sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

COMUNCACAO DE NYUSI VOLTOU A PROVAR QUE DIZ O QUE PENSA E FAZ O QUE DIZ



Por Gustavo Mavie

À medida que fui escutando a Comunicação que o Presidente Filipe Nyusi fez ao País na última quarta-feira, para anunciar os consensos que acordou com o líder da Renamo, Afonso Dhlakama, visando a expansão da descentralização na governação do País, fui ganhando mais convicção de que ele é definitivamente um desses poucos políticos ou estadista que diz o que pensa, e faz o que diz, e não desses que, segundo Giovani Papini, pensa o que não diz, e diz o que não faz ou fará.
Este modo de ser de Nyusi é uma virtude tão rara entre os políticos ou homens de Estado e de que os moçambicanos se devem sentir abençoados, porque muitos políticos, aliás, politiqueiros passam a vida a dizer o que não lhes vai na mente, proclamando aos quatro ventos que tudo o que faz fará são para servir os seus compatriotas, mas que na verdade passam fazer tudo o que não é o que dizem, ou prometem fazer.
Com efeito, a 15 de Janeiro de 2015, minutos depois de ter sido investido pelo presidente do Conselho Constitucional, Hermenegildo Gamito, Nyusi prometeu que faria tudo que estivesse ao seu alcance, para que nós moçambicanos não mais nos matássemos uns contra os outros.
Como que concordando com a tese do musico brasileiro Lindomar de Castilho, de que a memória do povo é curta e esquece facilmente o passado, Nyusi começou a sua comunicação desta última quarta-feira, recordando o que prometeu nesse dia 15 de Janeiro de 2015, ou seja, há três anos: No dia 15 de Janeiro de 2015, dirigi-me, pela primeira vez, aos moçambicanos, e as minhas primeiras palavras foram: “iniciamos hoje uma importante etapa do nosso percurso histórico como Povo e como Nação que levará Moçambique a um novo patamar de harmonia e desenvolvimento”. Num outro desenvolvimento da mesma comunicação, afirmei que, como Chefe de Estado, primaria pela abertura ao diálogo construtivo com todas as forças políticas e organizações cívicas para promover a concórdia nacional. Defendia, desta forma, o ideal da Paz, como condição primária para uma convivência sã entre os moçambicanos, a estabilidade política, o desenvolvimento económico, harmonioso e a importância da equidade social. Dando corpo a este compromisso, iniciei no dia 09 de Fevereiro de 2015, a menos de um mês depois da minha investidura, contactos directos com o Líder da Renamo, o Senhor Afonso Dhlakama, para que irmanados, discutíssemos, de forma construtiva, os caminhos para o alcance da Paz duradoura e efectiva. Para os dias que se seguiram, como é do vosso conhecimento, na minha vontade de procura de Paz efectiva, engajei a sociedade civil, os religiosos e a comunidade internacional neste processo, incluindo a mediação nacional e internacional. Os progressos eram bastante lentos e vidas humanas estavam cada vez mais em causa. Em Dezembro de 2016, decidi retomar os contactos directos via telefónica com o Líder da Renamo onde alcançámos, ainda que provisoriamente, o entendimento de cessação de hostilidades militares. Este entendimento foi posteriormente alargado de forma indeterminada.
De facto, desde a sua investidura, Nyusi deu várias provas que deixaram mais do que claro que está fazendo TUDO que está ao seu alcance, para que não mais nos matemos outra vez uns contra os outros, porque quaisquer que sejam as razões.
Entre esse T U D O destaca as suas duas perigosas idas às montanhas e matas de Gorongosa para, in loco, dialogar com Dhlakama. As suas idas à Gorongosa são de quem inspira-se na tese que reza que se a montanha não vai ter com o Maomé, o Maomé vai ao encontro da montanha. Para Nyusi, quando se trata da busca da paz, o que conta são os resultados e não os meios. Nesta sua comunicação, Nyusi provou com actos e não com resultados, que o diálogo que mantém com Dhlakama há mais de um ano está a criar todas as condições para a pacificação do País. Creio que com esta comunicação, Nyusi desfez também os argumentos dos cépticos e dos que ainda tinham receios de que o seu diálogo com Dhlakama resultaria na divisão do País.
