domingo, 9 de junho de 2013

SOBRE ANEMIA DOS PRINCÍPIOS

De algum modo nos últimos anos constato que soluções de apoio e busca de facilidades conduzem numerosas organizações políticas e sociais a trocarem os seus princípios e razões de existência 
 
por busca de apoios e bem fáceis. O resultado? A deserção das massas que se refugiam na não comparência, na desistência em participarem.
Em Maputo, no Primeiro de Maio na Praça dos Trabalhadores, encontrei poucas centenas de participantes, quando estava habituado a ver a praça cheia e animada. Pelo Sete de Abril, idem. Nas eleições autárquicas em Quelimane, Cuamba, Pemba e Inhambane os que não participaram na ida às urnas triunfaram, os votantes de um modo geral miseramente confinaram-se bem abaixo dos 20%.
Discutimos nalgum lugar este alheamento de cidadania? Que perguntas se fazem sobre este assunto nas reuniões dos Partidos, incluindo FRELIMO, nos sindicatos, nas organizações de mulheres e na própria OMM, na OJM etc.
Quero crer que na busca de agradar aos patrões de fora, a encantar o grande capital estrangeiro e, pela direita e ainda mais à direita, encontrarem-se patrocínios das empresas, dos régulos, dos manda-chuvas locais deixamos de pugnar pelos nossos direitos, pelas nossas conquistas por tudo aquilo que constitui o combate que travamos ao longo dos anos.
O arquitecto Forjaz mencionou a debilidade ideológica, numa entrevista. Debilidade, alienação ou simplesmente anemia? 
As querelas que assistimos no Sindicato dos Professores envergonham uma organização digna e que merecia muito mais do que disputas de alcavalas entre pessoas que pouco fizeram pela causa. Não se discute a qualidade do ensino que leva um semi-analfabeto a entrar numa Faculdade, sem que conheça sequer a tabuada ou escrever dois parágrafos sem erros de ortografia e sintaxe. Fazer-se do ensino uma mera fábrica de diplomas castra o porvir de uma sociedade, da nossa Pátria.
Já não se ouve a OMM a lutar contra os casamentos prematuros, a violação imposta às viúvas, a poligamia e o lobolo, mas encontramos estas palavras de ordem no seu Hino.
Onde encontramos as formações de jovens fora dos queixumes? Algumas apenas existem graças ao financiamento de organizações estrangeiras da direita. Outras, como a OJM vêm, delegações abandonarem a sua Conferência porque recusaram a manipulação para legitimar uma eleição com vencedores pré-designados. Depois dissolvem-se as direcções!
Qual dos muitos partidos da oposição apresenta programas coerentes sobre políticas agrárias, financeiras, industriais, de transportes, de exploração dos recursos naturais, de educação, de saúde, de criação de emprego, de aumento da produtividade?
O estar apenas contra o governo ou a favor dele, nada significa de substantivo e muito menos melhora a vida do povo, consolidada a nossa soberania. Quanto muito essa posição traduz um mero oportunismo, busca de um lugar ao sol e taxos.
Queremos servir a quem, agradar a quem, lutarmos para alcançarmos que objetivos?
A balbúrdia política que se assiste em vários países como os Estados Unidos, Portugal, Reino Unido, Islândia Espanha, Itália, Alemanha, Índia estará alheia à alienação dos princípios, à substituição das ideologias pelas lutas entre interesses individuais, conflitos entre as várias elites predadoras?
Poderá o capitalismo responder aos imperativos de progresso, trabalho e segurança para todos os cidadãos?
Não estão as crises contínuas dos sistemas financeiros determinadas pelas regras sacrossantas do capitalismo, conducente necessariamente aos jogos especulativos? Não faz parte dos erros crassos e deliberados a confusão entre as leis da oferta e procura, as leis do mercado com as apetências do capitalismo? O desregramento total introduzido pelos gurus de Reagan, Thatcher e Merkel não suscitaram o caos actual?
O que se provou errado, as teses de Marx ou as dos capitalismos? Não se está a verificar como previsto por Marx que se estão a imolar as largas massas no altar dos lucros das grandes empresas, das transnacionais, a pauperizar as camadas médias?
Que benefícios auferem os desempregados, os idosos de Portugal, da Espanha, de Chipre, da Grécia dos lucros fabulosos do capital? Quem vai compensar os milhares de trabalhadores soterrados e queimados das usinas de morte do Bangladesh? Os fabricantes de modas? As grandes marcas que vestem o Primeiro Mundo?
O aconteceu lá e não cá satisfaz? Dá-nos alguma garantia? Quando centenas de mineiros ficaram soterrados e mortos em Moatize, antes da nacionalização das minas, os assassinados nas minas vizinhas de platina, os espoliados da Benga e de Cateme, Palma fazem parte dos eventos lá e não cá?
Como um povo que sofreu para se libertar e hoje vê muitas das suas conquistas e objectivos sacrificados diante de interesses predadores de fora e até de dentro, necessitamos de reflectir e agir para salvaguardar o nosso.
Pela promoção dos princípios e dos nossos interesses, o meu abraço,  
P.S. Correu por aí muita demagogia, populismo, agitação e financiamento estranho para promover uma malfadada greve, encabeçada pelo narcisismo de quem pouco ou nada serviu.
A demagogia frisou o ridículo quando à força se quis transformar uma convocatória policial a uma subida ao Gólgota. Estupidezes fazerem-se mártires em detenções ridículas. Bacorada abusiva usar-se o nome do El Che, que nunca cobrou para tratar alguém e as suas lutas destinaram-se a libertar os povos subjugados e não a defender salários do seu grupo profissional. Falta de matéria para publicar!
A Ordem dos Médicos voltou a distanciar-se da greve, em nome da ética e da deontologia. Bem Haja!
Fora da capital e num ou noutro centro, mostrou-se nula ou extremamente fraca a adesão, o que honra os profissionais que servem, com sacrifícios, mas servem.
Abraço a quem serve,
R.P.S. Obrigado Mia Couto pelo trabalho.
Felicitações a quem honrado a escrita se viu agora agraciado com o Prémio Camões na data em que Mestre Craveirinha, outro Prémio Camões, completaria 91 anos. A Pátria orgulha-se dos seus filhos.
Um abraço,
 

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