dos próprios homens que herdaram a histórica missão de conduzir os destinos dos povos do continente na era pós-colonização. E essa miopia consubstanciava-se na intolerância; na prepotência; na falta de pudor e, sobretudo, na falta de vergonha e realismo político.(Barnabé Lucas Ncomo/autor do livro)
Simango achava que as modalidades de ascensão do país à independência diziam respeito a todos os moçambicanos. Para tal, todas as forças políticas existentes no país tinham uma palavra a dizer, pois "o facto de um movimento lutar durante vários anos para a independência dum determinado país, não implica que todos os filhos desse país sejam a favor desse movimento, em termos ideológicos e na matéria de governação. É natural existirem outras opiniões nesse país; mesmo que sejam minorias, merecem o seu devido respeito"- dizia Simango.
Pelo contrário, a FRELIMO não aceitaria qualquer outra força política no país. Invocaria uma legitimidade exclusiva na representação do povo moçambicano, decorrente da luta armada de libertação nacional, e "contada não por votos, mas pelos seus mortos em combate."(Castigo Lucas Ncomo)
"Se o governo português vier a decidir o futuro de Moçambique só com a FRELIMO, qual será a nossa reacção? A nossa reacção deve ser uma manifestação do pensamento do povo moçambicano. O povo sentir-se-à magoado se o governo português fizer isso. Se o governo português fizer isso, terá feito um erro. Lamento informar que isso fará com que nasça uma situação tal que por enquanto eu não posso profetizar, mas não há dúvida alguma de que vai nascer uma situação que não é muito boa. Será um grande erro e o governo português assumirá uma grande responsabilidade pelas consequências... Quais são não posso dizer. Mas é natural que nasça uma situação não agradável."
(Conferência de Imprensa de Uria Simango na Beira – 24 de Agosto de
1974)
"Simango perdeu o controle da situação na FRELIMO não só em consequência da estratégia traçada pelos seus adversários, mas sobretudo porque foi traído e vendido pelos seus próprios irmãos oriundos da sua província e da sua tribo –os Ndaus. Contrariamente ao que o regime propalou a respeito da sua intelectualidade, comparando-a à de Eduardo Mondlane, Simango era um intelectual que se impôs na FRELIMO, desde a primeira hora, por mérito próprio e não pela beleza dos seus olhos. Era um homem eloquente que quando falava para uma multidão as pessoas deliravam. Era um adversário sério para Mondlane e toda a gente sabia disso. Todos os que conheceram Simango e Mondlane conheceram também a diferença entre estes dois homens.
Mondlane, apesar de ser académico, em termos de eloquência e retórica não chegava a um palmo de Simango. Se Simango estivesse vivo, a FRELIMO hoje depararia com problemas, porque nas campanhas eleitorais no sul de Moçambique, por exemplo, Simango falaria às populações na língua deles. O reverendo era um bom poliglota. Falava bem o tsonga, swahili, nyanja, português, inglês, ximakonde, sena e ndau. Mondlane, Samora e Chissano, por exemplo, não falavam nenhuma língua do Centro ou do Norte."
(Z. Maurício)
"Havia tribalismo na FRELIMO. Isso não se pode negar. Eu sou do Sul do país, mas tenho que admitir que havia tribalismo e quem o galvanizou foram algumas pessoas do sul que chegaram mais tarde, entre 1963 e 1965. Viviam muito preocupados com Simango e agitavam Mondlane dizendo-lhe que o Reverendo pretendia usurpar o Poder; que era preciso ter cuidado com ele etc. Souberam jogar, dividindo as pessoas e usando até alguns do centro e norte do país que pouco entendiam de afinidades e lealdades. Algumas dessas pessoas, ignorantes que eram, foram sendo usadas como marionetas sem se aperceberem que os outros pretendiam dividir para reinar."(José Massinga)
"Até o delito mais comum, de carácter pessoal, era transformado em crime de lesa pátria por via de mentira e artimanha, e recebido do grupo a pena capital por via de julgamentos apelidados de justiça
popular. A denominada justiça popular da FRELIMO, consistia, na realidade, em incitar a população ou uma multidão de combatentes através de discursos prenhes de acusações não provadas. Não se dava nenhuma possibilidade de defesa ao visado e, de seguida, perguntava-se ao chamado povo o que fazer com a pessoa. Em coro, os mais violentos títeres entre o povo, rasgavam as gargantas com "mata-se o gajo"; "vamos semeá-lo". E, para poupar munições, atirava-se a vítima aos lobos onde não faltavam paus e catanas para executar a sentença. Era um recurso muito corrente, utilizado pela facção sulista da FRELIMO para eliminarem os seus compatriotas nortenhos indesejáveis."(A. Mutusso)
Conclusão do autor do livro:
"Simango morreu vítima de uma causa: a causa da liberdade e da igualdade nos direitos e nos deveres entre os homens do seu país.
Todavia, seria vítima de uma outra causa inconfessa: a causa da tribo, da região e da ambição desmedida de alguns (...) tudo indica que Simango terá sido dos poucos na FRELIMO que sabia que a moral é apenas uma: - Não há duas morais, uma do indivíduo e outra da política ou do Estado.
(...) Tal como muitos, Simango não viveria para ver o tipo de independência que almejara. Mas a profecia por ele proferida em Agosto de 1974, segundo a qual se Portugal não honrasse os seus compromissos, e entregasse o poder político a uma só força em detrimento de uma processo democrático multipartidário, Moçambique mergulharia numa triste situação, vingou. Vingou no corpo e na alma dos moçambicanos, por via de um conflito sangrento de 16 anos que todos sentiram na carne.
