Um tribunal da Gâmbia já ordenou a libertação de 19 opositores. A decisão foi anunciada poucos dias depois da vitória de Adama Barrow nas eleições presidenciais contra Yahya Jammeh, no poder desde 1994.
Milhares de apoiantes sairam às ruas de Banjul, esta segunda-feira (5.12), para felicitarem a libertação, em particular de Ousainou Darboe, líder do Partido União Democrática. Os 19 opositores libertados tinham sido presos em julho por participarem numa manifestação contra o regime de Jammeh. A decisão do tribunal foi anunciada poucos dias depois da vitória de Adama Barrow nas eleições presidenciais, derrotando o Presidente Yahya Jammeh, que esteve 22 anos no poder. Nas eleições de 1 de dezembro, os gambianos tinham mostrado nas urnas o descontentamento face a 22 anos de um regime ditatorial e repressivo contra vozes críticas. Barrow ganhou com 45,5% contra 36,7% de Jammeh.
Comissão de Verdade e Reconciliação como na África do Sul
"Houve uma comissão na África do Sul depois do apartheid e devemos aprender com os outros países. Pensamos criar algo do género para chegar ao fundo da verdade", disse o futuro Presidente da Gâmbia, Adama Barrow, em entrevista exclusiva à DW África. "Vamos ver o que é melhor e que ações a Gâmbia deve tomar”, disse Barrow. O futuro chefe de Estado anunciou que pretende libertar os presos políticos.
"Concorremos às eleições com o princípio de mudança. Essa mudança aconteceu", é o balanço das eleições do Presidente eleito Adama Barrow, que liderava uma coligação de partidos da oposição.
Prometeu que os responsáveis por violações dos direitos humanos serão chamados à justiça: "Não temos nada pessoal contra ninguém. Mas quando assumirmos o cargo, vamos investigar a maioria das coisas que aconteceram no país." Quando tiver o relatório final, serão tomadas ações, disse Barrow na sua entrevista à DW: "A justiça será para todos. Vamos seguir os processos. Ninguém deve ter medo. Teremos boas leis que nos vão guiar.”
Clima de festa na Gâmbia após derrota de Jammeh
Há vários dias que os gambianos celebram o fim da era Jammeh. Pouco depois do anúncio dos resultados, os cartazes da campanha de Yahya Jammeh foram retirados e circularam nas redes sociais mensagens de ódio, como afirma o gambiano Anthony Tabbal: "Há ameaças violentas contra o Presidente, os seus ministros e o exército – que continua na posse das suas armas."
Barrow quer manter a Gâmbia no Tribunal Penal Internacional - TPI
"Vamos ser parte de todas as organizações internacionais. A Gâmbia precisa delas, pois somo um país pequeno". Adama Barrow descarta assim a intenção do anterior Presidente de retirar a Gâmbia do Tribunal Penal Internacional (TPI). "Não há nenhuma necessidade de sairmos do TPI. O Tribunal Penal Internacional é a favor da boa governação, que também é o nosso princípio. Já somos parte do TPI e não vamos sair."
O futuro Presidente também pretende acabar com o isolamento do país e voltar à Commonwealth, a organização que integra maioritariamente países do antigo Império Britânico.
"Não há uma república islâmica, isto é um país secular. Vamos deixar a Gâmbia assim como é", manifestou-se Barrow contra a decisão de Jammeh de tornar o país num Estado islâmico. "Outras pessoas são cristãs, outras acreditam em religões diferentes. Vamos permitir isto. Apenas queremos paz no nosso país, vamos querer avançar."
Esperanças dos gambianos
Muitos gambianos estão otimistas quanto ao futuro do país da África Ocidental. Esperam ver regressar investimento estrangeiro assim como a ajuda ao desenvolvimento. Muitas empresas e organizações não-governamentais tinham deixado a Gâmbia devido à repressão de Yahya Jammeh contra críticos e dissidentes do regime.
"Na Gâmbia tudo é prioritário neste momento", diz o Presidente eleito Adama Barrow quando questionado acerca da sua nova agenda de governação. "Temos de fazer uma revisão a tudo: infraestruturas, economia, sistema judicial, média. Mas por agora, a prioridade da nossa agenda é pôr o governo a funcionar e ter a certeza que temos as pessoas certas", disse Barrow.
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