Hoje eu completo 29 anos e, para variar, decidi conceder uma entrevista à mim mesmo:
Eu: Então, tudo bem?
Edgar: Estou calmo.
Eu: Como é que me sinto, aos 29 anos?
Edgar: Bom, a minha barba está enorme! Deixei-a crescer propositadamente e fiquei sem a cortar todo este tempo para hoje, dia 27 de Setembro, estar propositadamente com um “look” mais adulto, kakakakakakakakakakah... E outro pormeno...
See more
Eu: Então, tudo bem?
Edgar: Estou calmo.
Eu: Como é que me sinto, aos 29 anos?
Edgar: Bom, a minha barba está enorme! Deixei-a crescer propositadamente e fiquei sem a cortar todo este tempo para hoje, dia 27 de Setembro, estar propositadamente com um “look” mais adulto, kakakakakakakakakakah... E outro pormeno...
r, a minha barriga está relativamente maior do que no dia que completei 28 anos!
Eu: Heheheheheheheh...
Edgar: Concordo, né?
Eu: Maningue! Mas, e o resto?
Edgar: Estou maningue atrasado para o job hoje!
Eu: Atrasei-me na paragem de chapa, man. Ao menos vou ao job... Sei que, por exemplo, o meu Chefe Máximo está há quase uma semana sem prestar os devidos serviços ao Estado que o paga para ir bater palmas algures em Pemba e anunciar a "vitória retumbante" do "dono de Moçambique" nas fantoches eleiçoes internas de um partido político. Eu poderia ter achado por bem ficar em casa hoje ou ter ido ao Contentor Amarelo bater algumas e também me auto-eleger como o cliente mais mediático daquilo... Teria, no máximo, uma falta injustificada e não me poderiam despedir por isso. Afinal, hoje é o dia do meu aniversário! Entretanto, vim trabalhar. Percebo?
Edgar: Percebo.
Eu: Mas esse meu carácter, não acho que um dia vai me trazer terríveis dissabores? Estou aqui a atacar o meu chefe como se fosse a coisa mais natural do mundo...
Edgar: Não o estou a atacar. Estou a apresentar um facto. Uma constatação, consubstanciada por evidências. Ele não está lá como meu chefe, está lá como mero indivíduo. Um cidadão. Militante do seu partido. Eu estou na mesma condição de cidadão e, pese embora as nossas atribuiçoes profissionais se confundam com as nossas pessoais, eu sei perfeitamente onde ficam as fronteiras entre uma e outra coisa. Acredito que ele também o saiba. É exactamente por isso que estou nem aí para eventuais represálias. O Kamikaze entre o meu nome e apelido está aí por alguma razão. Quanto ao meu carácter, isso é meramente subjectivo, percebo?
Eu: Percebo... Eu sempre fui assim, maluco?
Edgar: Depende do conceito de maluco. Serei maluco por dizer ou fazer as coisas de modo aberto, frontal e livre? Maluco por dizer em voz alta e com a cabeça erguida aquilo que todo o mundo diz entre quatro paredes ou em murmúrios? Se calhar seja apenas um gajo diferente. Sempre soube disso. Eu fiz a quarta e a quinta classes num único ano, no ensino primário. Fiz imaculavelmente o ensino secundário. Entrei no ensino superior como o aluno mais novo da minha turma e com a terceira melhor nota de ingresso. Fui o único estudante a fazer o conservador curso de Relaçoes Internacionais e Diplomacia com um brinco na orelha e que ia à faculdade com apenas um caderno no bolso traseiro da bag jeans, heheheheh... E graduei com a quarta melhor nota do curso. Fiquei algum tempo desempregado ou subempregado, até conseguir entrar para o Estado numa vaga para técnicos com a minha formação e fui o primeiro colocado, sem cunhas e comprometimento partidário. Faço o meu job da melhor forma possível e sou reconhecido e respeitado por isso. Tenho também defeitos, como todo o mundo. Tenho os meus momentos de arrogância, de teimosia, de loucura, de parvoíces e de delírios. Como toda a gente... Sou maluco por isso?