27/08/2004 in História, Letras e artes - Cultura e Ciência, Uria Simango | Permalink | Comments (1) | TrackBack (0)
24/08/2004
METELELA - URIA SIMANGO E OUTROS
Semanário DEMOS
CONFIDENCIAL
(ÀS TERÇAS FEIRAS)
Coluna de João CRAVEIRINHA
email: joaocraveirnha@yahoo.com.br
DOSSIER (7)
NA FRENTE DE LIBERTAÇÃO
A CLARIFICAÇÃO TOTAL
O Hospital da Frente de Libertação encontrava-se localizado no sul de Tanzânia, em Mutuara (Mtwara), na direcção de Cabo Delgado, região nortenha de Moçambique para além do rio Rovuma. Nesse Hospital em situação anterior à sua expulsão (1968), o médico Hélder Martins, “ in extremis”, seria salvo por Manuel dos Santos (de Tete), de uma iminente agressão de uns guerrilheiros (muito irritados) de Cabo Delgado que se encontravam a receber tratamento de ferimentos em combate, por não aceitarem alta hospitalar e as ordens de regresso ao interior dadas pelo médico e responsável da Saúde da Frente, Hélder Martins. Estaria (entre outros) criado o cenário propício para as expulsões à posteriori depois dos distúrbios, de Maio de 1968, no escritório da Frente em Dar-es-Salaam e da revolta dos estudantes no Instituto Moçambicano em “Kurassini”. No entanto, muito após o assassinato de Eduardo Mondlane (1969), seria rectificada a situação com a autorização do regresso pela parte tanzaniana.
Provisoriamente uma “troika” substituiria Mondlane: - Samora Machel, Marcelino dos Santos e Uria Simango que se antecipara evocando os estatutos e distribuíra cartões de visita com o título de “acting President” – Presidente em exercício até às eleições do Congresso. Os acontecimentos precipitam-se. Uria Simango sente-se inconfortável ladeado pelos seus pares e tenta “ dar a volta” em vão. Encontra-se “espartilhado” sem margem de manobra. Seus apoiantes declarados são detidos ou o abandonam mudando de campo. Os detidos enviados a Cabo Delgado são executados depois de torturados na Base Central. Entre eles o tesoureiro da Frente de Libertação – Silvério Nungo; - A 18 de Julho de 1969 seria torturado (ainda mais), durante toda noite até ao amanhecer. Devido às coronhadas de espingarda recebidas na cabeça estas provocariam fracturas expostas, com partes abertas do crânio, por onde escorreria líquido da matéria encefálica, conduzindo-o, a uma morte lenta e muito dolorosa, debaixo de soluços roucos infra – humanos, de dor. Seria morto depois de uma agonia de cerca de 8 dias até a essa fatídica noite.
Em finais de 1969, o reverendo Uria Simango, distribui um Manifesto de 13 páginas intitulado “Gloomy Situation in Frelimo” – Situação Tenebrosa na Frelimo, onde acusa os seus camaradas e a viúva de Eduardo Mondlane, Janet. É a gota de água que transborda o copo. Em Novembro de 1969, Uria Simango é oficialmente expulso da Frente de Libertação. Após ouvir o reverendo U. Simango, o preocupado Presidente Nyerere, não intervém. A situação torna-se insustentável em Dar-es-Salaam para Uria Simango. Refugia-se no Cairo – Egipto onde (re) adere a uma nova Udenamo e posteriormente à COREMO – Comité Revolucionário de Moçambique, fundada em 1965 em “Lussaca” – Zâmbia. A Coremo, presidida por Paulo Gomane, combatia o exército português em Tete com o apoio da Zâmbia, China Popular e de elementos sedeados nos Estados Unidos. Era um movimento oficialmente pró-maoísta mas contraditoriamente de ligações norte-americanas. Colaborava com o PAC da África do Sul, a UNITA de Angola, ZANU da Rodésia e SWANU da Namíbia. (Uria Simango surgiria em Moçambique depois de Junho de 1974).
Em finais de 1969, Samora Machel, admirador confesso do maoísmo, passa a presidir abertamente à Frelimo e o veterano Marcelino dos Santos, relegado para segundo plano, é o vice-Presidente.
Tem início uma nova era na Frente de Libertação de Moçambique. (Contrinua)■■■
Dia 26 Dezembro 2003 – 472 palavras ou sexta feira 19 de Dezembro
TRIBUNA
(SAI ÀS SEXTAS FEIRAS)
Coluna de João CRAVEIRINHA
email: joaocraveirinha@yahoo.com.br
ARQUIVOS IMPLACÁVEIS(10)
CAMPO DE REEDUCAÇÃO DE MITELELA OU CAMPO DE CONCENTRAÇÃO?
(VAE VICTIS – AI DOS VENCIDOS!)
