quinta-feira, 13 de junho de 2013

A máscara do déspota - Por George Ayittei

 O déspota é um IGNORANTE, porque não conhece os interesses dos governados...

... O déspota é um incompetente com um poder extraordinário de decidir sobre o quotidiano, o futuro, a vida e a morte de todo um povo, sem qualquer sentido de justiça e equidade. Impor o medo no seio do povo é o seu grande acto de coragem e dos que o rodeiam.

Qualquer regime que centraliza o poder sem um sistema efectivo de freios e contrapesos é, por conseguinte, despótico. Para tal regime, segundo o autor, o poder é uma mina de ouro para enriquecimento pessoal do presidente e sua camarilha.

Todavia, o regime despótico opera no sentido de alcançar três objectivos fundamentais, segundo o estudioso: manutenção e consolidação da sua base de apoio, legitimação e controlo social.

Em relação ao primeiro objectivo, destaca-se a imposição de um sistema clientelar nas relações entre dirigente e dirigidos. O déspota cria um regime de competição para o acesso aos recursos do país, sob seu controlo arbitrário, favorecendo apenas aqueles que se juntam a si. Por essa via, compra o apoio de líderes religiosos, sindicais, de organizações profissionais, e de outros sectores sociais, e forma uma grande coligação contra os interesses do seu próprio povo.

Por sua vez, os papagaios, bajuladores e militantes leais do regime não manifestam dedicação à ideologia do líder, mas a expectativa de serem pagos com bens materiais e cargos. Por isso, de forma canina, protegem as vias de acesso ao poder. No processo de aquisição de consciências, o economista destaca como os piores vendilhões os intelectuais (em particular acadêmicos e quadros qualificados):

“Eles supostamente entendem os conceitos elementares como liberdade, democracia e estado de direito. Mas, por tuta e meia, muitos entusiasmam-se em servir como prostitutas intelectuais – vendem a sua consciência, princípios e integridade para saltaram para a cama dos déspotas”.

Outro elemento preponderante é o sequestro do partido no poder. O déspota subverte os estatutos do partido para realizar os seus objectivos pessoais, como a construção do culto de personalidade. Nomeia para lugares estratégicos pessoas da sua conveniência e aliados, de modo a garantir sempre a sua candidatura presidencial.

Para facilitar o funcionamento do sistema clientelar de corrupção e reduzir as ameaças ao seu poder, o déspota “usurpa as competências das principais instituições do Estado, como o exército, a polícia, a mídia estatal, parlamento, o judiciário, o banco nacional e o sistema de educação”, nota o escritor.

Uma das fraquezas notadas nesse tipo de lideranças é a paranóia com a segurança pessoal e a manutenção do poder. O presidente corrompe um grupo selecto de generais e de altos oficiais do aparelho de segurança a quem tudo dá, mas desconfia do exército como o principal esteio de um possível golpe de estado.

“A função básica do exército e da polícia é a proteção da integridade territorial da nação, assim como das vidas e da segurança dos seus cidadãos. No entanto, muitos soldados e agentes policiais africanos abandonaram, por completo essas funções tradicionais, e circulam pelo continente como hienas, causando dor aos inocentes e civis indefesos e matanças indiscriminadas”, lamenta George Ayittey.

O controlo da comunicação social do Estado merece também do déspota atenção prioritária, no cumprimento de uma máxima do ditador soviético José Estaline: “Quem controla a comunicação social controla as mentes das populações”.

(in defeating dictators: Figthing Tyranny in Africa and around the World) de George Ayittei
 

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