terça-feira, 9 de setembro de 2014

Em defesa de Guebas, o radical (I)

Já que ignoraram largamente o meu último post, aqui vai um mais incendiário:
Em defesa de Guebas, o radical (I)
É tempo de eleições, tudo vale para ganhar votos. O importante é pôr mal o adversário. Legítimo. O problema, contudo, é que se trata do nosso país. Qualquer que seja o resultado, ele terá consequências para todos nós, mesmo aqueles que não tiverem votado pelos vencedores. É importante, portanto, que apesar de tudo o voto seja consciente e com razoável conhecimento de causa. A forma como as discussões têm andado desde que começou a campanha preocupa-me um bocado. Há uma forte concentração no supérfluo o que pode comprometer a qualidade do voto. Fazem-se autópsias e radiografias de slógans eleitorais, discute-se o visual dos candidatos e repetem-se lugar-comuns que me não parecem adicionar qualquer valor à campanha. É momento de festa, claro, mas é também momento de reflexão para que não nos aconteça aquilo que aconteceu a tantos outros eleitorados (Portugal, França, Espanha, etc.) que deram o seu voto em protesto contra algo que não tinham realmente percebido e hoje estão arrependidos. Quero defender, contra um suposto consenso geral, o desempenho de Guebuza interpelando a qualidade de algumas críticas que lhe são feitas. O objectivo não é de dizer que ele fez tudo bem, mas sim de mostrar que em muitos casos os seus críticos precisam de melhores argumentos dos que estão a apresentar agora sob pena de elegerem pessoas que vão repetir os mesmos erros, se erros houve.
Começo com o problema mais bicudo de todos. A acusação é de que Guebuza trouxe a guerra. Não preservou a paz que Chissano com muita diplomacia – conversando regularmente com o líder da oposição – manteve ao longo dos anos. Guebuza trouxe a guerra por causa da sua arrogância, teimosia e má assessoria. Eu acho que o dossier “Renamo” não foi bem gerido do ponto de vista político. Essa gestão revelou graves dificuldades de estratégia política que mancharão, em minha opinião, toda a avaliação que se vier a fazer de Guebuza no futuro. Essa má gestão, contudo, não explica a acusação que se faz a ele de que foi o responsável pelas hostilidades militares. O problema dessa acusação é essencialmente lógico. O seu único sustento é o facto de ter havido hostilidades militares. Com Chissano não se chegou a este ponto, logo, para se chegar a este ponto com Guebuza é porque ele fez alguma coisa de errado. Do ponto de vista lógico o argumento comete a falácia da “afirmação do consequente” – tipo, “Allah apoia Sibindy, por isso ele vai ganhar as eleições”; Sibindy ganha as eleições, logo, foi por causa do apoio de Allah” – que é normalmente cometida por quem não gosta lá muito de pensar ou, quando o faz, fá-lo de forma expediente apenas para confirmar uma conclusão que decidiu defender com unhas e garras.
Há muita coisa que se podia dizer em torno deste equívoco. A primeira seria em relação ao protagonismo de Guebuza em todo o processo de paz, isto é desde os tempos lá da guerra dos 16 anos. Os que chamavam bandidos armados à Renamo, não queriam nenhuma solução negociada com essas “marionetas” do Apartheid e até durante muito tempo se recusaram a dar a mão a Dhlakama – alguns dos quais hoje chamam Guebuza de belicista – parecem esquecer o seu posicionamento de então. Penso que uma responsabilização séria de Guebuza deveria começar por explicar porque um indivíduo que negociou a paz teria interesse em a comprometer. Com isto não quero dizer que não seja possível que ele subsequentemente queira comprometer essa paz. Mas é preciso explicar isso antes de concluir o que se conclui. A segunda coisa tem a ver com Chissano. Para além dos encontros regulares que ele manteve com o líder da oposição Chissano não fez uma única concessão. O resultado de cada encontro foi sempre a subida de mais um degrau no tom bélico e agressivo do líder da oposição. As várias ameaças que ele fez de pôr o país em chamas foram feitas durante a “era de paz” com Chissano. Montepuez foi durante essa “era de paz”.
