ditorial
Reconhecemos
que o partido Frelimo é “todo-poderoso”; É o único partido que governa o
País (não temos governo de coligação); Tem a maioria qualificada na
Assembleia da República, pelo que pode aprovar ou chumbar qualquer lei,
independentemente do posicionamento da oposição; Goza de poderio
financeiro, talvez mais do que o próprio Estado!
Não
vamos aqui discutir como a Frelimo atingiu essa “grandeza”. Vamos
apenas fazer apelos a este “todo-poderoso” partido que, como foi dito
pelo seu secretário-geral, gastou cerca de oito milhões de dólares pelo
congresso que decorre na cidade de Pemba a partir do próximo domingo.
As
decisões que forem a tomar neste congresso terão reflexo na vida dos
cidadãos. As opções que o partido escolher terão impacto na vida de
todos os cidadãos – moçambicanos e não moçambicanos – aqui residentes.
Sejam eles do partido Frelimo ou não.
Por
isso, quando estiverem reunidos na turística cidade de Pemba, no
majestoso complexo erguido (numa área de sete hectares), por favor
pensem em programas que irão beneficiar o povo.
Quando
estiverem nas salas climatizadas do complexo que acolhe o congresso ou
das mais diversas estâncias turísticas em repouso, pensem nas milhares
de pessoas que vivem nesta cidade, em zonas propensas à erosão e vedadas
à habitação, não diremos digna, mas que lhes garanta segurança. Essas
pessoas precisam de um governo que melhore o sistema de urbanização.
Quando
estiverem a circular na cidade de Pemba, nas modernas viaturas que irão
mobilizar para garantir o vosso transporte, por favor lembrem-se das
milhares de pessoas doentes, que nos diferentes distritos de Cabo
Delgado morrem à caminho do centro de saúde, por falta de transporte.
Quando
estiverem a comer peixe, camarão, lagosta, por favor lembrem-se de
milhões de crianças da província de Cabo Delgado que sofrem de
desnutrição crónica, resultado da privação alimentar desde a nascença.
Quando
nos vossos smart phones estiverem a receber emails e sms’s de amigos em
Maputo, a felicitá-los por os ter visto nas câmaras da televisão,
pensem nesse momento que há milhões de moçambicanos que não sabem ler
nem escrever, porque na sua comunidade não existe escola.
Quando
sentados na sala do congresso, olharem pela janela e verem centenas de
homens fardados e armados garantindo a vossa segurança, lembrem-se de
dezenas de raparigas moçambicanas que são estupradas diariamente à noite
quando voltam da escola, por falta de segurança nos seus bairros.
Quando
beberem a vossa água mineral, lembrem-se que há milhões de moçambicanos
que percorrem quilómetros à procura de uma fonte de água do rio ou
charco para beber, eles com os seus animais.
Quando
sentirem tonturas, então virarem para o lado verem uma ambulância
pronta para vos dar assistência médica, lembrem-se que há dezenas de
mães moçambicanas que morrem diariamente em partos caseiros por falta de
uma ambulância para levá-las à maternidade.
Podíamos fazer mais apelos, mas se pelo menos fizessem o que aqui pedimos, o povo agradeceria. (Redacção)