Eu: Ok, não sou maluco.
Edgar: Hehehehheheheheheheh...
Eu: Tenho já 29 anos. O meu pai já era casado e com 4 filhos, nessa idade. Qual é o meu problema?
Edgar: Se calhar é por eu não ver nenhum problema nisso. Tenho uma ex-namorada que já tem 3 filhas e é muito mais nova do que eu. Tenho vários amigos mais novos já com mulher e filhos. Mas aí está, não está em lado nenhum escrito que devemos todos nos casar ou ter filhos...
Eu: Se calhar deve ser por isso que sou um acidente com as mulheres!
Edgar: Se calhar deve ser por isso que sou o paraíso sem as mulheres!
Eu: Mas elas te assediam, apreciam as tuas qualidades...
Edgar: E também se traumatizam com os meus defeitos, hehehehheheheheh...
Eu: Deve ser por esse meu temperamento instável. As mulheres querem segurança afectiva. Segurança financeira e material... Esse meu modo de ser e de estar pode dar a entender que, em função dos meus dramas e "batalhas", possa passar a qualquer momento do "conforto" à desgraça. Ninguém quer ter um parceiro suicida e com propensão ao infortúnio!
Edgar: Paciência.
Eu: Paciência?!
Edgar: Elas atirar-se-iam à mim indiscriminadamente se eu fosse politicamente cadáver ou socialmente estéril, em termos de activismo e cidadania? Se eu "comesse e limpasse a boca", alheio às barbaridades e arbitrariedades que me rodeiam? Se resumisse a minha existência nesse mundo ao conformismo, ao silêncio cúmplice ou proteccionista? Se passasse a vida a "acreditar" que é melhor ser social e profissionalmente próspero como servilista de um sistema político que mantem na indigência e marginalização pessoas reais que eu conheço ou desconheço? As mulheres passariam a desejar-me pelo cargo de liderança que passar a exercer, profissionalmente, fruto de incontestáveis provas de militância e confiança políticas ao partido-Estado ou ao "filho mais iluminado da nação"? Aceitar-me-iam instantaneamente pelo Audi ou por qualquer carro-dubai que me for atribuído por inerência da disponibilização do meu ânus político aos que roubam, exploram, enganam e empobrecem o povo?
Eu: Malta aqueles meus amigos, né? Hehehheehheheheh...
Edgar: Se eu dissesse o que muitos deles me andam a dizer nos Contentores e inboxs dessa vida, hehehehheheheh...
Eu: Mas eu não tenho medo de perder o emprego, em função dessa "guerra aberta" ao tal do sistema? De me acantonarem em nenhures ou de me adiantarem para o além mais cedo do que o devido?
Edgar: Eu só tenho medo de Deus. Deve ser por isso que sou cristão praticante, incondicionalmente.
Eu: Consigo ser mesmo cristão com essa personalidade tempestiva toda?
Edgar: Na minha comunidade de fé eu sou outra coisa, completamente distinta do que sou no job ou nos contentores. Falo dos modos de actuação, da forma de ser e de estar. Sei perfeitamente porque vou regularmente aos cultos e porquê é que sempre fui catequista. Os meus irmãos de fé sabem perfeitamente o que eu sou lá e os meus catequisandos têm algum motivo para acharem que eu fui ou tenho sido o melhor deles. Sei distinguir clara e inequivocamente os meios e tenho a felicidade de conhecer perfeitamente a palavra de Deus. Sei propriamente o que Deus diz sobre este mundo e os seus carrascos. Sei o que Ele requer de mim, como um dos seus agentes aqui na terra. Não é por acaso que eu digo para todo o mundo que a minha profissão é ser SERVO dele, e não de Guebuza, matéria, influência ou dinheiro algum deste mundo... A minha relação com Deus é anterior à tudo o que "descobri" como cidadã, na idade adulta. Aos 11 anos já tinha lido quase toda a Bíblia Sagrada e só não percebia o livro do Apocalipse, heheheheheh...