3ª Parte (Fim da 1ª Fase)
Em 1975 – Novembro (?!), João Craveirinha e mais elementos são transferidos (detidos) de Nachingueia (Tanzânia) para Niassa oriental, via Lago. São enviados para o campo de concentração da FRENTE em Mitelela, no antigo quartel português de Nova Viseu, deixado pelos militares lusos, todo minado ao redor e com garrafas partidas enterradas nas instalações. Entre os detidos e transferidos encontravam-se muitos nomes conhecidos do nacionalismo africano como Adelino Guambe fundador da FRELIMO, o reverendo Uria Simango, sua esposa Celina, Paulo Gomane, Narciso Inbule, antigos comandantes de élite entre eles, Pascoal Almeida Nhapulo, Pedro Simango (2), Januário Napulula e Chéés-padres muçulmanos (sheiks), curandeiros, etc. Entre os presos, ainda, Lázaro Kavandame, Verónica, o ex-representante da Frente no Cairo, Judas Honwana, o médico Dr. João Unhai(Unyai), o engenheiro Marqueza, o Prof. Dr. Kambeu de Direito Internacional, a Dra. Joana Simeão da FRECOMO (anteriormente do GUMO do Dr. Máximo Dias), o primo de 1º grau do Prof. Dr. Eduardo Mondlane – Pedro Mondlane, e muitos outros. O campo de Mitelela de máxima segurança encontrava-se numa região lamacenta muito isolada e de fauna bravia – leões, leopardos, elefantes, cobras. Os felinos e as cobras eram “visitas” normais. No campo encontravam-se também, antigos agentes moçambicanos da Pide como Leonel Soleimane Motty, o 1º em Moçambique (1972), a ter uma empresa privada de segurança com uma rede bem montada nas principais empresas e 3 “chóferes” privados à disposição e respectivas viaturas novas. Leonel Motty, natural de Quelimane, provinha da Polícia Judiciária onde se formara em Lisboa e tinha acesso aos arquivos da PIDE na Casa Algarve em Lourenço Marques. Acumulava com a tarefa de Inspector do Trabalho e de empresário de ligações com as representações da Volkswagen e da BMW. Teve tempo e dinheiro para fugir para a África do Sul, mas ingenuamente, ofereceu-se para trabalhar para a FRELIMO em 1974. Muito mais tarde, prisioneiro com tuberculose e maus-tratos, sucumbiria em Niassa nos anos 1980 (?!). Talvez, L. Motty, pensasse nos chefes da Gestapo alemã de Hitler que se ofereceram para trabalhar para os russos em Moscovo na iminência da queda do 3º Reich em 1945. É o caso do director Müeller da mesma polícia secreta nazi. Não só seria poupado como integraria os serviços secretos soviéticos, na formação. Os russos aproveitaram a sua experiência. Existe uma cultura comum nas polícias secretas a serviço de qualquer poder político. São instrumentos e a experiência conta. Da rede piramidal total, montada por Motty em Moçambique, quem poderá saber se eventualmente muitos desses elementos que nunca seriam detectados, teriam integrado os grupos dinamita…dores, digo, dinamizadores de tão triste memória da Frelimo? Quiçá alguns poderiam ter subido na hierarquia da própria estrutura política de bairro da Frelimo aos dias de hoje. A muito longo prazo – o acesso a serem empresários de sucesso, mostrando a verdadeira face, renegando a Frelimo que lhes deu o ”escadote” para subirem e quem sabe à custa de acusar os outros de serem reaccionários, na era de Samora Machel, enviando-os aos fatídicos campos de “reeducação”? Era preciso mostrar serviço para serem de confiança política. Poderá estar aí o embrião da conspiração e do oportunismo actualmente patente no nosso país!
A terminar esta 1ª fase dos ARQUIVOS IMPLACÁVEIS coloca-se uma questão de fundo: Sempre houve infiltrações (ou tentativas) descobertas na Frelimo e em qualquer Movimento de Libertação e em toda a História da Humanidade sempre houve e haverá espionagem no campo do inimigo. Mas a questão de fundo é maior. Saber se a nível da cúpula, na Frelimo, terá havido uma Grande Toupeira ou várias?
A PIDE, em Lourenço Marques, na Costa do Sol, queimou todos os nomes, dados, e documentação dos seus arquivos, no campo de futebol do Benfica de LM, hoje CDCS. A Torre do Tombo não tem esses dados. Há só indícios. Havia um grande infiltrado ou mais a nível da cúpula? Mas quem? E que percurso? Chegaram a ministros e a membros do Comité Central? Estiveram entre os 10 mais poderosos de Moçambique na era de Machel? Se existiram, agora onde andarão esses super agentes da PIDE? Serão empresários ou deputados ou ministros? Presumo que para sempre será um mistério!
E sobre, João Craveirinha, PRESO POLÍTICO (voluntário), na FRENTE de LIBERTAÇÃO, em Nachingueia(Nachingwea) e Niassa…Um dia, será contada e publicada a história depois da sua morte! ●
24/08/2004 in História, João Craveirinha - Diversos, M'Telela - Niassa e outros, Uria Simango | Permalink | Comments (0) | TrackBack (0)
23/08/2004
Será ‘Simango, uma obra, uma Causa’ a Biblia alternativa?
Domingo, 22 de Agosto de 2004
ZAMBÉZIA ON LINE
Desde os primordios da evolução humana, uma regra universal tem conseguido, com poucas excepções, impor-se e resume-se no facto de que ’ a História é escrita pelos Vencedores’! O resto não passa de 'estorietas' como o afirma Sérgio Vieira no seu artigo de 18 de Julho no Semanário Domingo!
Da Grécia Antiga, a Roma, passando pela I e II Guerras mundiais, sem menosprezar a epopeia de libertação de África, esta regra parece manter-se! Muitas vezes essa 'estoria' é transmitida de gerações em gerações alimentando sonhos e mitos que se mantém ao nível informal. Moçambique não tem sido excepção a esta regra. Durante anos os mitos sobre Ngungunhana, Maguiguane, Mataca e outros foram mantidos no informal e eram transmitidos de geração em geração através de contos, lendas e outras vias informais até que a Independência nacional os transformasse de lendas a História Oficial.
Nkomo, parece que consegue subverter esta lógica quase que universal ao transferir a 'estoria' oficiosa do informal para o formal. O livro de Nkomo, independentemente de constituir verdade absoluta, pois essa apenas existe na cabeça de individuos megalomanos consegue coleccionar numa obra a perspectiva, os... ... (VEJA O RESTO EM
http://www.zambezia.co.mz/index.php?option=content&task=view&id=9&Itemid=
23/08/2004 in História, Letras e artes - Cultura e Ciência, Uria Simango | Permalink | Comments (0) | TrackBack (0)
04/08/2004
Uria Simango - Um homem, uma causa
Carta a muitos amigos - por Sérgio Vieira
Sobre história e historietas
Quando escrevo esta carta ainda não se encontra nas livrarias um livro de Barnabé Lucas Ncomo, intitulado Uria Simango um homem, uma causa, puplicado pela Edições Novafrica. Uma enorme publicidade, em termos nacionais, lembrando a de Mel Gibson vom a Paixão, ou Michel Moore com Fahrenheit 9/11, acompanha o lançamento, não faltando neste caso pimenta das supostas ameaças a morte. Um amigo emprestou-me.
Analisar um texto de História em duas páginas, não me parece justo, mas trata-se de uma historieta em 466 páginas, que não procura a veracidade como objectivo. Nào se comentam paixões ou motivações sobrenaturais, que o autor afirma haverem-no inspirado. Faço-o, porém, para não cair na armadilha do quem cala consente.
