O comandante da base, depois de
interrogá-los e ficar sabendo que eram Testemunhas de Jeová, chamou um
religioso que dirigia uma igreja na região controlada pelo movimento de
resistência. Ele disse a este homem: “Estes são Testemunhas de Jeová e agora
vão orar com vocês. Trate-os bem.” Para a surpresa dos irmãos, este pastor (que
algum tempo antes obtivera publicações da Torre de Vigia no Zimbábue), meneou a
cabeça e exclamou: “Jeová é grande . . . Jeová é grande!” Prosseguiu:
“Oramos a Jeová para que enviasse pelo menos um para nos ensinar.”
No outro dia, ele reuniu os
62 membros da sua igreja e pediu que o ancião lhes falasse. O irmão
começou por dizer que todas as imagens deles tinham de ser removidas. (Deut.
7:25; 1 João 5:21) Eles prontamente obedeceram. Ele mostrou também que
Jeová não aprova e nem autoriza a expulsão de demônios por seus servos hoje em
dia e que o toque ritual de tambores não faz parte da verdadeira adoração
conforme delineada na Bíblia. (Mat. 7:22, 23; 1 Cor. 13:8-13) Na
conclusão, o líder do grupo levantou-se e disse: “A partir de hoje, eu e minha
família somos Testemunhas de Jeová.” Com exceção de um casal, a congregação inteira
expressou o mesmo desejo.
Nos quatro meses que os irmãos
permaneceram ali, realizaram regularmente reuniões. Quando chegou o tempo de
irem embora, levaram consigo um bom número deste grupo, muitos deles tendo sido
antes membros ativos das facções combatentes.
Muitos se juntaram ao povo de Jeová
durante este período, pois apesar das condições difíceis de vida, os irmãos
nunca deixaram de pregar as boas novas do Reino de Deus e de fazer discípulos.
— Mat. 24:14; 28:19, 20.
Retorno à vida nas cidades
Os irmãos eram gratos de estar de volta
nas cidades. Mas sem documentos, sem moradia ou serviço secular, a vida
continuava a ser difícil para eles. Era uma nova fase na sua vida cheia de
desafios. A própria nação passava por convulsões, flagelada por guerra
civil, fome, seca e desemprego. Conseguiria o povo de Jeová soerguer-se nestas
circunstâncias difíceis?
O governo veio em seu auxílio, criando
o Departamento de Reintegração Social. Muitas Testemunhas receberam de volta
seus empregos anteriores, ocupando posições importantes em empresas do setor
público e privado. Outros abriram seus próprios negócios.
Muitos puderam voltar às suas
residências anteriores, ainda ocupadas por parentes. Para outros, porém, a
situação não era fácil. Sua casa tinha sido ocupada por estranhos ou por
parentes inamistosos, ou tinha sido nacionalizada pelo Estado. Demonstrando
mansidão, as Testemunhas que voltaram decidiram não criar caso, contrário ao
que o governo talvez temesse. Testemunhas que não tinham sido enviadas aos
campos abriram seus lares, acolhendo seus irmãos sem teto. Aos poucos, acharam
ou construíram para si acomodações. Com a bênção de Jeová sobre a sua
diligência, muitos têm hoje uma boa casa, para a surpresa dos que tinham
observado a condição lastimável em que voltaram. É notável que no meio da
prevalecente pobreza, nenhuma Testemunha de Jeová teve de recorrer à
mendicância. Depois de poucos anos, quando se abriu a oportunidade para as
pessoas comprarem sua própria casa do Estado, a primeira pessoa em todo o país
a conseguir uma casa foi uma Testemunha de Jeová que estivera no Carico.
O depósito de publicações em Maputo funciona atualmente neste lugar.
