quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Afinal quem não quer deixar em paz a quem...?

de vez em quando... da inglaterra
Fahed Sacoor
Sou um “velho amigo” do Sr Machado da Graça, nestas andanças, essencialmente sobre a religião.
Trocamos de opinião sobre isso. Pensei que com o andar dos tempos e com o nascimento de muitas religiões em Moçambique, o Sr Machado acabaria por se inclinar para uma delas. Bem me parece que não, porque ainda confunde. É que Deus é UM Só – O ÚNICO, embora para chegarmos até Ele, atribuamos-Lhe vários nomes, muito bem inumerados na sua prosa. Vejo que manteve-se incólume na sua teoria ateísta. Homem firme o qual aproveito para mandar um forte abraço.
O Sr Machado da Graça, tem vindo a escrever cartas muito didáticas no Correio da manhã, cujos destinatários são vários. Não sei se realmente as pessoas a quem se dirige o respondem, mas, apesar de eu não ser o Luís a quem escreveu a sua última carta (vou fazer de conta que o sou), para dar a minha visão sobre o seu teor.
1 - Diz e muito bem o Sr Machado da Graça que nunca ninguém foi capaz de provar, por A+B, a existência de deus de qualquer religião. Eu também estou de acordo consigo neste ponto. Para mim a existência de Deus é uma convicção íntima de Fé, um “sintóma”,infelizmente fora do alcance de muitos e principalmente de ateus. Todavia, também não diz que a ciência ainda não foi capaz de nos provar até hoje, como andamos ao cimo da Terra! É verdade que existem muitas teorias, mas nenhuma delas nos mostra em concreto, factos consumados. É por isso que há religião e religiosos na terra, de outra forma, já estariam extintos. Por mais detalhada explicação que a ciência nos dá sobre a vida, há sempre um ponto que ela estagna. Não é por acaso que se gastam trilhões para se mandar sondas a Marte e quejandos, a procura de uma prova da nossa existência.
2 - Esta onda de violência que se gerou pelo mundo fora, por causa desse maldito filme, foi de facto desencadeada por alguns crentes muçulmanos (não tinha que os omitir), que é de todo condenável assim como, todas as provocações que resultam nessa violência, deviam ser condenadas. Mais uma vez concordo consigo, quando diz que essa violência não tem razão de ser, pois, isso deu muita publicidade ao filme e só assim essa película teve a importância que teve. Há uns tempos para cá, também foi assim com os versículos satânicos, ninguém dava nada por esse livro até que alguém lembrou-se de o “publicitar”. De um dia para o outro o seu autor ficou rico, famoso e “auto-condenou-se perpetuamente”.
3 - De facto se nessa onda de violência houve crentes mais determinados e que exageraram (erradamente, porque nada justifica a morte de inocentes) no seu limite, também houve outros milhares pelo mundo que protestarm sem violência e de uma forma ordeira sem incidentes, incluindo aqui na Inglaterra onde tive o prazer de participar, cuja imprensa mundial não deu o mesmo destaque. Enfim, são critérios.
4 - Protestar civilizadamente e de uma forma ordeira é um direito que assiste a todos, mesmo nos Estados Unidos onde a Constituição e as leis não permitem ao Governo proibir que se faça um filme destes, como afirma. Mas se houvesse vontade eles até podiam censurar. Então, não se intrometem eles em assuntos para os quais não são chamados fora da sua juridição? Não me diga que não podem atenuar, estancar ou mesmo proibir à sua maneira, um acontecimento que “a priori”sabem ser de índole provocativa que pode emanar em violência! Quem terá a ousadia de os impedir?
5 - Condeno veementemente qualquer forma de violência. O problema é que raramente se condena ou se questiona como ela emerge. Repare que “a procissão ainda ia no adro” no que respeita ao filme, quando um jornal francês decidiu acender outro rastilho, publicando um “cartoon” maldoso sobre o Profeta, nas suas páginas! Se isto não é provocação, não sei realmente como chamá-lo! Será liberdade de expressão? Já que se fala muito nisso, eis uns ex:
- O busto do Bush aparece sem querer, decapitado numa série de TV americana. Quando detectaram esta falha, o canal, veio publicamente pedir desculpas, e prometeu de imediato remover aquela cena.
Afinal quem não quer deixar em paz a quem...?
Repare que essa cena apareceu casulamente sem ser programada para tal, foi apenas uma reflexão cinematógrafica coincidente e... teve o tratamento que teve!
- Julian Assange que pós a “nu”todas as verdades sem qualquer difamação no seu Wikileaks, está a ser perseguido para ser detido e extraditado para um julgamento fora do seu próprio país. Parece que hoje em dia é crime dizer verdades!
- O Paolo Gabriel, mordomo do Papa, seguramente vai ser penalizado não apenas pelo roubo, mas por ter publicado o que não devia.
- As revistas e jornais proibiram de publicar fotos do príncipe Henry da Inglaterra e da sua cunhada Kate, onde ambos aparecem nus em ocasiões diferentes.
Ora que culpa têm os jornalistas se eles andaram pelados?
No entanto, tudo muda de figura quando atacam, difamam o Profeta dos muçulmanos. A estes insultos, os demagogos alvitram a liberdade de expressão. Se acham ser natural e aceitável salvaguardar a imagem de alguns cidadãos terrestres, porque mudam de opinião, quando o mesmo é feito e nas mesmas circunstâncias em relação a um Profeta que é só, um intermediário Divino?
6 - Finalmente, Sr. Machado da Graça, seja em que século for, ao protestar ninguém está a impor a ninguém o que quer que seja. Apenas que deixem de provocar. É bom que fique claro que ninguém está a agredir ou a matar pelo simples facto de não compartilhar os seus deuses como tenta fazer passar a sua mensagem, mas há um sentimento de revolta em cada muçulmano pela injusta, descabida, intolerante provocação e difamação ao Profeta. É preciso que isto fique claro, pois, são duas coisas bem distintas.
Afinal quem não quer deixar em paz a quem... eis a questão!
fsacoor03@yahoo.com.br
CORREIO DA MANHÃ – 27.09.2012