O que posso notar nesta obra?
Primeiro, que a Internacional Comunista, criada nos anos vinte do século passado e dissolvida no início dos anos quarenta, comandou o processo moçambicano a partir do final dos anos cinquenta! Inexistente no mundo real, mas perene para a tese do autor.
Segundo, que um grupo conspirativo tsonga e de aliados, mestiços, indianos e brancos, enfeudados no KOMITERN, assenhorreou-se da FRELIMO desde os inícios e para efectivar os seus desígnios obscuros assassinava e massacrava tudo que de gente honesta e boa existia na FRELIMO e que essa mafia dirigiu o processo de libertação da Pátria. Que nas zonas libertadas da FRELIMO se implantaram escolas, que haja instaurado um sistema moderno de ensino, com excelentes manuais de matemática, física e outras disciplinas concebidos pela FRELIMO, que se haja aí erradicado a varíola, feita a assistência materna infantil, que se fomentara a auto sustentabilidade de alimentos, que a Frente formou mais gente no ensino superior em dez anos de luta, do que o colonialismo em quinhentos, que soldados inimigos capturados a partir do primeiro assalto em 1965 beneficiaram da política de clemência e a Cruz Vermelha os recebeu, nada disso existe para o autor e assim melhor esteia a sua tese.
Terceiro, para fazerem triunfar a causa tsonga comunista, a China maoista e a URSS de Brejnev, mão na mão, teleguiaram a FRELIMO, associados a Nyerere, Kaunda, George Magombe e aos Kennedy.
Quarto, que os moçambicanos tão engalfinhados em matanças intestinas não levaram a cabo uma guerra vitoriosa contra os colonialistas. A exaustão das Forças Armadas coloniais, o facto de em Moçambique, onde a guerra menos durou, haver inflingido o maior número de baixas ao inimigo, tudo isto não demove o autor da tese. Ele ignora que a derrota de Nó Górdio, a maior ofensiva colonial de sempre, ocorre após a deserção de Nkavandame, Murrupa, Simango e a sua ligação com os colonialistas. Não imagima sequer uma relação causa efeito nisto.
Quinto, Moscovo, Pequim, o PCP, Costa Gomes, o MFA, a CIA, Kissinger, Mac Namara, os Rockfeller, o Barão Rotschild, o Príncipe Bernardo da Holanda, o Clube Bilderberger arquitectaram, com Caetano, um 25 de Abril, que nunca existiu como derrube do Estado Novo, para entregarem as colónias à FRELIMO, ao MPLA e ao PAIGC.
Sexto, que Mondlane não passava de um tribalista que, graças à antropologia, armadilhava os ingénuos da zona centro do país. Sedento de poder, não recuava perante o crime. A bomba que o matou, a PIDE, Rosa Casaco, Casimiro Monteiro, Orlando Cristina e outros, jamais existiram. No consulado português no Malawi nunca se entregou a bomba ao Padre Pollet; este nunca a remeteu a Samuel Dhlakama na fronteira tanzaniana, com o pedido de fazer chegar a encomenda a Simango e Nungu em Dar-es-Salam. Nungu, no escritório, não mandou Rosária levar o pacote a Mondlane, que estava a entrar no seu carro. Nkavandame, em Mtwara, antes da morte de Mondlane, não a celebrou.
Sétimo, a direcção, ao decidir que o II Congresso não se realizasse em Cabo Delgado, onde as tropas portuguesas aguardavam que acontecesse, pergunte-se ao General Sousa Meneses, ao insistir que ele se realizasse em território nacional, ao garantir a participação activa dos combatentes, os que se encontravam empenhados na tarefa principal, apenas levou a cabo o propósito sinistro dos tsongas e seus aliados e seus aliados.
Oitavo, que os ditos reaccionários eivados do maior pacifismo, não conspiraram com os FICO, Spínola, Smith, antigos PIDE e Jorge Jardim. Não tentaram criar grupos armados, nem levar a Rodésia e o “apartheid” a invadirem Moçambique. Jamais existiram os moçambicanos assassinados no 7 de Setembro e 21 de Outubro, os patriotas Nkavandame, Caliate, Magno nunca conduziram as tropas coloniais para massacres de compatriotas.
Nono, Jardim, Cristina, o major Óscar Cardoso nunca estiveram em ligação com os ditos reaccionários, muito embora lhes providenciassem dinheiro, aviões, ligações, os aguardassem na Rodésia e äfrica do Sul para os levar a encontros com os sectores da securocracia racista.
Décimo, as melhores fontes de história encontram-se nos boatos, maledicências e frustraçoes de desertores, bêbados e gente marginal aos eventos reais.
Como estamos perante uma historieta e mal contada, nada mais comento. Abraço os que respeitam a História e a investigam com seriedade.
Semanário Zambeze - Maputo 22 Julho 04
Sob os Vapores de Baco
Artur Nkaíma
Tal como Sérgio Vieira, também tive o privilégio de ler o livro de Barnabé Lucas Ncomo – Uria Simango, um homem, uma causa. Surpreso fiquei com o à-vontade de Sérgio Vieira em baralhar a opinião pública, misturando alhos com bogalhos, numa tentativa de lançar no descrédito um trabalho sério de investigação conduzido ao longo de muitos e difíceis anos. (ver “Carta a Muitos Amigos” - Domingo - 18 de Julho de 2004). A intenção de Sérgio Vieira foi mais do que evidente: desviar a atenção do público sobre a vida e obra de Uria Timóteo Simango. O método utilizado não é, aliás, inédito – os moçambicanos há muito que se habituaram a esse tipo de malabarismos desde os tempos em que lhe quizeram impor o “pensamento comum”.
Não ficar calado nem sempre significa deixar de consentir. O facto de Sérgio Vieira, no meio de tanto rancor, não ter sequer uma palavra, um simples desmentido relativamente às graves acusações que o autor de Uria Simango – um homem, uma causa, lhe dirigiu a propósito do seu envolvimento directo em todo o processo que culminou na execução sumária do vice- presidente eleito da Frelimo, é disso prova.
