quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

''Bicefalia'', a quanto obriga...


POLÍTICA
 
 30 de Janeiro de 2018
JES e JLo brincam ao gato e o rato em matéria protocolar, ordem de precedência e quejando.
É consabido que a fidelidade canina que muitos dos seus “súbditos” lhe têm também tem sido um instrumento de poder em mãos de José Eduardo dos Santos. Mas do que não se sabia é que se fosse tão longe...
Exemplos de fidelidade canina a JES têm-se manifestado sobretudo nas reuniões de cúpula do MPLA que juntam as duas figuras máximas do Estado (João Lourenço) e do partido que suporta o Governo (José Eduardo dos Santos).
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É em tais circunstâncias, geralmente propensas a pequenos rituais de cortesia e etiqueta, que JES tem capitalizado, seja para ver quem na realidade ainda o “venera”, seja para “rebaixar” João Lourenço, o qual, frequentemente, em matéria protocolar, se vê obrigado a abrir mão da sua condição de Chefe de Estado para se posicionar como mais um “súbdito” do líder do MPLA, engolindo assim alguns sapinhos vivos.
Mas o Correio Angolense sabe que numa das últimas reuniões do secretariado do Bureau Político do MPLA, João Lourenço resolveu sacar dos galões e mostrar que mesmo sendo uma actividade do partido, ele é para todos os efeitos o Chefe de Estado, merecendo por isso adequada deferência em matéria protocolar.
 
Sempre que há uma reunião de cúpula do MPLA, com a participação inevitável de ambos, JES faz questão de ser o último a chegar ao local – mesmo que para isso tenha de dar um jeito de se atrasar –, de modo a ser recebido, em pé, pelos demais dirigentes do partido, entre os quais se inclui João Lourenço, na condição de vice-presidente. Tem sido sempre assim, mas não na ocasião a que nos estamos reportando.
Nesse dia, ao que se conta, João Lourenço até chegara atempadamente à sede do MPLA e foi para o seu gabinete de trabalho, enquanto todo o mundo aguardava pela chegada de JES para se dar início à reunião. Quando faltavam escassos minutos para a chegada de JES, o secretário-geral, Paulo Cassoma, surgiu, a transpirar e quase em passo de corrida, à porta do  gabinete de João Lourenço, para o avisar que já todo o mundo se encontrava perfilado na sala da reunião para receber, “como mandam as regras”, o líder do MPLA.
João Lourenço terá dito a Cassoma que já iria, mas a verdade é que se deixou ficar no seu gabinete. E, calculadamente, apenas saiu quando percebeu que o “sumo pontífice” JES já estava no “Kremlin” e encaminhava-se para a sala de reunião. Resultado: ficaram ambos praticamente cara-a-cara no corredor. Todavia, ao ver que o seu “inrival” não estava no interior da sala à espera, JES deu um jeito artificial de se atrasar mais uns instantes. Cumprimentou e ficou à conversa com alguns dos assistentes e pessoal do protocolo que se encontravam no corredor, à espera que João Lourenço entrasse na sala antes dele.
Mas, renitente e firmemente decidido a não satisfazer os caprichos e vaidade de Jes naquele dia, João Lourenço também arranjou maneira de se atrasar mais uns instantes, conversando igualmente com algum subalterno. Como não podia ficar eternamente à espera, JES lá acabou por ceder, e ambos entraram praticamente juntos no recinto da reunião.
Parece um episódio tirado de um qualquer exemplar de literatura de cordel, mas é verdade que aconteceu. A "bicefalia" tem feito estragos do género, pondo duas figuras de topo do país, que deveriam dar-se ao respeito, a brincarem ao gato e o rato. Enfim, o país chegou a esse ponto. Não tarda e vai bater completamente no fundo.

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