No entanto, obter uma casa ou conseguir
outros benefícios materiais não era a principal preocupação dos irmãos. Mais
importante era achar locais para reuniões de adoração. Afinal, não era este o
principal motivo de Jeová os ter trazido a salvo para casa? Certamente era isso
o que os irmãos acreditavam firmemente. (Note Ageu 1:8.) Prontamente,
improvisaram todo tipo de Salão do Reino — em quintais, em salas de estar
e em cozinhas, em barracos de zinco e de sapé; às vezes — um luxo
— reuniam-se em salas de aula em escolas ou auditórios de hospitais.
É nestes Salões do Reino improvisados que a maioria das 438 congregações
em Moçambique se reúne até agora. Há raras exceções. Uma delas é na Beira onde,
com a ajuda da congênere da Sociedade no Zimbábue e da sua valente equipe de
construção, os irmãos superaram os muitos obstáculos e finalmente, em
19 de fevereiro de 1994, dedicaram em Moçambique seus primeiros dois
Salões do Reino construídos com tijolos.
Comissões especiais — reconhecimento legal
Com o objetivo de cuidar das
necessidades materiais e espirituais dos irmãos ao reorganizarem sua vida, o
Corpo Governante designou comissões especiais em Tete, na Beira e em Maputo,
supervisionadas pelas congêneres no Zimbábue e na África do Sul. Com este
arranjo, as congregações puderam receber mais atenção. Para fornecer as muito
necessitadas publicações bíblicas, estabeleceram-se depósitos nestas cidades.
Estes serviram também como centros de distribuição de alimentos e de roupa.
Organizaram-se assembléias e congressos, embora ainda fosse preciso vencer
alguns obstáculos antes que pudessem ser realizados abertamente.
Daí, em 11 de fevereiro de 1991,
correu uma notícia emocionante por todo o país, para a alegria do povo de Jeová
em todo o mundo. O governo de Moçambique concedera reconhecimento legal à
Associação das Testemunhas de Jeová de Moçambique. Fernando Muthemba, que
ajudara lealmente a cuidar dos irmãos no Carico, serviria como seu primeiro
presidente. O povo de Jeová em Moçambique regozijou-se também de ter no
seu meio os primeiros missionários treinados em Gileade. Estes ficavam em lares
missionários em Maputo e na Beira. Mas outro lar estava sendo preparado em
Tete, para receber mais missionários que iam chegar em breve.
Missionários alegram seus irmãos
Abriu-se em Moçambique um verdadeiro
campo missionário. Abnegados e desejosos de participar na reconstrução e
colheita espirituais em Moçambique, os formados em Gileade e pioneiros
especiais experientes que já serviram em outros campos aceitaram prontamente o
convite de servir aqui. Vieram de cinco continentes, muitos deles de países
onde se fala português, tais como o Brasil e Portugal. Sua nova designação não
deixava de ser um desafio, porque em 1990 e 1991 o país apenas estava começando
a sair do atoleiro econômico causado pela guerra e pela seca. Hans Jespersen,
missionário dinamarquês que servira no Brasil e que atualmente serve como superintendente
de distrito, conta: “Não havia praticamente nada nas lojas, e eram evidentes as
marcas da guerra e suas conseqüências.” No entanto, já se evidencia a constante
recuperação econômica. Apesar disso, muitos de nossos irmãos nas regiões norte e
rurais continuam a viver em condições extremamente difíceis.
Os missionários se confrontaram com
muito do que era novidade para eles. Por exemplo, antes da assinatura do acordo
de paz entre o governo Frelimo e a Renamo, as designações dos missionários às vezes
exigiam que viajassem em colunas (comboios compridos de veículos escoltados
pelas forças armadas do governo), e estes às vezes sofriam ataques. Mas tiveram
muita alegria em conhecer irmãos; e para muitos destes, conhecer Testemunhas de
outras raças e nacionalidades era a realização dum sonho.
Numa parte remota do norte, uma criança
andou o dia inteiro com o pai para ver um missionário que viera da Austrália.
