sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

Pensar que aquilo que Chissano e Guebuza não conseguiram, alguém vai conseguir apenas por falar ao telefone ou se submeter à vontade do seu irmão da Renamo é ou ingênuo, ou completamente arrogante.

O que faz um governo democrático forte é o benefício que ele pode tirar do envolvimento popular. Saber que há gente na sociedade contra certo tipo de soluções dá ao chefe do estado um trunfo em qualquer negociação. Pode usar isso como meio de pressão sobre o nosso irmão da Renamo. Mas acima de tudo, as dívidas ocultas deviam nos ter ensinado que coisas muito secretas comportam riscos para o próprio processo decisório. Criam suspeitas desnecessárias sobre ideias críticas, mas úteis e boas porque naquele ambiente fechado se pensa que quem critica está contra. Pensar que aquilo que Chissano e Guebuza não conseguiram, alguém vai conseguir apenas por falar ao telefone ou se submeter à vontade do seu irmão da Renamo é ou ingênuo, ou completamente arrogante. Se o que alguns juristas dizem é correcto, por exemplo, que o consenso carece de coisas como referendos, então estamos perante uma consequência desse secretismo.


Segundo, a primeira indicação de que o governo tinha perdido a iniciativa no diálogo foi dada pelo próprio presidente quando, de repente, quem informava sobre o progresso das negociações era o nosso irmão da Renamo e, não só isso, ele apresentava o processo como uma questão de acomodar os seus interesses. Estranhamente, o resultado final, que afinal nem é final porque o mais importante, nomeadamente desarmar os nossos irmãos da Renamo, ainda está na penumbra, não foi anunciado pelo nosso irmão-mor, mas sim pelo Chefe de Estado que agora vai ter que correr com o tempo para continuar a merecer aqueles posteres que o anunciam como a pessoa mais preocupada com a paz.


Resolveu-se o problema errado. A Renamo rejeitou os resultados das eleições com base na acusação de fraude. Na sequência, voltou a pegar em armas, ameaçou dividir o país e passou a exigir como condição para respeitar a vida de todos os moçambicanos o direito de nomear governadores. O problema era a acusação de fraude e o recurso à violência como forma de mudar a ordem política, algo que a constituição proíbe. O governo cedeu, não negociou e mandou claramente a mensagem segundo a qual o crime compensaria. O pessoal lá de Mocímboa da Praia está atento.

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