domingo, 7 de setembro de 2014

SOBRE UM ELOGIO FÚNEBRE “SUI GENERIS”


“…Bem-aventurados os mortos que, desde agora, morrem no Senhor (…), pois as suas obras os acompanham”. Apocalipse 14:13
Hoje dou início a presente cogitação apresentando a minha solidariedade à família do meu ex-confrade e amigo Eduardo de Menezes Costley White (Eduardo White), que na flor da vida, foi “flagrado” em plena lavoura com a pena nas mãos e arrebatado pela incontornável e inevitável vizinha do Homem e gémea da Vida: a DESENCARNAÇÃO.Eduardo White, foi para mim e para muitos, um amigo benéfico, como definiu um dia o Grande MestreConfúcio (Kung-Fu-Tseu), 551-479 a.C.:Há três tipos de amigos benéficos, e três tipos de amigos nocivos. A amizade dos rectos, a amizade dos fiéis e a amizade dos cultos é benéfica. A amizade dos falsos, a amizade dos subservientes e a amizade dos charlatães é nociva”, ele ainda tinha muito por dar, pois era muito jovem, já que apenas comemorou Cinquenta e Um Novembros e outros nove meses. Dizia eu amigo benéfico, Eduardo White foi a primeira pessoa ainda muito jovem na altura do inicio da década Oitenta (1984), que “atravessou” a Baía de Maputo sobre uma Ponte que ligaria a Cidade à KaTembe, montado no seu “Amar Sobre o Indico”. Grande Poeta Lírico e Pedagogo, encomendo aos que o precederam para que junto do Divino Pai Eterno façam “lobbies” de modo a que a sua alma, como a de qualquer um de nós seus pares, encontre o descanso que a sua mente nunca encontraria enquanto ainda ENCARNADO. Siya Vuma! Mas o título da presente lucubração não teve nada a ver nem foi inspirado pela desencarnação do meu desditoso ex-confrade. Coincidentemente deu-se que, contrariando as recomendações do meu falecido avô que teve o seu “Visto” para o Além-túmulo na época em que a Morte e ou oFalecimento tinham algum valor eeram em princípio reservados aos mais velhos, fui num outro Funeral. Meu falecido avô dizia-me que era Tabu, “Swa Yila”, alguém participar em dois funerais no mesmo dia. O facto é que, após participar nas exéquias fúnebres do meu desditoso ex-confrade, na sede da AEMO, seguidamentefui “despedir-me” dum conhecido meu na cidade Santa de “Nhlangueni”, falecido em circunstâncias ainda por esclarecer. Muito mais jovem do que o primeiro, Maldonado Marhikhele, de seu nome completo, aos trinta e três anos dirigia com mão de ferro, o Sector dos Recursos Humanos duma reputada Empresa. Mais temido e odiado do que respeitado pelos trabalhadores, Maldonado Marhikhele, diz-se que “acordou” morto no seu leito, após ter tido na noite anterior um faustoso jantar de negócios. Segundo a mensagem lida pelos seus “Colegas/Subordinados”, a morte de Marhikhele, é vista como “uma bênção de vida” para eles. Na verdade há mortes e mortes. Se o lidar com a morte só em si já é um fenômeno sofrível, participar num funeral sem a presença de algum sacerdote e a ausência daquelas cantinelas de embalar a alma, escutar mensagens fúnebres de conteúdos inflamatórias, torna a situação ainda mais complicada. Foram duas apenas as mensagens lidas em homenagem ao malogrado jovem gestor. Depois da mensagem da familia lida por um seu irmão, (Marhikhele,sublinhe-se era um solteirão e sem filhos),mensagem cujo conteúdo era meramente estereotipada, do género: “a sua lermbrança será o nosso conforto; onde quer que você esteja lembraremos sempre de ti; deixaste um grande vazio dificil de se preencher; agradecemos por tudo quanto fizeste por nós na vida, etc. etc.,” coube a vez da aterradora mensagem dos colegas da Empresa, lida por um antigo Trabalhador que havia sido expulso pelo finado umas semanas antes do sucedido, ao que se soube sem justa causa. Sem nenhuns subterfúgios ou evasivas, a mensagem foi directa ao assunto: “Minhas Senhoras e meus senhores, os trabalhadores em geral, salvo uns poucos cobardes, não têm motivos para não se sentirem felizes pelo desaparecimento fisico do até então carrasco da Empresa. Fingir que sentiremos muita falta dele seria uma autêntica hipocrisia. Com todo o respeito que temos com a sua família, mas a morte do Senhor Dr.Maldonado Marhikhele, poderá trazer outra dinâmica na Empresa no que ao bom relacionamento entre trabalhadores diz respeito. Intriguista, arrogante e gabarola, o Dr. Marhikhele não perdia oportunidade para humilhar os seus subordinados já que não sabemos se tinha algum amigo escondido a apoiar as suas atitudes. Ssó sabia espezinhar todo o mundo em geral, mas principalmente os que não lhe agradavam por não se sentirem na obrigação de o adular com vista a lograr subir na Carreira Profissional. Expressões como: seu Madjembeni, seu Palerma, seu Ignorante, seu desgraçado, faziam parte do prontuário diário do agora falecido Dr. Marhikhele. Acreditamos que muitos vão festejar em segredo o seu desaparecimento físico, coisa feia é verdade, mas este senhor assim o merece. Que o Diabo se encarregue de limpar a sua imagem das nossas mentes e que a sua alma vá para o Inferno. Tenho dito”. Mal se calou a voz do leitor, uma por uma as pessoas foram desaparecendo do local, ficando apenas os familiares directos do malogrado e eu que não acreditava ter ouvido o que os meus ouvidos tinham me transmitido. Depois de apresentar os meus pêsames ao irmão do desditoso jovem, sai ao encalço do orador que o encontrei cercado de alguns colegas numa verdadeira cavaqueira comemorativa, parecendo que o acto que acabava de realizar fossealgo banal e até muito simples. Confesso que apesar de ter participado em centenas de Funerais e ouvido milhares de mensagens fúnebres na minha vida, aquela foi a primeira e se calhar a única mensagem genuinamente sincera que alguma vez foi lida num Funeral. Enfim, são coisas da vida.
Kandiyane Wa Matuva Kandiya

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