segunda-feira, 7 de outubro de 2019

Também vai explodir sua cabeça

Segunda-feira, 07 de outubro de 2019
Também vai explodir sua cabeça

Intercept Brasil publica hoje uma entrevista extraordinária em vídeo com a historiadora italiana Silvia Federici. Encontrei-me com Federici em uma livraria em São Paulo na manhã do último dia 28, Dia Latino-Americano e Caribenho de Luta Pela Descriminalização do Aborto. Nossa conversa girou em torno das suas pesquisas que envolvem a demonização e o controle sobre o corpo da mulher desde a Idade Média até os dias atuais. É impactante ouvir a escritora descrever o que é o sexo para as mulheres no mundo moderno: "Sexo é o trabalho de satisfazer os homens. É parte da reprodução dos trabalhadores. Nós reproduzimos os trabalhadores não só os alimentando, lavando suas roupas, mas também oferecendo sexo e apoio emocional."
Meu primeiro contato com a obra de Federici foi na graduação, através do livro "O ponto zero da revolução". A leitura foi uma experiência transformadora para mim. Costumo dizer que o trabalho dela "explode a cabeça", porque suas pesquisas são provocadoras de muitas maneiras e oferecem novas ideias para pensarmos o lugar da mulher na nossa sociedade.
Entrevistá-la já era algo especial para mim e foi ainda mais relevante naquela semana. Poucos dias antes, nós havíamos revelado a decisão do Conselho Federal de Medicina que permite que médicos façam procedimentos forçados em mulheres grávidas. Seis dias depois, Bolsonaro usou seu palanque na ONU para se referir indiretamente ao debate de gênero como uma tentativa de "destruir a inocência" das crianças, "pervertendo" sua identidade. 
É em meio a esse ambiente devastador que recomendo que você ouça com atenção cada comentário de Silvia Federici. Ela, aos 77 anos, traz um enorme frescor às discussões sobre direitos reprodutivos, sobre a relação entre a origem do capitalismo e o início da guerra ao aborto e à homossexualidade; sobre a naturalização do trabalho doméstico como amor e, muito importante, sobre a força que reside na luta das mulheres de movimentos sem terra e sem teto.
Sou repórter do Intercept Brasil há quase dois anos e aqui sempre tive liberdade para tratar dos temas que me interessam, para colocar ativamente minha voz e minhas ideias. Isso é possível porque o TIB é realmente independente. Diante das constantes ameaças aos direitos das mulheres e à liberdade de expressão, sinto que nosso trabalho se tornou ainda mais valioso.
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Bruna de Lara
Editora Júnior
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