segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Ucrânia – EU: à procura de senso comum - Notícias - Internacional - Voz da Rússia

Ucrânia, Rússia, Europa, economia

Moscou, Kiev e Bruxelas acordaram inesperadamente adiar a criação de uma zona de livre comércio entre a Ucrânia e a UE. Peritos depositam esperanças no processo negocial e no bom senso.

No âmbito de um encontro ministerial trilateral foi conseguida uma solução de compromisso: o acordo de associação não será alterado, devendo ser ratificado entrando em vigor a partir de 2016, o mais tardar. A Europa reconhece que a sua implementação é capaz de encerrar riscos econômicos . No entanto, os peritos surpreendidos vieram experimentar uma “lufada de ar fresco e de otimismo”. O ministro russo do Desenvolvimento Econômico, Alexei Ulyukaev, confessou “não ter esperado tanto progresso”.
Deste modo, a Ucrânia, cuja economia se mantém à beira de colapso, acabou por levar uma vantagem: os mercados europeus continuam sendo abertos para artigos ucranianos, podendo Kiev manter intactas as taxas para as mercadorias europeias até ao fim de 2015. A Comissão Europeia tenciona prorrogar até o dia 1 de novembro as suas preferências comerciais unilaterais para a Ucrânia que facilitem o acesso de seus artigos para o mercado comunitário. A Rússia, por seu turno, se compromete a se abster de medidas protecionistas antes da data marcada.
Vale recordar que a atual direção da Ucrânia subira ao poder em fevereiro do corrente na sequência das desordens populares, causadas pela recusa do antigo presidente Viktor Yanukovich de assinar um acordo de associação econômica com a União Europeia em novembro de 2013. O novo governo chegou a optar pela integração europeia e em junho o presidente recém-eleito, Piotr Poroshenko, acabou por assinar o referido acordo.
Todavia, nos últimos meses a situação no país sofreu sérias mudanças: no leste prosseguiram operações militares, enquanto a economia dificilmente se mantinha à tona na ausência de apoios externos. O FMI tinha transferido duas tranches da ajuda financeira aprovada na primavera. Mas esse dinheiro mal chega para “apertar o cinto”.
Sob este pano de fundo, a abertura do mercado para os artigos europeus nos marcos da zona de livre comércio podia vir a complicar o quadro econômico difícil. Os principais riscos, após a entrada em vigor do acordo de associação, recaem sobre Kiev. O economista Anatoli Bazhan comenta:
“O acordo de associação se reveste de uma importância estratégica, se destinado não apenas para a situação corrente. Creio que, para a EU, a Ucrânia seja um bom mercado de escoamento de produtos. Mas a própria Ucrânia não tem ganhado muito com isso. Pelo contrário, ela irá se defrontar com grandes desafios, sobretudo, na primeira década. Claro que Kiev não receberá recompensas. No início dos acontecimentos mais recentes ninguém podia prever tal cenário”.
A Rússia se preocupa com cinco aspectos ou questões agendadas. O primeiro se refere à liberalização de tarifas aduaneiras entre a Ucrânia e a UE. O segundo diz respeito à normalização de questões técnicas, o terceiro incide sobre a regulação de medidas veterinárias e sanitárias, o quarto e o quinto se relacionam com a administração aduaneira e o sector energético. Moscou tinha proposto equacionar todos os problemas ou, ao menos, definir as vias de sua resolução ainda antes de proceder a ações concretas. Hoje, surgiu a esperança de que os parceiros ocidentais tenham começado a compreender a necessidade de soluções consensuais.
Teoricamente, a integração econômica traz muitas vantagens. Mas em termos práticos, os processos integracionistas têm de levar em linha de conta uma série de fatores. No caso da Ucrânia, acontece que, por mais paradoxal que pareça, são os EUA que ião tirar o maior proveito do acordo de associação. Vejamos os motivos disso:
Primeiro, o acordo vem debilitando a Ucrânia e a Rússia por cortar tanto as relações econômicas bilaterais, como a cooperação militar entre os dois países.
Segundo, o convênio abre caminho para as empresas norte-americanas que se ocuparão de exploração de recursos naturais ucranianos.
Terceiro, o acordo afetará a Europa, já que a pauperização dos ucranianos, a falência de pequenas e médias empresas e uma brusca subida de tarifas dos serviços municipalizados causarão uma vaga de imigração. A UE terá de tentar lidar com esse problema à custa de seus cidadãos e perante um aumento de desemprego – a mão-de-obra barata, constituída por imigrantes legais e ilegais, irá afastar, em certa medida, os trabalhadores europeus. Tal processo será acompanhado pelo crescimento de criminalidade étnica.
O diretor do Centro de Mercadologia Política, Vassili Stoyakin, opina:
“ A Europa está pronta para a associação. Mas, francamente falando, os planos iniciais, feitos outrora a esse respeito, já perderam sua atualidade. A maior ideia era expandir o mercado para diminuir os efeitos da crise econômica na UE. Mas agora a Ucrânia também se encontra em crise. O poder de compra diminuiu, o que significa que, por altura de associação real, o mercado não se expandirá. Nesse sentido, a Ucrânia já não representa qualquer interesse. Por estranho que pareça, neste mesmo contexto, um impacto negativo na economia ucraniana será muito menor dos indicadores previstos – a situação irá piorar, implicando eventuais quedas e recessões de uma escala menor.

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