terça-feira, 11 de junho de 2013

Os desafios da “Geração da Viragem” em Moçambique

Pensamento de: Vasco Muchanga

Apesar de na actualidade em Moçambique não se ouvir com a mesma frequência o discurso sobre a juventude moçambicana como Geração da Viragem, a ausência deste discurso não anula a reflexão  sobre a juventude moçambicana, em particular sobre o seu papel activo (e não passivo) no processo do desenvolvimento político, económico, social e cultural a vários níveis desde a família, comunidade e na sociedade em geral.
Em todas sociedades e em todos tempos, a juventude, mesmo como uma categoria socialmente construída no tempo e espaço determinados (complexa), ela sempre foi considerada (objectiva e subjectivamente) como uma fase de interserção e participação activa dos indivíduos na vida política, económica, social e cultural nas famílias, comunidades e sociedades onde se encontra.
No contexto moçambicano e de acordo com os discursos políticos do governo do dia, a juventude é considerada como Geração da Viragem. É interessante essa concepção, pois ela permite-nos perceber que do ponto de vista político há uma base substancial que sugere haver a ideia da valorização da juventude como agente de mudança. Se há essa percepção, também é passível questionar até que ponto os jovens moçambicanos constituem, de facto, agentes de mudança? Em que medida e como eles participam no processo de desenvolvimento político, económico, social e cultural do país? Quais são os desafios  dos jovens nesse processo de mudança política, económica, social e cultural?
Considerar a juventude moçambicana actual como Geração da Viragem significa atribuir ou reconhecer que ela tem a consciência e responsabilidade individual e colectiva para fazer diferença, mudar as condições materiais e ideológicas. Por outro lado, pressupõe a ideia de que há condições subjectivas e objectivas, criadas por ela para dinamizar essa mudança a todos níveis, desde a família, comunidade e na sociedade onde ela se encontra. O conceito de geração, de forma resumida, remete a um grupo social cujos indivíduos foram nascidos na mesma época no tempo e espaço determinados e que detém uma experiência percebida como comum (não necessariamente por idade biológica, mas também por características específicas ligadas ao contexto político, económico, social e cultural da sociedade onde se encontram), porém expressando uma determinada forma de encarar a vida e os seus problemas. Já o conceito de viragem, resumidamente, remete ao acto ou efeito de virar, uma mudança de direcção na deslocação de automóveis. Na perspectiva sociológica pode ser considerada como mudança social que do ponto de vista estrutural está relacionada directa ou indirectamente às mudanças nos campos políticos, económicos, cultural da sociedade no tempo e espaço determinados.
Dizer em que medida e como os jovens, enquanto geração da viragem, participam no processo de desenvolvimento político, económico, social e cultural do país, essa constitui uma questão fundamental que remete para reflexão profunda numa perspectiva de evidenciar a verdade sobre as condições reais subjectivas e objectivas nas quais os jovens se encontram e a partir daí construir um projecto concreto, uma mira sobre o futuro que os jovens anseiam em relação à sua vida no âmbito político, económico, social e cultural, seja a sua vida individual ou colectiva.
Se a mudança social (viragem) remete a transformações profundas observáveis no tempo e espaços determinados e que afecta toda estrutura ou o funcionamento da organização social, política, económica e cultural de uma determinada família, comunidade ou sociedade, então é preciso reconhecer que, no caso de Moçambique, essa transformação, para ser efectiva, ainda implica um conjunto de desafios para a nossa Geração da Viragem(como agentes de mudança).
Dentre vários desafios possíveis para os jovens moçambicanos, como geração da viragem, pode se fazer uma lista enorme, mas, neste artigo, maior atenção será dada àqueles que são considerados nesta perspectiva como bases para toda acção humana em qualquer comunidade e sociedade.
Nessa complexidade de problemas sociais que afectam os jovens de diferentes cantos do nosso belo país (Moçambique) e que, de forma diversificada, são sentidos, pensados e enfrentados, constitui um desafio para esta geração da viragem formular uma agenda única para o desenvolvimento político, económico, social e cultural que reflicta os interesses e prioridades dos jovens de cada canto de Moçambique.
Essa agenda única não seria produto do pensamento e interesses individuais ou de um grupo de indivíduos associados e com voz para os “sem voz”, mas sim, teria de ser resultado de um diálogo empático, não movido por um espírito manipulador, utilitarista e partidário, mas por uma vontade movida por interesses colectivas e prioritários dos jovens na sua vida pessoal e colectiva.
A Geração da Viragem, como agente de mudança, precisa de estar consciente das condições em que se encontra. Mas isso não passa necessariamente por identificar os problemas sociais que directa ou indirectamente lhes afectam; torna-se importante para os jovens dar um passo mais para frente, identificar as condições em que gostariam de viver e o que estão dispostos a fazer para criar essas condições. O desafio fundamental nesta perspectiva é sonhar. Os jovens devem ter sonhos. Esses sonhos devem resultar de uma escolha racional e harmoniosa, mas prioritária entre as prioridades possíveis que maior efeito catalizador possam ter na sua vida, seja do ponto de vista político, económico, social ou cultural.
Os jovens precisam de estar conscientes sobre as consequências das suas escolhas e ter coragem de arriscar e fazer novas apostas na sua vida pessoal ou colectiva. É necessário não aceitar reviver a mesma experiência de sofrimento mental de forma crónica.
Mas para isso acontecer, o desafio é aprender a saber fazer escolhas conscientes, onde a vontade dos jovens não é fruto de uma manipulação através das tradições inventadas, tão pouco por projectos políticos frutos de uma minoria representante da minoria representada.
Mas um dos aspectos fundamentais nessa abordagem é que os jovens não necessitam e nem precisam de mendigar alguma atenção especial de nenhum partido, tão pouco de algum governo, pois o governo, o partido, muito espera deles. Nesse caso, os jovens, se têm sonhos e desejam realizar os seus sonhos, devem agir. A sua acção deve ser coerente com os seus sentimentos e pensamentos e não guiada por uma mira que reflecte os interesses individuais disfarçados no rosto de grupos partidários, mas sim orientado por interesses colectivos que reflictam uma unidade de prioridades hormónicos com a complexidade na qual os jovens moçambicanos vivem.
É necessário aprender a fazer sacrifícios que resultem e gerem harmonia na vida social, política, económica e cultural. Promover a mudança social exige sacrifício, pois toda mudança, embora seja benéfica para os que a desejam, ela nem é sempre bem vista pelos que vivem e sentem o conforto do presente. Mas se ela é benéfica para a maioria excluída, é necessário que os jovens (se são a geração da viragem de verdade) estejam dispostos a fazer sacrifícios para quebrar o ciclo vicioso e o sofrimento físico e mental crónico e por via disso dar-se uma oportunidade de experimentar nova maneira de sentir, pensar e agir coerente cujos frutos espera-se que sejam hormoniosos.
CORREIO DA MANHÃ – 11.06.2013

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