Eu: Chega, vai lá trabalhar, Edgar. Feliz Aniversário para mim! Não há festa, copo de água, whatever?
Edgar: Nunca tive festa na vida, porquê é que hoje teria de ser diferente?!
Eu: Heheheheheheheh...
Eu: Heheheheheheheh...
Edgar: Concordo, né?
Eu: Maningue! Mas, e o resto?
Edgar: Estou maningue atrasado para o job hoje!
Eu: Atrasei-me na paragem de chapa, man. Ao menos vou ao job... Sei que, por exemplo, o meu Chefe Máximo está há quase uma semana sem prestar os devidos serviços ao Estado que o paga para ir bater palmas algures em Pemba e anunciar a "vitória retumbante" do "dono de Moçambique" nas fantoches eleiçoes internas de um partido político. Eu poderia ter achado por bem ficar em casa hoje ou ter ido ao Contentor Amarelo bater algumas e também me auto-eleger como o cliente mais mediático daquilo... Teria, no máximo, uma falta injustificada e não me poderiam despedir por isso. Afinal, hoje é o dia do meu aniversário! Entretanto, vim trabalhar. Percebo?
Edgar: Percebo.
Eu: Mas esse meu carácter, não acho que um dia vai me trazer terríveis dissabores? Estou aqui a atacar o meu chefe como se fosse a coisa mais natural do mundo...
Edgar: Não o estou a atacar. Estou a apresentar um facto. Uma constatação, consubstanciada por evidências. Ele não está lá como meu chefe, está lá como mero indivíduo. Um cidadão. Militante do seu partido. Eu estou na mesma condição de cidadão e, pese embora as nossas atribuiçoes profissionais se confundam com as nossas pessoais, eu sei perfeitamente onde ficam as fronteiras entre uma e outra coisa. Acredito que ele também o saiba. É exactamente por isso que estou nem aí para eventuais represálias. O Kamikaze entre o meu nome e apelido está aí por alguma razão. Quanto ao meu carácter, isso é meramente subjectivo, percebo?
Eu: Percebo... Eu sempre fui assim, maluco?
Edgar: Depende do conceito de maluco. Serei maluco por dizer ou fazer as coisas de modo aberto, frontal e livre? Maluco por dizer em voz alta e com a cabeça erguida aquilo que todo o mundo diz entre quatro paredes ou em murmúrios? Se calhar seja apenas um gajo diferente. Sempre soube disso. Eu fiz a quarta e a quinta classes num único ano, no ensino primário. Fiz imaculavelmente o ensino secundário. Entrei no ensino superior como o aluno mais novo da minha turma e com a terceira melhor nota de ingresso. Fui o único estudante a fazer o conservador curso de Relaçoes Internacionais e Diplomacia com um brinco na orelha e que ia à faculdade com apenas um caderno no bolso traseiro da bag jeans, heheheheh... E graduei com a quarta melhor nota do curso. Fiquei algum tempo desempregado ou subempregado, até conseguir entrar para o Estado numa vaga para técnicos com a minha formação e fui o primeiro colocado, sem cunhas e comprometimento partidário. Faço o meu job da melhor forma possível e sou reconhecido e respeitado por isso. Tenho também defeitos, como todo o mundo. Tenho os meus momentos de arrogância, de teimosia, de loucura, de parvoíces e de delírios. Como toda a gente... Sou maluco por isso?
Eu: Ok, não sou maluco.
Edgar: Hehehehheheheheheheh...
Eu: Tenho já 29 anos. O meu pai já era casado e com 4 filhos, nessa idade. Qual é o meu problema?