Em vez de rejeitar a acusação sem rebuços, Sérgio Vieira recorreu aos habituais epítetos, mas com uma novidade: agora, os que pensam por si próprios e recusam a “verdade oficial” passam também a ser considerados de “bêbados”, não necessitando, para isso, de passar pela triste figura de Sérgio Vieira num restaurante muito chique da Julius Nyerere no decurso dum repasto bem regado com os “xaropes” das marcas mais sonantes, e, como que a acamar a fausta merenda com que acabara de se locupletar, os digestivos da praxe.
As testemunhas são várias, e o próprio visado deixou as pegadas no livro de reclamações que autoritariamente, e com uma voz já a arrastar sob os vapores de Baco, solicitou ao gerente do estabelecimento em causa pelo simples facto do empregado de mesa ter servido azeite italiano, e não do português; “o de oliveira”, como soi dizer-se.
Saudades do outro Oliveira, o tal que também era ditador?
09/06/2004
Simango: de reaccionário a herói
19 de Maio de 2004
Para as gerações mais jovens, educadas num ambiente em que com devoção se
cantava: "Simango,reaccionário..." a obra de Barnabé Lucas Ncomo é verdadeiramente o resgate de uma figura histórica deste país. Com efeito, "Uria Simango: Um homem, uma causa" é, uma obra: que estava a faltar ao imaginário político moçambicano. Aliás, quando colocado face desta imagem tão sinuosa quanto emblemática, uma das questões que se erguem é de saber se estamos perante um herói ou perante um mercenário.
Relegado para a condição de reaccionário, Simango, hoje resgatado por Barnabé Lucas Ncomo, começou a despertar interesse enquanto tal através de um questionamento suscitado pela interrupção do som de
uma emissão televisiva alusiva aos vinte anos da morte de Eduardo Mondlane. Ia Janeth Mondlane a dizer que, antes da sua morte, todo o povo moçambicano saberia quem matou Mondlane descartando a teoria
que liga o pastor Simango ao assassinato do primeiro presidente da Frelimo, quando houve corte do som por um período suficientemente longo e não seguido de alguma explicação como sempre acontecia.
Muito mais recentemente Mahluza, o homem que se apresentou como quem sugeriu o nome FRELIMO para o movimento de libertação, afirmaria de boca cheia uma espécie de heroísmo para a mesma figura.
A obra de Ncomo apresenta-se como algo de particularmente impressionante na medida em que em quase quinhentas páginas, o autor nos conduz no meio de um ambiente obscuro e proibido à busca do um
Simango reinterpretado e, através de um percurso histórico resgata a figura histórica.
Sem se preocupar pelo rigor científico, vai a busca da verdade e não teme deixar questões em aberto, como foi o caso da data e circunstâncias da sua morte.
Por outro lado, mesmo sem sucumbir ante a dificuldade de discernir um pensamento simanguiano vai mostrar o caminho tortuoso e difícil da formação e desenvolvimento da Frente. Mais do falar em consensos,
ele mete em evidência as várias tendências que era necessário fazer convergir.
Nas linhas que se seguem Demos transcreve alguns excertos da obra.
MORTO EM DATA E LOCAL INCERTO
Difícil estabelecer com exactidão as datas. O certo é que em dia impreciso do período que vai de Maio de 1977 a Junho de 1980, durante o mandato do então governador da província do Niassa, Aurélio Benete Manave, M'telela acolhe no seu solo o que resta de um homem que muito fez para a libertação de Moçambique. O Rev. Uria Timóteo Simango era barbaramente assassinado na companhia de outros
moçambicanos tidos como reaccionários pelo regime totalitário da Frelimo.
O acto, executado dentro do secretismo que caracterizava as hostes do poder político em Moçambique, só viria a tornar-se público cinco anos mais tarde com a fuga para a Africa do Sul de um destacado
membro do SNASP (Serviço Nacional de Segurança Popular) e pela voz da Resistência Nacional Moçambique.
DISCIPLINA PARTIDÁRIA
A primeira tentativa de se conciliar ideias a volta do assunto nas hostes do. poder a politico em Maputo ocorre em1980 quando o Comité Politico Permanente da Frelimo ensaia a intenção de informar o país
e o mundo sobre o destino de Simango. De certa forma ao que tudo indica, essa tentativa criou algumas desinteligências no seio do próprio partido no poder, pois um considerável número de membros da
cúpula daquele partido não terá aceite pactuar com a farsa de que se pretendia forjar.
Desde então, a Frelimo tem-se esforçado por apresentar o caso como encerrado, visto que o plano denominado Código Namuli, conforme mais adiante se verá, não seria levado avante.
O que se sabe sobre a morte de Uria Simango e seus companheiros gira em torna informações colhidas junto de pessoas que de M'telela escaparam com vida mantendo-se o silêncio dos mandantes e dos
executores directos do acto. Tudo leva a crer que houve um pacto entre a classe dirigente, consubstanciado a disciplina partidária.
Segundo assevera o então governador Manave:
"Uma das características da Frelimo é a disciplina e o sigilo partidários. Ninguém está autorizado a tocar na questão Simango senão os que têm autoridade. Eu, como indivíduo singular, não tenho essa autoridade. Houve um juramento de sigilo à volta da questão e apenas a quebra oficial desse juramento poderá libertar os pactuantes para falarem do assunto. Duvido que algum dia isso aconteça. A maioria dos pactuantes está viva e acho que mesmo com a garantia de se manter seus nomes no anonimato, dificilmente podem
dizer algo sobre a figura de Uria Simango.
Conheci Simango e com ele convivi durante muitos anos. O que posso dizer e apenas que aquando da captura dos reaccionários em 1974 eu era o Comandante do Campo de preparação político-militar de
Nachingweia, para onde foram conduzidos esses reaccionários. Todos eram humanamente tratados e nunca torturámos alguém. Fui igualmente o governador de Niassa até 1983, altura em que de lá saí para
cumprir outras tarefas que me confiaram. Nada mais posso acrescentar, senão isso. (Aurélio Benete Manave).