Portanto, uma responsabilização séria de Guebuza teria, aqui também, de explicar porque este último não teria herdado um presente envenenado do seu antecessor, uma espécie de bomba já na eminência de explodir que só precisava dum pretexto qualquer para esse efeito? E de novo um reparo: pode ser que as habilidades diplomáticas de Chissano tenham sido tão grandes que tivessem condicionado o líder da oposição a apenas fazer ameaças sem nenhuma intenção de as consumar e que foi preciso que aparecesse em cena um indivíduo arrogante como o Guebuza para mudar a situação completamente. Mas é preciso explicar isso antes de concluir o que se conclui. A terceira coisa é a própria Renamo e seu percurso em deriva nos últimos 15 anos. É interessante que nenhuma análise deste problema se preocupa em levantar questões em torno da dinâmica interna da própria Renamo, desde o desgaste de secretários-gerais, passando pelas expulsões de membros sonantes até à cisão e constituição do MDM – sem falar de problemas de gestão financeira. Que papel é que estes processos internos tiveram na radicalização de certos sectores da Renamo?
Pode ser, naturalmente, que tivesse sido prudente da parte de Guebuza ser sensível a estes problemas internos da Renamo. Só que, mais uma vez, isso precisa de ser explicado antes de se concluir o que se conclui, para além de que a Renamo é tamb’em coisa de adultos. Este tipo de argumento infantiliza-a. Finalmente, para não arrolar tudo, acho importante ter sempre presente que como Chefe de Estado e perante a situação enfrentada Guebuza poderia ter declarado um estado de emergência, mandado prender todos os membros da Renamo, mandado suspender os seus vencimentos do erário dum Estado que eles punham em causa de forma violenta, recusado o registo de Dhlakama e do seu partido para as eleições e várias outras coisas perfeitamente cobertas pela constituição. Não o fez. É coisa dum belicista essa, de alguém que queria a todo o custo uma guerra? Porquê negociar, negociar e negociar com gente que ele preferia ver fora da face da terra? Mais uma coisa que precisa de ser explicada antes de se concluir o que se conclui.
Quem quiser votar contra a Frelimo para sancionar Guebuza pelas hostilidades militares pode o fazer, claro. Mas seria bom que o fizesse em plena consciência de que se o seu argumento não tiver melhores explicações para os pontos que acabo de levantar ele estará a votar de forma inconsciente. Isso, em si, não seria grave porque nem toda a gente que vota o faz de forma consciente e racional. O ódio a Guebuza – justificado ou não – é em si uma razão para votar contra. Só que quem assim age tem que saber também que os seus hábitos de raciocínio fazem parte do problema, não da solução. É esse tipo de raciocínio – pelo coração e pela pirraça – que faz mal ao país. Gente assim tem fortes probabilidades de voltar a cometer os mesmos erros que os seus inimigos supostamente cometeram.
  • Manuel J. P. Sumbana Pào e circo time, Elisio.
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  • Raul Junior Prefiro concordar com o texto do professor Elisio. Para mim ha pessoas que preferem deixar o partido porque nao gostam de alguem dentro da FRELIMO. Eu penso que reduzir a FRELIMO a suposto dono 'e demasiadamente perigoso. Ha pessoas que nao gostam de Pacheco, mas se esquecem que existe Muthise. Mas ao mesmo tempo se esquecem que Pacheco falava dentro da disciplina governamental, portanto Pacheco tem qualidades muito fortes que nao se resumem num NAO, NAO que acabou dando um SIm Ou Nim. Mas ha tambem pessoas que nao votam na Renamo, MDM, POMOMO porque nao gostam de certos rostos. O estranho 'e que em Mocambique estamos concentrados apenas em coisas muito dificeis de captar. Ninguem quer olhar nos manifestos, incluindo os chefes das brigadas.
