sábado, 18 de agosto de 2012

MASSACRE DE WIRIAMU E LUCAMBA

O Wiriamu da Frelimo (Zeca Caliate) - 2


Quando em 1973 comandava o 4º Sector, determinei a criação do 8º destacamento e nomeei Raimundo Dalepa como comandante daquela base situada à beira do rio Luenha e próximo da aldeia do Wiriamu, os guerrilheiros iniciaram ações de emboscadas e minas ao longo da estrada internacional, que ligava Tete a Changara e Rodésia do sul.
Na aldeia de Wiriamu, havia um núcleo de apoiantes da FRELIMO que forneciam alimentos e informações aos guerrilheiros, o que viria a provocar ira por parte do exército português que para ali enviou tropas que se vingaram da morte de camaradas que ali tinham sido mortos numa emboscada.
A FRELIMO e seus apoiantes, especialmente organizações religiosas chamados de padres de Burgos, espalharam a noticia para todo o mundo, quando em Julho do mesmo ano deixo a FRELIMO, cruzavam-se informações nos jornais, rádios e praças de Londres, Roma e outras capitais das grandes cidades europeias e também nas Nações Unidas, só se falava do massacre de Wiriamu condenando assim Portugal na perpetração de tal massacre aos civis do Wiriamu. Foi na realidade um massacre evitável pois embora houvesse apoiantes e informadores da Frelimo, a maioria da população era inocente. 
Passaram alguns meses do massacre de Wiriamu, seguiu-se outro massacre com a mesma dimensão este no inicio de 1974, mas desta vez não foi perpetrado pelo exército português, mas sim pela FRELIMO, no aldeamento de Lucamba a poucos quilómetros de Wiriamu. Não sei porque é que a FRELIMO teve tal ação. Vingança?!
Curioso é que a FRELIMO com o António Hama Tai a comandar o  sector, concentrou o armamento, desde canhões B10 sem recuo, morteiros 82 e 60 mm, PRG Bazucas, varias metralhadoras pesadas de grandes e pequenos calibres, armas automáticas e semi-automáticas entre o mais variado material bélico. Com um grande efectivo de combatentes, cercaram aquele aldeamento de Lucamba habitado por centenas de populações indefesas, onde apenas existia um posto de meia dúzia de OPVDC (Organização Provincial de voluntários e defesa civil) a 300 metros, estando os mesmos mal armados, somente com uma G3 do comandante e os restantes elementos com Mauseres.
Logo com o 1º tiro de canhão os OPVDC puseram-se em fuga para o meio do mato. A FRELIMO apoderou-se do aldeamento e chacinou toda a gente, inclusive velhos, velhas e crianças, sendo eles assassinados com armas de fogo com baionetas e à catanada. Foi outro Wiriamu de sinal contrário.
No dia seguinte podiam ver-se corpos espalhados em todos os lados, quanto a isto não foi ninguém que me contou eu pessoalmente estive naquele local, porque quando abandonei a FRELIMO, estive ligado à ação psicológica em Tete e fui convidado para ir verificar o que se tinha passado na noite anterior, fiquei perplexo e sem palavras para descrever aquela barbaridade. Até hoje aguardo que alguém dos defensores dos direitos humanos ou de alguma associação religiosa, condene aquele ato que até hoje parece permanecer esquecido da memória dessas mesmas associações e congregações religiosas. Eram tão Moçambicanos uns como os outros, as organizações e governos internacionais não falaram também de Lucamba, porquê? Dois pesos duas medidas.
Pergunto-me agora eu, qual é a diferença entre os dois povos, nomeadamente o povo de Wiriamu e o povo de Lucamba, ambos massacrados, do qual o povo de Wiriamu mereceu especial atenção, difusão de informação e comentários vindos de todos os lados bem como o apoio de toda a comunidade internacional e do qual Lucamba foi esquecido e negado apoio, aliás dai em diante o meu sucessor António Hama Tai intensificou assaltos aos civis que se atreviam a circular nas estradas principais de Tete bem como aos cantineiros que posteriormente eram assassinados. Não podemos esquecer a revolta da população branca da Beira em Janeiro de 1974 contra o exército Português, devido ao assassínio de uma fazendeira. Contra quem deveria ser a revolta? Naturalmente não sabiam, mas haveria um culpado ou culpados. Tirem conclusões.

Faço a pergunta: DOIS POVOS, UM DE DEUS (Wiriamu) E OUTRO DO DIABO (Lucamba).

04 de Junho de 2012

Alvaro Teixeira (GE)

1 comentário:

Anónimo disse...

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