Edgar: Se calhar é por eu não ver nenhum problema nisso. Tenho uma ex-namorada que já tem 3 filhas e é muito mais nova do que eu. Tenho vários amigos mais novos já com mulher e filhos. Mas aí está, não está em lado nenhum escrito que devemos todos nos casar ou ter filhos...
Eu: Se calhar deve ser por isso que sou um acidente com as mulheres!
Edgar: Se calhar deve ser por isso que sou o paraíso sem as mulheres!
Eu: Mas elas te assediam, apreciam as tuas qualidades...
Edgar: E também se traumatizam com os meus defeitos, hehehehheheheheh...
Eu: Deve ser por esse meu temperamento instável. As mulheres querem segurança afectiva. Segurança financeira e material... Esse meu modo de ser e de estar pode dar a entender que, em função dos meus dramas e "batalhas", possa passar a qualquer momento do "conforto" à desgraça. Ninguém quer ter um parceiro suicida e com propensão ao infortúnio!
Edgar: Paciência.
Eu: Paciência?!
Edgar: Elas atirar-se-iam à mim indiscriminadamente se eu fosse politicamente cadáver ou socialmente estéril, em termos de activismo e cidadania? Se eu "comesse e limpasse a boca", alheio às barbaridades e arbitrariedades que me rodeiam? Se resumisse a minha existência nesse mundo ao conformismo, ao silêncio cúmplice ou proteccionista? Se passasse a vida a "acreditar" que é melhor ser social e profissionalmente próspero como servilista de um sistema político que mantem na indigência e marginalização pessoas reais que eu conheço ou desconheço? As mulheres passariam a desejar-me pelo cargo de liderança que passar a exercer, profissionalmente, fruto de incontestáveis provas de militância e confiança políticas ao partido-Estado ou ao "filho mais iluminado da nação"? Aceitar-me-iam instantaneamente pelo Audi ou por qualquer carro-dubai que me for atribuído por inerência da disponibilização do meu ânus político aos que roubam, exploram, enganam e empobrecem o povo?
Eu: Malta aqueles meus amigos, né? Hehehheehheheheh...
Edgar: Se eu dissesse o que muitos deles me andam a dizer nos Contentores e inboxs dessa vida, hehehehheheheh...
Eu: Mas eu não tenho medo de perder o emprego, em função dessa "guerra aberta" ao tal do sistema? De me acantonarem em nenhures ou de me adiantarem para o além mais cedo do que o devido?
Edgar: Eu só tenho medo de Deus. Deve ser por isso que sou cristão praticante, incondicionalmente.
Eu: Consigo ser mesmo cristão com essa personalidade tempestiva toda?
Edgar: Na minha comunidade de fé eu sou outra coisa, completamente distinta do que sou no job ou nos contentores. Falo dos modos de actuação, da forma de ser e de estar. Sei perfeitamente porque vou regularmente aos cultos e porquê é que sempre fui catequista. Os meus irmãos de fé sabem perfeitamente o que eu sou lá e os meus catequisandos têm algum motivo para acharem que eu fui ou tenho sido o melhor deles. Sei distinguir clara e inequivocamente os meios e tenho a felicidade de conhecer perfeitamente a palavra de Deus. Sei propriamente o que Deus diz sobre este mundo e os seus carrascos. Sei o que Ele requer de mim, como um dos seus agentes aqui na terra. Não é por acaso que eu digo para todo o mundo que a minha profissão é ser SERVO dele, e não de Guebuza, matéria, influência ou dinheiro algum deste mundo... A minha relação com Deus é anterior à tudo o que "descobri" como cidadã, na idade adulta. Aos 11 anos já tinha lido quase toda a Bíblia Sagrada e só não percebia o livro do Apocalipse, heheheheheh...
Eu: Chega, vai lá trabalhar, Edgar. Feliz Aniversário para mim! Não há festa, copo de água, whatever?
Edgar: Nunca tive festa na vida, porquê é que hoje teria de ser diferente?!
Eu: Heheheheheheheh...