segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

É possível ter empatia, solidariedade e sentimento perante a morte de alguém

Carlos Nuno Castel-Branco

É possível ter empatia, solidariedade e sentimento perante a morte de alguém, seja de quem for, sobretudo se for violenta, sem ter que falsificar ou pintar de cor de rosa a vida dessa pessoa. Basta olhar para as faces retorcidas de dor e emoção dos familiares para o coração doer e as emoções de empatia e solidariedade se manifestarem, sem ser preciso simpatizar com os carácteres e percursos dos indivíduos. Para mim, isto aplica-se a qualquer pessoa, poderosa ou não, rica ou pobre, famosa ou anónima. Num país onde é mais fácil morrer que viver, onde se mata por ganância económica ou de poder, onde se exclui sistematicamente e se expõe o excluído à vontade e poder de vida ou morte do exclusor, onde as mortes e vidas de uns valem mais que as dos outros, onde se mata com violência rápida a tiro ou com violência lenta de fome ou de desespero social, onde a vida vale menos que qualquer mercadoria, num país assim os corações e as mentes endureceram e tornaram-se insensíveis. Como disse alguém nas redes sociais, corremos o risco de ruwandizar as nossas almas, de nos tornarmos em praticantes e pregadores de genocídio diário - uns pelo poder que têm, outros pela zanga que a miséria, a exclusão e a humilhação criaram. Entendemos e empatizamos com a dor de cada um, tal como entendemos a insensibilidade de muitos. Mas ser solidário com e respeitar a dor de um ser humano, e fazê-lo com humanidade e honestidade, não exige falsificar quem esta ou aquela pessoa foi ou é na sociedade. Não é preciso mentir sobre o que as pessoas representam para empatizar com elas no seu sofrimento humano. E empatizar com um indivíduo numa altura de dor e sofrimento não requer esquecer a dor e sofrimento dos muitos que tiveram os seus filhos e filhas, maridos e esposas, pais e mães, amigos e amigas chacinados na carnificina social que abala o nosso país - dos assassinatos aos raptos, da guerra às expropriações de modos de vida, do desemprego à destruição dos serviços sociais, da exclusão, descriminação e ostracização à bajulação do poder e da capacidade de exercer violência, da miseração e empobrecimento de dezenas de milhões ao enriquecimento desmesurado de um punhado de milhares, da ilicitação do poder à desonra criada para a imagem do país. É possível sentir e empatizar com a dor do próximo sem esquecer quem ele/ela são nesta cadeia de violência social sistemática. Não é preciso mentir. Não se pode ser realmente humano sendo-se hipócrita ao mesmo tempo." - Carlos Nuno Castel-Branco

Comments

Laice Faustino Nkwemba Pronto... cada um sente aquilo que lhe vai na alma
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Egidio Banze Bonito, precisamos ser verdadeiros, não vamos fingir uma dor que nao sentimos, só para aparecer bem na fita!!!!
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Edwin Hounnou O post nos chama a atenção para sermos nós próprios e não fingimos para que os outros nos vejam como bons seres humanos. Vivemos numa sociedade dilacerada, infelizmente, sem valores nem ética onde a ganância pelo dinheiro, através do poder político, tornou o meio preferencial para se tornar rico. Aqui não vale a pena tentarmos parecer o que, de facto, não somos.
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Dino Sattar Bem dito!
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Kleber Alberto Cada um expressa o que sente, estamos trincheiras diferentes, um da fome, outro do desemprego, outro do atum, e quem decidiu a nossa sorte? Entao cada um aqui e livre de dizer o que sen e !



Sérgio Faria Falou tudo e o que não disse. Estamos convidados a explorar a lição. ...

Victorino Branquinho Ja estamos no fundo dum buraco negro aonde as chances de saida sao poucas mas a fe em Deus nos conforta

Fernando Filipe Franco Esse está muito atarefado com outros assuntos.
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Domingos Fernando Muchanga n podx iflueciar i dar lisao politica as pesoas, nx somx livre d xpresar kem gxta i kem n gxta, eu n gxt tnho k xpresar u mau e calar falar nas orelha i por dntro

Maria Manjate Concordo com o exposto no texto. Eu nao sou hipócrita, digo o que me vai na alma. Nao sei voar com os pés no chao.
Por isso volto a dizer, nao sentí dor pela morte da filha de Guebuza. Também nao comemorei, o meu sentimento é de total indiferença a esse facto.
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Eurico Figueiredo Parabens tavas inspirado.

David Parente O culto da violência em Moçambique está de tal forma banalizado entre as pessoas, que assassinar um ser humano é vulgar. Nunca pensei que o país se tornasse tão violento. É raptos, é a guerra entre facções políticas, assassinatos a queima roupa, violência na família, a própria a matar e a extorquir os cidadãos, que mais é preciso?
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Gina Andrade Os políticos fizeram deste país um país violento não cumprindo com os princípios básicos para a boa governação e segurança até do próprio estado.O povo tornou se violento pelos exemplos seguidos vindos de ordens superiores e que até hoje nada fazem para que justiça seja feita após qualquer acto crimimoso .
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Maria Manjate Os assassinatos protagonizados pelos temíveis esquadroes da morte do Governo, acontecem a luz do dia e na presença d vários espectadores. Os raptos também. É por isso k o povo ja está acostumado se bem k pode-se acostumar a violência.
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Eurico Figueiredo Isso e so o prencipio
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Fernando Filipe Franco Posso sentir solidariedade para com a família. Mas cá dentro digo: quem com ferro mata, com ferro morre. Os ditados populares são famosos, por retratarem a realidade da vida.
Ivan Chihale "....cuidado em Rwandizar a alma..."

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