Notando a expressão de admiração no rosto da criança, o pai disse: “Eu não lhe
disse que havia irmãos brancos?” Muitos, ao cumprimentar missionários,
expressavam sua satisfação dizendo: “Conhecíamos vocês apenas pelas
experiências no Anuário.” Testemunhas
moçambicanas, que em 1993 ainda estavam em campos de refugiados na Zâmbia,
disseram: “Quando ouvimos na Zâmbia que em Tete havia um lar missionário,
fizemos tudo para retornar, para ver isso com os nossos próprios olhos e para
continuar o serviço aqui, 18 anos depois de termos sido levados para o
Carico.”
O objetivo principal desses
missionários em Moçambique é pregar as boas novas do Reino de Deus. Isso tem
sido muito gratificante. Os primeiros missionários em Maputo e na Beira contam:
“A fome espiritual era tão grande, que quantidades enormes de publicações eram
colocadas diariamente.” As publicações da Sociedade, em quatro cores, são
novidade neste país e atraem muito a atenção do público. Os lares missionários
são muitas vezes usados como base central para dirigir estudos bíblicos, visto
que muitos estudantes parecem preferir isso.
Atualmente, há seis lares missionários
espalhados pelo país, com 50 missionários servindo em diferentes
designações. Alguns missionários viajam cada mês em rotas estabelecidas pela
filial para recolher relatórios e levar correspondências, revistas e outras
publicações. Estas rotas incluem o lugar onde antes havia o Círculo do Carico,
em Milange.
A propósito, o que aconteceu com as
Testemunhas que ficaram nessa região e que ficaram isolados do restante dos
seus irmãos?
Abre-se o Círculo do Carico
Em 4 de outubro de 1992, foi assinado
em Roma o Acordo Geral de Paz entre a Frelimo e a Renamo pondo fim oficial a
16 anos de guerra civil em Moçambique. Este evento amplamente festejado
possibilitou levantar a cortina que separava a região do anterior Círculo do
Carico. E o que se viu? Mais de 50 congregações das Testemunhas de
Jeová emergindo do isolamento que durara sete anos. Como sobreviveram
espiritualmente a este severo isolamento?
Em fevereiro de 1994, realizou-se em
Milange uma entrevista com 40 irmãos responsáveis. Também estavam presentes mil
outros que andaram mais de 30 quilômetros para ver os missionários. Os
anciãos que permaneceram depois do êxodo contaram: “Depois de muitos de nós
termos sofrido espancamentos naquela base militar, permitiram que voltássemos
para viver nas machambas das extintas
aldeias. Com o tempo, a Renamo autorizou-nos a construir Salões do Reino e
realizar reuniões. Prometeram — e o cumpriram — que enquanto
estivéssemos nos nossos salões ou em caminho para a nossa adoração, não
seríamos molestados. No entanto, não se responsabilizavam se num dia de reunião
alguém estivesse em casa ou mesmo fora do Salão do Reino.” E quanto à
pregação? A resposta dos irmãos é tocante: “Sem roupa e despojados,
vivíamos como bichos, mas não esquecíamos que éramos Testemunhas de Jeová e que
tínhamos a obrigação de pregar o Reino.” Que demonstração eloqüente de apreço e
de amor a Deus!
Em 1993, o superintendente de distrito
e sua esposa presenciaram um evento sem paralelo numa assembléia de circuito
realizada em Milange, algo que confirmou que esses irmãos deveras haviam
continuado a fazer discípulos. Quando o orador do discurso do batismo pediu que
os candidatos ficassem de pé, 505 se levantaram dentro duma assistência de
2.023, apresentando-se para o batismo! E tem mais.
