quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Operação “Tempestade em Donbass” é preparação de cenário croata para sudeste da Ucrânia? - Notícias - Internacional - Voz da Rússia

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Ucrânia, Donbass, operação

A maioria dos mídia tentou afincadamente evitar a publicação da declaração de Yuri Lutsenko, conselheiro do presidente ucraniano, de que, para submeter Donbass a Kiev, seria sensato empregar cenários que foram utilizados pela Croácia em relação à República Sérvia de Krajina (RSK) em 1995.

Segundo Lutsenko, atacar já agora Donbass significa esgotar completamente as forças. É melhor esperar. “Os croatas foram obrigados a concordar com a Krajina Sérvia. Durante três anos, eles não só suportaram, mas até desenvolveram a economia e as forças armadas. Depois, em horas, limparam os separatistas da face da terra com um ataque de tanques”, escreveu ele no Facebook.
Mas o senhor conselheiro esqueceu-se de recordar alguns factos. A República Sérvia da Krajina não reconhecida foi uma reação ao aumento da tensão internacional, à redução do estatuto da população sérvia, à renúncia de concessão de autonomia cultural. Não foi por acaso que, no processo contra os comandantes da operação “Tempestade”, Alen Tiager, procurador do Tribunal Internacional para a antiga Jugoslávia (TIJ), disse que o então líder croata, Franjo Tudjman, considerou os “sérvios uma úlcera cancerígena no corpo da Croácia”.
O segundo aspeto: juntamente com os chamados separatistas “limpariam” também duzentos mil civis, que foram obrigados a abandonar as suas casas, centenas de pessoas foram vítimas. Porém, uma das maiores catástrofes humanitárias dos finais do séc. XX passou despercebida. Em 1995, apenas Belgrado e Moscou condenaram a operação croata “Tempestade”. Há alguns anos atrás, o TIJ ilibou os militares que comandaram a operação.
É preciso reconhecer que a Croácia dá alguns passos no sentido da reconciliação: por exemplo, nas cerimónias dedicadas ao 17º aniversário de “Tempestade”, o presidente Ivo Josipovic apelou a “estender a mão ao povo sérvio, reconhecer a existência de vítimas e prestar-lhes homenagem”. Mas a pequena percentagem de sérvios regressados continua a viver na Croácia em condições dificílimas. Pelos vistos, é precisamente esta modalidade de “solução pacífica” do conflito que propõe o conselheiro do Presidente da Ucrânia.
A “Voz da Rússia” conversou com o historiador Vladimir Kornilov, diretor do Centro de Estudos Eurasistas, sobre os paralelos ucraniano-balcânicos.
Você analisou os cenários possíveis do estatuto da Novorossiya, nomeadamente o bósnio, mas Yuri Lutsenko acrescentou, como vemos, o croata... Até que ponto acha isso real?
O que o presidente Poroshenko tem na cabeça, o conselheiro Lutsenko na ponta da língua. Em geral, semelhante cenário também está a ser estudado. Bombardeiam as cidades e vilas indomáveis no sudeste. E que apelos lançam os antigos estadistas da Ucrânia aos habitantes dessas localidades? Não, não à lealdade, mas a que façam as malas e se vão embora. E a esmagadora maioria dos habitantes de Donbass vão para a Rússia. Hoje já são mais do que os sérvios que fugiram da RSK para a Jugoslávia com o consentimento silencioso da União Europeia. As autoridades de Kiev escolheram a variante da expulsão de todos os russos ideológicos para a Rússia. No fundo, já decorre a limpeza étnica.
Num dos textos dedicados às semelhanças e diferenças na Ucrânia e nos Balcãs, encontrámos a afirmação de que o conflito na Croácia tinha um caráter “etno-político”, enquanto que no sudeste da Ucrânia se realiza um conflito “político-ideológico” e não existe, ao contrário da RSK, uma relação leal claramente evidente da população com os “separatistas”...
No Donbass há determinados círculos que podem ser considerados nacionalistas russos, há nacionalistas ucranianos, mas a massa fundamental não se dividiu e não se divide em russos e ucranianos, eles são do Don. Não se pode explicar apenas com a ideologia o que se passa, aqui está presente também o fator linguístico e religioso.
No que respeita às relações, vemos que os milicianos no Donbass são recebidos como libertadores e defensores, isso é destacado também pelos jornalistas ocidentais. Sim, há camadas da população que acusam da guerra os milicianos, e não as autoridades de Kiev. Mas os comícios dos adeptos de Kiev em Mariupol são incomparáveis numericamente com as filas de muitos quilómetros dos que votaram pela autonomia de Donbass no referendo de maio. Por isso, a situação não é assim tão diferente daquela que se registou na RSK.

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