NÃO HÁ RAZÃO PARA TAL
Sintomático do receio e terror psicológico que a questão provoca nos então detentores do poder político em Moçambique, passados que são décadas do silêncio absoluto, e a indisponibilidade mostrada por alguns em abordar com profundidade a "questão Simango". Tal é o caso de Óscar Monteiro, um nome sonante da vida nacional moçambicana após independência. Monteiro afirma que apesar de ter conhecido Simango, conviveu pouco tempo com ele, pois cedo passou a representante da Frelimo em Argélia, o que, de certo modo, o impediu de o conhecer com profundidade. Pouco adiantou sobre o homem. Contudo reconhece
ter tido alguns contactos com o Reverendo no contexto da luta armada de libertação nacional. Nada mais acrescentou, porque "ando muito ocupado e não sei quando é que terei disponibilidade para falarmos
disso." (Óscar Monteiro) Apesar da insistência do autor, visando marcar uma entrevista para outra ocasião, Monteiro pouco interesse mostrou em abordar o assunto. Todavia, Monteiro aparecera mais tarde
a lamentar-se do fim que tiveram Os presos de M'telela dizendo que não se devia ter feito uma tal coisa, pois "não havia razão para isso" (Óscar Monteiro)
O EMBARAÇO DE CHISSANO
Joaquim Chissano, que subira ao trono depois da: morte de Samora Machel em Outubro de 1986, num comício em Maputo a 9 de Janeiro de 1990, igualmente denotando perturbação, em resposta a uma questão sobre os presos políticos levantada na ocasião por um cidadão Zebedias Jaime Machava, viria sub-repticiamente a confundir a questão que lhe era colocada. Estava-se no auge da paz, e uma amnistia em favor dos chamados "bandidos armados", e os considerados "traidores da Pátria", havia sido decretada.
Corajosamente, e em resposta ao apelo formulado por Chissano para que as pessoas naquele comício apresentassem livremente as suas preocupações, implicitamente, Machava levantou a questão de Simango
e outros presos de consciência, tendo-se estabelecido então com o presidente um estranho diálogo nos seguintes termos:
(Machava) Chamo-me Zebedias Jaime Machava. Eu vim aqui para poder apresentar algumas questões que sinto. Eu tenho acompanhado passo a passo a evolução política do nosso país, do nosso partido, e tenho
também acompanhado as iniciativas do nosso governo no sentido de estabelecer a paz neste país. E também queria aproveitar esta oportunidade para poder exprimir o meu sentimento perante os membros
do governo, os membros do Bureau Político e membros do partido para poder fazer chegar essa preocupação que eu tenho.
O governo da República Popular de Moçambique procedeu a uma amnistia aos bandidos armados. Essa amnistia abrange todos aqueles que estão a matar. Os que foram os primeiros que ainda permaneciam no
banditismo armado beneficiam dessa lei quando vieram se entregar voluntariamente, e quando abandonaram a via violenta. Estão beneficiados por essa lei.
Então, eu queria pedir a todos os membros que estão aqui para podermos também rectificar, ver também aqueles que praticaram crimes durante a luta de libertação nacional, os desertores, aqueles que desertam ou que .. .aqueles que nós consideramos como dissidentes, aqueles que não quiseram corresponder com a linha da Frelimo. Estes até este momento estão numa situação de privação, não é? Estão privados não ouvimos falar deles, não se ouve quase nada, não é? não se ouve. Não sei se existem ou já morreram eu não sei. Portanto, eu queria que o povo moçambicano, dentro do sentimento que nós temos de amnistiar aqueles que fizeram ma1, ou que fazem mal, então.
(Chissano) - Sim podemos responder a sua preocupação,já compreendemos.
(Machava) -Sim
(Chissano) - A amnistia era para todos, incluindo esses aí.
(Machava) - Sim
(Chissano) - Não estão incluídos. Estão amnistiados.
(Machava) - Estão amnistiados?
(Chissano) - Uns estão em Portugal, estão na América. Não são muitos. Podem vir a qualquer altura aqui e esses aí para eles a amnistia não acaba. Podem
(Machava) - E também...
(Chissano) - Obrigado
(Machava) - Desculpe Sua Excelência.
(Chissano) - E por causa dos outros. Temos que limitar o tempo.
(Machava)_ Há aqueles que estão nas nossas mãos. Aqueles...
(Voz de mulher) A luta continua! (Rádio Moçambique)
EXECUTADO À REVELIA
Entre as escassas informações (a maioria das quais desencontradas) existem também acusações e ilibações caricatas que ilustram o peso de consciência que reina nos que detinham o poder nas mãos. Fernando Ganhão, outra figura de destaque nas hostes do regime, afirma que tomou conhecimento da liquidação física de Simango posteriormente ao acontecido. Segundo ele, "aquilo foi decidido lá no norte sem o conhecimento de ninguém cá em Maputo.
Foi "AM" quem fez aquilo. Mandou para lá um indivíduo que andava com a filha dele. Parece que mandou liquidar esse indivíduo e, por extensão, todos os presos políticos que estavam a guarda dele no Niassa. Todos foram mortos. Samora chateou-se muito com isso. Ninguém sabia de nada cá. Mesmo Marcelino dos Santos não sabia de nada. Foi uma decisão unilateral de alguém consultar o próprio Chefe do Estado e a direcção máxima do partido. (Fernando Ganhão)
EXEMPLO DE JUSTIÇA POPULAR
Marcelino dos Santos altura segunda pessoa importante na hierarquia partidária foi categórico ao afirmar que a decisão de executar sumariamente Simango e outros presos políticos fora um exemplo de "justiça altamente popular", tendo frisado:
"Mas que se diga bem claramente que nós não estamos arrependidos da acção realizada porque agimos utilizando violência revolucionária contra traidores e contra traidores do povo moçambicano. (Marcelino
dos Santos)
As informações existentes - fruto de mais de 15 anos de cuidadosa investigação - indicam os anos entre 1977 como o período mais provável em que o Rev. Uria Timóteo Simango terá sido morto cruelmente. A sua esposa, professora Celina Simango, viria a ser executada, segundo uma das fontes, em Julho de 1982 na companhia de duas outras senhoras dentre as quais Lúcia Tangane, esposa de um destacado prisioneiro de M'telela -(Raul Casal Ribeiro), ex-comissário politico da Frelimo e secretário-adjunto do Departamento
de Defesa após a morte de Filipe Samuel Magaia.