O “Saulo” do Carico
Saulo de Tarso, ferrenho perseguidor
dos seguidores de Jesus Cristo no primeiro século EC, tornou-se servo
zeloso de Jeová. O Carico também teve seu “Saulo”. Ele é um homem de
traços finos e de aparência mansa, e é atualmente servo ministerial e pioneiro
regular. Não há nada que o diferencie dos seus colegas de trabalho quando estes
dão duro para ganhar o sustento. Mas escute-o ao contar sua história, ao fazer
uma pausa no seu trabalho:
“Em junho de 1981, a região em que eu
vivia foi tomada pelo movimento de resistência. Fui levado com outros homens ao
seu quartel. Foi-nos exposto o motivo da sua luta e a importância de apoiá-la
para a libertação de nosso povo. Recebi treinamento militarizado e participei
em combates bem-sucedidos. Esta tornou-se minha rotina nos próximos sete anos.
Dada a minha lealdade ao movimento, fui promovido a comandante. Chefiei sete
pequenos exércitos. Muitas regiões vieram a estar sob o nosso controle, e uma
delas era o Carico. Destaquei homens para penetrarem nas aldeias onde estavam
as Testemunhas de Jeová em busca do seu apoio. Autorizei a queima das suas
casas e que algumas delas fossem mortas. Meus comandados me disseram:
‘Mataremos a todos, mas nunca conseguiremos mudá-los.’ Com o tempo, fui
transferido para outras bases.”
Embora este comandante não tivesse
escrúpulos de perseguir o povo de Jeová, o próprio Jeová, na sua misericórdia,
deu-lhe a oportunidade de mudar. O homem explica: “Após sete anos sem ver
a minha esposa, pedi dispensa para visitá-la. E foi em Malaui, num campo
de refugiados, que tive meu primeiro contato com a verdade. Recusei
inicialmente. Depois, ao ouvir sobre o novo mundo, o Reino de Deus e um mundo
sem guerras, perguntei-me: ‘Pode alguém que fez tantas coisas más beneficiar-se
com isso?’ Foi-me respondido com a Bíblia: ‘Sim, por ter fé e obedecer a Deus.’
Aceitei um estudo bíblico, e em junho de 1990 fui batizado. Desde então tenho
sido pioneiro, ajudando a muitos dos meus colegas ex-combatentes. Só ali
naquele campo ajudei a 14 pessoas a se tornarem servos de Jeová. Tendo
servido onde há mais necessidade, já sofri o meu quinhão por motivos de
neutralidade. Sou muito grato a Jeová pela sua misericórdia e por não levar em
conta os tempos da minha ignorância, perdoando-me por meio do sacrifício de
Jesus Cristo.” (Atos 17:30) Este é apenas um dos muitos exemplos que mostram
por que os irmãos moçambicanos dizem tantas vezes com profundo apreço: “Jeová é
grande.” — Sal. 145:3.
Uma filial em Maputo
Quem diria? Aconteceu mais cedo do que
esperávamos. O Corpo Governante aprovou que houvesse uma filial em
Moçambique. Desde 1925, quando o mineiro Albino Mhelembe trouxe a verdade de
Johanesburgo, a obra em Moçambique havia sido cuidada pelas congêneres na
África do Sul, em Malaui e no Zimbábue. Finalmente, em Maputo, a partir de
1.° de setembro de 1992, numa grande casa que a Sociedade adquiriu e
renovou na área de muitas embaixadas, a filial moçambicana iniciou seu trabalho
de supervisionar este vasto campo. Começando com uma reduzida família de 7 membros,
a recém-designada Comissão de Filial tinha pela frente um trabalho desafiador.
Tinha de organizar a obra no campo, cuidar das necessidades espirituais
— e mesmo materiais — dos irmãos, ajudar na construção de Salões do
Reino e construir um novo prédio para a filial. Era uma tarefa e tanto. Mas
começou a chegar ajuda.
Equipes de voluntários internacionais
de construção, vindas de partes diferentes do mundo, participam agora com os
irmãos moçambicanos na construção do novo prédio da filial num lugar agradável
perto duma praia. A própria família de Betel aumentou para 26 membros
regulares. Irmãos e irmãs da região de Maputo também ajudam. Como grupo unido,
todos trabalham para enaltecer a adoração do verdadeiro Deus, Jeová, nesta
parte da Terra. — Isa. 2:2.