Os que escutaram bem a Comunicação do Presidente Nyusi, certamente que compreenderam que os entendimentos a que chegou com Dhlakama não perigam os principais pilares da nossa independência - que são a sua unicidade ou integridade territoriais, bem como a própria unidade de nós moçambicanos como um só povo que quer viver sempre unido – e que neste caso são a condição para a nossa eterna sobrevivência como Nação que herdamos dos nossos antepassado, e que há quase 43 anos já foi resgatada dos colonialistas portugueses pelos nossos libertadores, cujo heroísmo voltamos a evocar no dia três deste mês, em todo o nosso solo pátrio.
OS CONSENSOS PODERÃO CONTRIBUIR PARA A CONSOLIDAÇÃO DA DESCENTRALIZACAO E DO PODER LOCAL
Apesar de que a comunicação de Nyusi foi muito sucinta, foi bastante esclarecedora para qualquer um entender que é uma boa base para que se possa enriquecer, de modo a que nele estejam acomodados todos os outros interesses que porventura possam ter ficado omissas ou mal concebidas.
Aliás, ele mesmo diz que todas as decisões que se irão tomar e transformar-se como parte da Lei-Mãe - que é a Constituição da nossa Republica - deverão reflectir todas as vontades e interesses consensuais dos moçambicanos.
O que revela que ele não quer impor nada é o facto de ter se reunido com todas as forças vidas da sociedade, desde as comunidades que foi consultando nas visitas que foi fazendo ao longo do País, passando por nós jornalistas e outros membros da sociedade civil e mesmo religiosos… antes de ter embarcado neste diálogo com Dhlakama como bem o refere o primeiro extracto do seu discurso de investidura que ele próprios nos recordou nesta sua Comunicação de quarta-feira.
Um dos méritos de Nyusi é mesmo ter começado por comunicar a nós moçambicanos como seu Patrão, porque iremos a tempo de debater ou rebater estes seus consensos, de modo que quando já se submeterem ao Parlamento, os nossos mandatários estejam a par do que nós mandantes queremos que seja incorporado ou excluído.
Por isso, estão errados os que dizem que estes consensos não tomam em consideração outros interesses, como os de índole individual, já que parece não admitir que haja candidatos independentes aos cargos da governação local, como sejam os municípios como até aqui era possível. Este é, sem dúvida um de entre vários aspectos ou questões que caso não estejam previstos poderão ser incorporados ou sujeitos à correcção e/ou melhoramento, porque os consensos que Nyusi anunciou na última quarta-feira não são, de per si, uma Lei mas apenas propostas de lei, dai que disse serem apenas propostas que terão de ser sujeitos ao crivo dos nossos representantes na Assembleia da Republica.
OPÇÃO PELO DIÁLOGO É A MELHOR DE TODAS AS OUTRAS
Independentemente deste dialogo ter produzido ou não bons resultados, o certo porém é que só ter optado pela via negocial é de per si a melhor OPÇÃO de entre todas as outras, porque poupa as vidas que podiam se perder caso tivesse dado primazia à solução militar.
A via negocial foi dada já há mais de três mil anos como a melhor de todas mesmo por peritos em questões de índole militar, como o autor do famoso livro A Arte da Guerra, Su Tzu. Para Su Tzu, a guerra deve ser evitada ao máximo, porque segundo ele, muitas vezes a vitória arduamente conquistada guarda um sabor amargo de derrota, mesmo para os próprios vencedores. Esta é uma grande verdade mesmo nos dias que correm, porque uma guerra resulta quase sempre na morte dos soldados de um e doutro lado da batalha, para além das destruições que são inevitáveis.
Su Tzu vinca que mais do que fazer a guerra, o melhor é evitá-la ou ganhá-la antes mesmo de desembainhar a espada. Nyusi chegou a contrariar os que não aceitavam a sua decisão de mandar retirar as tropas governamentais que até Dezembro de 2016 cercavam Dhlakama nas montanhas de Gorongosa, o que terá levado Dhlakama ele próprio a se convencer duma vez para sempre que NYusi não o quer morto mas sim tão vivo quanto todos os outros moçambicanos que a guerra que ele movia matava.
O estratega chinês vinca que nada desgasta mais um reino do que as despesas de guerra pois, quer o exército esteja nas fronteiras, quer em países longínquos, o povo sempre é o mais penalizado. O custo de vida aumenta, as mercadorias escasseiam, e mesmo aqueles que, em tempos de paz, usufruem uma boa situação, em breve já não terão com o quê comprar.
Escusado é lembrar que o que Su Tzu diz neste trecho é uma experiência amarga que nos afectou tragicamente tanto na guerra dos 16 anos como durante as escaramuças que abalaram o nosso Pais entre 2011 e 2014 e também durante os finais de 2015 e quase todo o ano de 2016.
gustavomavie@gmail.com

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