SAMORA NÃO QUERIA AQUELE HOMEM MORTO
Por sua vez, Mariano de Araújo Matsinhe, outro proeminente membro da hierarquia da Frelimo, afirma que "a confissão Política não foi informada sobre a liquidação física dos presos. Samora não queria
aqueles homens mortos. Queria mantê-los vivos para depois mostrar-lhes o Moçambique independente que ele sonhava.
Ele foi pressionado para fazer aquilo. Nem eu, nem o presidente Chissano sabíamos da morte de Simango e de outros. Alguns passaram a saber que os presos foram liquidados através de uma informação que o
presidente Chispando acabou dando em resposta a perguntas feitas por alguns moçambicanos exilados nos Estados Unidos foi numa reunião com moçambicanos em Nova Iorque. (Mariano Matsinhe)
Mas Matsinhe não ousa divulgar quem terá pressionado Samora Machel a fazer a que ele chama "aquilo", remetendo para a inconcebível ideia de uma Frelimo com separação de poderes, onde par um lado estava
Machel dirigindo uma Comissão Política (Bureau Político) imaculada nos actos e, por outro, o mesmo Machel, na companhia alguns veteranos da luta ar como Salésio Nalyambipano, Lagos Lidimo, Abel
Asikala e alguns mais, agindo independentemente. Uma espécie de anarquia que não bate certo com a realidade, mas, em todo o caso hipótese que não se pode descurar se se tiver em conta que o Serviço
Nacional de Segurança Social (SNASP), então instituído em Outubro de 1975, conferia ao Chefe do Estado plenos poderes de agir (em alguns momentos) num círculo restrito com os oficiais daqueles serviços,
sem prévia consulta aos diversos órgãos do partido no poder.
A IMPRENSA ESTRANGEIRA
No início do último trimestre de 1976, um grupo de jornalistas nacionais e o cineasta mauritano Abid Med Honda, contra todas as previsões, visitaram M'telela no âmbito de uma digressão que faziam pelo norte do País. Com a excepção de Muradali Mamadhusen, então Director Nacional de Informação no Ministério da Informação, os restantes componentes do grupo não sabiam em que local de Niassa se encontravam. De Lichinga, foram todos introduzidos em viaturas tendo seguido para um destino incerto. Chegados a -M'telela, reconheceram de imediato Uria Simango e Joana Simeão.
"Na altura" - segundo relataria um dos jornalistas "a nossa preocupação imediata foi ver o estado de espírito em que se encontravam esses homens e se estavam sendo bem tratados, embora o comandante do campo - um tipo alto e forte, todo ele simpático para connosco - nos tivesse garantido que os presos estavam sendo bem tratados, custou-nos a acreditar pelo semblante que ostentavam aqueles detidos. Ao responderem as nossas perguntas, os presos transmitiam no seu olhar uma mensagem de tristeza e profunda angústia. Víamos medo nas suas respostas porque estavam a volta guardas a controlar todos os movimentos. Para despistar aqueles guardas, e pôr os presos à-vontade. alguns de nós tiveram que mentir
dizendo que eram jornalistas estrangeiros. Fomos fazendo perguntas em inglês e francês ao que Simango e Joana iam respondendo sem problemas porque os guardas não entendiam essas línguas. De regresso a Lichinga ficou combinado que nenhum jornalista deveria fazer uso do material recolhido. E como o seguro morreu de velho. Muradali recolheu tudo, desde apontamentos, filmes, gravações, etc. Esse material está algures aí em Maputo, certamente com os detentores do poder. Os presos estavam sendo maltratados. Julgo que previam um fim fatal.
(Eliodoro Baptista)
UMA DATA PROVÁVEL
Mas a data de 25 de Junho de 1977, segundo aniversário da Independência nacional, tida como o dia da saída dos presos do Centro de acordo com Maria Flora Ribeiro - e data prováveis da execução dos mesmos, entra em colisão com uma das principais testemunhas de M'telele - Manuel Pereira - como mais adiante se verá, Contudo, é curioso notar que aquela data poderá, de facto, ter sido a data da execução de diversas sentenças decretadas nos corredores do poder em Maputo. Com efeito, a 25 de Junho de 1977, no
outro extremo de Moçambique, na zona de Nambude em Cabo Delgado, o então director local da Contra Inteligência Militar, António Miguel, é referido como tendo presidido à execução pública de dois antigos
combatentes, nomeadamente do comandante Joaquim Mandeio Muthamangue, cognominado Francisco Ndeio e do seu adjunto Pedro Canisio.
No decurso da tarefa que the fora incumbida, Pereira constatou que Uria Simango e outros políticos detidos no Centro de M'telela, haviam sido executados em Outubro de 1978. O ano de 1978 como altura
provável da execução dos prisioneiros políticos voltaria a ser ventilado pelo próprio Sérgio Vieira no decurso de um debate televisivo em 2001. Ao se abordar o sistema de reeducação no Moçambique pós-Independência, Vieira admitiu terem havido falhas durante a vigência do monopartidarismo em Moçambique. Sem precisar datas, afirmou que no período entre 1978 e 1979 se haviam cometido excessos, tendo os mesmos culminado com a execução sumária de presos políticos. Em particular, Vieira afirmou ter assinado e ordenado diversas execuções extrajudiciais. Todavia, em jeito de conclusão,
afirmou que não se sentia arrependido.