“Tende em estima a homens desta sorte”
Um trabalho desafiador é também
realizado pelos superintendentes viajantes. Mencionamos homens tais como Adson
Mbendera, que costumava visitar as congregações no norte e que depois serviu
como membro da Comissão ON nos campos; Lameck Nyavicondo, lembrado com
apreciação pelos irmãos de Sofala; Elias Mahenye, que veio da África do Sul
para servir, sofrendo atrocidades e advertindo: “A PIDE [a polícia colonial]
desapareceu, mas o avô dela, Satanás, o Diabo, ainda está por aí.
Fortaleçam-se e tomem coragem.” (1 Ped. 5:8) Sem contar com as comodidades
normais, renunciaram a quaisquer confortos que tivessem para servir aos seus
irmãos.
Há pouco tempo, na região de Milange,
onde estavam as aldeias “carcerárias”, formou-se um circuito. Os irmãos que
moram naquela região são especialmente gratos a Jeová por serem beneficiados
mais plenamente pelos cuidados providos por meio da Sua organização visível.
Orlando Phenga e sua esposa acharam ser um privilégio sair de Maputo para
servir ali, onde ele e milhares de outros tinham atuado no “Palco do Carico”.
Ao oeste da cidade de Tete, ajudando a reintegrar congregações que por anos
também ficaram isoladas pela guerra, Benjamin Jeremaiah e sua esposa viajam por
dias a pé a lugares onde muitos nunca viram um automóvel. Raymund Phiri,
solteiro abnegado, teve de dormir no alto duma montanha junto com os demais da
congregação que servia para escapar a possíveis ataques, e foi ali que preparou
seu relatório para o escritório. Também Hans e Anita Jespersen servem um
distrito que abrange o país todo e chegaram a conhecer tanto as riquezas
espirituais como a pobreza material dos seus irmãos.
Todos estes irmãos demonstraram ter o
espírito que induziu o apóstolo Paulo a escrever a respeito de Epafrodito:
“Tende em estima a homens desta sorte.” — Fil. 2:29.
Avanço com zelo piedoso
Os fiéis em Moçambique, além de terem
mantido a integridade em severas provas, têm manifestado seu amor a Deus e ao
próximo de outros modos. No ministério público, aproveitam bastante sua
recém-conseguida liberdade e as abundantes provisões de Jeová na forma de
revistas e de outras publicações. Podem ser vistos pregando livremente nas
ruas, nas praças públicas e em mercados tais como o de Xipamanine. Os resultados
são evidentes no aumento rápido do número de louvadores de Jeová.
Além do acréscimo de novos
publicadores, o aumento tem sido ampliado pelo retorno de irmãos dos campos de
refugiados em países vizinhos. Circuitos inteiros têm retornado. Constroem
rapidamente Salões do Reino com qualquer material disponível. Fazem isso até
mesmo em comunidades temporárias de refugiados, tais como Zóbuè, na fronteira
de Malaui, e Caboa-2, fora de Vila Ulongue. Sem esperar tempos melhores, muitos
se têm alistado como pioneiros. Há agora mais de 1.900 participando neste
serviço de tempo integral. Expressam grande apreciação pelo treinamento
recebido na Escola do Serviço de Pioneiro, em funcionamento aqui desde 1992.
Pode imaginar quem foram os instrutores
numa recente escola em Maputo, onde quase a turma inteira era daqueles que
estiveram no Círculo do Carico? Francisco Zunguza, recordista moçambicano do
número de vezes que foi preso por causa da sua fé, e Eugênio Macitela, preso e
mandado a Milange depois de ter estudado apenas por uma semana. Ambos servem
atualmente como superintendentes de circuito. E um dos estudantes foi
Ernesto Chilaule. Ele tem uma lembrança que gosta de contar: “Quando passo
naquela rua onde está o prédio da extinta PIDE, olho para aquela janela e
lembro — foi ali que os agentes me disseram: ‘Fica sabendo, Chilaule, que
aqui é Moçambique, e vocês nunca serão reconhecidos neste país.’ E logo
ali perto, rua abaixo, está a nossa filial legalizada!”