  • Gabriel Muthisse Até que enfim um exercício honesto de tentar entender os últimos acontecimentos no paiis
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  • Lindo A. Mondlane jajajaj...eu vivi isso aqui...gente que votou por estar farto.e hoje ja nao podem nem mandar seus filhos a escola..ja nao tem nem saude gratuita e directamente foi ao desemprego, como resulatdo directo e imediato do seu voto...sempre digo que ha que votar com cabeca..quem pretende subistituir a actual ordem, deve ser limpo como um vidro, deve ser mil vezes melhor que o sistema que pretende substituir..agora mudar de maputo a beira ou de maxaquene a chamanculo (com todo respeito pelos habitantes desses bairros populares) nao implica automaticamente uma melhora..e eu quero melhorar
  • Raul Junior dzovo, seja claro. vote na Frelimo e em Nyusi. O manifesto est'a bem claro. Podemos ter problemas, como 'e natural nestes processos, de comunicacao em alguns casos. Esforcamo-nos muito em comunicar em Portugues com pessoas que nem compreendem. Entao ficamos por ai. falamos em jovens bonitos. Olhe, por acaso, todos os candidatos sendo pessoas sao lindos. A beleza 'e uma questao de arte. Nyusi interiorizou e internalizou o manifesto eleitoral. Isso 'e uma vantagem enorme. Saber o que est'a no manifesto, explicar, sensibilizar 'e garantia que vai fazer com ajuda do povo o que est'a plasmado. Nyusi mais do que uma promessa 'e uma realidade. Em pouco tempo, o povo canta Nyusi, em pouco tempo as criancas repetem Nyusi. Ja vinham cantando FRELIMO. Nyusi 'e filho da FRELIMO tal POVO 'e mae e pai da FRELIMO
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  • Lindo A. Mondlane raul junior, tal como esta a coisa, se pudesse com toda a dor do mundo (porque quero mudancas) votaria na continuidade..porque nao mudo de algo que vai mal, para outro que ira mal seguro..nao faco..pena que nao possa votar..
  • Raul Junior Lindo, discutirmos a quantidade de carros nao me parece ser o caminho mais correcto na altura de campanha. respeito a observacao. Mas se quisermos andar a p'e neste mocambique todo entao vamos reduzir o pa'is num tamanho de chamankulo
  • Raul Junior claro, voce pode nao votar, mas pode fazer campanha por Nyusi e pela FRELIMO
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  • Chigamoney Grande Interessante!

    Devo concordar que o Presidente Guebuza fez muito pela paz, desde a assinatura dos AGP até estes últimos momentos que culminaram com esta Lei de amnistia, que põe fim às hostilidades.


    Entretanto, devo também referir que o que está em causa, no eleitorado, não é culpar Guebuza (até porque nem é candidato), por este ou aquele seu erro, durante a sua Governação! A questão é que devíamos votar numa "mudança" que "muda" algo para o positivo e não continuarmos assistir uma novela que já não apraz, porque não devemos trocar de canal.

    Para mim, o importante é que façamos valer a democracia e desenvolvamos conjuntamente o nosso país.
  • Raul Junior Votando em Nyusi e na Frelimo
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  • Manuel J. P. Sumbana Nâo sei se era nesta direcçâo que querias que o debate fosse, Elisio...
  • Filipe Ribas Li com muita atenção este post, o suficiente para ficar em cima do muro. Por duas razões: tudo o que nele se contém é verdade, no âmbito do critério aplicado, mas no quadro da astúcia política e das sinuosidades que caracterizam o procedimento dos próprios políticos, não enquadra.
    Se os politicos coubessem nesta lógica de construção, o mundo seria melhor, particularmente o nosso.
    Em segundo lugar, o simples desejo de um politico marcar o seu tempo é quanto basta para destruir coisas boas, sem intenção. Em 1984, fiz notar que muitos directores perdiam tempo a mudar cortinados e sofás para marcar a diferença. Esses erros custaram décadas para os seus sectores. Mas a autópsia feita da realidade acusou o socialismo e a economia centralizada. Enquadrou tudo no saco lógico do sistema abandonado.