E SIMANGO NÃO PEDIU PERDÃO
Para RR, os presos políticos foram executados em Junho de 1980 pouco depois da passagem de Samora Machel por Niassa a caminho de Madagáscar. RR que estava ligado as Forcas de Defesa e Segurança na
cidade de Lichinga, diz que lembra-se muito bem do mês porque Samora fez uma escala rápida em Lichinga e no dia seguinte estava de volta a Maputo para anunciar a nova moeda, a metical.
CF por sua vez, citando afirma que a sua fonte informou que o Rev. Simango foi severamente maltratado durante a sua audição. Permaneceu de pé quase seis horas consecutivas perante as pardas figuras que o exigiam que pedisse perdão. Alguns dos presos aflitos, acabaram acedendo ao pedido na esperança de verem as suas penas comutadas.
Contudo, a despeito do cansaço físico que denotava e a constante zombaria à sua volta, Simango negou continuamente pedir perdão. "Não vejo razão nenhuma que me leve a ter que pedir perdão. Não fiz mal
nenhum. A quem devo pedir perdão, aos senhores?" - insurgia-se constantemente Simango, de acordo com a mesma fonte.
NACIONALIDADE E RELIGIAO
Em 1957 foi-lhe concedida uma bolsa de estudos por uma instituição religiosa nos Estados Unidos da América. Todavia, as autoridades coloniais impediram-no de se ausentar de Moçambique para prosseguir
os estudos. Segundo pessoas da época, a recusa fundava-se no facto de, ate então, estarem frescos na memória das autoridades portuguesas os transtornos causados por Kamba Simango aquando do seu
regresso dos Estados Unidos à cidade da Beira. Certamente, as autoridades consideravam ser perigoso se Uria trilhasse os mesmos caminhos que kamba. Para além do mais, vivia-se nessa altura outra turbulência causada por um outro Simango-Sixpence - promotor do Núcleo Negrofilo de Manica e Sofala. A coberto do Núcleo, Sixpence Simango e seus correligionários, os Negrófilos, como habitualmente se identificavam os membros do Núcleo, transformaram-se em ouvido e fiéis mensageiros das populações negras perante as autoridades.
Contra as sevícias infringidas pelas autoridades coloniais contra a população negra, o Núcleo Negrófilo de Manica e Sofala destacava-se nos pronunciamentos em nome dos oprimidos.
O destino havia apanhado o jovem pastor Uria Simango nesse ambiente de discriminação racial e de perseguições.
A semente do nacionalismo havia sido plantada anos antes pelo Rev. Kamba. Todavia, o conceito de nação em Manica e Sofala, e em particular entre as populações da etnia shona, agudizar-se-ia com o deflagrar do motim da Machanga. O motim seria urna das principais fontes de inspiração para uma luta aberta contra a presença colonial portuguesa em Moçambique. Vários jovens abandonaram nessa época a colónia indo refugiar-se na então Rodésia do Sul. Do Búzi, onde trabalhava numa empresa açucareira, saiu o principal percursor da Udenamo, Lhomulo Chitofo Cwambe, mais conhecido por Adelino Gwambe.
Muitos outros abandonariam Mocambique exilando-se nos países vizinhos.
Mas da leitura de um estudo recente sobre e motim de Machanga,
depreende-se que o levantamento não tinha um cunho político, pois foi motivado pelo comportamento irresponsável de alguns funcionários administrativos corruptos que haviam desviado donativos de
emergência para as vitimas dum ciclone que havia assolado a zona.
Simango havia tomado conhecimento da Constituição na África do Sul, por um grupo de moçambicanos oriundos maioritariamente de Mambone e Machanga de uma associação denominada Associação Fúnebre de Moçambique (AFM). Ferraz de Freitas queria saber de Urias Simango e Ngwenha qual o papel que a Igreja Protestante havia tido nos levantamentos de Machanga e Mambone.
Para além de mais, sendo Resende um agente do Vaticano, não poderia na altura fazer mais ondas do que então fazia. Pelo que Simango nunca se expunha muito perante o bispo no respeitante à independência das colónias portuguesas. Contudo, de Resende e Bertulli, soube Simango extrair grandes ensinamentos. Tanto um como outro nutriam denodada admiração pelo jovem pastor negro que, contrariamente à maioria naquela época, falava bem o português e o inglês, e tinha ideais claros sobre a salvação humanidade.
05/06/2004
A book that will make waves URIA SIMANGO
A book that will make waves
The biography of a former vice president of Frelimo who was executed after the country gained independence, will go on sale in Maputo next month.
A political science student at the University Eduardo Mondlane in Maputo is the author of a biography of the former vice president of Frelimo, Uria Simango . Simango was executed after the country gained independence, and he is still the subject of controversy thirty years on. The book by Barnabé Lucas Nkomo, entitled Uria Simango : un homem, uma causa (468 pages) will be published by Ediçoes Novafrica of Maputo. It is the result of long years of research and interviews with people who lived through the events and will raise considerable doubts on the official version of the role of Uria Simango in the movement of national liberation. This will not fail to cause a degree of embarrassment to the leaders of the governing party just six months before the general elections at the end of this year.
Nkomo, a native of the province of Sofala, like the Simango family, has reconstituted the first years in the life of Uria Simango , then a churchman, and of his close ties with the Udenamo, a nationalist movement which afterwards formed the core of the Frelimo of which Simango later became vice president. By working from testimonies by the founder members of Frelimo and from documents declassified by the American State Department, the author is able to sketch a portrait of the various factions that were in contention at the time within Frelimo. The author also outlines Simango 's last years, interned by his former companions in arms, in a re-education camp in Niassa province (in the northern part of the country) where he was summarily executed on an unknown date sometime between 1977 and 1979. Since then Uria Simango has always been presented as a reactionary ?enemy of the people? in Frelimo mythology. However, Nkomo sees him more as ?a nationalist missionary whose commitment and dedication to the cause of freedom of his people were negated by his country's recent history? .
One of Uria Simango 's sons, Lutero is now the leader of the Partido da Convençao Nacional (PCN, opposition) while another son, Davis, was elected mayor of Beira in November 2003 on an opposition list presented by Afonso Dhlakama's Renamo.