Como o irmão Chilaule deve sentir-se
recompensado, pois a sua pequena Alita, que costumava buscar alimentos das
provisões congregacionais enquanto seu pai estava na prisão de Machava, é agora
a esposa de Francisco Coana, um dos membros da Comissão de Filial! O irmão
Coana era aquele pioneiro zeloso no Carico que espertamente “vendia” produtos
aos de fora dos campos, para poder pregar-lhes. Por certo, Jeová tem abençoado
os milhares de fiéis que, lá no norte no distrito de Milange, no Círculo do
Carico, escreveram uma bela página repleta de amor, de fé e de integridade para
a honra e a glória de Jeová. — Pro. 27:11; Rev. 4:11.
Mas a batalha ainda não acabou. Há
novos perigos desafiadores. O espírito permissivo do mundo que se espalhou
pela Terra também pode fazer vítimas aqui e já os tem feito. Imoralidade,
materialismo e indiferença causados pelos tempos aparentemente mais fáceis, têm
causado dano. No entanto, os servos fiéis de Jeová, em Moçambique, continuam
fervorosamente a manter constante vigilância. Sobreviveram a tremendas provas
de fé. Estão decididos, com a ajuda de Jeová, a continuar a dar evidência
de que amam a Jeová de todo o coração, mente, alma e força, e que amam seu
próximo como a si mesmos. Têm fé inabalável em que o Reino de Deus em breve
transformará a Terra num paraíso, em que não somente não haverá guerra e fome,
mas que terão ali a grande alegria de acolher de volta os seus entes queridos
falecidos, inclusive todos os que se mostraram fiéis a Deus mesmo até a morte
no Círculo do Carico. — Pro. 3:5, 6; João 5:28, 29; Rom. 8:35-39.
[Foto/Mapas na
página 123]
(Para o texto formatado, veja a
publicação)
Mapa encaixado: Muitos
irmãos foram exilados para São Tomé, no oceano Atlântico, distante uns
3.900 quilômetros
ZÂMBIA
MALAUI
MOÇAMBIQUE
ZIMBÁBUE
ÁFRICA DO SUL
Milange
Carico
Mocuba
Inhaminga
Beira
Maxixe
Inhambane
Maputo
Tete
[Foto na
página 131]
Disseram a Ernesto Chilaule: “Vocês
nunca serão reconhecidos neste país. . . . Mas você esquece isso!”
[Fotos nas
páginas 140, 141]
No campo de refugiados no Carico,
nossos irmãos (1) cortavam lenha e (2) pisavam barro para a
fabricação de tijolos, ao passo que (3) as irmãs carregavam água.
(4) Achavam um meio de realizar assembléias. (5) Xavier Dengo,
(6) Filipe Matola e (7) Francisco Zunguza ajudavam por dar ali
supervisão espiritual como superintendentes de circuito. (8) Salão do
Reino construído ali por Testemunhas malauianas, ainda em uso.
[Foto na
página 175]
Testemunhas reunidas para o Congresso
de Distrito “Devoção Piedosa” perto de Maputo, em 1989, logo depois de
retornarem dos campos
[Fotos na
página 177]
Em cima: anciãos e superintendentes de
circuito no lugar onde missionários entregam cada mês publicações e
correspondência
Embaixo: missionários em Tete recebem
aulas de chicheua
[Fotos na
página 184]
Comissão de Filial (da esquerda: Emile
Kritzinger, Francisco Coana, Steffen Gebhardt) com foto dos prédios da filial
agora em construção em Maputo
[Gravura de
página inteira na página 116]