    Por isso há pessoas que dizem que se Samora fosse vivo não aconteceria isto ou aquilo. Enganam-se, porque Samora assinou o acordo de Inkomati, assumiu as mudanças que viriam iniciar-se em Janeiro de 1987. As primeiras aproximações com a Renamo, via Igrejas, e por Quénia, foram desenhadas no tempo de Samora.
    Um Presidente da Republica manda numa medida exacta em que lhe querem mandar os que o assessoram. Podem, quando muito, jogar mais ou menos conforme o conhecimento que tenham sobre o Ego do chefe. Os erros de um dirigente são um negócio grupo-epocal.
    Ps. Assim fico em cima do muro.
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  • Benn De Mira São raros os posts longos que leio aqui no Facebook devido a incoerência e inconsistência argumental dos seus intervenientes. Os seus fazem parte dos que leio e sinceramente acabo me identificando neles. Nalgum momento comentei com certos amigos o facto de se atirar a pedras apenas para o governo da frelimo pelo facto de não ter cumprido a sua parte dos acordos para com a renamo e se esquecerem que a renamo também não cumpriu com a sua parte tendo mantido uma base militar. A não desmiliritarização da Renamo será o calcanhar de Aquiles e continuará sendo ameaça à paz para qualquer governo que não seja a própria Renamo.
    Não estou contra nem a favor dos actos de qualquer uma das partes intervenientes no processo das hostilidades militares. Mas sim apenas concordando com a necessidade de se buscar o equilíbrio da razão no meio de tanta confusão que acaba cegando os pontos de vista racionais e sensatos em defesa de ideologias políticas.
  • Ernst Habermas Prof. Elisio, eu já ia dormir, tenho compromisso hoje as 8hrs da manha. Mas como ir dormir sem ler o seu texto. Por mais que cansado, terei que ler. Obrigado pelo texto.
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  • Alexandre Zerinho Chigamoney Grande, penso que a questão que você traz não foge daquilo que Macamo escreveu. As pessoas não podem so limitar se em dizer que querem mudança e consequentemente votar num partido da oposição visto que o actual não mostra sinais de mudanças - se é que nao mostra. Há que se fazer uma profunda análise para não correr o risco de piorar as coisas. Sabe, as vezes ha que cometer um mal necessário.
  • Alexandre Devissone Grande texto pra gente adulta,eu vejo o cenário em duas janelas não gêmeas Prof.Elisio; 1.Os votantes exigem mudanças nas ondas do mar mas eles não mudam a forma de nadar. 2.Muitos não entenderam que o AGP foi assinado nas corridas a modelo" Hamburger" e era "falso" daí que não tinha consistência e sobrevivia dos remendos improvisados pela diplomacia cinica do Chissano. Guebuza de qualquer forma deveria assumir um protagonismo e julgo que assumiu em reparar os erros da renamo e do governo sobre o AGP, apesar do maquevialismo usado que não deu espaço pra poupar a vida dos inocentes.E a paz será efectiva com a desmilitarização total e completa da renamo. O desenvolvimento duma Nação não se faz apenas pela alternância dos partidos no poder mas sim pela alternância de pensamentos e projectos politicos de desenvolvimento sustentáveis. (Não é apenas por trocar de sapatos que se ganha o chão e não quero dizer que mesmo que não traga diferença no pé o dono deve o aturar, nada é eterno cada dia fabricam-se novos sapatos pra o mesmo chão até com piscadelas) "Mas um bom juiz não condena um filho pelos erros cometidos pelos pais"Provavelmente o que hoje julgamos erro ontem era necessário. Vamos votar sim a inclusão,maturidade e visão dos projectos politicos e a solução dos verdadeiros problemas do país.Para terminar não gostaria que o voto moçambicano fosse a papel quimico do voto da Espanha,Portugal e França que enraizou austeridade apenas porque queriam mudanças de individuos e não os projectos politicos.
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