Também se tornou habitual o visível nervosismo de Obama quando pronuncia esses discursos. Já Putin, pelo contrário, tem um aspecto calmo e se permite sorrir com frequência. O que está acontecendo? Tendo entrado em confronto direto com a Rússia por causa da crise ucraniana, que foi aliás provocada pelo Ocidente e não pela Rússia, Obama e seus aliados enfrentam uma série de problemas graves.
Tomemos como exemplo a tragédia do Boeing da Malásia. Ao acusar sem provas a Rússia e os “separatistas” do sudeste da Ucrânia, que ela alegadamente apoia, Washington e Bruxelas violaram as normas. Eles provocaram um grande escândalo anunciando a destruição do Boeing como um crime grave, cujos responsáveis devem ser severamente punidos através de sanções e do julgamento em corte internacional.
Contudo, tal como não havia provas que o Boeing tivesse sido abatido pelos milicianos, tudo indica que elas continuam inexistentes. Já a versão de o avião de passageiros ter sido abatido por um avião Su-25 ucraniano parece bastante convincente, considerando o tipo de danos que apresenta a fuselagem do Boeing.
Se a leitura das caixas-pretas e outras peritagens provarem a culpa dos militares ucranianos, Washington e Bruxelas ficaram numa posição muito desagradável. Eles terão de pedir desculpa à Rússia pelas falsas acusações e, de acordo com seus próprios apelos, penalizar criminalmente os verdadeiros autores da tragédia, ou seja, os líderes ucranianos. Para Obama isso será uma perda de face. Claro que ele fica nervoso.
Com as sanções as coisas não estão melhor. Há dias Obama pronunciou uma frase misteriosa: “Nós não sabemos como estão funcionando as sanções, mas temos a certeza que elas já pressionam a Rússia.” Então não sabemos, ou temos a certeza? Na realidade parece que Obama já sabe que na Rússia as sanções não provocaram pânico, a divisão nas elites, as exigências para que Putin desista de sua política relativamente à Ucrânia e à Crimeia, mas a unidade das elites e o entusiasmo da população.
Ele pode ser formulado da seguinte forma: obrigado, Ocidente, pelas sanções que finalmente nos vão obrigar a resolver nossos problemas de corrupção e domínio dos burocratas, da dependência do setor da energia e de fraco desenvolvimento na construção de máquinas. O que satisfaz mais a população são as limitações introduzidas pelo governo russo às importações de produtos alimentares ocidentais: finalmente a agricultura nacional, que já neste momento é capaz de alimentar a Rússia e não só, conseguirá encontrar seu caminho até ao consumidor russo, até ao mercado russo, que até há pouco tempo esteve quase monopolizado pelos produtores agroalimentares ocidentais!
Também não podem satisfazer Obama os relatórios militares dos combates travados pelo exército ucraniano, pelos exércitos privados dos oligarcas ucranianos, pelos mercenários ocidentais, que trabalham para Kiev, e os milicianos do sudeste. Segundo dados de Kiev, dos 5 mil militares de elite ucranianos que foram cercados, mais de 3,5 mil estão dados como desaparecidos, ou seja, eles estarão provavelmente mortos. Aqueles que tiveram a sorte de escapar ao cerco ou fugir para a Rússia estão em estado muito deprimido e não se apressam a regressar para a guerra. Os milicianos capturaram dezenas de blindados pesados, lançadores múltiplos de foguetes e caminhões.
As esperanças de uma vitória rápida sobre as milícias se esfumam a olhos vistos. Mas mesmo que suponhamos o inacreditável e que Kiev, realizando uma grande mobilização e concentrando os restos de material pesado, esmague a resistência do sudeste a troco de baixas enormes, essa será uma vitória pírrica. Kiev terá entre mãos uma região devastada e destruída para cuja recuperação serão necessários bilhões de que a Ucrânia não dispõe. E, além disso, uma população hostil que odeia as autoridades de Kiev pelos crimes que os militares cometeram contra o povo do sudeste.
Aliás, a verdade sobre esses crimes está gradualmente chegando às populações da União Europeia e dos EUA. Isso também não pode deixar de afligir Barack Obama.
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